kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sexta-feira, março 28, 2008

"O TIBETE? É NA CHINA, NÃO É?"



É engraçado - embora no fundo não tenha piada nenhuma - como o mundo de repente descobriu que o Tibete afinal não é independente, que vive esmagado pela já habitual opressão chinesa, e até que os direitos humanos é coisa que por lá já não se conhece há uns bons aninhos. De repente os orgãos de comunicação descobriram uma nova pérola; um novo bom motivo para horas de reportagem, daquelas em que tudo é dissecado, até a cor das meias do senhor que estava a espancar um rapaz montado numa bicicleta. De que marca era a bicicleta?

Pessoas que nunca na vida tinham dado sequer um segundo dos seus mais profundos pensamentos à causa tibetana, enchem agora páginas de blogues, assinam petições e fazem campanha contra o monstro chinês e a favor dos desgraçados dos tibetanos. Acordem, miseráveis! O Tibete foi (novamente) invadido pela China há quase sessenta anos! As atrocidades, o desrespeito completo pelos direitos humanos, o total desprezo pela cultura tibetana não são acontecimentos que nasceram com uma reportagem do noticiário das oito na semana passada.


O problema dos tibetanos tem um claro e legítimo paralelismo com o vivido pelos palestinianos. Ambos querem ver-se livres de um invasor poderoso e brutal. Ambos não têm no entanto, o mesmo tempo de antena, a mesma atenção (lá está) dos media; não fazem parte da agenda politica internacional da mesma forma e, acima de tudo, não têm igual apoio da internacional comunista como seria lógico que acontecesse. E porquê? Fácil. Tão fácil que nem dá luta. Se por um lado temos os israelitas, grandes aliados dos EUA, economica e tecnologicamente poderosos, por outro temos a toda poderosa China, bastião comunista e principal concorrente comercial dos mesmos EUA. Ou seja, condenamos viementemente os mauzões capitalistas, amiguinhos do Bush e dos seus cães de fila, mas em relação ao caso Tibete, e porque a coisa mete o maior bastião do comunismo do mundo ao barulho, limitamo-nos a dizer que se calhar os senhores polícias podiam bater nos monges um nadinha mais ao de leve. A hipocrisia foi e será sempre o maior inimigo da causa tibetana, e nada podia ser mais terrivelmente irónico do que o mundo acordar para os tibetanos por causa de um acontecimento absolutamente impensável: o desrespeito, por parte de alguns monges, para com a velha máxima do próprio Dalai Lama, que sempre defendeu um regime de não-violência. Fartaram-se de tanta placidez e fizeram o que já deviam ter feito há muitas décadas. E o mundo apercebeu-se. Tarde de mais, provavelmente, mas apercebeu-se.

E apercebeu-se de que existe uma coisa chamada Jogos Olímpicos com que se pode fazer chantagem e assustar a grande China - que basicamente se está a cagar para quem vai ou não aos jogos. Pessoalmente acho mal. As Olimpíadas não podem nunca ser politizadas, muito menos usadas como arma de arremesso diplomático. Os países que agora ameaçam com o tal boicote não se lembraram do problema tibetano quando a Pequim foi escolhida para receber os Jogos Olímpicos? Não protestaram, não fizeram ameaças nem pressões?

A forma leviana e demasiado óbvia como a questão está a ser abordada chega a ser ridícula, e não ajuda em nada . Resta-me esperar que os tibetanos tenham aprendido uma coisa muito útil com a China: aprender a cagar para quem está dentro ou está fora, e não deixar que essa falta de reconhecimento prejudique a luta de quem está farto de não ser independente.

quinta-feira, março 27, 2008

KARMABOX WITH A VIEW - ESPECIAL DEDICATÓRIA



Caro Miguel Costa,

eu sei que isto não vai soar bem e que com toda a certeza vai ser alvo de chacota, mas a verdade é que esta acaba por ser a nossa música...
Certo?



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quarta-feira, março 26, 2008

É A VIDINHA




Os meus pais divorciaram-se há vinte anos, mais coisa, menos coisa. Lembro-me de na altura ter ficado revoltado e zangado com o mundo pela maneira como o que parecia ser apenas isso, um divórcio, foi encarado pelas pessoas que constituiam o pequeno núcleo lá da rua. De repente a minha mãe começou a pagar a factura da terrivel ousadia que havia cometido. Perdeu amigos, dos que são a sério e dos que só dizem "bom dia", perdeu família (afastada), e perdeu a alegria de andar na rua com a leveza de quem não deve nada a ninguém. Lutou contra isso, com o orgulho e indiferença que lhe eram habituais, mas ninguém imagina a força que o desprezo pode ter, e a minha mãe não fazia idéia. Foi vergada pelo peso da ignorância que, pensava ela, já não devia existir por aquela altura. Foi quando começou a ficar sozinha.
Como estava a dizer, lembro-me de ficar indignado e revoltado com a atitude de todos os que lhe viravam a cara na rua; dos que disfarçavam, dos que fingiam olhar para qualquer coisa no preciso momento em que a minha mãe se cruzava com eles. Sempre me considerei uma pessoa justa - corrijam-me os que discordarem -, de modo que aquilo tudo me parecia tremenda e injustificadamente injusto. Aos poucos, e sem dúvida com a ajuda de algumas mudanças de mentalidade, a minha mãe foi reconquistando a sua personalidade extrovertida e superior a merdas dessas. Demorou, mas conseguiu.

Vinte anos depois apercebo-me que nem só algumas coisas boas se mantêm inalteradas. Vinte anos depois vejo pessoas à minha volta que, mais ou menos disfarçadamente, agem exactamente da mesma forma que aqueles que de repente ja não conheciam a minha mãe.
Não é fácil falar do assunto sem expôr acontecimentos e pessoas que de modo algum pretendem ser expostas; afinal são pessoas que preferem virar a cara e fazer de conta de que tudo está na mesma; pessoas que, em nome de uma (falsa) normalidade que lhes permita dormir mais descansadas, varrem literalmente o lixo para debaixo do tapete para que os convidados não se sintam incomodados com a sujidade.

Não posso dizer que não pensei várias vezes que algo do género pudesse acontecer. Quando fazia a viagem de carro de regresso a casa, e pensava no divórcio que havia de consumar, tinha muitas vezes a certeza de que algo de grave haveria de mudar na minha relação com um sem número de pessoas. Mesmo com tanta previsão confesso que não estava preparado para uma tão grande mudança. Sem dúvida, parte da culpa é minha, mas o resto da responsabilidade/causa dessa mudança ter sido tão inesperada vem não sei bem de onde. Ouço alguns dos argumentos e não consigo enquadrá-los no passado que tive com essas pessoas. Pessoas que de modo algum fazem de conta que não me conhecem, mas que sem dúvida alguma me varreram para debaixo do seu tapete. E nem seque é o tapete de entrada, bem juntinho à porta da rua. Ouço os motivos que levaram a um enorme afastamento - e que apontam todos para mim com dedos acusatórios - e não percebo como podem ser suficientes para apagar o que havia antes.

De repente, do nada, comecei a notar o desconforto que a minha presença provocava em alguns dos meus amigos; o embaraço que lhes provocava apenas por aparecer em locais que considero ainda hoje como sagrados na minha vida e na relação que mantínhamos. Aos bocadinhos fui-me dando conta das fintas e das curvas apertadas que tinham de fazer para tentarem contornar a minha potencial ida a tal parte; da falta de um convite, da total ausência de planos a dois, a três, a quatro e a cinco. Os meus amigos tornaram-se contorcionistas. Que já não fazem festas de aniversário, que já não celebram o S. João ou o fim de ano, que não vão a concertos ou ao cinema. E dou por mim à procura de uma praia em Portugal onde eles não estejam para poder marcar uma semana de férias sem os ofender com a minha presença e com a da mulher que amo. E sinceramente não compreendo como as coisas chegaram a este ponto tão rapidamente. Justificadamente questiono-me sobre que histórias e versões da história estarão a ocupar os seus juízos de valor. O que terão ouvido para sentirem uma tão pouca vontade de voltar a estar comigo como durante tanto tempo. E claro, ponho em causa a minha personalidade; acuso-me, procuro encaixar nos seus argumentos, culpo-me de tudo e mais alguma coisa para tentar alcançar alguma paz de espirito e enterrar o assunto de uma vez por todas e, como eles, dormir mais repousado à noite.

Tenho a certeza de que tudo isto que escrevi só serve para piorar a situação; tenho a certeza de que vou ser novamente motivo de conversa, de crítica, de repúdio. Como o fui anteriormente e apenas por ter optado pela tal semana de férias na praia onde eles estavam. E é sempre assim: as pessoas preferem descobrir razões que justifiquem os seus actos, do que a resolver as coisas com uma simples e rápida conversa. É mais rápido, dá menos trabalho e concede a ilusória força da razão ao colectivo ululante.

Vinte anos depois de me ter zangado pelo que fizeram à minha mãe, chego também à conclusão de que não sou nada como ela. A minha mãe entristeceu, secou, renasceu e enrijeceu. Eu continuo com saudades do que tinha. Dos dias, das noites, das viagens, das maçãs, da música e das gargalhadas.
A minha mãe avisou-me. Disse-me vezes sem conta que isto ia acontecer - embora eu tenha a certeza de que nem mesmo ela soubesse que se ia passar desta forma.

Não sei se é isto que significa, mas faz sentido ouvir as palavras oh man I read it in boks of lafter, oh man I read it in books of pain enquanto acabo de escrever este texto. Um texto mal escrito, desconexo, sem fio condutor, provavelmente com erros de sintaxe e que não deve fazer grande sentido. Não era suposto ser fácil escrevê-lo.


Alguém me dedicou há dias as palavras "há coisas que nos passam por cima e levam tudo arrastado. Temos então que sacudir as pedrinhas do casaco. E guardar com felicidade as que ficaram debaixo da pele. Mas cuidado depois ao pousar essa mão no chão". Não te preocupes, esta mão já está boa para muita coisa. Para voltar a ser guarda-redes, para pegar no tacho e escorrer a água dos gnocci e, acima de tudo, para me poder levantar sem ter de fazer força nos joelhos, que esses sim, estão velhinhos.

I'M NOT THERE




É estranho estar sentado à espera que comece um filme que é uma espécie (peculiar) de biopic de Bob Dylan - ou de certos momentos da sua vida -, e ouvir uma pessoa ao nosso lado dizer à sua companhia "Bob Dylan? Já ouvi falar dele". É estranho e sintomático do que se vai passar a seguir: uma debandada em massa da sala de cinema.
Por várias razões as pessoas que foram esta noite à antestreia de "I'm Not There" não deviam sequer ter lá estado. Primeiro porque obviamente não fazem idéia de quem é Todd Haynes, um realizador que é tudo menos convencional; que nunca escolhe temáticas fáceis para abordar ou fórmulas «normais» de o fazer. Segundo, porque não conhecem a carreira e a vida de um dos maiores cantautores da história da musica. Ou seja, como a coisa é de borla não têm a necessária paciência e o obrigatório poder de enquadramento para se manterem na sala até ao fim do filme e assistirem a uma obra que conquista imediatamente o cunho de «filme-culto» e que, goste-se ou não se goste, é interessante o suficiente para ser também um muito aconselhável objecto cinematográfico.


Para lá de toda a estranheza do filme de Haynes - que, fica mais uma vez o aviso, não segue de modo algum as regras a que estamos habituados -, existe uma realização fascinante, uma equipa de actores em absoluto estado de graça e todo um ambiente apaixonantemente envolvente. Isto tudo servido por um dos melhores songbooks de sempre, e que no fundo, no fundo, toda a gente conhece, mesmo que não o consiga associar ao seu verdadeiro autor.

É claro que ajuda ter algum conhecimento acerca da vida de Dylan; ajuda, porque nos permite compreender melhor algumas das opções do realizador, que, aos olhos de quem "já ouviu falar dele", facilmente as entende como meros artefactos estéticos. Mas não são. E bom exemplo disso é o quadro em que Richard Gere assume um dos alter-ego de Dylan; uma cidade em que tudo é simbólico dos elementos que sempre estiveram presentes nas letras e músicas de Bob Dylan, e que são, até hoje, a sua imagem de marca.

De resto pouco pode ser adiantado a "I'm Not There" em poucas linhas. É uma obra demasiado complexa e que contem em si demasiada informação. Tem Heath Ledger no quadro mais bonito e comovente de todo o filme - e que adquiriu obrigatoriamente todo um novo significado depois da sua morte, já que no filme Ledger acaba por fazer de si próprio, um actor rebelde e que transporta em si uma tragédia iminente; tem (novamente) um Richard Gere sem problemas em assumir a sua idade, e que em poucos minutos faz mais pelo renascimento da sua carreira do que todos os filmes em que participou nos últimos dez anos; e tem Cate Blanchett. E para Cate Blanchett não existem palavras. É ver o seu trabalho, disfrutar de tudo o que dele advém e mais nada.

Em suma, "I'm Not There" vai ser um fracasso comercial em Portugal. Provavelmente vai estar poucas semanas em cartaz, mas merece bem a visita, até porque é uma das muitas formas que existem para dar a conhecer ao nosso pouco informado público um cheirinho do que é realmente Bob Dylan. O problema nao é do filme em si, e da sua falta de «normalidade». O problema é a falta de educação cinematográfica que reina cá pelo burgo, e que nasce precisamente da falta de vontade das distribuidoras em arriscarem e escolherem outros filmes. Filmes que existem muito para lá dos habituais blockbusters americanos.







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KARMABOX WITH A VIEW - BOB DYLAN - "A SIMPLE TWIST OF FATE"



They sat together in the park
As the evening sky grew dark,
She looked at him and he felt a spark tingle to his bones.
'Twas then he felt alone and wished that he'd gone straight
And watched out for a simple twist of fate.

They walked along by the old canal
A little confused, I remember well
And stopped into a strange hotel with a neon burnin' bright.
He felt the heat of the night hit him like a freight train
Moving with a simple twist of fate.

A saxophone someplace far off played
As she was walkin' by the arcade.
As the light bust through a beat-up shade where he was wakin' up,
She dropped a coin into the cup of a blind man at the gate
And forgot about a simple twist of fate.

He woke up, the room was bare
He didn't see her anywhere.
He told himself he didn't care, pushed the window open wide,
Felt an emptiness inside to which he just could not relate
Brought on by a simple twist of fate.

He hears the ticking of the clocks
And walks along with a parrot that talks,
Hunts her down by the waterfront docks where the sailers all come in.
Maybe she'll pick him out again, how long must he wait
Once more for a simple twist of fate.

People tell me it's a sin
To know and feel too much within.
I still believe she was my twin, but I lost the ring.
She was born in spring, but I was born too late
Blame it on a simple twist of fate.

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terça-feira, março 25, 2008

KARMABOX WITH A VIEW - ESPECIAL PÁSCOA

Do maravilhoso fim de semana pascal fica, entre muitas outras coisas, mais uma descoberta musical, desta feita da responsabilidade repartida de Babá LimaRosa e Mª João Rosa, sócias no parentesco e em muitas outras coisas menos aconselháveis.
O prjecto, brasileiro, chama-se Kaleidoscópio, e a música "Você Me Apareceu".
É Drum & Bass brasileiro, fresquinho, contagiante e altamente balançavel.
Deu o mote para o que havia de ser (mais uma vez) um excelente fim de semana no campo, e tornou-se automaticamente na sua banda sonora - no telemóvel, no assobio e nos poucos versos que as duas Rosa sabiam cantarolar.
Sobre os dias passados em S. Martinho das Chãs falarei mais tarde, para já...




E a gaja é bem boa! Boa e, como diria o Manuel, "a estrear".

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segunda-feira, março 24, 2008

A MELHOR NOTÍCIA DA SEMANA

Este senhor vem à Casa da Música. Isto por si só chegava para fazer deste post um dos mais importantes deste blog.
Bobby McFerrin é um dos MAIORES músicos da história. Pode não ter influenciado uma legião de outros músicos e bandas; pode não ter tido mais do que apenas um hit single, "Don't Worry Be Happy" - e que single; pode não ser - como não é - um dos mais populares artistas da música popular americana, mas é, como podem testemunhar pelo vídeo abaixo, um verdadeiro monstro musical.
A pior notícia da semana e o preço do bilhete, 70 €...




KARMABOX WITH A VIEW - CHARLES AND EDDIE - "WOULD I LIE TO YOU"


Nunca cheguei a perceber se estes dois moços eram muito pirosos... a música era muito boa, isso sem dúvida!


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Vi do meu quarto a nuvem mãe
Em negra carga a par do fim
Vibrou no vidro até se ouvir
Eu abro a dor de ser quem sou
De tudo amar
Vai pra casa
Esquece a rua
Que eu vi
Hoje o tempo vai mudar

Eu já trinquei a maçã
Deixei-me olhar a fundo
Mas eu acordo a cada dia
Eu abro a dor de ser quem sou
De tudo amar
Vai pra casa
Esquece a rua
Que eu vi
Hoje o tempo vai mudar


Manuel Cruz

domingo, março 16, 2008

BIBLIOFEIRA

Acabo de saber que o Torpedo, amigo já responsável pelo site da Rede Cultural - e que tem o link ali na coluna da direita -, tem também a seu cargo um outro, porventura ainda mais interessante.
http://www.bibliofeira.com/ é um site onde podem colocar livros à venda e onde vos é permitido inclusive «encomendar» outros que queiram ler. Ou seja, acaba por funcionar como um espaço onde se podem trocar livros, todos a preços imbatíveis, e que em pouquíssimo tempo adquiriu um bons milhares de títulos. Teve também direito a reportagem na RTPN, e o vídeo, didático mas com uma péssima escolha musical, está já a seguir. Vejam-no e visitem o site, se fazem favor.
Ah, e fica o link no local do costume.




WATERBOARDING

O título deste post é exactamente o mesmo da crónica que me despertou a atenção para uma coisa que eu já sabia existir, mas que tem um contorno particularmente retorcido e que de certeza muitos portugueses não conhecem.

Leia-se a descrição de Bárbara Reis no "Ípsilon" da passada sexta feira:

(...) Imobiliza-se a pessoa no chão ou numa tábua (e daí o "board", talvez), idealmente um pouco inclinada, e despeja-se água sobre a cara com um balde ou uma jarra, muita água de uma vez ou aos poucos. Há várias formas mas a intenção é sempre a mesma: simular um afogamento. A pessoa sente que vai morrer afogada, que a morte é iminente. Alguns torturadores cobrem a boca e as narinas com celofane, e por isso a água não chega a entrar; outros mantêm a boca aberta com uma barra estreita, segura por dois homens, um em cada ponta, ou põem um pano dentro da boca. Ao contrário de um afogamento simulado num lavatório, no qual a cabeça fica virada para baixo, o "waterboarding" desencadeia quase de imediato o reflexo de vómito, com a parte de trás da garganta a contrair-se repetidamente.

Mais à frente na crónica, ficamos tambem a saber que há três casos oficialmente confirmados de "waterboarding" a seguir ao 11 de Setembro - todos a supostos elementos da Al-Qaeda -, e que todos os agentes da CIA que, para efeitos de treino, se submeteram a esta tortura, não aguentaram mais do que 14 segundos. Ficamos ainda informados de que o médico director do Programa para os Sobreviventes da Tortura disse que um dos seus pacientes, anos após ter diso sujeito a esta tortura, continuava a ter medo do duche e a sentir pânico assim que começava a chover.

Por fim, o tal contorno retorcido: no passado sábado, o ainda presidente dos EUA vetou uma lei aprovada nas duas câmaras do congresso que proibia a tortura da água, e justificou o seu veto dizendo algo como "o perigo mantém-se", e ainda "porque o perigo se mantém, temos que garantir que os nossos agentes secretos têm todos os instrumentos que precisam para combater os terroristas".

A cronista termina a sua peça com a frase "E ainda faltam dez meses para Bush sair da Casa Branca", e eu não podia estar mais de acordo.


sexta-feira, março 14, 2008

NO COUNTRY FOR OLD MAN





O comentário que se segue é um chavão por si só. Tudo o que já se disse acerca de "No Country For Old Man" estava absolutamente correcto. Que é um western fabuloso. Que é provavelmente o melhor filme dos Coen - só ameaçado, na minha opinião pelo igualmente magistral "Miller's Crossing". Que tudo no filme é bom, sem direito a dúvidas. Que a interpretação de Javier Bardem é descomunal. A única coisa que não se disse - pelo menos não de forma clara - é que todas as restantes interpretações são descomunais. A de Tommy Lee Jones e a de Josh Brolin.

"No Country For Old Man" é, acima de tudo, um filme de uma tristeza pesada e incómoda, mas que só se deixa realmente perceber nos seus minutos finais. A tristeza da mudança difícil de engolir. A tristeza que a personagem de Tommy Lee Jones (o xerife Ed Tom Bell) carrega nos olhos, e que nasce do não compreender e não conseguir encaixar os tempos modernos; da sensação de se estar totalmente desenquadrado de uma nova e desagradável realidade; da frustração que sente por se saber incapaz de continuar a desempenhar a autoridade, não por incapacidade fisica ou intelectual, mas por não se saber como lidar com uma nova geração de violência.

O filme dos Coen tem muito pouco do seu estilo habitual. É um filme sem humor, sem piadas para aliviar a tensão, sem o habitual surrealismo nonsense que desde sempre marcou a carreira dos dois irmãos. É uma obra seca, árida e dura, como os homens daquele Texas, e como as paisagens de um país que decididamente já não é para velhos. Nesse sentido, é um filme abandonado a si próprio, ao mesmo tempo que é uma belíssima história. E somente isso, uma história.





E depois não há como fugir à figura omnipresente de Bardem. Ele não é só o mau da fita, ele é o mal da história. O mal personificado numa das personagens mais credivelmente assustadoras da história do cinema. Doentio, metódico, imparável e aterrador, o Anton Chigurh de Bardem é um espectáculo por si só. O cinema dos Coen sempre foi pródigo em criar personagens irreais e fascinantes. Em filmes como "Barton Fink", "Miller's Crossing", "Arizona Jr." e tantas outras obras suas, deram ao mundo da sétima arte uma verdaderia galeria de «cromos» memoráveis, ao mesmo tempo que proporcionavam aos seus actores uma atenção merecidamente redobrada. Anton Shirguh é, mais do que todos os seus antecessores, um objecto fílmico de que todos os realizadores e argumentistas devem sentir por esta altura uma enorme inveja.

Garanto-vos: "No Country For Old Man" ocuparia neste blog o espaço equivalente a mil posts, tal é a quantidade de informação que transmite. Não parece. O ritmo e a lentidão calma com que a história nos é contada, disfarçam a real dimensão da mensagem nele contida. Os poucos diálogos e o silêncio imenso que ocupa a maior parte da sua duração - silêncio que se faz sentir mesmo quando existem diálogos -, acabam por transmitir muito mais do que muitos filmes feitos de paleio. Nesse aspecto, todos os actores são, mais uma vez, irrepreensíveis.

O filme mereceu todos os Oscars que conquistou, disso não há dúvidas, mas havia um outro que merecia muito mais. Chama-se "Ratatui" e dele falarei no post seguinte.
Para resumir, "No Country For Old Man" é um filme feito daquele silêncio do deserto em que Llewelyn Moss encontra uma mala cheia de dinheiro, e que vai defenir o resto da sua vida. É o silêncio que acompanha Shigurh sempre que se aproxima do mesmo Moss - ou seja, é o silêncio da morte certa. Porque Moss não foge de Chigurh, foge da morte feita homem desajeitado e enganadoramente tosco.

O filme tem uma reviravolta súbita e que nos deixa durante alguns minutos um bocado à nora, tentando perceber se fomos enganados pelos Coen ou se de facto aconteceu o que mais se temia e adivinhava. Portanto, essa reviravolta não é por si só uma surpresa, a forma como ela nos é apresentada é que nos desarma por completo. Sem aviso prévio, do nada, os realizadores decidem «oficializar» o que o espectador estava sinceramente à espera que nao acontecesse. É nesse momento que nos damos conta de que não estávamos a ver um filme sobre um pobre desgraçado que encontra uma mala com dois milhões de dólares, mas sim sobre o mundo doentio e totalmente fodido que o xerife Bell não compreende. Um mundo que existe para lá do deserto onde ele cresceu. O deserto que Bell contempla da janela da casa de um amigo, uma das melhores sequências do filme e que mostra bem o que se deve sentir enquanto se olha para um passado que já não está lá.




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quarta-feira, março 12, 2008

"SHANTARAM COM CARIL DE LENTILHAS, SE NÃO SE IMPORTA"



Desafiado pelo Zé Carlos do costume - que este ano já me pôs a beber Super Bock Green -, decidi adquirir um livro de quase 900 páginas, pesado como uma tampa de saneamento, passado na India, escrito por um australiano ex-heroinómano, condenado a vinte anos de cadeia por assaltar bancos, fugido da prisão ao fim de um ano e em plena luz do dia, que se refugiou em Bombaim e que voltou a ser capturado ao fim de dez anos, que esteve preso mais seis, dois dos quais numa solitária, que teve de escrever o seu romance três vezes, porque os guardas prisionais insistiam em destrui-lo, e que se prepara agora para o adaptar ao cinema, contando desde já com Johnny Depp para vestir a sua «pele».
O homem chama-se Gregory David Roberts, o livro "Shantaram", e verdade seja dita, é viciante. Perigosamente viciante. De tal forma que dei por mim a amaldiçoar o dia em que comprei carro e deixei de andar de transportes públicos. Acho que vou planear uma viagem a Lisboa só para ter três horas livres de tudo para me dedicar a ele.
Safa!


Só num país como Portugal é que alguém pensaria "espera lá, e se destruíssemos o Mercado do Bolhão?"...

Ponto final.

KARMABOX WITH A VIEW - STEPPENWOLF - "MAGIC CARPET RIDE"



Se tiverem perucas estranhas no armário, calças à boca de sino dos vossos pais, e um charrito ou dois escondidos na gaveta das meias, saquem-nos cá para fora, se fazem favor...


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terça-feira, março 11, 2008

FANTASPORTO' 08 - FINAL




Há coisas, muitas coisas, que já não fazem sentido no Fantasporto.


E para melhor explicar esta situação, é necessário recuar até 1992, ano em que o Fantas deixou de ser somente um festival de cinema fantástico e de terror, para passar a ser um "festival generalista". Até então o certame dedicava-se a 100% a esses dois géneros (complementares) e com elevado grau de sucesso, tendo sido mesmo considerado, por algumas publicações dedicadas ao mundo da sétima arte, como um dos melhores festivais de cinema do mundo. Em 92 as portas abriram-se a outros géneros, nomeadamente através de uma secção competitiva nova, chamada de "Novos Realizadores", e que somente aceitava trabalhos de jovens realizadores que não tivessem no seu currículo mais do que dois filmes. Por isso mesmo chegavam até nós obras vindas directamente de Sundance e do festival de Chicago, dois certames que dedicam o seu tempo de antena a um estilo de cinema mais independente e desconhecido do público português. Algures entre 92 e as últimas edições do Fantas a coisa diluíu-se, e o que existe hoje em dia é uma secção competitiva intitulada "Semana dos Realizadores", ou seja, tudo o que não é fantástico e/ou terror.

A juntar a isto, a secção de cinema oriental para o qual, honestamente, já muito poucos têm paciência. O universo asiático é manifestamente curto, e os filmes acabam por parecer todos iguais, as bandas sonoras todas iguais, a fotografia, as interpretações e tudo o resto demasiado iguais e o resultado é, regra geral, uma tremenda e arrastada seca.

Portanto, temos um festival de cinema que se diz generalista, e que renuncia ao seu passado de sangue, tripas e saltos na cadeira, mas que atribui todos os anos o prémio máximo a um filme de fantástico e/ou terror. Estranho...
Seja como for, a colheita deste ano foi razoável a fugir para o bom - excepção feita ao cinema asiático -, pelo que não nos podemos chatear lá muito.

O que chateia, como sempre, são os prémios, que acabam sempre por reflectir também a pouca variedade de filmografias presentes. Temos cinema espanhol, asiático e nórdico a dar com um pau, e falham outras nacionalidades, nomeadamente da américa do Sul, França, Itália, Canadá e isto só para nomear alguns países que nos costumavam trazer sempre boas surpresas. Algo nesta salada de frutas em que o Fantasporto se tornou cheira mal, e tenho cá para mim que é a entrega da variedade dos filmes a concurso a algumas distribuidoras, nomeadamente de Espanha.
Mas este ano o Fantas teve um sabor especial. O convívio habitual nos corredores e no bar de serviço soube ainda mais à nostalgia de outros tempos. A presença de alguns amigos de sempre - especialmente do Zé e do Menezes - e a companhia mais assídua da Bárbara, tornaram estes quinze dias ainda mais espectaculares.
Quanto aos prémios, depois deixo aqui mais um post, devidamente comentado. Para já um prémio de que ninguém falou ou falaria, mas que merece bem o destaque.

O Prémio Para o Melhor Desenho do Placard Do Público do Fantas - Zé Carlos, por "No Country For Old Queers", uma sentida e sincera homenagem a esse monte que é José Carlos Malato.


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domingo, março 09, 2008

KARMABOX WITH A VIEW - STEALERS WHEEL - "STUCK IN THE MIDDLE WITH YOU"

Para o companheiro de anos do Fantas...

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FANTASPORTO' O8

Ora acabou-se o Fantas. Não tive obviamente tempo para vir aqui durante a semana falar dos filmes vistos, pelo que me vejo agora na necessidade de fazer um apanhado de tudo o que de interessante se viu por lá.

A média foi bastante interessante - ao contrário de tantas edições anteriores - e os prémios, no devido enquadramento, aproximadamente lógicos e coerentes. Disso falarei no post seguinte, ok?

Para já, e pela ordem de visionamento, os filmes que mais se destacaram...


Tuya's Marriage - Quanan Hang

Realizado por um cineasta chinês, o filme mostra a vida numa pequena povoação na Mongólia, nomeadamente o dia a dia de Tuya, mulher de um pastor fisicamente incapacitado por um acidente de trabalho. Tuya - magistral desempenho da actriz chinesa, Yu Nan, e que já está a filmar com os irmãos Wachowski - leva uma vida tornada pesada pela deficiência do marido, e vê-se a braços não só com o trabalho de dona de casa, como também de tudo o que ele fazia, inclusive tratar do rebanho de ovelhas, a sua principal fonte de rendimento.
Em parte contra a sua vontade, Tuya aceita a ideia de divorciar-se e casar-se pela segunda vez para melhor poder ajudar a sua familia. A única condição é a de que o seu pretendente aceite o ex-marido e o ajude no seu problema.
O filme é de uma beleza imensa, os actores são fantásticos e o realizador utiliza as gigantescas paisagens da Mongólia quase como se de um personagem se tratasse. Merecidamente, "Tuya's Marriage" foi Urso de Ouro no festival de Berlim, e estranhamente deixou o Fantasporto sem um único prémio ou menção honrosa. Vá-se lá perceber...




REC - Jaume Balagueró e Paco Plaza

Realizador fetiche do festival, o catalão, depois de alguns filmes menos bem conseguidos e semelhantes em todos os aspectos, volta a surpreender o espectador com uma obra que, não sendo totalmente original, se torna em mais um digno representante de um novo género de cinema - embora, muito provavelmente, tenha servido também para o esgotar. Aproveitando a mesma fórmula de "The Blair Witch Project" e do mais recente "Cloverfield", "REC" é uma espécie de reportagem televisiva que acaba por estar no pior local e à pior hora possiveis.
Bem filmado, dominado por um ritmo avassalador e assustador como o caraças, "REC" falha apenas em dois não tão pequenos pormenores: não consegue nunca enganar o espectador, e convencê-lo de que o que está a ver é mais do que apenas um filme, e perde metade do interesse no preciso momento em que nos é explicado o que realmente se está a passar. Não chega para o estragar, no entanto. O filme tem os dez minutos finais mais intensos e assustadores da história do cinema espanhol, e deixa o espectador mais experiente pregado à cadeira, de olhos arregalados e respiração ofegante. Na sala, não foram poucas as vezes que se ouviram gritos e impropérios de todas as espécies, sempre que as pessoas saltavam das suas cadeiras num exercício de coreografia perfeito.
Apresentou-se desde logo como um dos filmes talhados para vencer o festival, e vai ter, felizmente, uma merecida carreira cá pelo burgo. Não o percam, se fazem favor.



Music Within - Steven Sawalich

Biografia de Richard Pimentel, um americano que dedicou a sua vida a lutar pelos direitos dos deficientes no seu país, e que conquistou muito mais do que se podia algum dia imaginar. Através do filme ficamos a saber que algures até à década de setenta, havia nos EUA uma coisa chamada de "Ugly Law", que permitia ao proprietário de um restaurante, por exemplo, expulsar um cliente que, por apresentar uma deficiência de qualquer espécie, incomodasse os restantes clientes. O filme, apesar do assunto sério, é uma comédia ao estilo de "Forrest Gump", igualmente com uma banda sonora de eleição e que merecia outro destaque. Ao invés foi exibido a um Domingo à tarde e para meia dúzia de espectadores.






Opium: The Diary Of a Madwoman - Janos Szasz

Já não é surpresa, a filmografia húngara ser de tão boa qualidade. É normal pelo menos um bom filme por ano no Fantas. Este "Opium..." foi um dos melhores desta última edição, denso, incómodo, filmado com um cuidado e uma beleza incomuns, dada a temática, e servido por dois excelentes actores.
Passado num hospital psiquiátrico do início do século XX, o filme acompanha um momento menos bom na vida de um médico, escritor famoso e morfinómano que, afligido por um bloqueio criativo, decide passar uns dias na dita instituição na tentativa de escrever um novo livro. o encontro com uma paciente «especial» completa a história, e oferece-nos uma estranha mas poderosa história de amor/loucura.




Interview - Steve Buscemi

Uma autêntica peça de teatro. Realizado e co-escrito pelo famoso realizador americano, "The Interview" é um duelo contínuo entre um jornalista arrogante e a sua entrevistada, uma emergente actriz de novelas amercianas, não tão fútil quanto parecia à partida. Passado quase na sua totalidade no apartamento da jovem actriz - a bonitinha Sienna Miller -, "The Interview" é uma obra feita de conversa; uma óptima conversa, com momentos absolutamente geniais e bem representados - por Miller e pelo próprio Buscemi - e que têm o condão de conseguir prender o espectador ao assento.








You, The Living - Roy Andersson

Ou mais um exemplo de como o cinema nórdico é um dos mais interessantes do mundo. Assumidamente surreal, com um sentido de humor muito próximo do de Jacques Tati, e arrojado na sua estética feia e fria, "You, The Living" conquistou prémios em diversos festivais, inclusive o de melhor realizador no Chicago International Filme Festival. Não se pode facilmente dizer que seja um filme sobre qualquer coisa especifica. É um filme sobre pessoas, filmado em quadros estáticos - apenas três sequências apresentam movimentos de câmara - e com um sentido de humor irresistivelmente nonsense. Os gags, apresentados em série, perdem algum do fulgor inicial, mas a recta final volta a adquirir uma força esmagadora, e o filme compensa a perda de alguma comicidade com uma mensagem fortíssima e uma sequência de imagens fortes e que ficam na retina muito depois do seu final.
O melhor filme do festival, caso não tivesse havido "Band's Visit".


Room 205 - Martin Barnewitz

Mais um óptimo representante nórdico no Fantas deste ano. Atípico filme de terror, filmado com um cuidado estético anormal e com uma banda sonora pairante e nada comum em filmes do género, "Room 205" escapa, por isso mesmo, ao saco onde se costumam armazenar filmes de terror passados no seio de uma comunidade estudantil. E são tantos e sem idéias...
Este é diferente, não no tema, mas claramente na forma como ele é apresentado. Não resiste a cair numa ou outra situação algo ridícula, mas contas feitas, é uma bom exemplo do terror clássico, de fazer arrepiar e saltar nas cadeiras.






The Mist - Frank Darabont

Primeiro, e por ser realizado e escrito pelos mesmos responsáveis de "The Shawshank Redemption" e "The Green Mille" - respectivamente Frank Darabont e Stephen King -, prometia ser interessante.
Depois de conhecido o argumento, e principalmente depois de terem visto as primeiras imagens, surgiu alguma sensação desagradável de frustração entre os que aguardavam ansiosamente por mais uma adaptação de um livro do mestre incontestado da literatura de terror.
Algures numa pequena povoação dos EUA, uma tempestade dá origem a uma névoa misteriosa e que abriga um sem número de criaturas hediondas. Um grupo de sobreviventes é obrigado a refugiar-se no supermercado local, e a lutar, não só contra as tais criaturas, como também contra o espirito humano, que em situações de adversidade rapidamente regride até ao seu estado mais violentamente primitivo.
A Stephen King sempre lhe atrairam estas situações de conflito de grupo dentro de um conflito ainda maior e nada agradável para os intervenientes. Neste caso, a coisa até foge aos habituais chavões em que inúmeros realizadores caiem sempre que pretendem adaptar mais uma obra sua, e o filme torna-se num gigantesco episódio da "Twilight Zone". É divertido, é assustador masnão em demasia, tem suspense, tem fanáticos religiosos que falam com Deus, e tem um ambiente fechado (pelo nevoeiro) e denso o suficiente para agradar aos fãs de um bom clássico de série B.
Bom para pipocas!

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segunda-feira, março 03, 2008

FANTASPORTO' 08


Começou a sessão competitiva e logo apareceu a verdadeira qualidade deste festival. A primeira semana acabou por ser uma massiva maratona de encher chouriços, repleta de filmes mais ou menos desinteressantes. A mudança foi notória e logo com os dois primeiros filmes da noite de sexta.

"The Band's Visit", realizado por Eran Kolirin, é uma produção repartida entre EUA, Israel e França, e conta a viagem de uma banda da polícia egípcia a Israel para actuar na inauguração de um centro de cultura árabe. O filme é uma pequena delícia de ingenuidade, que retrata de uma forma absolutamente doce as relações espontâneas entre dois povos que à partida não conseguiriam sequer manter uma conversa. O filme tem um coração enorme e essa característica cria situações cómicas irresistíveis, ao mesmo tempo que enternece o espectador.
Os actores são de uma dignidade rara os dias que correm, e entregam-se ao filme de corpo e alma. Colectivamente estão todos irrepreensíveis, mas justiça seja feita, merecem destaque Ronit Elkabetz, no papel de Dina, a mulher que decide ajudar o grupo de egípcios perdido na paisagem árida da fronteira israelita, e, acima de todos, Sasson Gabai, o coronel lider da banda. O israelita tem uma interpretação notável, contida sempre em poupança de trejeitos e capaz de comover o mais impedernido dos machos. Merece o prémio de melhor actor, e digo-o mesmo com o festival a meio.

Logo a seguir, "El Orfanato", de Juan Antonio Bayona, deu o mote para o início também dos filmes mais à Fantasporto, ou seja, dos saltos na cadeira, dos arrepios na base da nuca e do aumento exponencial do ritmo cardíaco. "El Orfanato" foi a escolha espanhola para concorrer ao Oscar para melhor filme estrangeiro, e diga-se que, apesar de não ser o tipo de obra que a academia alguma vez escolheria para conquistar esse prémio, é um trabalho notável. Produzido pelo Guillermo Del Toro do "Labirinto del Fauno", o filme é conta uma história de fantasmas, é certo, mas com um twist final cruelmente real e digno de um episódio da Quinta Dimensão. Belén Rueda, a personagem principal e em torno da qual toda a história se desenrola, tem um papel fenomenal e consegue transmitir a um filme de ficção o realismo comovente de uma mulher que luta com todas as forças para encontrar o filho, misteriosamente desaparecidoe é desde já a favorita para levar para casa o prémio de melhor actriz do Fantas. É provável que "El Orfanato" tenha estreia em Portugal, por isso, estejam atentos.








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