kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quinta-feira, junho 30, 2011

INTERESSE PÚBLICO, DE CERTEZA?



Até pode ter sido com a melhor das intenções.
Até pode ser a crise nas vendas de jornais a pedir medidas drásticas e popularuchas.
Até pode ser uma série de razões, mas para mim é só mau gosto. Puro e indisfarçavel mau gosto.
E é por isto que o povo se revolta contra sede de sangue dos media. Por outro lado, também é o povo quem procura este ou aquele diário, este ou o outro canal de televisão, quanto mais sangrento melhor.
A telenovela Angélico está longe de terminar. O mesmo é dizer, está longe de perder interesse mediático e de ser explorada até à última gota, literalmente.
O título da notícia do JN é só mais um exemplo do que está para vir e do tipo de jornalismo de que se socorrem os media quando o departamento financeiro começa a apertar.

quinta-feira, junho 23, 2011

A ESPERA


Desculpem, mas tenho mesmo de aproveitar a publicidade. O espectáculo A Espera, que o Teatro Universitário do Porto leva à cena de 13 a 23 de Julho, é o primeiro, em muitos anos, criado e encenado (quase) totalmente por membros do TUP. O projecto, da Inês Gregório, é uma ideia antiga e que já estava para ser concretizada há uns anitos. Os textos são dos actores e retalhados pelos encenadores, eu e a Inês, e o espectáculo é apresentado na nossa sede, entretanto devidamente transformada para o efeito. Por tudo isto, o orgulho é imenso, como devem imaginar.
Por tudo isto e porque foi um parto demasiado complicado, perdoem-me o cliché. Para além das habituais dificuldades que o TUP tem de contornar, a desistência de actores numa fase decisiva do processo, chegou a ameaçar a sua concretização.
Felizmente, e apesar do obrigatório adiamento, a coisa acabou por retomar o caminho e vai mesmo acontecer.
Por isso, apareçam, se fazem favor, mesmo os que habitualmente usam o facto de viverem em Lisboa como desculpa para não virem ver. Consultem a divulgação, neste blog ou na página do TUP no Facebook.
Tenho dito.

terça-feira, junho 21, 2011



O TUP apresenta o espectáculo A Espera, criado a partir do livro Olhos de Cão Azul, de Gabriel García Márquez. De 13 a 23 de Julho, de 3ª a domingo às 22h00, na Travessa de Cedofeita, 65.

"Os entes, mais ou menos queridos, que já morreram. A minha incapacidade de travar a tua morte que virá um dia, mais ou menos disfarçada. A frase que risquei por não saber o que dizer ao ter sentido tanto o medo, genuíno medo do não-retorno de tudo o que é vida, do esquecimento, do meu esforço do meu esforço, da minha espera, da minha entrega para dar apenas a quem me usa o gozo do uso, ser objecto de prazer e desprendimento. O não poder fazer nada, o de nos querer tanto aos dois e acabar por estar tão só. E os caixões que descem lentos, tão pesados, prontos para o banquete aos bichos da terra. Nunca mais nos voltarmos a ver. A ver-te."

Encenação e Dramaturgia: Inês Gregório e Nuno Matos
Textos: Helena Matos, Isabel Freitas, Raquel Sousa, Tiago Sines e Nuno Matos
Interpretação: Helena Matos, Isabel Freitas, Raquel Sousa e Tiago Sines
Desenho de Luz: José Nuno Lima (Visualight)
Desenho de Som: Pedro Pestana
Cenografia: Vasco Costa
Direcção de Produção: TUP
Direcção/Coordenação/Montagem: Visualight Espectáculos, lda.
Operação de Luz: José Nuno Lima (Visualight)
Operação de Som: Nuno Matos
Apoio Técnico: Eduardo Brandão
Apoio a Movimento: Anabela Sousa
Apoio a Voz: Bárbara Lima Rosa
Design Gráfico: Carlos Moura e Nuno Matos (Zebedum)

Informações e reservas - 933 230 976 e tupporto@gmail.com

quarta-feira, junho 15, 2011

POBRE POVO IGNORANTE - 2ª PARTE

anarquia
s. f.
1. Falta de chefe.
2. Fig. Desordem, confusão (motivada por falta de direcção).
3. Polít. Sociedade constituída sem governo.


Vem isto a propósito de várias afirmações de auto-proclamados anarquistas que, sabe-se lá porquê, acharam piada às redes sociais e pululam alegremente pelas páginas do Facebook, disseminando barbaridades e a sua própria ignorância. Os anarquistas, pelo menos estes a quem me refiro, são meninos deslumbrados pela magia do caos e da desordem criados por grupos como o Black Bloc. Meninos que acreditam sinceramente que conseguem fazer o mesmo e com o mesmo aspecto cool e quase sexy de terrorista urbano; super-heróis de negro vestidos, Molotov em punho, a lutarem contra as injustiças dos governos, o capitalismo e tudo o mais que, por azar, acabe em ‘ismo’.

São meninos, embirrentos e irritantes, que foram com os paizinhos ao cinema ver o Indiana Jones e saíram de lá de dentro a acreditarem fortemente que conseguiam montar um cavalo, estalar um chicote, combater índios, nazis e múmias, beijar a donzela e ainda ficar bem de chapéu. Não sejam ridículos.

Vocês são o paradigma de tudo o que é português, inclusive o nosso Governo: falam muito mas ninguém vos vê a fazer nada. E quando digo nada, quero mesmo dizer nada, absolutamente nada. Limitam-se a orgulhosamente a pejarem os vossos murais nas redes sociais de fotografias dos anarquistas, vossos ídolos; a vomitar algumas palavras de rebeldia infantil e boçal e a alegremente serem assumidamente estúpidos e inconsequentes. Ou estupidamente inconsequentes, como preferirem. Não podem é ser inconsequentemente estúpidos, peço desculpa. Porque a vossa estupidez não só é irritante, como é um perigoso sinal daquilo que vos vai na cabeça e que, isso sim, é o mesmo que nada. Não faz nada pela situação do país, não faz nada para mudar os políticos e quem nos governa e não faz absolutamente nada por vocês. A não ser fazer-vos acreditar que têm uma pinta do caraças. Vocês são anarquistas wanna be, que um dia sonharam que eram mesmo à séria e acreditaram .

Parem de ler isto, só por um bocadinho, e olhem à vossa volta, se estiverem em vossa casa, e comecem a contar os produtos de marcas que vocês consideram o inimigo da sociedade moderna as we know it. Comecem por vocês. Comecem por exemplo pelo que têm calçado, pela marca da vossa camisola; ou pelo refrigerante que têm no frigorífico, ou a cerveja, ou a maquilhagem, ou os medicamentos que tomam. Enfim, olhem para vocês e para o vosso mundo. E das duas uma, ou começam realmente a fazer aquilo em que dizem acreditar – e tentam mesmo com muita força marcar uma posição e mudar alguma coisa – ou calam-se para sempre. É que já não há pachorra.


domingo, junho 12, 2011

INTERESSE PÚBLICO


Diz a Câmara do Porto, que a decisão de encerrar o Mercado do Bom Sucesso se deve ao interesse público. O que a Câmara do Porto não diz, e que a mim me provoca uma forte curiosidade, é qual é este interesse público. Será o interesse público dos vendedores? Será o interesse público dos clientes? Ou será o interesse público dos que, mesmo nunca tendo sequer entrado no mercado, se importavam com esse património da cidade?
É impressionante, a forma leviana como o poder político continua a demonstrar uma gritante insensibilidade por coisas que ultrapassam o universo financeiro. Mercados como o Bolhão ou o Bom Sucesso, podem já não ser importantes como há umas décadas; podem mesmo não ser fundamentais para a economia local e para o bolso dos que ainda gostam de recorrer ao comércio tradicional - mesmo tendo em conta este novo conceito de comércio tradicional, quase um postal ilustrado para turista ver.
No resto da Europa, os mercados tradicionais são local de passagem obrigatória e não só para os estrangeiros que os visitam. São centros comerciais e culturais, bem preservados e tratados, pelos respectivos poderes autárquicos, com o respeito que merecem. São fonte de rendimento local por isso mesmo; porque foram melhorados, e porque são mais do que meros mercados de venda de fruta, peixe e legumes.
Em Portugal, mais concretamente no Porto, opta-se por transformar os mercados como o do Bom Sucesso, em hotéis e galerias comerciais. Ou seja, se quisermos pegar neste assunto de forma mais metafórica, podemos concluir que se o Mercado do Bom Sucesso fosse um idoso a viver em casa de Rui Rio, não teria muito tempo de vida. Rapidamente levava uma injecção atrás da orelha e era vendido às peças ao mercado negro de órgãos humanos. Porquê? Porque dá muito trabalho e rende pouco.

segunda-feira, junho 06, 2011

BIUTIFUL


Apetecia-me escrever de uma forma emocional sobre Biutiful. Odiar-me-hei por escrever tecnicamente sobre um filme que é muito mais do que um mero objecto cinematográfico. Porque Biutiful é uma experiência, um acontecimento, um marco na história do cinema do século XXI. E porquê? Porque para além de consolidar a carreira, já sólida, diga-se, de Alejandro Gonzáles Iñárritu, torna ainda mais visível a procura de um realizador em filmar o que muitas vezes é infilmável, a alma de um homem.
Iñárritu tem dedicado o seu trabalho às emoções humanas, em particular a dor mais profunda. Foi assim em Amores Perros, 21 Grams e Babel. Biutiful aprofunda ainda mais essa emoção tão difícil de representar e de ver representada. De tal forma que se transforma num longo e dorido nó na garganta, que permanece em quem o vê por longas horas. É um filme que se cola à pele e que resiste, como nenhum outro, ao passar do tempo.
Poder-se-à dizer que o filme é Javier Bardem, mas seria injusto não dizer que um e outro são a mesma coisa; que perseguem o mesmo fim, que ambicionam pelo mesmo objectivo. Objectivo conquistado, diga-se. E sim, Bardem é o melhor actor vivo. E sim, apetece-me dizer que nenhum outro faria o que o espanhol faz em Biutiful. E sim, o homem comove-me como já não me lembrava ser possível. E sim, mete o Colin Firth de The King's Speech no bolso de trás do bolso de trás.
O que é o cinema de Iñárritu, um cinema humanista? Um hiper-realismo? Um quase reality show da alma humana? Se calhar não importa definir o que faz o realizador mexicano. Importa, isso sim, ver todos os seus filmes e reconhecer que é, indiscutivelmente um cineasta à parte e um dos poucos a arriscar cinema de autor, numa altura em que, cada vez mais, quem manda é a indústria.
E fica o aviso: Biutiful não é um filme fácil, e corremos o risco de, como Uxbal (Bardem), vermos a nossa alma a fugir-nos nos reflexos dos espelhos.



POBRE POVO IGNORANTE


Somos um povo do caraças. Quando o país tem um problema, saltamos fora e dizemos que isso não tem nada a ver connosco, que não temos quaisquer responsabilidades e que a culpa é dos políticos. Se o problema do país invade o nosso dia-a-dia, e basicamente nos lixa a vida, ficamos à espera que os mesmos políticos nos salvem a pele. Esta é o motivo pelo qual o PSD conquistou uma vitória esmagadora sobre o PS. Somos um povo com tradição de fé, e estamos realmente à espera de que hoje, tudo será diferente. Pobre povo ignorante.

Coisa engraçada também, é esta raiva assumida contra a abstenção. Concordo, a abstenção é fenómeno de difícil leitura. Como o são os votos em branco, que, ao contrário do que muitos querem fazer crer, não têm um significado lógico ou claro. Acredito piamente que a abstenção é o reflexo mais sincero de uma (não) intenção de voto. Confio mais na abstenção, apesar de tudo, do que naqueles eleitores que votam porque sempre o fizeram, independentemente de terem conhecimento dos programas eleitorais; independentemente de perceberem sequer o que dizem os candidatos. Os que votam porque seguem a tradição de família; os que votam como se de um clube de futebol se tratasse. Nesses, não confio nem um bocadinho, e acredito igualmente que são esses que permitem que a classe política continue a ser o lixo que é. São esses, pobre povo ignorante, que transmitem a segurança de que os políticos necessitam para levarem uma vida profissional tranquila, sossegada e autorizada.

Vamos ser utópicos só por um momento: imagine-se que a totalidade dos eleitores ia realmente às urnas. Haveria alguma diferença no resultado final? Talvez. Talvez ganhasse o PS, talvez ganhasse o PSD. Mas essa seria a única variável. Como é sempre, ou um, ou outro. Mesmo que votassem os cerca de nove milhões de eleitores, nada seria realmente diferente. Não teríamos a CDU ou o Bloco de Esquerda no Governo, nem nenhum dos pequeninos partidos alternativos na Assembleia da República; o comportamento dos políticos portugueses não seria diferente do que tem sido, e o povo continuaria a queixar-se como sempre se queixa, e a sacudir a água do capote, como sempre o fez.

A abstenção não é responsável pelo resultados das eleições, de nenhumas eleições. Não é a abstenção que decide quem é Primeiro Ministro ou Presidente da República e de certeza que não foi a abstenção que colocou Portugal na crise em que se encontra. Os políticos nem sequer têm medo da abstenção. Têm medo, isso sim, da imagem que a abstenção pode projectar deles, por exemplo, na Europa comunitária. Porque, convenhamos, é uma imagem de pouco brilho, de nenhuma capacidade de mobilização, de fraqueza e de pouco ou nenhum entusiasmo.

Antes de atacarem ferozmente a abstenção, percebam verdadeiramente quais são os problemas políticos em Portugal. Problemas que começam por um eleitorado mal informado, ignorante das políticas dos partidos, desconhecedor dos assuntos mais importantes do país, como a economia, por exemplo. Um eleitorado maioritariamente bi-partidário, que se quisesse realmente uma mudança no cenário político, deveria ter votado na CDU, no BE e em todos os restantes micro-partidos. Isso sim, seria uma mudança notável. Tudo o resto é mais do mesmo, pobre povo ignorante.

Confesso, uma das muitas leituras da abstenção - e a que o pobre povo ignorante se agarra - é o não querer saber, também clássico e tradicional do Zé Povinho. Não acredito nisso. Acredito que a maioria dos que ficam em casa em dia de eleições, têm as mesmas preocupações que os que se deslocam às urnas. A verdade, na minha opinião, é que o desânimo e a descrença na classe política são fortes de mais. Provavelmente, mais fortes que as preocupações. Recorro mais uma vez à utopia e coloco esta hipótese: se os 41,1% de abstencionistas tivessem ido às urnas e se juntassem aos 2,7% de votos em branco, isso significaria o quê? Nada. Absolutamente nada. Passos Coelho seria Primeiro Ministro. A classe política teria o mesmo comportamento arrogantes, pleno de soberba e impunidade. O povo teria os mesmos problemas que tinha até aqui. Nada mudava.

E aos que têm utilizado o argumento de que a geração à rasca reclamou para no fim nem ir votar, deixem-me dizer-vos isto: os que estiveram nas ruas em protesto, protestam contra os políticos em que não querem votar, sejam eles PS, PSD ou CDS. Porque sabem que nada muda com a mudança de cor política do Governo.

Mas o pobre povo ignorante tem de ter um objecto de culpa para se poder desculpabilizar. Para poder dizer "a culpa não foi minha, eu até fui votar", como se isso fosse realmente significativo ou determinante. Pobre povo ignorante, que muito provavelmente nem leu os números destas eleições, nem tentou perceber o que se passou e, mais importante que isso, nem se dá ao trabalho de tentar perceber o que aí vem. Que não leu nas entrelinhas do discurso de vitória de Passos Coelho o que o PSD se está a preparar para fazer. Que não percebeu a jogada magistral que o partido laranja orquestrou, com o objectivo único de conquistar o poder e derrubar Sócrates e o PS. É mais fácil apontar armas à abstenção e esquecer tudo o resto.

Pobre povo ignorante, que és tão irresponsável na tua vontade de fazer parte de um acto eleitoral, quanto aqueles que ficam em casa. Pobre povo ignorante, que não fazes a mínima ideia do que se passa, nem do que te leva a votar, nem de quem são as pessoas em quem votas. Pobre povo, ignorante que és acerca do que te rodeia e que preferes viver a acreditar que a culpa é sempre dos outros; que acreditas mesmo que o acto de votar te dá direitos que os abstencionistas não podem ter, que és uma pessoa especial, com um papel especial. Pobre, pobre povo ignorante que és tão ingénuo.

quinta-feira, junho 02, 2011

TÁ A GRAVAR


O principal efeito da cena de farwest, que foi a pancadaria entre miúdas parolas, foi o de aguçar a sede dos órgãos de comunicação social por mais fontes de informação produzidas pelo público. Jornalismo participativo, chama-se. O que é que isto significa? Significa que durante as próximas semanas, vamos levar com imagens de coisas que sempre aconteceram e que na verdade nunca foram notícia. Agora temos o fuzileiro que foi espancado no quartel há um ano, e uma ama ilegal que é agressiva para as crianças de que supostamente devia cuidar.
O que se segue, imagens de pessoas que, imagine-se, fazem sexo na intimidade dos seus lares? Ou que, vejam lá bem, não lavam a louça depois do jantar? Ou que, minha nossa senhora, vão em cuecas da casa de banho ao quarto?
Ninguém arranja uma moda nova para os media deixarem de nos chatear com esta?