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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, maio 18, 2015

UMA COMPANHIA DO CARAÇAS



Tentei sempre, nestas coisas que escrevo aqui, fugir aos espectáculos do Teatro Universitário do Porto. Já os divulguei, já falei dos processos de construção e ensaio, mas nunca escrevi sobre os espectáculos de um ponto de vista crítico. Por muito que tentasse, ser-me-ia sempre difícil a total isenção. O TUP é-me tão emocional que me rouba a racionalidade e mesmo que falasse mal de um determinado espectáculo, até isso poderia ser uma crítica emocional, marcada pela frustração ou insatisfação pessoais. E por isso não escrevo sobre os espectáculos porque fujo sempre e como posso ao conflito de interesses.

Mas sinto-me à vontade para escrever sobre o TUP e aí sim sem me preocupar com acusações de conflitos de interesse ou de falta de isenção. Acredito que o que digo, e que vou dizer agora, são factos incontornáveis e irrefutáveis - mesmo que não o sejam e que eu escreva mais com o coração do que com os dedos.

O TUP é a companhia de teatro em actividade mais antiga do Porto. Facto. Pouco interessa se é teatro amador, universitário ou profissional. É a mais antiga e não há discussão. Fez mais pelo teatro na cidade do que muitas companhias ainda existentes ou já desaparecidas. Introduziu autores em Portugal, alguns deles, hoje em dia, dos mais conceituados, e foi, de certa forma, uma das primeiras escolas de teatro do Porto. Não foi uma escola, como hoje existem tantas, mas foi o sítio onde as pessoas primeiro perceberam que era teatro que queriam fazer. Foi-o sempre e ainda é. Ainda hoje há quem desista do curso em que está para se dedicar ao estudo do teatro nas suas mais diferentes áreas. Sempre foi e sempre será, o TUP, uma espécie de escola. 

Este ano, o TUP participa no FITEI. Não sei dizer se é a primeira vez, mas tenho a certeza que é a primeira vez em muitos anos. Haverá quem discorde desta participação. Porque o TUP não é uma companhia profissional e por muitas outras razões ainda menos dignas. Por outro lado, há já quem defenda que o TUP não devia participar no FATAL, o maior festival de teatro universitário do país, por ser uma companhia demaisado profissional. Não se entende nenhum dos argumentos. O primeiro desde logo porque, quer gostem, quer não gostem, o TUP faz parte do panorama cultural da cidade e é uma das companhias com maior sucesso de bilheteira. Facto. O TUP é, com todo o mérito, um dos projectos artísticos da cidade que merece o lugar que ocupa e só é menosprezado por quem o quer menosprezar; por quem insiste em assinalar a diferença entre cultura profissional e cultura amadora com argumentos que não lembram ao diabo. O segundo, porque pura e simplesmente o teatro universitário não pode ser um lugar onde se perdoa a displicência e onde se acolhe o conceito de passatempo. O teatro universitário e o amador devem ser alternativas válidas ao teatro profissional. Por isso mesmo, devem ser feitos com a mesma exigência e o mesmo grau de sacrifício. É por isso que o TUP quer ser levado a sério e é por isso que o TUP tem o sucesso que tem e colecciona prémios como poucos. Facto.

Há uma coisa de que tenho a certeza absoluta: o TUP é uma companhia trabalhadora, muito trabalhadora. No TUP acredita-se que o trabalho conduz a um nível e que esse nível define o resultado final e a reacção do público. E é por isso que os ensaios são diários e não semanais e é por isso que os processos duram três e quatro meses. Se o espectáculo que o TUP leva ao FITEI for construído desta forma, não tenho dúvidas de que vai ser um novo sucesso e que vai dar poucos argumentos aos que insistem em arrumar o teatro amador e universitário a um canto. 


O TUP venceu o FATAL. Outra vez, venceu o FATAL. Venceu-o em 2010 e venceu outros prémios pelo caminho, no FATAL e não só. Em seis anos, seis prémios. Facto. E é também por isto que o TUP deve ser levado bem a sério. Não deve ser levado a sério somente no universo do teatro universitário. Deve ser levado a sério. Sem argumentos paternalistas ou desculpas sorridentes. O TUP faz mais e melhor do que muitos profissionais, que também não merecem desculpas nem argumentos. E se tiverem de olhar para o nosso trabalho com o escrutínio da exigência mais afiada, pois que seja, nós aguentamos. Mas não nos menosprezem nem encolham os ombros ao que fazemos. 


Nós somos o TUP e somos do caraças. Com erros pelo meio e tentativas falhadas, mas do caraças.