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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, julho 03, 2015

A MACROINCONOMIA



Já disse isto várias vezes: não fui grande aluno a Economia. Tive um sofrível 13 e apenas porque me decidi, mesmo à última, a fazer um esforço para estudar a coisa. Ainda fui a tempo, no entanto, de perceber que até gostava daquilo e de ficar com a certeza de que, se tivesse descoberto isso mais cedo, teria sido um aluno mais do que sofrível.

Da mesma forma, admito que ainda não percebi nadinha do que se passa na Grécia e na Europa com a Grécia e da Europa contra a Grécia. Não percebo nadinha porque, da mesma forma que durante muito tempo não mergulhei na disciplina de Economia, ainda não mergulhei neste assunto.

No entanto...

No entanto vou percebendo que se mergulhar neste assunto corro o sério risco de me tornar um militante de direita. Olho para as crónicas do Jornal de Notícias e vejo uma maioria de defensores da Europa contra a Grécia, por exemplo. Existem, sim, alguns cronistas daquele diário que defendem a Grécia e o referendo que se vai realizar no próximo Domingo, mas acima de tudo vejo um órgão de comunicação que, sem querer ou intencionalmente, é uma ferramenta de desinformação ao serviço dos partidos que compõem a nossa coligação governativa. Sem querer, ou intencionalmente, o JN é um veículo para uma ideia destra do problema da Grécia com a União Europeia.

Quanto a mim, que pouco percebo do problema, tanto a uma micro-escala como a uma macro-escala, procuro as opiniões dos que teoricamente percebem realmente da coisa e que não são, certamente, o Manuel Serrão ou os ministros e eurodeputados da direita portuguesa. Ouço os prémios Nobel de economia defenderem o não no referendo grego e opto por acreditar mais neles do que nas crónicas enveneadas do JN ou nas opiniões histéricas que por estes dias têm invadido as redes sociais. E posso estar errado, claro. Posso também estar a ser condicionado por opiniões de pessoas que, pelo seu grau de autoridade, me convecem muito facilmente a comer esta história de que os gregos é que têm razão. Posso, é verdade. 

Contudo, olho para dentro, para o nosso problema, e consigo encotrar vários pontos de ligação com o que defendem esses ilustres economistas e pensadores. Olho para os bancos portugueses a colapsarem uins atrás dos outros e para os jogos de Monopólio entre banqueiros e governantes e políticos no activo ou fora dele, e percebo que estão reunidas todas as condições para que se possa acreditar sem problemas na teoria que defende que toda esta austeridade serve única e simplesmente para proteger a banca e os seus bolsos. Não os nossos.

Não percebo muito de economia. Percebo de desinformação, no emtanto. Consigo detectá-la quando vejo uma equipa de reportagem da RTP em Atenas com o propósito de caçar os desesperados, de filmar as filas no Multibanco, de entrevistar maioritariamente a terceira idade, assustada com o que está para vir. Alegro-me quando, subitamente, um dos entrevistados diz calmamente que prefere a dignidade grega à submissão aos senhores da Europa Unida. Consigo detectá-la nas crónicas encomendadas pelos partidos do poder, escritas só porque sim, sem grandes argumentos -­ muito menos argumentos técnicos -­ e que não fazem mais do que destilar interesses partidários e eleitorais.

A macroeconomia tornou-se uma arma política do caraças, ao serviço de quem está no poder e de quem para lá quer ir. Os gregos -­ que por definição e por estes dias, são todos os que estão na mesma situação mesmo que não se apercebam disso ou que não queiram acreditar nisso - estão a correr um risco qualquer que eu não consigo perceber muito bem. O que consigo perceber e bem é que estão a ser alvo de uma enorme campanha de difamação e desinformação; uma campanha que, à imagem dos nossos políticos e governantes, não serve os nossos interesses mas sim os interesses dos magnatas da alta finança. 

E de tudo isto, da minha falta de conhecimento real dos assuntos de economia, do meu desconhecimento do assunto grego, fica a curiosidade de perceber se depois de Domingo, e se o não vencer o referendo, se é de facto verdade que há países que conseguem viver sem a União Europeia e livres das suas regras financeiras; se há países que conseguem voltar à sua moeda, renegando o Euro, e ainda assim viverem bem ou até melhor do que viviam com a moeda única. Se isso acontecer, assistiremos a um fenómeno muito parecido com aquela situação clássica do marido que passa a vida a bater na mulher convencido de que ela nunca o abandonará por não conseguir viver sem ele e que no dia em que recebe a notificação de divórcio fica do tamanho de uma uva passa. E parece-me, tenho quase a certeza, de que é disso que a União Europeia e os políticos, governantes e banqueiros têm medo. O que é uma grande novidade: por uma vez, ao menos, a classe dominante tem medo do povo. Chega a ser bonito, não acham?