kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

segunda-feira, março 30, 2009

KARMABOX WITH A VIEW - STEVIE WONDER - "MASTER BLASTER"

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KARMABOX WITH A VIEW - LONELY DRIFTER KAREN - "THE OWL MOANS LOW"

Descoberta hoje mesmo graças a um anúncio ao seu álbum "The Grass Is Singing" na revista Op.
Cheira a Joanna Newsom, a um bocadinho de Feist e a um sem número de referências, mas não cheira a cópia. É bom. Mesmo com uma música tão pequenina.


A senhora chama-se realmente Tanja Frinta e já tem carreira desde 2003, mas este é na verdade o seu primeiro longa-duração.



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sexta-feira, março 27, 2009

LES CONCERTS À EMPORTER

E assim se perde o juízo de vez.

Mal sabia eu que já existia um projecto anterior ao Black Cab Sessions, de que falei aqui há dias, e ainda mais elaborado. Em vez de um taxi o mundo. Cncertos em carrinhas, ruas, telhados e no cabeleireiro do bairro a correr bem.

Nem vale a pena dizer mais nada. Vale a pena é correr já para o respectivo site da
Blogothéque e começar a vê-los todos de enfiada. E são mais do que nas Black Cab Sessions, embora ambos os projectos sejam igualmente interessantes.

É engraçado ver que os artistas que concordam em participar, se inspiram de uma forma diferente do habitual, investem em roupagens muitas das vezes completamente alternativas, e apostam mesmo em grandes produções - tendo em conta as limitações técnicas, claro.

Este exemplo, dos Gullemots em Paris, é a melhor prova disso. Simplesmente maravilhoso.

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DKARMATOONDESIGN

Não, ainda não é desta que me aventuro nas artes do design gráfico, fiquem descansados. Mas tive de criar um blog dedicado ao design de comunicação visual por causa das aulas dessa mesma cadeira na faculdade. O assunto é interessante - dos mais interessantes até agora - e a idéia é ter uma base onde possamos falar dos temas abordados nas aulas e expôr os trabalhos a realizar. Podem espreitar, especialmente porque brevemente terão disponíveis os links para blogs de outros colegas.

O post abaixo também está lá e é um artigo sobre um vídeo que magistralmente conjuga vários elementos da comunicação visual - linhas, cores, movimento, etc. - com o uso de palavras como objecto plástico.


Quantas são ainda as pessoas para quem um filme só começa realmente após o genérico inicial ter terminado? Quantas vezes só temos silêncio absoluto na sala de projecção após estes pouco mais de dois minutos? Dois minutos que são na verdade o início do filme e que muitas vezes nos lançam pistas sobre o que vamos ver, que nos contam a história antes ainda de algum actor aparecer no grande ecrã e que, na maior parte das vezes e se estivermos atentos, podem até revelar que afinal o assassino não é - perdoe-me a Agatha Christie - o mordomo.

O genérico inicial é a primeira aproximação ao filme que estamos a ver. São as suas primeiras imagens, os seus primeiros sons. Pode muito bem ser um objecto plasticamente diferente do que se lhe segue, mas nunca lhe é totalmente indissociável. Pode mesmo ser considerado já como um género em si - há inclusive galardões que premeiam os realizadores destes pequenos filmes-dentro-de-filmes - mas obedece sempre a uma lógica narrativa, mais do que a uma vontade ou liberdade estética.

Quem realiza um genérico inicial é por definição merecida um artista plástico. Um artista que tem de perceber a história que se quer contar e saber como abordá-la ligeiramente, sim, mas também de forma a cativar os mais empedernidos e aumentar as expectativas do público. Um bom genérico prende o público desde os seus primeiros segundos. Um genérico realmente efectivo faz o público salivar pelo que está para vir, e quantas vezes é esse mesmo genérico o responsável pela mudança de atitude de alguém que foi ao cinema contrariado? Alguém que subitamente se vê apanhado pelo isco lançado por aqueles dois minutinhos e que já não consege olhar para o lado, segredar alguma coisa ao ouvido da namorada, ou fazer barulho com as pipocas.

É claro, há filmes e realizadores que parecem não apostar nesta primeira sequência de imagens e sons. Alguns filmes não têm sequer genérico - alguns nem sequer necessitam, para dizer a verdade - outros têm-no mas meramente como decoração; uma bonita moldura com que enquadrar os nomes dos intervenientes naquela obra.

Tudo tem o seu espaço e tudo é, obviamente permitido. No entanto, prefiro mil vezes um genérico que tenha vida própria e que sirva até como curta-metragem da longa que se lhe segue, do que um objecto mortiço, cinzento e tremendamente aborrecido.

Assim é o maravilhoso genérico de "Catch Me If You Can", o filme de Steven Spielberg que em 2002 juntou Tom Hanks e Leonardo DiCaprio para nos contar a história verídica do maior burlão da história dos EUA, Frank Abagnale Jr. A pequena curta-metragem de animação realizada pela empresa Kuntzel and Deygas que dá início à história É a história. Em pouco mais de dois minutos - os tais dois minutinhos - ficamos a saber o que se passa, o que acontece, como acontece, quem é quem e faz o quê. Tudo a um ritmo endiabrado, divertido, quase infantil e que, lá está, prende imediatamente a atenção do espectador.

O trabalho é um exemplo magnífico - um dos melhores na área - de todos os elementos da comunicação visual que têm sido discutidos e tantas vezes exemplificados nas aulas. Linhas em movimento, muito rectas mas que terminam muitas vezes em palavras arredondadas e suaves, e que vão compondo estruturas, barreiras, muros, estradas e um sem número de outros objectos; manchas enormes de cores fortes mas pouco elaboradas e que servem quase como papel de parede para as movimentações dos «bonecos», toscos, simples e, como as linhas, também eles muito rectos. A juntar a isto tudo dois pormenores deliciosos, pequeninos mas significativos. Um, e tão a propósito do que se falou e viu na última aula, na passada sexta-feira, e que pode ser visto assim que surge o título do filme. Reparem no simples e tão eficaz efeito que uma das palavras sofre à passagem de um certo avião. O segundo, o nome dos realizadores do genérico, escondidos algures numa capa de arquivo...

Tudo isto acompanhado por (mais) uma composição brlhante de John Williams, um dos mais fieis parceiros de Spielberg e um dos maiores compositores de música ao serviço do cinema de sempre. Ao contrário daquilo a que já nos acostumou, Williams optou não por uma partitura sinfónica mas sim por pequenas peças facilmente associadas a um certo tipo de Jazz da década de 60. A banda sonora espelha bem o conteúdo do filme e, acima de tudo, a forma escolhida pelo realizador para nos contar a história de Abagnale Jr. Assim, as músicas são divertidas mas inspiram também um certo mistério; ouvimo-las e rapidamente criamos no nosso imaginário a imagem de alguém inteligente, manhoso e muito, muito ardiloso. As bandas sonoras, como os genéricos iniciais, têm também esta particularidade: têm de ser indissociáveis do objecto imagem e com ele construir um todo, lógico e coerente. Mas este é um tema que por si só merecia um artigo inteirinho.

Esta música em particular é absolutamente irresistível. Possui um ritmo incrível, bem «dedilhado», quase mecanizado e que inclusive me está, precisamente neste momento, a fazer escrever mais rápido este artigo. Como todas as trilhas sonoras de John Williams, é o acompanhamento perfeito para as imagens de Spielberg; o "mais qualquer coisa" que as transforma em algo harmonioso e que nos permite, como referi no início deste artigo, ficar agarrado ao ecrã sem conseguir desviar os olhos, segredar algo ao ouvido da namorada ou fazer barulho com as pipocas - embora eu aprecie mais uma boa dose de nachos.


terça-feira, março 24, 2009

BLACK CAB SESSIONS

Estou pasmado! As coisas que um gajo descobre sem querer na internet...

As Black Cab Sessions são o resultado da união entre a Hidden Fruit e a Just So Films e são micro-concertos no banco traseiro de um taxi londrino enquanto este se passeia pelas ruas da cidade. Nada mais simples e no entanto tão maravilhoso. O seu lema é one song, one take, one cab. Espectacular a forma como alguns músicos tentam encaixar-se e aos instrumentos no espaço não tão generoso de um banco traseiro de um automóvel. De acordo com o site Wikipedia, Joanna Newsom foi obrigada a recusar o convite para participar porque a sua harpa não cabia de forma alguma no taxi...

Os micro-concertos podem ser vistos no site do projecto e não são micro-concertos de gajos de quem nunca ouvimos falar. Passam por lá nomes como Ane Brun, Ryan Adams, Lambchop, Calexico, Brian Wilson, Badly Drawn Boy, Damien Jurado, Martha Wainright, Fleet Foxes, Micah P Hinson, Bon Iver, Death Cab For Cutie, The Kooks, The Raveonettes, Noah And The Whale, The National, e isto só para mencionar alguns.

A visita é obrigatória, como devem já ter compreendido.


PARA O AJ (TAMBÉM)



Espero não ter o mesmo efeito da última música que te dediquei, querido amigo. É só que me pareceu ter muito a ver contigo, com as coisas de que falamos, e com a maneira como encaras a vida. Espero não estar enganado...

Ela define-a como a song about... how sometimes you want to do stuff and... instinctivly... but you have this... human rationality or rubber bands as I call it in this song that makes you not to do it


Beijos


In my mind I'm crawling on your floor
Vomiting and defeated
Total absence of grace
Your reluctant voice saying
You decide your own fate but

I wear rubber bands round my soul
They keep me from crawling
And these rubber bands round my soul
They keep me from falling

In my repeated dreams
You stare at me with an empty gaze
You turn your back on me
And you search for more intriguing days
Loathing this
Controlling this
Let me get a hold of this so

I wear rubber bands round my soul
They keep me from crawling
And these rubber bands round my soul
They keep me from falling

So then when you are not in my dreams
And not in my mind
But we are at the same place at the same time
Rubber no longer holds
The borders of my soul


TIO CLINT





Já há umas semanas, e graças aos milagres da pirataria informática, tive a oportunidade de ver o filme mais recente do mestre Clint Eastwood, "Gran Torino". Não escrevi na altura nada acerca dele porque optei por ver o outro que ainda sobrevive nas nossas salas, "The Changeling" ("A Troca"), e escrever sobre os dois em conjunto.

Já aqui o disse várias vezes, Clint Eastwood é um dos últimos realizadores clássicos, académico, que insiste numa forma de filmar que faz lembrar uma época dourada de Hollywood que não sobreviveu à geração mais nova e arrojada de cineastas. Podia ser um defeito, mas o velho Clint é bom o suficiente para saber utilizá-la em seu proveito e fazer disso uma ferramenta útil às histórias que quer contar.

"The Changeling" é uma história simples, até, mas que nas mãos de Eastwood assume proporções quase épicas. E com surpresas pelo meio. Quando pensamos que tudo se está a encaminhar para o fim, e sem uma resolução evidente, o realizador dá-nos um empurrão e vemo-nos novamente num turbilhão de acontecimentos e acontecimentos daqueles de que não estavamos nada à espera. O filme renasce e apresenta-nos mais 40 minutos de história, segredos, algumas revelações ao mesmo tempo que muda radicalmente de tom. Brilhante.

Para além disso, e como já está mais do que provado, Clint Eastwood sabe filmar terrivelmente bem as suas personagens, os seus cenários e as cenas de tensão. Neste filme, precisamente, as sequências mais tensas e incómodas são o seu grande trunfo, e a experiência do mestre consegue retirá-las da lamechice em que facimente poderiam cair. O filme é um trabalho negro, pesado, duro e doloroso para o estômago mais desprotegido. Uma dessas sequências, o momento em que a polícia comunica à personagem desempenhada por Angelina Jolie ter finalmente encontrado o seu filho, é de pura antologia. Filmada com uma calma que quase irrita, matemáticamente, com pequenos e sucessivos planos, quase como se fosse um jogo de ping-pong. Uma cena em que Angelina Jolie tem provavelmente os melhores segundos da sua carreira, e que só por si, provavelmente, serviam para conquistar o Oscar, e que nos aleijam sem piedade.

E a história (verídica) é mesmo esta: uma mulher chega a casa para descobrir que o seu filho de 9 anos desapareceu. Fuga, rapto, assassinato, são as hipóteses que tanto ela como nós temos na cabeça durante todo o filme, e essa incerteza é refinadamente gerida pela mão de Eastwood, que nunca nos dá certezas, mas que também não nos tenta enganar com falsas pistas. É, nesse sentido, uma obra dolorosamente honesta.

Já o disse, mas nunca é demais: Angelina Jolie tem aqui indiscutivelmente o seu melhor papel de sempre. Um papel que poderia também ser uma pieguice insuportável e pegajosa, mas a que ela empresta um realismo (também dolorosamente) honesto. É fácil acreditar naquele tipo de dor, e esse é provavelmente o melhor que se pode dizer do trabalho de um actor; que é um trabalho realista, sincero e desprovido de artefactos, e que quase nos faz esquecer da pessoa por trás da personagem. Um dos melhores filmes do ano, sem dúvida alguma.










Quanto a "Gran Torino" começo já pelo final: é para já o melhor filme do ano - a ver se o que está para vir o destrona - uma das maiores injustiças de sempre por parte da Academia, e o melhor filme de Clint Eastwood desde "The Bridges of Madison County" - na minha opinião, claro.

Tudo em "Gran Torino" é demasiado bom para ser verdade. A simplicidade, a história, a leveza e, acima de tudo o mais, a melhor interpretação de Eastwood em décadas, e que merecia o Oscar, perdõem-me a sinceridade e perdoe-me Sean Penn. Se é verdade que este foi o derradeiro papel de Clint Eastwood no grande ecrã, então a despedida foi em grande e uma espécie de homenagem às suas personagens mais reconhecidas. O Walt Kowalski de "Gran Torino" é um durão daqueles como já há muito não se via no cinema - provavelmente desde o sargento Thomas Highway de "Heartbreak Ridge". Veterano da guerra na Coreia, irascível, preconceituoso, detestável, inconveniente e terrivelmente sincero e directo, mal-criado, insuportável e, no entanto, perfeitamente adorável. A empatia que sentimos com um ser tão odioso é incrível e perfeitamente justificada, como viremos a perceber à medida que o filme se desenrola. Tenho ouvido e lido nos meios de comunicação que Walt Kowalski é um racista da pior espécie e penso que os responsáveis por estas afirmações não se deram ao trabalho de ver o filme. Walt não é racista. Walt é uma pessoa que vive num mundo de que não gosta, rodeado por pessoas que odeia e em quem absolutamente não confia. Os seus filhos, noras e netos são tratados com o mesmo (ou pior) desprezo que os seus vizinhos asiáticos e os seus melhores amigos são uma cadela e um barbeiro com quem troca os piores insultos - a primeira conversa entre os dois que testemunhamos é absolutamente deliciosa, diga-se.

O desenrolar do filme mostra-nos a subtil transformação de Walt Kowalski, motivada pela necessidade de defender o seu relvado de um gangue, e em consequência disso, a vida de um dos seus vizinhos, um adolescente que, ao contrário do seu primo mais velho, não faz questão de fazer parte do tal gangue. Aos poucos Walt derrete, enquadra-se, reajusta-se e volta a sentir prazer em estar com pessoas, e essa transformação é uma delícia para os olhos de quem gosta de ver um grande actor a trabalhar. Clint Eastwood sempre foi limitado e nunca o escondeu, mas este papel e a forma como ele o trabalha, despretensiosamente, suavemente e quase sem nos darmos conta de que é de facto um papel, fica para a história recente do cinema.

Num filme que merecia pelo menos as nomeações para melhor fime do ano, melhor realizador, melhor argumento adaptado, melhor actor e melhor canção original - também da autoria de Eastwood - vale a pena dedicar algumas linhas ao seu final. Clint Eastwood passa o filme todo a dar piscadelas de olho a outras obras suas e que lhe deram a fama que se conhece. Nesse sentido "Gran Torino" é um western clássico e que respeita todas as regras do género. Uma pequena vila (um bairro nos subúrbios), um justiceiro solitário (um velho rabugento), um cavalo fiel (um Ford Gran Torino de 1972) e um grupo de bandidos que atormentam a população (o gangue). E depois as poses de cowboy mau como as cobras, os planos, o movimento da câmara e as cenas filmadas como se de um western realmente se tratasse. O final, o tal final de que toda a gente fala, não é mais do que um duelo, não ao pôr-do-sol, mas na madrugada, no escuro, brilhantemente filmado (mais uma vez) e que no fundo é a melhor despedida que Clint Eastwood podia fazer enquanto actor e, neste filme em particular, de uma súmula de personagens que serviram para criar Walt Kowalski.

"Gran Torino" é uma daquelas obras-primas que para a maioria do público vai dizer muito pouco. Voltamos à história das pessoas que querem a arte e a cultura dadas em colher e já previamente mastigadas. É preciso ver para lá da primeira camada de "Gran Torino", e perceber toda um conjunto de sinais, códigos e regras que fazem parte da ancestral história do cinema e que Clint Eastwood domina como ninguém.

"Gran Torino" é melhor do que "Million Dolar Baby", o filme que deu a Eastwood uma série de galardões da Academia. É delicioso, cómico, dramático e a sério, muito a sério.
É o melhor filme do ano. Simplesmente.

Perdõem-me o trailer legendado em brasileiro, mas...





segunda-feira, março 23, 2009

RELIGULOUS

Não deixa de ser estranho que Portugal continue teimosamente a não dar espaço comercial a um género sempre tão interessante quanto o documentário. Por outro lado, apenas os documentários assinados por aqueles que o público portugês já identifica conseguem furar essa barreira do preconceito e da burrice e chegar às salas nacionais. Enfim...

Tal é o caso de "Religulous", o documentário imaginado e elaborado pelo comediante Bill Maher, e que, de acordo com os créditos, foi realizado por Larry Charles, o mesmo de "Borat..." e de alguns episódios de "Curb Your Enthusiasm". Basta estar atento a esses mesmo créditos e ver os primeiros minutos de "Religulous" para perceber, no entanto, que o que estamos realmente a ver é um one man show de Maher, um fantástico e ácido comediante de stand up - embora a sua imagem de nice guy o contradiga - e que não faz mais do que tentar provar as teorias relacionadas com as igrejas que desenvolveu durante a sua carreira.

A coisa é divertida e perspicaz, qualidades herdadas do seu autor, com certeza, mas não acrescenta muito ao que já começa a fazer parte do senso comum. Tirando uma ou outra curiosidade que dificilmente são vistas nas nossas televisões, o filme não passa de uma montra de mentalidades e crenças que já não lembram ao diabo - tão a propósito... - e da forma absolutamente frontal e sem papas na língua como Bill Maher as confronta. Nesse sentido, a pergunta que dispara a um proprietário de uma loja de estatuária e outros bens relacionados com o cristianismo é aterradoramente a melhor prova de que existe muita ignorância envolvida nestas coisas da igreja, deus nosso senhor e os santinhos. Maher pergunta ao senhor - o proprietário da loja, não o outro - se ele acredita que quando morrer se juntará a deus e a jesus. O homem responde sem pestanejar que sim. Maher pergunta se ele considera que assim vai para um sítio melhor, e o homem novamente sem hesitar diz que sim. À terceira a pergunta só podia ser esta: "então porque não se mata?". E o documentário continua assim, com o comediante/mestre de cerimónias a atirar-se com tudo o que tem ao cristianismo em todas as suas vertentes.

Todo o documentário é brilhante não do ponto de vista da realização, da originalidade do tema ou sequer da forma como ele é abordado. A genialidade vem das próprias pessoas que defendem com unhas e dentes conceitos que, adaptados a outras histórias são eternamente considerados como ridículos ou fantasias de mentes retorcidas. Senadores que não acreditam na teoria da evolução, gordos sebosos de Porto Rico que juram ser cristo homem, ex-vocalistas de grupos soul da década de 60 que são ao mesmo tempo ex-muçulmanos e que se tornaram em reverendos que se passeiam com quilos de ouro no físico, fatos de 2000 dólares e sapatos de pele de lagarto e que ainda defendem que esses bens resultam da sua constante procura por deus e que inclusive isso está considerado na bíblia - e que ao mesmo tempo, e sem se darem conta, estão a assumir que acreditam numa coisa de que ainda andam à procura...

Por outro lado é bom ver que existem pessoas intimamente ligadas à igreja católica, de gerações bastante anteriores à minha, que acham que isto assim não vai a lado nenhum e que alguns dogmas são absolutamente conversa da treta.

"Religulous" merece a visita, mas serve principalmente para percebermos que devíamos reclamar por mais e melhores documentários.



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domingo, março 22, 2009

PRECISAMENTE...

Dias 27, 28 e 29, no Auditório da Academia Contemporânea do Espectáculo, os alunos do 2º ano levam a palco a peça "O Amor Das Três Laranjas" de Carlo Gozzi. O projecto é arriscado especialmente pela forma como (parece-me) está a ser «ajustado». Não é todos os dias que se faz Comedia Dell'Arte assim.
Envolve três pessoas importantes para mim, os meus imãos e o António Júlio, amigo e encenador de "Recuperados". Apareçam porque vai valer bem a pena. É coisa para começar às 21.30...

DECIDIDAMENTE...

... estou cansado de um teatro que se quer mastigado antes de ser servido. Não lhe viro as costas totalmente, nunca se sabe quando não sou surpreendido. Mas a verdade é que as últimas experiências dentro e fora de palco e a convivência com pessoas que teimosamente querem arriscar e rasgar de uma vez por todas com preconceitos e convenções trouxeram de volta esta vontade em ser diferente, ver diferente e mostrar diferente.
Grupos como La Fura Dels Baus, Els Comediants, Teatro Lliure, todos catalães, ou os argentinos De La Guarda, continuam a despertar um interesse e uma curiosidade enormes, e a estar sempre um passo à frente da normalidade.

Tive o prazer de já os ter visto, e fico sempre à espera que regressem cá ao burgo. Enquanto não...


De La Guarda

sábado, março 21, 2009

KARMABOX WITH A VIEW - SPECIAL EDITION

Os Fat Freddy's Drop são um mega projecto da Nova Zelândia que apenas com dois álbuns no currículo, um ao vivo e outro de estúdio, construiram uma fama e um reconhecimento consideráveis. Juntam com naturalidade reggae, dub, soul, jazz e um certo folk acústico que sabe terrivelmente bem e que nos dispõe no mood certo para tardes bem passadas a não fazer absolutamente nada e noites de copos em casa de amigos. A voz de Dallas Tamaira - ou melhor, do seu alter ego Joe Duke - nesse sentido é perfeita, quase angelical.
O álbum de estúdio, "Based On a True Story" já é de 2005, mas continua a ser uma presença obrigatória no Ipod e um dos meus trabalhos preferidos, daqueles que ouço sempre do início ao fim.


Cay's Crays



Dark Days



Learning to breathe again
for the first time
In so long now

Learning to see again
through my pride

Learning to speak again
from my heart

Learning to be a friend
for the first time
for the first time
in so long

for so long

Feel like I'm losing time
when I worry
'cos yesterday won't change

Starting to free my mind
from the shadow of doubt
that keeps me in darkness

testing the air outside
my chamber
into the danger

pushing my limits high
to the red line and over

and why have i waited
so long

for so long

oh

why have I waited?
why have I waited, yeah

well it's hard to be happy
in a world that's so cruel
where the weak just get weaker
where the powerful feud
where the children go hungry
while the soldiers stand by
lay down your weapons
take hold of your lives
and when will we learn
that it's hate that breeds hate
only love is the cure
don't leave it too late
get up, and feel it
the truth that won't wait
if we choose to do nothing
then we take all the blame

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quinta-feira, março 19, 2009

KARMABOX WITH A VIEW - DEOLINDA - "FADO CASTIGO"



O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece, solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos subúrbios da capital. Compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos discos de grafonola da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Vive com 2 gatos e um peixinho vermelho...


A audição com calma (finalmente) do álbum dos (da?) Deolinda, a grande revelação da música nacional de 2008, revelou aquilo de que já estava à espera: é um trabalho genial. Genial à séria, cheínho de músicas belíssimas, de letras ora cómicas, malandras e atrevidas, ora poéticas e muito, muito bonitas. As parecenças com Madredeus, perdoem-me os (a?) Deolinda são inevitáveis. Pelas guitarras, por alguns acordes que remetem directamente para a fase somente de cordas do grupo de Pedro Ayres de Magalhães e que nos dão sucessivos nós na garganta, e pela voz de Ana Bacalhau, que embora mais gaiteira que a de Teresa Salgueiro, aqui e ali é semelhante. Especialmente nas notas graves e nas mais agudas. Recuso terminantemente qualquer tentativa de os (a?) comparar aos Madredeus ou sequer a sugestão de que as parecenças foram intencionais. Nada disso. Este projecto é único e merece uma vida própria. Para além disso gabo a coragem de quem pega num género tão nosso mas ao mesmo tempo tão taciturno e lhe consegue dar a volta. O género que ouvimos em "Canção ao Lado", o álbum, não é fado, é música portuguesa, despretensiosa, alegre quando apetece dançar fado, e mais delicada - não cair na tentação de lhe chamar triste, se faz favor - quando apetece falar de coisas sérias de forma séria. Sim, porque mesmo as canções mais malandras e saltitonas do álbum falam de coisas sérias, note-se. Pode ser em tom jocoso, mas é isso precisamente que sabe tão bem nos (na?) Deolinda. Essa frescura solta da trela de uma indústria que já perdeu a paciência para os seus artistas e que não tem vontade de lhes dar espaço de manobra.

Foram (foi) a grande surpresa de uma música portuguesa que já há muito tempo não via assim algo tão bom e com tanta qualidade. Para além disso toda a imagem construída em torno da
Deolinda é absolutamente deliciosa e compõe o quadro de uma forma irresistível e que apetece acarinhar. A ouvir incessantemente. Sem complexos e acima de tudo com muita vontade de abanar a anca com as mãos à ilharga.



Fado Castigo

Proibissem a saudade de cantar,
Havia de ser bonito…
Entre os versos da canção mais popular,
Ai, é o dito por não dito.

E as guitarras, sob a escuta na batuta de outras modas,
Escondem no trinar das cordas o pesar.
E o poeta vigiado, forçado ao assobio,
Carpe as mágoas do destino sem mostrar.

E ao calor de uma fogueira, um amigo
Com a voz mais aquecida lá entoa:
Que a saudade mais que um crime é um castigo,
E prisão por prisão, temos Lisboa.

Proibissem a saudade, era cantar
Havia de ser bonito…
Entre os versos da canção mais popular
Ai, é o dito por não dito.

E as guitarras, sob a escuta na batuta de outras modas,
Escondem no trinar das cordas o pesar.
E o poeta vigiado, forçado ao assobio,
Carpe as mágoas do destino sem mostrar.

E ao calor de uma fogueira, um amigo
Com a voz mais aquecida lá entoa
Que a saudade mais que um crime é um castigo
E prisão por prisão, temos Lisboa.



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terça-feira, março 17, 2009

E AGORA ALGO COMPLETAMENTE DE FRENTE...

Nem é preciso escrever muita coisa. O que vão ver a seguir - e acreditem, querem mesmo ver - é pura e simplesmente projectado. São só projecções, ok? Mas vejam.

THE NEXT BIG THING(S) NO MEU IPOD




Uma viagem ao Barraco e a semana musical fica logo mais rica. Ontem mais umas actualizações ao melhor amigo do homem, a seguir ao cão e à mulher (desde que não GAJA), e a vida muda substancialmente.

Primeiro, Little Joy, o resultado surpreendente do encontro ainda mais surpreendente entre o baterista dos Strokes, Fabrizio Moreti e o vocalista do grupo brasileiro Los Hermanos, Rodrigo Amarante. Os rapazes conheceram-se em Lisboa, devem ter gostado um do outro e decidiram juntar-se e criar um projecto diferente dos trabalhos das respectivas bandas. No fundo acabaram por não se afastar do som de uns e outros, embora a coisa seja mais suave e sossegada. A sonoridade é pura músiquinha de fim de tarde na praia e em alguns momentos ficamos mesmo à espera que entre um providencial ukelele. O conjunto completa-se com a multi-instrumentista Binki Shapiro, supostamente mulher de um deles, e o àlbum, com o mesmo nome da banda, é delicioso do princípio ao fim. A ouvir muitas e muitas vezes...






Outra coisinha boa como o caraças é o novo trabalho de Devendra Banhart, não em nome próprio, e que conta também com a participação do mesmo Fabrizio Moretti, de Greg Rogove dos Priestbird, de Noah Georgeson, membro da banda de Devendra, e de Aziz Ansari, um comediante(!). É fácil perceber, mesmo sem ouvir uma única música, que a coisa é pura rambóia desgovernada. O disco soa, claro, a Devendra Banhart e podia muito bem ser o seu mais recente trabalho. Mas não. O super grupo chama-se Megapuss e é fantasticamente alucinado. O único vídeo conhecido do grupo foi retirado da net por questões autorais, e os que ainda estão disponíveis não ajudam muito a perceber a qualidade da música. Percebe-se a javardice...





quarta-feira, março 11, 2009



Admira-me sempre a estupidez das pessoas. Ainda consigo ficar espantado sempre que alguém manifesta e comprovadamente inteligente me diz babando-se que a lampreia deve ser esfolada viva para assim saber melhor - o simples facto de acreditarem numa asneira destas é revelador de que algo ali não bate certo. Nunca tive, mesmo desde pequeno, em relação a este assunto qualquer tipo de meio termo: a falta de sensibilidade para com os animais é pura burrice e o melhor reflexo de uma característica do ser humano cada vez menos desmentivel. Passo a explicar: no espectáculo "Recuperados", que o TUP levou recentemente a cena, havia a dada altura no meu texto a frase eu não sei quando é que o povo lusitano perdeu a memória, mas acho que foi no século XIII. Embora não fosse da minha autoria, a frase sempre me disse muito mais do que o seu sentido imediato demonstra. Quando é que o ser humano ficou burro? Já nasceu assim? Não aprendemos nada com o liberalismo, nem com o comunismo ou a democracia e não aprendemos nada de bom com o capitalismo, isso é certo. Tantas mudanças, tantas peqenas e grandes revoluções e no fundo, na base, nos pilares, continuamos a mesma merda que sempre fomos. As principais preocupações do ser humano continuam a ser com o seu próprio umbigo. Se está bem e se vai estar melhor amanhã, mesmo que isso implique esfolar uma lampreia viva e ainda por cima argumentar que ela não sente ou, melhor ainda, justificar que se faz o mesmo às galinhas para as sangrar - um bom amigo sempre me disse que para o ser humano ter a moral necessária para comer carne, devia matar aquilo que come. Falar é fácil e ainda mais fácil é pagar as fortunas que se pagam para comer um peixe que acaba de ser esfolado vivo e que chega à nossa mesa limpo, preparado e sem qualquer vestígio da barbárie de que acaba de ser vítima.
Queremos os melhores telemóveis; é mesmo uma procupação do homem moderno, um motivo adicional de stress, se o seu telemóvel tem ou não câmara fotográfica e de vídeo com que possa fotografar as futilidades do seu dia-a-dia e com que possa fazer pequenos filmes porno que disponibiliza na net com o título "As grandes mamas da minha ex". Somos todos snobs que só nos misturamos com a ralé em zonas alternativas em dia de celebração e como se fôssemos ao zoo ver como vivem os freaks. Basta ir à rua Miguel Bombarda quando está em festa e perceber que existem dois tipos de animais envolvidos, os queques da Foz e sucedâneos de terceira, e os alternativos, artistas, cabeleireiros, actores, todos com as suas melhores roupinhas - mesmo que algumas não o aparentem; uns querem ser vistos, os outros querem muito ver como eles são.

Tanta revolução, tanta mudança, tantas conquistas e a mulher continua a ser esse ser ignóbil e desprovido de coluna vertebral que quer três televisões em casa porque ao fim e ao cabo é ela que continua a fazer o jantar todos os dias sem discutir e precisamente à hora que está a fazer mais uma vez pescada cozida congelada dá uma novela no canal quatro e porque a seguir a lavar a louça novamente sem sequer questionar vai para o quarto finalmente descansar e ver a outra novela porque isto da igualdade de direitos fez com que ela pudesse sair de casa e arranjar um emprego de merda mas que chega para lhe pagar o tal telemóvel mas também significa que no fundo o que tem são mais horas de trabalho ininterrupto por dia. O marido continua a ser o canastrão de sempre bem ensinado pelo seu paizinho e pela sua mãezinha já agora e que se está pouco cagando para as três televisões porque a ele basta-lhe aquela que tem o canal de desporto ligado todo o santo dia nem que seja para ter um derrame cerebral a ver o tour PGA de golf às duas da manhã porque já nem lhe apetece ir para a cama e prefere adormecer no sofá a pensar que queria ter menos vinte anos e trinta centímetros na puta da barriga para assim ainda poder acreditar que conseguia comer as gajas que à mesma hora e por acaso tomam café no mesmo café que ele.

Somos fúteis. Glorificamos o mais básico, desnecessário e inútil que a sociedade tem para nos oferecer. Como a grunha do Futebol Clube do Porto que, fiel à filosofia da maioria dos adeptos do clube em questão, ficou famosa por ter tentado agredir outra grunha que ficou famosa pelas razões que se conhecem. Irracionais. Irracionais que defendem e deificam de uma forma quase irreal um homem só porque este é presidente de um clube de futebol. Podia ficar provado que Pinto da Costa tinha cometido os crimes mais hediondos do universo, que ainda assim esta horda de energúmenos o defenderia da mesma forma. Irracional.

Somos bárbaros e gostamos dessa natureza. Negamo-la, mas temos um estranho e doentio fascínio por ela. Na Dinamarca, todos os anos centenas de golfinhos Calderon são chacinados em nome de uma antiga tradição. Num exercício de rara violencia - mas não tão rara quanto isso - jovens dedicam-se a matar golfinhos que se aproximam da costa como cerimonial de passagem à idade adulta. Estamos a falar de um país pertencente à União Europeia e de uma práctica que não só não é condenada pela própria União, como não é mencionada nas notícias e que não sofre represálias por parte dessa toda poderosa Greenpeace - hoje gorda, anafada e demasiado dolente para quem quer realmente fazer alguma coisa.

Perante cenários destes; perante coisas tão desnecessariamente brutais como o esfolar uma lampreia viva, o ferver uma lagosta viva, o cortar pedaços de um peixe vivo para cozinhar e deixá-lo no aquário à espera da próxima dose, o abate de golfinhos só porque sim, o tiro aos pombos, as touradas e largadas de touros, a caça e pesca desportivas, e todo um sem número de maus tratos a animais, terríveis, humilhantes, vou-me começar a rir dos ditos problemas que o homem moderno sofre e vem sofrendo. Palestina e Israel? Não me façam rir. Guerras em África? Azar. Atentado no Paquistão. Estavam a pedi-las.

Sou uma bomba-relógio anti-social. Começo perigosamente a perder toda e qualquer paciência para as pessoas e para a sociedade das pessoas. Tudo o que sabemos é destruir. Portanto, estamos seriamente a jogar no risco. Uns dias corre bem, outros corre mesmo muito mal. Falem-me a um nível macro-sociológico e transformo-me imediatamente em assassino de massas. De repente os massacres que vemos aqui e ali em países como os EUA fazem todo o sentido. De repente dou por mim a pensar porque é que eu não me lembrei disto antes?

O pior disto tudo, é que já há muito tempo que desisti. Nada nunca vai mudar, e dá-me vontade de rir de todos estes ditos pragmáticos que vêm a vida ainda com olhos esperançados de quem acha mesmo que só por falar e fazer manifestações vai realmente conseguir mudar seja o que for. Palhaços que se dizem vegetarianos porque têm peninha dos animais. De quais? Dos golfinhos? Dos ursos polares? Das raposas que fofinhas que elas são e têm uns bebés tão riquinhos? E os outros milhões de animais que esterminamos como se estivessemos num safari e que não são obrigatoriamente fofinhos e riquinhos e bonitinhos? Somos uns putos reguilas da pior espécie que a primeira coisa que fazemos sempre que vemos um animal qualquer é perguntar como é que isto se estraga?

E ainda querem convencer-me a votar nesta cambada de merdas que são os políticos que se estão pura e simplesmente nas tintas para tudo isto e cuja única e permanente preocupação é tentar manter o posto pelo maior período possível e todas as regalias que daí resultam? Não me façam rir. Já basta a hipocrisia tão genialmente utilizada por eles e pelos seus assessorzinhos de imprensa e os seus marketeers e que é baseada tão somente na nossa estupidez, capacidade de sermos enganados, fé desmedida na incongruência e, lá está, burrice.

E as pessoas que defendem que se pode esfolar uma lampreia viva para saber melhor no prato? Gosto das duas em particular que mo disseram e respeito-as imensamente. Só não gosto delas quando se lembram que afinal são seres humanos como todos os outros...

Gostam mesmo de viver num mundo assim?

Eu obriguei-me a ver o vídeo até me doer a garganta de tanto apertar o nó, até já não conseguir apertá-lo.



terça-feira, março 10, 2009

WATCHMEN

(A dada altura este post vai ter um forte elemento em comum com o anterior, dedicado ao filme "Coraline e a Porta Secreta")


O que é que se pode esperar de um filme de super-heróis que tem como música do genérico "Times They Are a Changing", de Bob Dylan? Que obviamente não será um filme de super-heróis como outro qualquer. E "Watchmen" nunca o poderia ser. Não porque a banda desenhada em que se baseou não é uma banda desenhada como outra qualquer. Porque foi considerada por muitos como a melhor de sempre e tida pela Times Magazine como um dos 100 melhores livros alguma vez escritos. Ou seja, o ponto de partida era o melhor possível mas também o de herança mais pesada. Por isso mesmo é que nunca ninguém se tinha atrevido a tentar sequer uma aproximação ao universo de Alan Moore. E porque Moore nunca tinha permitido essa aproximação.

Moore, autor com tiques de excentricidade, foi o criador de Constantine e de "V For Vendetta", heróis e histórias nada convencionais e nada consentâneos com o espírito dos gigantes Marvel e DC Comics. Moore sempre foi contra as adaptações das suas obras para o grande ecrã. O seu nome nunca aparece nos créditos e mesmo as últimas edições de "Watchmen" não apresentam o nome do seu principal autor, por vontade expressa do próprio e em resultado do contracto pouco abonatório que Moore e Dave Gibbons (o desenhador) assinaram com a editora.

Alan Moore é conhecido por ser absurdamente minucioso, e a sua obra-prima, "Watchmen", é talvez o exemplo máximo dessa característica. Zack Snyder,o realizador deste filme fez justiça à banda desenhada, e teve a coragem de contar a história - uma história complexa e mastodôntica - com todo o tempo do mundo; dando atenção a todos os pormenores, filmando cada sequência numa série inacreditável de planos. Para além disso, "Watchmen", o filme, é um dos maiores trabalhos de design de produção dos últimos tempos. Os cenários, pormenorizados até ao milímetro, o guarda-roupa, todos os objectos utilizados e não utilizados - este deve ser o filme com mais «figurantes» inanimados do cinema no século XXI. A banda sonora, já agora, é um prodígio, um verdadeiro épico que aqui e ali cheira bastante a Phillip Glass e que nos mantém a respiração presa na gargantinha em muitos momentos . e que podem ouvir no trailer ali em baixo. Para além de que inclui alguns dos melhores sucessos das décadas de setenta e oitenta - outro pormenor longínquo dos habituais filmes de super-heróis (já me estou a repetir).

Para além disso o argumento - com todas as suas obrigatórias reviravoltas e diferenças em relação ao trabalho original - está maravilhosamente bem escrito; é adulto, nada imberbe como já vem sendo habitual neste tipo de filmografia, e tem mesmo momentos de uma qualidade dramatúrgica arrepiante. Os actores não são meros bonecos - outra característica do cinema baseado em heróis da banda desenhada - e levam a coisa bem a sério. Billy Crudup (Dr. Manhattan), Jeffrey Dean Morgan (The Comedian) e até um secundaríssimo como Matt Frewer (Moloch), dão um realismo impressionante a personagens que poderiam facilmente cair na caricvatura. No entanto, o destaque mais do que obrigatório vai para para um actor que já provou ser talhado para personagens densas, intensas e com uma forte carga dramática, Jackie Earle Haley. Nomeado para o Oscar de actor secundário pelo papel de um atormentado pedófilo em "Little Children", Haley recria um Rorschach sempre pronto a explodir, pleno de energia refreada (mas nem sempre). A sua interpretação é mais um daqueles elementos estranhos a este tipo de cinema. Algo que só havia sido visto em "The Dark Night" e pela mão de Heath Ledger.

Aliás, as comparações entre "Watchmen" e a mais recente aventura de Batman e companhia não se ficam por aqui. A seriedade, a escuridão (negra, pesada), e a forma adulta como o filme é filmado e a história contada, fazem de "Watchmen" mais um exemplo de como estas coisas das bandas desenhadas e dos super-heróis em collants podem muito bem ser direccionadas para um público mais crescido e apreciador de muito mais do que umas cenas de pancadaria, gajos a saltar pelos telhados de Nova Iorque e extraterrestres com uma vontade incontrolável de destruir o planeta. Pena que mais nenhum realizador tenha tido a vontade de o fazer com heróis muito mais densos nas páginas das revistas, como o Homem-Aranha e o Super-Homem.

Zack Snyder, o responsável por outra adaptação de luxo de mais uma banda desenhada considerada impossível de levar ao grande ecrã,
"300", fez um trabalho digno de um relojoeiro - analogia nada inocente, como poderão comprovar ao irem ver o filme - com um detalhe assutador, com a mestria de um realizador muito mais experiente do que de facto é, e com a aparente certeza daquilo que queria ver na tela. Passou com honra por cima de todos os problemas de produção originados pela luta nos tribunais entre as duas produtoras que queriam ser donas e senhora do seu trabalho, e dá ao mundo um filme que é muito mais do que aparenta. E relembro: é preciso haver mais realizadores com esta coragem de levar o tempo necessário para contar uma história, seja num filme de super-heróis ou não; realizadores que ensinem novas e fantásticas formas de filmar sequências de acção como as que podemos ver em "Watchemn" e que nos mantêm bem presos à cadeira.

Posto isto, só peço que entreguem todos os filmes baseados em bandas-desenhadas a este homem. Especialmente por ter ficado a saber que tinha sido Snyder o escolhido para levar ao cinema o filme que conta a origem de uma das melhores personagens da Marvel, Wolverine. À última da hora o tipo esquivou-se de modo a não perder a concentração neste seu hercúleo trabalho. Fez bem. Quem perdeu, definitivamente, foi Wolverine e Hugh Jackman, já que o filme "X-Men Origins: Wolverine" acabou por ser entregue a Gavin Hood, um mero tarefeiro que tem no seu currículo coisas do calibre de um "American Kickboxer" ou de um "Operation Delta Force 2: Mayday" e de alguns episódios da série Stargate...

Agora o tal elemento em comum como o post dedicado a "Coraline...":
Vou tratar de fazer uma petição para que seja entregue a Zack Snyder a transposição para cinema de uma das maiores obras de ficção da história moderna e que tão mal tratada foi pela televisão inglesa - a série a que deu origem pode ser vista no You Tube e é bastante fraquinha. Falo do livro também de Neil Gaiman, "Neverwhere" e que só poderá ser adaptado por alguém com a visão e a capacidade de recriação de Snyder. Mais nada!




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CORALINE E A PORTA SECRETA

Ora bem, para começar mais uma vez a estranheza de um filme de animação que obviamente é dirigido maioritariamente para adultos estrear apenas na versão dobrada. É ridículo, desnecessário e a prova de quem decide estas coisas está claramente deslocado de duas realidades: a do livro que deu origem ao filme e a do próprio filme, dando a nítida sensação de que não o viu sequer. Mas enfim...

Quanto ao filme de Henry Selick o que se pode dizer é que não envergonha o magnífico livro de Neil Gaiman. É visualmente um ataque aos sentidos, com uma quantidade incrível de informação por milímetro quadrado. A técnica de stop-motion é de tal forma dominada que acabamos invariavelmente por nos esquecer que este é um filme desses, em que os bonequinhos se mexem aos saltinhos. Nada disso.

No entanto, este não é o próximo "Nightmare Before Christmas", nem de perto nem de longe. A técnica está lá, o espanto visual também, a banda sonora é fantástica e a história é, para quem a conhece, maravilhosa. O que é que falta? Tim Burton. E faria toda a diferença, principalmente porque os mundos de Gaiman e Burton têm tantos pontos em comum.

Ainda assim, vale a pena a visita, especialmente porque a versão em 3D é do caraças. E porque é delicioso, na verdade. Pouco ambicioso, dá a ideia, mas delicioso.


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segunda-feira, março 09, 2009

SOUL À SÉRIA

Não é recente esta onda de recuperação dos géneros soul, funky e até de algum rockabilly. Não é dessa onda que aqui se vai falar. Hoje fala-se de um dos primeiros nomes a aparecer com um trabalho nessa área e ainda por cima de excelência mais do que comprovada, Jamie Lidell.
O seu primeiro álbum "Multiply" foi audição obrigatória durante uns bons dois anos, e passou, como não podia deixar de ser, por este cantinho. O segundo trabalho, "Jim" consegue suplantar o antecessor e sobe a fasquia para todos os outros projectos que pretendam contribuir para esse neo-soul-funk.
Era fácil destacar quatro ou cinco músicas de "Jim", mas optei por aquela que mais rapidamente me viciou, "Out Of My System". Começa misteriosa, sem dar a entender em que direcção vai evoluir, para arrancar decididamente com uma melodia, um ritmo e acima de tudo um flow absolutamente irresistíveis. De repente, guitarra cristalina, baixo venenoso, tarola ritmada, pandeireta mesmo no ponto e piano tímido fazem a festa como se sempre estivessem estado juntos naquela música. Quando entra o Hammond e o vibrafone percebemos finalmente que estamos em perigoso território de festa all night long - assim dure a composição de Lidell. O conjunto fica naturalmente completo com a voz arranhada do autor, acento perfeito para o som que ouvimos. Aliás, tudo é perfeito e lógico em "Out Of My System", de tal forma que facilmente seríamos levados a pensar ser esta uma música dos anos 60 e não de 2008.
Só hoje já a devo ter ouvido umas trinta vezes e ainda assim me sinto em dúvida para com Jamie Lidell. Vou ouvir mais uma...
Quanto aos restantes, ficam as indicações para convenientemente ouvirem esta cançãozinha:

arranjem um grupo grande de amigos, umas roupinhas levemente semelhantes a mantos, ensaiem um coro gospell à maneira, com palminha e tudo, e divirtam-se.



terça-feira, março 03, 2009

O FANTAS MORREU

Foi indiscutivelmente o pior festival de sempre. Tão mau que nem sequer houve realmente maus filmes para criticar. Tudo foi morno, mortiço e absolutamente desinteressante. Uma semana de filmes e podemos contar os que realmente se destacaram pelos dedos de uma mão. Para além disso, muito menos filmes a ver. Alguns dias foram preenchidos apenas com quatro sessões, quando a média costumava ser de seis e às vezes sete por dia.
De resto mais do mesmo. Muito cinema asiático para o qual já ninguém tem paciência, menos cinema espanhol do que era costume e bastante fraquinho, por sinal, e as habituais concessões nitidamente comerciais de um festival que primava pela independência. Onde estão os filmes da Austrália, Nova Zelândia, da América Latina? Onde estão o cinema canadiano, o cinema independente americano, o cinema brasileiro os filmes nórdicos? Bons tempos em que o Fantas era uma montra para as cinematografias distantes e difíceis de encontrar. Realizadores desconhecidos, estilos novos, formas de contar histórias diferentes do que estamos habituados.
Este ano foram mais os filmes que já têm estreia marcada para Portugal do que aqueles que foram mesmo bons. Qual o interesse? Qual o objectivo? Porque vence o Fantas um filme como "Idiots and Angels" do mestre Plympton? Sou fã incondicional do senhor, mas já vi bem melhor no Fantas passar completamente despercebido. Porque raio atribuem o prémio de melhor actriz a uma Macarena Gomez que nem sequer se pode chamar de actriz? Porque ela esteve presente no Fantas?
O Fantas morreu, e precisamente às portas de completar 30 anos. Pela primeira vez acho que acredito na constante ameaça, repetida este ano por Mário Dorminsky: para o ano corremos o risco de não haver Fantasporto.

Filmes realmente interessantes:

O'Horten


The Escapist


The Disappeared


Eden Lake

segunda-feira, março 02, 2009

TOMA!



"I rather have a bottle in front of me than a frontal lobotomy..."

Tom Waits

O DEMÓNIO NA GARGANTA


Liége foi o festival de Tom Waits. Por um lado porque uma das peças apresentadas foi "Woyzeck", para a qual Waits tinha composto uma série de músicas - o álbum "Blood Money" - e por outro porque o espectáculo da Croácia incluia a segunda melhor versão de "The Piano Has Been Drinking", só ultrapassada pela do mestre.
Tanto Tom Waits e teatro juntos despertaram um sonho antigo e que vou tentar executar ainda este ano, um espectáculo construído a partir do seu universo interminável e inimitável.

A equipa que construíu "Recuperados" tem tudo o que é preciso para fazer uma coisa destas, e a minha esperança é que não se desmorone já de seguida. Estas coisas do teatro universitário normalmente duram pouco tempo e terminam sempre com toda a gente a dispersar. Seja como for, vou já pensar numa espécie de rascunho/proposta e começar a chatear gente.

Digam lá se não inspira qualquer um...