Não foi particularmente por esperar um grande filme, que estava ansioso por ir ver a sequela do Quarteto Fantástico, mas sim porque este segundo filme da série apresentava uma óbvia mais valia: a estreia do Surfista Prateado no grande ecrã.
E a verdade é que o filme foi mesmo uma meia desilusão. E por razões, na minha opinião, bem mais graves do que se poderia pensar.
Para começar, o realizador opta por filmar o quarteto de heróis de uma forma, no mínimo, idiota. Todos, naquele grupo, são parvinhos até mais não, e irritam de tanta idiotice. Não cheguei a perceber se o homem queria fazer uma comédia ou um filme de acção adulto, tal a quantidade de disparates e chavões cómicos de que já ninguém se ri. Inacreditável.
Eu disse filme de acção? Enganei-me. Durante a hora e meia de duração do filme, contam-se pelos dedos de uma mão as cenas de acção que, para além de serem escassas, são tão fraquinhas e inconsequentes que… nem tenho palavras. O filme parece ter sido feito por um miúdo de seis anos.
Esta falta de elementos de acção num filme supostamente de aventura, com heróis da banda desenhada e tudo – alguém nos estúdios se esqueceu de que isto era uma adaptação de uma das sagas mais lidas e mais importantes do universo da editora Marvel -, deve-se em parte ao quase completo desaparecimento do Surfista Prateado de grande parte do filme. O realizador sacrificou uma das personagens maiores da história da banda desenhada em prole das fantochadas folclóricas de um grupo de heróis com aparentes sinais de atraso mental, a braços com as dificuldades que os seus poderes lhes provocam no seu dia a dia. Incompreensível.
O Surfista Prateado é, como já disse, uma das mais importantes e amadas personagens da banda desenhada norte americana do século XX. Não tenham dúvidas, o herói da prancha de surf justificava uma saga no cinema só para ele. Ao invés, vê-se envolvido num filme tão mauzinho, que quase apetece esquecer que foi esta a sua estreia. Felizmente, lá para o fim do filme a coisa compõe-se um bocadinho, e é-nos dada a possibilidade de finalmente percebermos quem é verdadeiramente o Surfista Prateado. Perceber a tristeza nobre que transporta, e os motivos que o levam a cumprir um destino pesado e amargurado.
Por fim, a razão que mais me revoltou, e que honestamente me teria levado para fora da sala ao fim dos primeiros quinze minutos, não tivesse eu acompanhado de um belo par de pernas (femininas, diga-se): o filme é uma enorme e feia mentira. Ou melhor, uma sucessão de mentiras. Enumero-as, somente, para não correr o risco da memória me atraiçoar e eu me voltar a sentir enojado: o Surfista Prateado não tem aqueles poderes de alteração molecular. Nenhum! E acreditem, no filme são imensos. Galactus, dono e senhor da vontade do herói, não é uma nuvem de autocarro cósmica, como se depreende no grande final, mas sim um semi Deus gigantesco, que viaja num nave nada semi, também ela gigantesca.