kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, dezembro 28, 2010

A GÉMEA MÁ

Se os últimos dias de 2010 não trouxerem nada de realmente bombástico, Black Swan será o filme do ano para este blog. Depois do grandioso deslize que foi The Fountain, e da (quase necessária) crueza magnífica de The Wrestler, Darren Aronofsky volta a deixar o mundo cinematográfico de boca aberta com um objecto que é uma gigantesca comidela de cérebro e, ao mesmo tempo, uma obra-prima.

O argumento é engenhoso e bastante simples, e tem como ponto de partida - e bem mais do que isso, na verdade - a intemporal história do bailado Lago dos Cisnes. E o mundo da dança clássica não é mais do que um pretexto para filmar a mente retorcida de alguém que, a abono da verdade, não está lá muito bem da cabeça. Por outras palavras, de uma moça que está total e completamente comida do cérebro. Por isso mesmo nos sentimos a enlouquecer com a personagem magistralmente interpretada pela melhor Natalie Portman de sempre, e por isso mesmo a dada altura já nem sabemos o que é verdade e o que é produto da nossa(?) imaginação traiçoeira.

Black Swan é, a todos os níveis, perfeito. A forma como Aronofsky filma as sequências de dança - que também não são só cenas de dança - é sufocante e coloca-nos, mais uma vez, na pele de Nina, a bailarina a quem cabe a responsabilidade de encarnar os dois cisnes do famoso bailado. A música, a fotografia e a montagem são mais ferramentas ao serviço da mente manipuladora do realizador e Portman, mais uma vez, a chave de toda a orquestração.

Pelo sacrifício, pela transformação - ou deverei dizer, transformações - e pela verdade que transporta, Natalie Portman merecia, pelo menos, a nomeação ao Oscar. Darren Aronofsky a nomeação para melhor realizador; Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin pelo argumento e o filme... para m
elhor filme. Porque é genial, sem sombra de dúvida. E porque é original e surpreendente.

Já se percebeu a marca de Darren Aronofsky. Já se percebeu o seu estilo e a sua qualidade como realizador. O que deixa qualquer um ainda mais confuso, ao saber que se está a preparar para realizar o próximo episódio da saga Wolverine...


A ARTE É UMA PIADA DE BOM GOSTO

Antes que se comecem a espumar, Exit Through The Gift Shop não é um documentário sobre o ultra-secreto Banksy. É realizado por ele, mas nem sequer são suas as imagens que vemos no documentário sobre street art. Ou melhor, que começa por ser sobre street art e que acaba a ser sobre outra coisa bem diferente.

Mas como dizia, o filme começa realmente por ser sobre street art, e sobre alguns dos mais famosos artistas plásticos que utilizam a rua como espaço de trabalho. E tudo resultado da obsessão de um francês em filmar tudo o que vê e que de um dia para o outro começa a seguir estes artistas e a registar tudo o que fazem. A dada altura, e fruto do mero acaso, o francês acaba por conhecer o famosíssimo Banksy, conquistar a sua confiança e filmar o seu trabalho. E acaba aqui a parte séria do documentário.

Acaba, porque a seguir o que vemos é Banksy a tomar conta dos acontecimentos e a reutilizar as imagens do francês e da sua nova carreira, mas da forma perversa e subversiva como o inglês tão bem sabe fazer. E o documentário passa a ser sobre a futilidade da arte e os papalvos que insistem em pagar verdadeiras fortunas por coisas que meramente se assemelham com arte. Ou seja, Exit Through The Gift Shop é mais uma prova da inteligência de Banksy; da forma como encara a arte, de como se diverte a fazer o que faz e de como basicamente come a cabeça a toda a gente. Pelo caminho, é também um importante documento sobre uma forma de arte incompreendida e feita para ser destruída.


quinta-feira, dezembro 23, 2010

AI O NATAL, O NATAL...



O Natal não me irritava. A sério, não me irritava. Eu até gostava do natal, mas a nova forma de encarar o Natal, ou seja, a forma keriduxa-fufinha-somos-todos-irmãos-new-born-christian que se instalou um pouco por toda a sociedade, tira-me do sério. Pior, as novas tecnologias permitiram aos idiotas que acham que toda a gente gosta das suas mensagens em cadeia, chapa 4, ridículas e no fundo altamente deprimentes, espalhar a palavra. Uma palavra totalmente idiota, diga-se.

Uma rápida vista de olhos ao Facebook e a coisa entende-se de imediato. Entende-se e deixa-me doente. E bijinhos para um lado, felicidade para o outro, e carradas e carradas de mel enjoativo, ridículo (já me estou a repetir) e perfeitamente fútil, inútil e desenquadrado. Tudo está mal como estava até há 24 horas. Tudo é mau. Tudo? Não, fechamo-nos em casa a mandar mensagens puéris de peace and love for all men que o bicho cá dentro não nos pega.

No fundo sou um abençoado; a minha família é pouco dada a estas mariquices natalícias e a noite de 24 para 25 é usada desavergonhadamente para encher a pança, aparvalhar, rir até ficar enjoado e falar mal dos infelizes que perdem tempo e as poucas células cinzentas que lhes restam a criar pedaços de informação imberbe, demente e para atrasados mentais que o são por opção.

terça-feira, dezembro 21, 2010

PHOTO OF THE DAY

Jamie Livingston tirou uma foto por dia, entre de Março de 1979 e 25 de Outubro de 1997, dia em que morreu vítima de cancro. O gigantesco acervo fotográfico que criou, um documento histórico da sua própria vida, é um objecto raro e impressionante, e que merece ser conhecido e explorado. Espreitem, por favor, o site que os seus amigos criaram, e que reúne todas as imagens que Livingston capturou com a sua Polaroyd SX-70.

sábado, dezembro 18, 2010

DESCOBRIMENTOS


Os canais de televisão descobriram a maravilha das galas de beneficência. O natal passa a ser a época preferencial para RTP, SIC e TVI mostrarem que também podem ter um coração de ouro. Ou não...

As galas não são mais do que auto-promoção envaidecida, feita com a prata da casa. São produtos televisivos presunçosos, parolos e muito mal amanhados. O da SIC, então, foi porventura o pior programa da televisão portuguesa do ano. Porquê?

Porque foi inacreditavelmente mal realizado; porque os apresentadores estavam em sintonias diferentes; porque os convidados - assalariados da estação, pois claro - tinham de improvisar qualquer coisinha para dizer; porque os convidados musicais tinham de improvisar respostas a perguntas absolutamente estapafúrdias; porque falavam uns por cima dos outros; e porque tudo era visivelmente feito em cima do joelho. Bom exemplo disso, a forma como as interrupções das conversas e de um ou outro momento musical, eram metidas à força.

Momento alto e infeliz da noite foi aquele em que um dos assalariados da SIC comunicou em directo a morte de Carlos Pinto Coelho, pondo um ponto final bem grande e sonoro no ambiente festivo da coisa. O incidente foi de tal forma grave que hoje, dia em que o canal de Carnaxide repete a emissão da gala, esses breves segundos foram cortados.

Vai bem a televisão nacional...

sexta-feira, dezembro 17, 2010

I HEAR DEAD PEOPLE...

É um clássico instantâneo dos filmes de culto, série B que tanta falta fazem ao cinema de terror à boa moda da saudosa Twilight Zone. "Pontypool" é já um dos filmes do ano deste blog, obra representativa de um estilo também ele saudoso e que também tanta falta faz, por exemplo, ao Fantasporto. O segundo must see da semana, depois de "Monsters".

O spoiler alert impede-me de descrever com detalhe sobre o que trata "Pontypool", pelo que adiantarei somente alguns pormenores que considero indespensáveis. Começando desde logo pelo grande trunfo de um filme em que tudo se ouve e quase nada se vê. Fechados num pequeno estúdio de uma rádio local, três indivíduos assistem, incrédulos e confusos, a um acontecimento de proporções e consequências absolutamente aterradoras, relatando, na medida do que lhes é possível, o que vai acontecendo lá fora.

É pouco? É, eu sei. Mas acreditem, se vos estragasse a surpresa, a vossa vontade seria a de me matar à dentada - e bem a propósito, diga-se. "Pontypool" é um dos melhores filmes de terror que vi nos últimos anos, obra pequena, de baixo orçamento, realizada por um canadiano, Bruce McDonald, habituado a séries de televisão. Um filme com um elenco de secundários, liderado por um Stephen McHattie sempre excelente mas que assina aqui a sua melhor interpretação de sempre.

O filme perde algum do ritmo inicial? Perde, sim senhor. Tem alguns deslizes no argumento? Tem, com certeza. O final é precipitado? Talvez, um bocadinho. Mas esses são sintomas da série B do antigamente, e que sabem a refresco, especialmente se tivermos em conta o cinema estafado e parco em ideias que se vai vendo por aí. Não o percam por nada deste mundo, até porque não vão ver, nem nos cinemas, nem nos videoclubes.

Para além disso, "Pontypool" tem verdadeiras pérolas de diálogo, dois primeiros minutos verdadeiramente de cortar a respiração, e que nos agarram de imediato à cadeira, e mexe, remexe e redesenha um género - que não vou revelar - que foi moda durante dois anos e que já começava a dar sinais de se tornar num morto-vivo...


A VER... PROVAVELMENTE


Não sou um fã confesso de Terrence Malick. Sou, isso sim, um viciado em The Thin Red Line, a sua obra-prima, e que pude revisitar há poucos dias - uma gentileza da RTP. Gosto particularmente, como todos os que apreciam o trabalho de Malick, o cuidado que tem com a imagem; com a fotografia, os planos cuidadosamente desenhados e sempre contemplativos.

Muito se tem falado deste The Tree Of Life, resta saber se salva a imagem de Malick - não a carreira, coisa que aparentemente nunca lhe ocupou muita paciência - do desastre comercial que foi o seu último filme, The New World.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

A MUST SEE

Acabei de o ver há pouco mais de dois minutos, e estou na dúvida se o título do filme 'Monsters' é dirigido às criaturas que aqui e ali povoam a paisagem, se às pessoas que somos.

A história é simples e muito directa - a sinceridade é, aliás, uma das qualidades do filme - e é exposta e explicada ainda antes das primeiras imagens surgirem. Uma sonda enviada para o espaço para recolher amostras de uma nova espécie de vida, sofreu um acidente ao entrar na atmosfera terrestre e despenhou-se no México. As amostras espalharam-se pelo território e, naturalmente, começaram uma espécie de colonização. O filme começa seis anos depois do acidente, e o cenário um México em estado de guerra absoluto; os americanos ocuparam o território e combatem os aliens - contra a opinião do povo mexicano, desejoso de ver os gringos dali para fora.

Não me estico mais no desvendar do argumento de 'Monsters', mas sempre adianto que não é nada do que possam prever; é uma óptima surpresa, um filme inteligentemente filmado e editado, com um toque de sensibilidade inesperado e muito agradável. Ok, a metáfora ecológica é demasiado evidente, e a mensagem ao governo norte-americano - sempre preocupado em manter os illegal aliens do outro lado do muro - quase inevitável; ainda assim, não estragam a obra de Gareth Edwards, um estreante nestas andanças e que até aqui só tinha experimentado o cinema documental. Talvez por isso, a qualidade da fotografia, o cuidado nos planos e a tranquilidade no contar da história.

'Monsters' é um dos filmes do ano para este blog. A princípio poderá parecer exagero, mas garanto: é uma pequena pérola, feita com bastante dinheiro, mas com uma humildade e simplicidade que fazem parecer fácil o trabalho de construir um filme. É para ver, obrigatoriamente.

Ah, e agora que acabo de escrever, já não tenho dúvidas em relação à intenção do título...

sexta-feira, dezembro 10, 2010

FOURTEEN ACTORS ACTING



Numa altura em que tanto se fala das novas narrativas, nem sempre é fácil encontrar alguma coisa que nos surpreenda ou que nos prenda ao(s) ecrã(s). Na sua edição dedicada a Hollywood, o New York Times decidiu incluir uma curta-metragem composta por uma série de vídeos, musicados por Owen Pallett, interpretados por 14 actores, e que, sem ser exactamente necessário, se explicam na frase A video gallery of classic screen types. E são esses exemplos que nos surpreendem e nos mantêm agarrados ao ecrã.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

A FIBRA ÓPTICA FAZ MAL À SAÚDE

Ainda há dias falei aqui de Skyline, um dos filmes-aliens do ano. Nem de propósito, e graças às novas tecnologias, acabo de o ver. E tenho de admitir, a coisa sabe um piquinho a desilusão. Muita parra, pouca uva, diria o povo. E é estranho, porque a coisa está bem embrulhada em efeitos especiais de alto nível, uma permissa bastante interessante e, diga-se, original, mas perde-se numa realização deficiente e que desaproveita estrondosamente todas as boas possibilidades.

E compreende-se. Skyline era um bom esboço de projecto, entregue a uma dupla de tarefeiros, responsáveis por um dos filmes Aliens Vs. Predators, de má memória para qualquer cinéfilo. Os Brothers Strause safam-se no aspecto visual do filme precisamente porque é essa a área que melhor dominam e onde apresentam mais experiência, mas claramente não estão habilitados a dirigir seja o que for.

Skyline começa bem e consegue agarrar o espectador. Larga-o da mão no preciso momento em que tudo começa a acontecer e quando os realizadores se atrapalham na quantidade de informação produzida. Pena, porque o filme tinha tudo para ser uma versão blockbuster de District 9, por exemplo - e comparações à parte, claro.

No entanto, acaba por ser inevitável sentir alguma simpatia por um trabalho que tem alguns bons momentos e que nunca pretende ser mais do que aquilo que é; e falta de pretensiosismo é coisa rara nestes tempos cinematográficos, o que acaba por ser uma qualidade a ter em conta. Mas que é uma gigantesca oportunidade perdida, lá isso é.

sábado, dezembro 04, 2010

KARMABOX WITH(OUT) A VIEW - NICK CAVE & WARREN ELLIS - THE BEACH

Falei aqui da banda sonora do filme The Road por alturas da sua estreia no nosso país. Mantenho, passados todos estes meses, a opinião de que é uma das mais bonitas partituras escritas para cinema e indiscutivelmente um dos discos do ano. Para ser sincero, o disco do ano.