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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, maio 29, 2013

A VERGONHA CHAMADA FATAL

Gostava de começar por esclarecer que as seguintes declarações reflectem única e simplesmente a minha opinião dos acontecimentos vividos na última edição do FATAL - Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa. Ou seja, a responsabilidade do que aqui se vai ler é inteira e exclusivamente minha, não enquanto membro do TUP, mas enquanto indivíduo que gosta, acima de tudo, de boa educação, boa vontade e de ser tratado com respeitinho.

O FATAL é um momento importante na vida dos grupos de teatro universitário. É o festival maior em Portugal, aquele em que todos querem participar, a que todos querem levar o seu trabalho. É uma forma, cedendo ao centralismo da capital, de se conseguir descentralizar a actividade dos grupos universitários, levando-a a outro público, à partida pouco ou nada familiarizado com o que se faz por esse país académico fora. 

O FATAL podia ser o festival de teatro universitário por excelência. Porque tem condições. Porque tem apoios como poucos eventos culturais em Portugal. Porque é em Lisboa e Lisboa, já se sabe, é uma cidade dada a estas coisas da cultura; porque tem público curioso e interessado, que quer ver, conhecer e saber mais. O FATAL podia ser enorme. Não o é pela incompetência, sobranceria e má educação de muitas das pessoas que por ele dão a cara - e pouco mais, diga-se de passagem.  

Mais uma vez, falo em nome próprio. Falo por mim e pelo que observei em três anos de presenças do TUP no FATAL. Mas falo por mim, não pelo TUP nem como membro activo do TUP. 

Em 2009 RECUPERADOS não foi a concurso porque os responsáveis pela escolha dos grupos concorrentes não tinham sequer visto o vídeo integral do espectáculo que, por força de já ter tido uma carreira no Porto, não estava em fase de ensaios - critério que, mesmo contrariando o regulamento do festival, era tido como o mais importante por parte da organização. Segundo o regulamento, o vídeo do espectáculo, esse sim, era critério fundamental. Não o quiseram ver. Não fomos a Lisboa.

Em 2010 o TUP sofreu única e simplesmente com a pouca ou nenhuma vontade dos técnicos responsáveis pela montagem dos espectáculos em ajudar quem estava ali para trabalhar - e trabalhar toda a noite. Nesse mesmo ano o nosso ALAN viria a vencer o festival, destronando, viríamos a saber mais tarde e pela boca de um dos jurados, o espectáculo do CITAC de Coimbra que, mesmo sem saber, já era vencedor indiscutível. Na altura, o que nos foi dito foi que já tinham decidido que era o CITAC o vencedor, mas que depois alguém disse «já agora, vamos ver o que trazem os do Porto». E em 2010 foi só isto. Isto e um ano e meio à espera do dinheiro que o prémio representava. Incidentes, pensámos.

Em 2012 as coisas correram relativamente bem. Alguns problemas com o estacionamento dos carros, coisa pouca - resolvida facilmente pelos técnicos da Politécnica(!) e não pelos produtores do FATAL - e nada mais a declarar. O TUP conquista o prémio para espectáculo mais inovador e, mais uma vez, fica à espera. E continua à espera. Ironicamente. O espectáculo chamava-se A ESPERA e era ao mesmo tempo um prenúncio de mais um ano à espera pelo dinheiro referente ao prémio. 

Este ano, o pior dos anos. O TUP leva ao FATAL MEDEIA DE NOITARDER, que para a organização do festival, e na revista do certame e em letras gordas, será para sempre MEDEIA DE NOITARDECER. E depois começam os incidentes. A caminho de Lisboa, e depois de termos comunicado por diversas vezes as 19:30 como hora de chegada, recebemos um telefonema da produtora - estávamos nós no Pombal a esticar as pernas, eram isto 17:00 - ameaçando que, ou chegávamos às seis para jantar ou perdíamos essa regalia, que a moça tinha um espectáculo para ver e não podia ficar à nossa espera. Ora tal não podia ser. Não num festival que «assegura alojamento e refeições». Vai daí a tal produtora passa-nos para as mãos do colega produtor, que esse sim ficaria à nossa espera e nos levaria à cantina para jantar. Chegados à cantina e ao dito produtor perguntámos «onde estacionamos as carrinhas?». A resposta rápida como se estivesse ensaiada «não sei, eu ando de bicicleta». 

Estacionar em Lisboa nunca é tarefa fácil, muito menos para quem conhece mal a cidade e tem dois furgões carregados com material - muito material, milhares de euros em material. Decisão: ir para a Politécnica, que aí sim conseguiríamos estacionar os veículos e alguém haveria de nos conseguir levar uma caixinha de comida. Mas não por vontade do dito produtor, que deu um rígido NÃO a quem lhe perguntou isso mesmo. 

Ao longo do fim-de-semana foram vários os exemplos desta arrogância de quem trabalha num festival que parece mais do que realmente é. Arrogância e má educação. E frete, e sobranceria e pouca, muito pouca vontade de se fazer fosse o que fosse. Até porque o Benfica vinha ao Dragão e isso, Deus me livre, vale mais, muito mais do que qualquer trabalho ou responsabilidade. Valeram-nos o Chicó, o Nuno e o Henrique, sempre bem dispostos e sorridentes, mesmo com tantas horas de trabalho pesado às costas. 

E depois? Bem, depois o espectáculo, estava já decidido unilateralmente e pelos organizadores, teria de ser atrasado por motivo do jogo do ano. Não seria nem foi atrasado, mesmo ameaçados com a certeza de pouco público nessa frase que fica para a história «ok, então não têm público». 

Fez-se. E fez-se bem, muito bem. E nas semanas seguintes, o vídeo do nosso espectáculo, ao contrário de todos os outros, não foi publicado na página do festival no Facebook. E foi publicado um vídeo da entrega de prémios onde o TUP, vencedor, novamente, do prémio de inovação nem sequer aparece, pese embora tenha enviado um grupo de actrizes que com a encenadora subiram a palco para receber a estatueta referente. E tudo isto cheira mal, mesmo mal. Cheira pior do que o Largo de Camões em noite de bebedeira.

Para além de tudo isto? Para além de tudo isto ficam os esquecimentos consecutivos de reservar lugares para os grupos verem os espectáculos a concurso - e aconteceu diversas vezes - fica a desistência do GEFAC por motivos muito tristes, e de que prefiro não falar, fica a total incapacidade de resolver problemas pequenos e à partida simples de tratar, e fica uma cinzenta e desagradável sensação de que os grupos são convidados a participar num evento onde não são bem vindos. E fica a dúvida: será isto somente incompetência ou há aqui uma grande dose de arrogância do tipo «para quem é, bacalhau basta»? 

É que se é assim, então algo está muito mal com quem pretende ser levado a sério, Quem se diz defensor do teatro académico. E alguma coisa me diz que grande parte destes incidentes não chegam aos ouvidos de quem manda e pode resolver o caos instalado. Ou, pior do que tudo, chegam mesmo. Seja como for é triste. Imensamente triste.


terça-feira, maio 07, 2013

AS BESTAS


Acompanhei há dias uma «conversa» no Facebook entre alguém que amaldiçoava as pombas citadinas e uma série de pessoas que claramente tinha arquivado, por falta de coragem ou oportunidade, muito ressentimento contra as pequenas aves. Ao primeiro sinal de à-vontade, os ressentidos aproveitaram o passo em frente de quem decidiu maldizer as pombas da cidade e lá soltaram a migalha de pipoca que tinham na garganta e fizeram correr um chorrilho de boçalidades ímpares – mas não surpreendentes.
A falta de sensibilidade das pessoas citadinas é conhecida e já nem choca. O que choca, é a total falta de escrúpulos de quem, na supracitada «conversa», exige sangue para evitar males maiores. Por outras palavras, estamos a falar de pessoas citadinas que basicamente querem a morte das pombas para estas não incomodarem mais; que querem castigos para quem as alimenta – essas outras pessoas citadinas que aos olhos das primeiras não fazem mais do que fornecer munições com que as pombas, esses demónios, nos atacam roupas, carros e cabeças com mais ou menos pelo.
É uma chatice, não haja dúvida. As pombas, de quem Lobo Antunes disse circularem de «mãos atrás das costas como chefes de repartição» são um flagelo, uma epidemia, um vírus que merecia o extermínio em laboratório. São as pombas as responsáveis pelo que de pior se encontra nas cidades, neste caso, na do Porto. E estes, envolvidos na dita «conversa», não são mais do que cidadãos preocupados com a beleza e higiene da urbe, com o bem-estar das estátuas e com a saúde das pinturas dos seus carros. Não são, no entanto, preocupados com as ruas regadas a mijo e as manhãs de Domingo cobertas por garrafas e copos de plástico. Isso não os preocupa nem os junta em movimentos sociais de indignação. Para eles, aparentemente, essas manifestações fazem parte da vida das cidades e não merecem reparo.
Ou então eu estou totalmente errado e não tarda nada e estas pessoas citadinas, cidadãos apoquentados, vão começar a exigir o extermínio de cães vadios, gatos de telhado e bêbedos que mijam nas esquinas e portas de garagem. E já agora, porque parar por aqui? Porque não exigir o extermínio dos pedintes, dos imigrantes que nos querem lavar os vidros do carro nos semáforos, peixeiras de rua e putas velhas e feias? Vamos limpar a cidade, minha gente, afinal temos milhares de turistas que querem gastar bom dinheiro nos nossos restaurantes e lojas de souvenirs e que não estão para levar com merda de pombo na cabeça. Temos de olhar pelo interesse da cidade, pelo greater good das pessoas citadinas. Temos de ser civilizados e exigir o fim de tudo o que nos importuna.
Ou então…
As pessoas citadinas são uma bela merda e não têm pejo em assumi-lo publicamente. Parabéns por isso.