A MACROINCONOMIA
Já disse isto várias vezes: não fui
grande aluno a Economia. Tive um sofrível 13 e apenas porque me
decidi, mesmo à última, a fazer um esforço para estudar a coisa.
Ainda fui a tempo, no entanto, de perceber que até gostava daquilo e
de ficar com a certeza de que, se tivesse descoberto isso mais cedo,
teria sido um aluno mais do que sofrível.
Da mesma forma, admito que ainda não
percebi nadinha do que se passa na Grécia e na Europa com a Grécia
e da Europa contra a Grécia. Não percebo nadinha porque, da mesma
forma que durante muito tempo não mergulhei na disciplina de
Economia, ainda não mergulhei neste assunto.
No entanto...
No entanto vou percebendo que se
mergulhar neste assunto corro o sério risco de me tornar um
militante de direita. Olho para as crónicas do Jornal de Notícias e
vejo uma maioria de defensores da Europa contra a Grécia, por
exemplo. Existem, sim, alguns cronistas daquele diário que defendem
a Grécia e o referendo que se vai realizar no próximo Domingo, mas
acima de tudo vejo um órgão de comunicação que, sem querer ou
intencionalmente, é uma ferramenta de desinformação ao serviço
dos partidos que compõem a nossa coligação governativa. Sem
querer, ou intencionalmente, o JN é um veículo para uma ideia
destra do problema da Grécia com a União Europeia.
Quanto a mim, que pouco percebo do
problema, tanto a uma micro-escala como a uma macro-escala, procuro
as opiniões dos que teoricamente percebem realmente da coisa e que
não são, certamente, o Manuel Serrão ou os ministros e
eurodeputados da direita portuguesa. Ouço os prémios Nobel de
economia defenderem o não no referendo grego e opto por acreditar
mais neles do que nas crónicas enveneadas do JN ou nas opiniões
histéricas que por estes dias têm invadido as redes sociais. E
posso estar errado, claro. Posso também estar a ser condicionado por
opiniões de pessoas que, pelo seu grau de autoridade, me convecem
muito facilmente a comer esta história de que os gregos é que têm
razão. Posso, é verdade.
Contudo, olho para dentro, para o nosso
problema, e consigo encotrar vários pontos de ligação com o que
defendem esses ilustres economistas e pensadores. Olho para os bancos
portugueses a colapsarem uins atrás dos outros e para os jogos de
Monopólio entre banqueiros e governantes e políticos no activo ou
fora dele, e percebo que estão reunidas todas as condições para
que se possa acreditar sem problemas na teoria que defende que toda
esta austeridade serve única e simplesmente para proteger a banca e
os seus bolsos. Não os nossos.
Não percebo muito de economia. Percebo
de desinformação, no emtanto. Consigo detectá-la quando vejo uma
equipa de reportagem da RTP em Atenas com o propósito de caçar os
desesperados, de filmar as filas no Multibanco, de entrevistar
maioritariamente a terceira idade, assustada com o que está para
vir. Alegro-me quando, subitamente, um dos entrevistados diz
calmamente que prefere a dignidade grega à submissão aos senhores
da Europa Unida. Consigo detectá-la nas crónicas encomendadas pelos
partidos do poder, escritas só porque sim, sem grandes argumentos -
muito menos argumentos técnicos - e que não fazem mais do que
destilar interesses partidários e eleitorais.
A macroeconomia tornou-se uma arma
política do caraças, ao serviço de quem está no poder e de quem
para lá quer ir. Os gregos - que por definição e por estes
dias, são todos os que estão na mesma situação mesmo que não se
apercebam disso ou que não queiram acreditar nisso - estão a
correr um risco qualquer que eu não consigo perceber muito bem. O
que consigo perceber e bem é que estão a ser alvo de uma enorme
campanha de difamação e desinformação; uma campanha que, à
imagem dos nossos políticos e governantes, não serve os nossos
interesses mas sim os interesses dos magnatas da alta finança.
E
de tudo isto, da minha falta de conhecimento real dos assuntos de
economia, do meu desconhecimento do assunto grego, fica a curiosidade
de perceber se depois de Domingo, e se o não vencer o referendo, se
é de facto verdade que há países que conseguem viver sem a União
Europeia e livres das suas regras financeiras; se há países que
conseguem voltar à sua moeda, renegando o Euro, e ainda assim
viverem bem ou até melhor do que viviam com a moeda única. Se isso
acontecer, assistiremos a um fenómeno muito parecido com aquela
situação clássica do marido que passa a vida a bater na mulher
convencido de que ela nunca o abandonará por não conseguir viver
sem ele e que no dia em que recebe a notificação de divórcio fica
do tamanho de uma uva passa. E parece-me, tenho quase a certeza, de
que é disso que a União Europeia e os políticos, governantes e
banqueiros têm medo. O que é uma grande novidade: por uma vez, ao
menos, a classe dominante tem medo do povo. Chega a ser bonito, não
acham?
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