UMA COMPANHIA DO CARAÇAS
Tentei sempre, nestas coisas que escrevo aqui, fugir aos espectáculos do Teatro Universitário do Porto. Já os divulguei, já falei dos processos de construção e ensaio, mas nunca escrevi sobre os espectáculos de um ponto de vista crítico. Por muito que tentasse, ser-me-ia sempre difícil a total isenção. O TUP é-me tão emocional que me rouba a racionalidade e mesmo que falasse mal de um determinado espectáculo, até isso poderia ser uma crítica emocional, marcada pela frustração ou insatisfação pessoais. E por isso não escrevo sobre os espectáculos porque fujo sempre e como posso ao conflito de interesses.
Mas sinto-me à vontade para escrever sobre o TUP e aí sim sem me preocupar com acusações de conflitos de interesse ou de falta de isenção. Acredito que o que digo, e que vou dizer agora, são factos incontornáveis e irrefutáveis - mesmo que não o sejam e que eu escreva mais com o coração do que com os dedos.
O TUP é a companhia de teatro em actividade mais antiga do Porto. Facto. Pouco interessa se é teatro amador, universitário ou profissional. É a mais antiga e não há discussão. Fez mais pelo teatro na cidade do que muitas companhias ainda existentes ou já desaparecidas. Introduziu autores em Portugal, alguns deles, hoje em dia, dos mais conceituados, e foi, de certa forma, uma das primeiras escolas de teatro do Porto. Não foi uma escola, como hoje existem tantas, mas foi o sítio onde as pessoas primeiro perceberam que era teatro que queriam fazer. Foi-o sempre e ainda é. Ainda hoje há quem desista do curso em que está para se dedicar ao estudo do teatro nas suas mais diferentes áreas. Sempre foi e sempre será, o TUP, uma espécie de escola.
Este ano, o TUP participa no FITEI. Não sei dizer se é a primeira vez, mas tenho a certeza que é a primeira vez em muitos anos. Haverá quem discorde desta participação. Porque o TUP não é uma companhia profissional e por muitas outras razões ainda menos dignas. Por outro lado, há já quem defenda que o TUP não devia participar no FATAL, o maior festival de teatro universitário do país, por ser uma companhia demaisado profissional. Não se entende nenhum dos argumentos. O primeiro desde logo porque, quer gostem, quer não gostem, o TUP faz parte do panorama cultural da cidade e é uma das companhias com maior sucesso de bilheteira. Facto. O TUP é, com todo o mérito, um dos projectos artísticos da cidade que merece o lugar que ocupa e só é menosprezado por quem o quer menosprezar; por quem insiste em assinalar a diferença entre cultura profissional e cultura amadora com argumentos que não lembram ao diabo. O segundo, porque pura e simplesmente o teatro universitário não pode ser um lugar onde se perdoa a displicência e onde se acolhe o conceito de passatempo. O teatro universitário e o amador devem ser alternativas válidas ao teatro profissional. Por isso mesmo, devem ser feitos com a mesma exigência e o mesmo grau de sacrifício. É por isso que o TUP quer ser levado a sério e é por isso que o TUP tem o sucesso que tem e colecciona prémios como poucos. Facto.
Há uma coisa de que tenho a certeza absoluta: o TUP é uma companhia trabalhadora, muito trabalhadora. No TUP acredita-se que o trabalho conduz a um nível e que esse nível define o resultado final e a reacção do público. E é por isso que os ensaios são diários e não semanais e é por isso que os processos duram três e quatro meses. Se o espectáculo que o TUP leva ao FITEI for construído desta forma, não tenho dúvidas de que vai ser um novo sucesso e que vai dar poucos argumentos aos que insistem em arrumar o teatro amador e universitário a um canto.
O TUP venceu o FATAL. Outra vez, venceu o FATAL. Venceu-o em 2010 e venceu outros prémios pelo caminho, no FATAL e não só. Em seis anos, seis prémios. Facto. E é também por isto que o TUP deve ser levado bem a sério. Não deve ser levado a sério somente no universo do teatro universitário. Deve ser levado a sério. Sem argumentos paternalistas ou desculpas sorridentes. O TUP faz mais e melhor do que muitos profissionais, que também não merecem desculpas nem argumentos. E se tiverem de olhar para o nosso trabalho com o escrutínio da exigência mais afiada, pois que seja, nós aguentamos. Mas não nos menosprezem nem encolham os ombros ao que fazemos.
Nós somos o TUP e somos do caraças. Com erros pelo meio e tentativas falhadas, mas do caraças.
1 Comments:
At 21:35, Raquel said…
Somos isso tudo!
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