quarta-feira, julho 30, 2008
Tenho de o ver outra vez.
Esta é primeira e fácil consequência de ter visto “The Dark Knight” na passada sexta-feira. Por uma razão muito simples: é bom de mais. Tudo é bom de mais. E acreditem, tudo o que possam ler de positivo acerca do filme de Chritopher Nolan não é exagero. É um clássico instantâneo. É uma trama ao nível dos filmes da saga “O Padrinho”. Os actores são excelentes – o elenco é esmagador. NÃO É um filme de super-heróis. E este é mesmo o ponto mais surpreendente do mais recente capítulo das aventuras de Batman. Quase todos os filmes criados a partir da banda desenhada americana (e inglesa) tinham um denominador comum, mesmo os do Homem-Morcego; todos eram filmes coloridos, alegres, explosivos, divertidos, até. Este não. “The Dark Knight” é uma tragédia pesada, um filme negro, incómodo, triste e demasiado sério para ser confundido com um vulgar blockbuster. Não tem uma personagem principal, mas sim um conjunto de homens – muito mais do que simples personagens – que ocupam o mesmo tempo na tela e que têm a mesma importância no desenrolar da história. E talvez por isso mesmo o título não apresente o nome da personagem a partir da qual se criou esta obra-prima. Porque Batman não é, pela primeira vez na sua longa história, o elemento em torno do qual tudo gira. Aqui tem de partilhar as atenções com o Joker, com Harvey Dent e com o inspector Gordon, todos eles uma parte igual de um todo sombrio e, mais uma vez, trágico. Todos transportam em si a imagem da tragédia pessoal; uma tristeza que nos toca, que mexe com o comum espectador e que nos faz compreender, sem que as palavras sejam proferidas, as suas motivações, as suas culpas e os seus futuros. Nesse sentido, é fácil compreender que em “The Dark Knight” ninguém é totalmente mau ou perfeitamente bom. O argumento - do realizador e do seu irmão, Jonathan Nolan - é complexo, elaborado, uma teia de diversos pequenos acontecimentos que nascem de variadíssimas motivações e que não passam nunca pelas imberbes razões que muitas vezes levam os vilões deste tipo de histórias, a agirem como o fazem. Neste filme nenhum deles quer controlar o mundo. Ninguém inventa um vírus qualquer ou uma nova arma mortífera com que chantagear os líderes mundiais em busca de fortuna. Neste filme, o mal só quer uma coisa: manifestar-se. A dada altura, o fiel mordomo de Bruce Wayne, Alfred, define na perfeição quem é o Joker e o que ele pretende: neste mundo há homens que só querem ver o mundo a arder, por muito que isso soe ilógico, por muito que isso não faça sentido algum. E é isso precisamente que nos assusta. Que haja alguém, tão humano como nós, sem super poderes de qualquer espécie, que por nenhum motivo aparente, nos queira destruir da pior maneira possível. Mal no seu estado mais puro. Sem dúvida.
A construção da história, a forma como ela nos é contada, o constante somar de novos elementos, o crescendo no precipitar inevitável da tragédia, fazem lembrar esse monstro do cinema chamado “O Padrinho”. O filme de Nolan é complexo e intrincado como o do mestre Coppola, e a galeria de personagens e as suas relações, denunciam a influência dos clássicos filmes de gangsters. A única diferença, e o único ingrediente que remete directamente para as histórias de super-heróis, é que alguns destes personagens usam uniformes diferentes do habitual. Não fosse isso e “The Dark Knight” seria um épico ao nível das obras de Leone, Scorcese e do já referido Coppola. Não vai ter o reconhecimento e o peso históricos que esses cineastas alcançaram, mas que é uma obra marcante e que fica como uma das mais importantes referências do cinema do princípio do século, disso não tenho dúvida alguma.
Tecnicamente “The Dark Knight” é irrepreensível. Excepcionalmente bem filmado, o filme foi feito com uma invulgar poupança nos efeitos digitais. Christopher Nolan é fã de fazer as coisas da forma mais realista possível, logo, quando é preciso fazer explodir um edifício, faz-se explodir um edifício; quando é preciso filmar Batman no topo do mais alto arranha-céus da cidade, é mesmo Christian Bale quem vemos lá empoleirado. A forma calculada como o australiano manufacturou “The Dark Knight” torna-o ainda mais palpável, e o facto de ser um filme practicamente sem erros a apontar, elimina desde logo o sabor a fast food que muitas vezes torna o mais promissor filme de acção em algo de intragável. A banda sonora é assinada por Hans Zimmer e James Newton-Howard, uma parceria de dois monstros absolutos das composições para cinema, e que representa também um elemento novo e pouco vulgar na actual Hollywood. É pesada e sombria, tal qual como as imagens que acompanha, e faz o filme mergulhar ainda mais num mundo absolutamente trágico e pessimista. A fotografia e a montagem completam o conjunto de mais valias, e não envergonhariam a Academia caso obtivessem nomeações para os respectivos Oscars.
Em jeito de conclusão, posso afirmar sem que me pese na consciência que o Batman de Christopher Nolan é aquele que mais se aproxima da verdade da banda desenhada. Porque as histórias do Homem-Morcego nunca foram realmente para crianças. Como nos contos infantis, que facilmente podem ser olhados de dois pontos de vista – o maravilhoso e o do terror -, também as aventuras de Super-Homem, Homem-Aranha, X-Men e tantos outros, têm um lado dramático e bem mais humano do que à partida poderá parecer. Nolan optou precisamente por se afastar pelo lado festivaleiro com que Tim Burton e (terrivelmente) Joel Schumacher pegaram em Batman, e construiu um novo episódio da saga que, na minha opinião, fica para a história como O filme de Batman por excelência. Como se não houvesse nenhum outro. “The Dark Knight” é uma obra obrigatória. Que deve ser visto sem preconceitos de qualquer espécie, por todos os aspectos referidos e por muitos mais que honestamente não consigo enumerar.
E depois há Heath Ledger. E repito o que já disse: acreditem, tudo o que possam ler de positivo acerca do desempenho do australiano não é exagero. Pelo contrário, poderá pecar por não se conseguir dizer tudo o que há para dizer. O que Ledger fez com a personagem de Joker foi pura e simplesmente apagar toda a memória do que Jack Nicholson tinha alcançado no primeiro Batman, o de Tim Burton. Ledger fez ainda muito mais do que isso, pegou em Hannibal Lecter, guardou-o num caixote no fundo de um armazém e disse-lhe: descansa uns aninhos que agora quem manda aqui sou eu. Nunca o cinema viu um vilão como o Joker de Ledger. Nunca a presença em cena de uma personagem – seja ela qual for – nos inspirou tanto medo e desconforto. De tal forma que chega a ser agoniante pensar em como é possível um actor descer tão fundo nas emoções humanas de forma a conseguir representar aquele tipo de ódio, aquele tipo de insanidade. O Joker que vemos em Dark Knight está constantemente em ponto de ebulição e sempre que o vemos damos por nós a pensar “ele vai matar alguém, ele vai ferir alguém, ele vai desfigurar alguém”. E mesmo assim, apesar de todo este desconforto, apesar de todo o medo que nos inspira, só queremos que ele volte a aparecer; só queremos que ele seja o verdadeiro núcleo do filme, que mais ninguém se atreva a dividir a tela com ele, que verdadeiramente seja ELE o filme. Coisa que só não acontece porque o trabalho do realizador é realmente brilhante. Assim não fosse e teríamos mais um daqueles casos em que o objecto só existe porque um actor o carrega às costas. O que Heath Ledger carrega é a tristeza insuportável de uma das figuras mais trágicas da história da sétima arte. Hedionda, mas acima de tudo trágica, pesarosa e que esconde em si um drama maior do que nos é humanamente imaginável. Qualquer uma das sequências em que Ledger participa é uma verdadeira lição de bem representar. Uma delas, e em que ironicamente não se chega a ver o actor, é um simples “look at me” que nos arrepia, nos assusta e nos incomoda. Esse grito contém em si toda a loucura insana e perigosa de Joker, e embora possa não parecer, tem mais qualidade do que as interpretações da maior parte dos actores da actualidade. Tudo isto num filme que tem um elenco portentoso e todo ele brilhante. O já referido Christian Bale, contido, amargo, arrogante e na posição ingrata de ter de ficar na sombra dos seus inimigos – a banda desenhada sempre deu a fatia mais vistosa da acção aos vilões e não ao alter-ego de Bruce Wayne; Morgan Freeman e o grande Michael Caine, actores que nunca conseguem fazer má figura e Aaron Eckhaart, excelente no «duplo» papel de Harvey Dent / Duas Caras. Num elenco assim, não seria tarefa fácil um actor destacar a sua interpretação, mesmo tendo consciência de que a figura do Joker é altamente apetecível e que não existem limites para o que dela se pode fazer. Ledger entendeu na perfeição o que era necessário e assinou uma das cada vez mais raras personagens perfeitas, sem falhas, sem maneirismos exagerados e, acima de tudo, sem cair no overacting.Por outro lado, o trabalho de Ledger mostra também o ponto a que um actor não deve chegar no seu trabalho. Ledger entregou-se demasiado ao Joker. Vestiu-lhe a pele de uma forma exagerada e, provavelmente, desnecessária, ao ponto de quase sempre nos esquecermos de que é ele por detrás daquela maquilhagem. Terá sido provavelmente essa entrega que o arrastou para um estado psicológico frágil e que, em última análise, o terá levado a cometer o erro fatal que lhe viria a custar a vida. O actor afirmou várias vezes ter ficado esgotado, física e mentalmente, o que não é de admirar; o mundo do Joker é demasiado retorcido, negro e doentio para não amaldiçoar alguém que lhe queira dar corpo.
Quando vemos “The Dark Knight” há uma última dúvida que nos assalta: depois de um filme tão próximo da perfeição, que nos apresenta um falso final em aberto – para não dizer mesmo que é um final definitivamente fechado – e que explora ao máximo as profundezas mais negras da banda desenhada que lhe deu a inspiração, o que poderá ser feito a seguir? Pessoalmente acredito que ninguém se proponha rapidamente a filmar um novo episódio da série. Até porque os vilões clássicos de Batman são demasiado caricaturais e pouco densos para que seja possível manter este tipo de filme e esta narrativa séria. Todos eles, Pinguim, O Enigma e Catwoman – só para mencionar os mais importantes – são coloridos e cómicos até, não permitindo grandes reviravoltas e novas roupagens. Já para não falar no Joker. Nenhum actor se atreverá nos anos mais próximos a desfazer o que Heath Ledger fez. De certa forma, seria impensável ver outro Hannibal Lecter que não o de Anthony Hopkins, e é nessa medida que o Joker de Ledger fica para a história do cinema como o «melhor» vilão alguma vez visto.
E este Batman, embora poucas pessoas tenham a ousadia de o afirmar, é o melhor de sempre. E que me perdoe Tim Burton.
quinta-feira, julho 24, 2008
FILMITOS
Dá-me ideia que o passatempo preferido dos realizadores de cinema brasileiros é ver quem vai ser o next big thing do meio e realizar o próximo "Cidade de Deus". Ou seja, quem vai ser o próximo autor a dar nas vista e a revolucionar novamente o panorama do cinema canarinho. No entanto, não é Fernando Meirelles quem quer e filmes como "Cidade de Deus" não nascem nas árvores.
Isto a propósito de "Tropa de Elite", o tão anunciado filme de José Padilha que arrecadou o Urso de Ouro do Festival de Berlim, e que anda a roubar as atenções de público e crítica. Mas será "Tropa de Elite" o tal next big thing brasileiro? Não, longe disso, até. Mas tenta por todos os meios possíveis sê-lo. De tal forma que chega a cheirar a cópia desavergonhada - por muito que nos esforcemos a tentar não pensar nessa hipótese. A técnica é a mesma, o conteúdo também, e a estética, provavelmente o que mais tinha espantado na obra prima de Meirelles, é sacada a papel químico - câmara ao ombro, fotografia saturada e uma dinâmica de filmagem avassaladora. E a coisa até funciona e nem chateia. Ao fim e ao cabo, Fernando Meirelles inadvertidamente acabou por criar com "Cidade de Deus" uma espécie de sub-género cinematográfico, e já se sabia que não era preciso esperar muito para que mais realizadores começassem a seguir o seu estilo. O pior é que José Padilha consegue reproduzir esse estilo tão peculiar e utilizá-lo com habilidade, não conseguindo, no entanto, atribuir ao seu filme a mesma densidade dramática da obra que em 2002 colocou o Brasil no mapa cinéfilo mundial, e o seu realizador na tão apetecível Hollywood.
"Tropa de Elite" parece um documentário encenado. Como aqueles que tantas vezes vemos na televisão e em que actores dão corpo às histórias verídicas contadas na primeira pessoa por aqueles que verdadeiramente passaram pelos acontecimentos relatados. Está muito bem feito, é (mais uma vez) tecnicamente irrepreensível, é servido por actores excelentes e bastante credíveis, mas tem um argumento demasiado pequeno para um filme de duas horas e meia, e personagens unidimensionais, sem qualquer tipo de profundidade e que parecem passar pela história sem realmente se fazerem notar.
Isto a propósito de "Tropa de Elite", o tão anunciado filme de José Padilha que arrecadou o Urso de Ouro do Festival de Berlim, e que anda a roubar as atenções de público e crítica. Mas será "Tropa de Elite" o tal next big thing brasileiro? Não, longe disso, até. Mas tenta por todos os meios possíveis sê-lo. De tal forma que chega a cheirar a cópia desavergonhada - por muito que nos esforcemos a tentar não pensar nessa hipótese. A técnica é a mesma, o conteúdo também, e a estética, provavelmente o que mais tinha espantado na obra prima de Meirelles, é sacada a papel químico - câmara ao ombro, fotografia saturada e uma dinâmica de filmagem avassaladora. E a coisa até funciona e nem chateia. Ao fim e ao cabo, Fernando Meirelles inadvertidamente acabou por criar com "Cidade de Deus" uma espécie de sub-género cinematográfico, e já se sabia que não era preciso esperar muito para que mais realizadores começassem a seguir o seu estilo. O pior é que José Padilha consegue reproduzir esse estilo tão peculiar e utilizá-lo com habilidade, não conseguindo, no entanto, atribuir ao seu filme a mesma densidade dramática da obra que em 2002 colocou o Brasil no mapa cinéfilo mundial, e o seu realizador na tão apetecível Hollywood.
"Tropa de Elite" parece um documentário encenado. Como aqueles que tantas vezes vemos na televisão e em que actores dão corpo às histórias verídicas contadas na primeira pessoa por aqueles que verdadeiramente passaram pelos acontecimentos relatados. Está muito bem feito, é (mais uma vez) tecnicamente irrepreensível, é servido por actores excelentes e bastante credíveis, mas tem um argumento demasiado pequeno para um filme de duas horas e meia, e personagens unidimensionais, sem qualquer tipo de profundidade e que parecem passar pela história sem realmente se fazerem notar.
Contudo...
"Tropa de Elite" tem também um par de bons argumentos e que merecem ser realçados. A história, embora curta, conta e mostra o que se passa nas piores favelas do Rio de Janeiro; a relação da polícia com os traficantes, e a forma como o BOPE - uma força especial de intervenção criada propositadamente para a guerrilha urbana - lida com ambas as partes de um conflito que às vezes apenas serve para disfarçar um universo de corrupção como não deve haver em mais nenhum local no mundo. E esse universo - das favelas brasileiras - é algo de tremendamente apetecível para o público. Todos querem ver como é uma favela, como são os traficantes, como actua a polícia, como são aqueles seres humanos tão diferentes de nós, afinal. nesse sentido "Tropa de Elite" não desilude nem um bocadinho. É gráfico, violento, brutal, duro e às vezes difícil de engolir. Mais uma vez, é um documentário. Como se uma equipa de filmagem da Globo tivesse a coragem de acompanhar o BOPE nas suas investidas ao Morro da Rocinha, e autorização para filmar tudo, sem censura.
Para além disso, "Tropa de Elite" tem também a melhor interpretação do cinema brasileiro de que me lembro - só ultrapassada pela Fernanda Montenegro do maravilhoso "Central Brasil". Wagner Moura, o Capitão Nascimento, já tinha dado nas vistas no mediano "Carandiru", e mostra, de uma vez por todas, ser um actor do caraças; com uma energia e uma força avassaladoras, mas sempre com uma tristeza assustada no olhar, que denuncia a agonia em que Nascimento, o futuro pai de família, farto da vida de soldado, vive. Nascimento, o capitão, é rígido, agressivo e violento o necessário para não dar sequer uma hipótese ao inimigo. Wagner Moura consegue gerir essas duas personalidades de uma forma intocável, e merece, sem somra de dúvidas, a nomeação para o Oscar de melhor actor. Sem exagero.
Em conclusão, "Tropa de Elite" vê-se bem e não chateia nadinha, mas o seu valor enquanto objecto fílmico, resume-se simplesmente ao valor documental de uma realidade que todos querem conhecer a fundo.
"Death Defying Acts" - estupidamente traduzido para "Houdini - o Último Grande Mágico" - é 99% mau. A única coisa boa do filme chama-se Saoirse Ronan, a actriz de 14 anos que interpreta a filha da mulher por quem Houdini se apaixona. A miúda já teve uma nomeação para o Oscar de actriz secundária, pelo seu papel em "Atonement" e percebe-se porquê. É realmente demasiado boa para quem tem tão pouca experiência e consegue carregar sozinha o filme às costas.
A figura de Harry Houdini merecia melhor, e continua a faltar o biopic definitivo sobre uma das personagens mais entusiasmantes da história. É pena.
quarta-feira, julho 23, 2008
O CONCERTO MAIS CONFORTÁVEL DE SEMPRE
“Homesick.
Because I no longer know where home is”
Contrariando os próprios autores desta música, posso afirmar com toda a certeza que ontem à noite quem esteve na Casa da Música se sentiu perfeitamente em casa. Porque o concerto dos Kings of Convenience foi o mais caseirinho que era possível ser numa sala daquelas. O duo norueguês partilhou as suas canções com o público como se estas fossem realmente de todos, as duas horas de concerto passaram a correr, e os sucessivos regressos ao palco, mesmo quando as luzes já se acendiam para mandar o pessoal para casa, não foram mais do que um não querer ir embora. Do público e dos músicos. Era uma daquelas noites que não merecia ter fim e esta é a melhor maneira de definir o que se passou num concerto que foi bem mais do que isso.
Para lá, bem para lá dos mega-concertos dos Gogol Bordello e dos Rage Against the Machine, esta noite passada em casa de amigos foi (surpreendentemente mas não tanto assim) o melhor concerto do ano. Indiscutivelmente.
E muito mais havia para dizer, mas ao meu lado estava alguém que conhecia umas duas músicas dos Kings e que ficou de tal forma apaixonada pelas canções, pelos músicos e pela sua fantástica atitude em palco, que me pediu expressamente para não escrever aqui mais do que umas reticências…
Because I no longer know where home is”
Contrariando os próprios autores desta música, posso afirmar com toda a certeza que ontem à noite quem esteve na Casa da Música se sentiu perfeitamente em casa. Porque o concerto dos Kings of Convenience foi o mais caseirinho que era possível ser numa sala daquelas. O duo norueguês partilhou as suas canções com o público como se estas fossem realmente de todos, as duas horas de concerto passaram a correr, e os sucessivos regressos ao palco, mesmo quando as luzes já se acendiam para mandar o pessoal para casa, não foram mais do que um não querer ir embora. Do público e dos músicos. Era uma daquelas noites que não merecia ter fim e esta é a melhor maneira de definir o que se passou num concerto que foi bem mais do que isso.
Para lá, bem para lá dos mega-concertos dos Gogol Bordello e dos Rage Against the Machine, esta noite passada em casa de amigos foi (surpreendentemente mas não tanto assim) o melhor concerto do ano. Indiscutivelmente.
E muito mais havia para dizer, mas ao meu lado estava alguém que conhecia umas duas músicas dos Kings e que ficou de tal forma apaixonada pelas canções, pelos músicos e pela sua fantástica atitude em palco, que me pediu expressamente para não escrever aqui mais do que umas reticências…
terça-feira, julho 22, 2008
BLAH, BLAH, BLARGH!
- O engenheiro Sócrates que andou numa mini tournée por dois dos melhores ditadores africanos da actualidade – José Eduardo dos Santos e Mouammar Kadhafi – é o mesmo engenheiro Sócrates que recusou receber o Dalai Lama com um “desculpe lá mas veio em má hora”. É compreensível. As sequelas de se recusar um encontro com homens do calibre do angolano e do líbio podem ser severas. O fornecimento de petróleo ameaçado, o bloqueio ao envio de técnicos de construção civil / jogadores da bola para as grandes obras planeadas pelo actual executivo e a perda da reserva no Spa do hotel Meridien em Luanda seriam algumas das contrapartidas negativas de uma decisão dessas.
Já quanto ao animado Kadhafi a coisa podia mesmo ser mais séria, embora simples. Um pequeno engenho explosivo no bolso de um vendedor de tapetes à porta do escritório do nosso primeiro e o assunto ficava resolvido num tirinho.Sinceramente, que risco há em mandar o Dalai às urtigas? O que é que ele pode fazer? Chatear-nos até à morte com umas rezas e umas cantilenas? Obrigar-nos a comer francesinhas vegetarianas? Dar-nos a beber o tão famoso chá de manteiga de Iaque, tão típico daquelas paragens tibetanas?
- Assumindo desde já ser um perfeito leigo no que ao código penal diz respeito, gostava tremendamente que me esclarecessem uma dúvida.Há um processo que demora mais de quatro anos a ser resolvido, que gasta aos cofres do estado uns valente milhares de euros, que envolve mais de duas dezenas de arguidos e que tem o seguinte desfecho: prova-se a culpa da maior parte dos acusados mas estes não vão presos. Chama-se pena suspensa e deve ser a maior invenção da história da lei.E eu pergunto: se os arguidos não tivessem fortes ligações à politica local e nacional, ligações à gestão de empresas com algum peso, como a Metro do Porto, ligações bastante promíscuas com dirigentes desportivos e consequentemente com magistrados, outros políticos e outros empresários locais e nacionais, e finalmente, se não se chamassem Major, será que a pena também seria suspensa?
- O vereador da CDU da câmara do Porto disse que “Rui Rio devia demolir o Bairro do Aleixo mas sem desalojar os moradores”. Ora, já não me lembro de concordar com um político desde que o Durão Barroso decidiu abandonar o cargo de Primeiro-Ministro. Concordo e ainda sugiro: deviam fazê-lo na noite de 24 de Dezembro. Dessa forma garantiam que toda a gente estava nas suas casas no momento da derrocada e resolviam dois problemas de uma assentada.
- O presidente da Câmara de Loures disse à imprensa que das famílias ciganas que se plantaram no jardim da autarquia, somente três têm a renda em dia, e que practicamente nenhuma tem as contas de água regularizadas, o que me leva a crer que foram os gajos da SMAS que vandalizaram os seus apartamentos. Espanta-me é que os proprietários dos tais apartamentos não se queixem do desaparecimento de droga e das falsificações Dolce & Gabbana e afins que estavam guardadas nos armários da cozinha.
Etiquetas: BLAH BLAH BLAH
sexta-feira, julho 18, 2008
SÓ PARA CHATEAR...
Zack Snider, o realizador que adaptou a Graphic Novell "300", de Frank Miller, não satisfeito com a façanha - ninguém diria ser possível a transposição - atirou-se a outra banda desenhada considerada sagrada e infilmável.
"Watchmen", de Alan Moore e Dave Gibbons, é um daqueles monumentos aos quadradinhos que toda a gente sempre quis filmar - e que os fãs sempre quiseram ver filmado - e foi talvez a primeira banda desenhada a ser considerada como mais do que somente literatura juvenil, tendo sido incluida na lista das 100 best English-language novels from 1923 to the present da revista Time . A sua complexidade sempre fez crer que nunca nenhum realizador seria capaz de o realizar correctamente. Snider discordou e aproveitou o voto de confiança adquirido com o maravilhoso trabalho feito com "300" e gastou dinheiro como um louco, não olhando a meios para fazer uma versão cinematográfica de "Watchmen" que, em alguns quadros e cenários, é uma cópia exacta dos desenhos de Gibbons. E ver personagens como Dr. Manhattan, Night Owl, Silk Spectre e The Comedian transformadas em pessoas reais, de carne e osso, é coisa para deixar pregado ao chão qualquer leitor de banda desenhada. O elenco, maioritariamente desconhecido do grande público, traz aquela surpreendente garantia de credibilidade não muito comum à maioria dos blockbusters, e essa ainda é uma das coisas que me dá parazer no cinema de hoje em dia.
Ver o trailer de "Watchmen" representa, para todos os que já leram os livros, uma estranha sensação de "como!?", que se instala logo aos primeiros segundos e que cresce para um sentimento de perfeito embasbacamento.
O mau da coisa? A estreia está marcada para 2009...
"Watchmen", de Alan Moore e Dave Gibbons, é um daqueles monumentos aos quadradinhos que toda a gente sempre quis filmar - e que os fãs sempre quiseram ver filmado - e foi talvez a primeira banda desenhada a ser considerada como mais do que somente literatura juvenil, tendo sido incluida na lista das 100 best English-language novels from 1923 to the present da revista Time . A sua complexidade sempre fez crer que nunca nenhum realizador seria capaz de o realizar correctamente. Snider discordou e aproveitou o voto de confiança adquirido com o maravilhoso trabalho feito com "300" e gastou dinheiro como um louco, não olhando a meios para fazer uma versão cinematográfica de "Watchmen" que, em alguns quadros e cenários, é uma cópia exacta dos desenhos de Gibbons. E ver personagens como Dr. Manhattan, Night Owl, Silk Spectre e The Comedian transformadas em pessoas reais, de carne e osso, é coisa para deixar pregado ao chão qualquer leitor de banda desenhada. O elenco, maioritariamente desconhecido do grande público, traz aquela surpreendente garantia de credibilidade não muito comum à maioria dos blockbusters, e essa ainda é uma das coisas que me dá parazer no cinema de hoje em dia.
Ver o trailer de "Watchmen" representa, para todos os que já leram os livros, uma estranha sensação de "como!?", que se instala logo aos primeiros segundos e que cresce para um sentimento de perfeito embasbacamento.
O mau da coisa? A estreia está marcada para 2009...
BAT, BAT LEVEMENTE...
Já há muito tempo que não cedia à tentação de falar de um filme antecipadamente, mas a verdade é que ainda "The Dark Knight" não estreou - ou está acabadinho de estrear em alguns países - e já a histeria em torno do filme é completa. O 6º(!) capítulo da saga Batman está a criar - já vinha criando - uma imagem de filme-culto, graças não só a Heath Ledger, e a todo o peso que a morte do jovem actor lançou sobre esta sua última personagem, mas também graças a um ambiente pouco tipico dos filmes de super-heróis. É Nuno Markl quem me parece defini-lo melhor quando, no seu site, o descreve como "complexo drama criminal capaz de ombrear com coisas como Heat, de Michael Mann". E a verdade é que os tais seis minutos iniciais do filme de Christopher Nolan não têm nada a ver com nenhum outro filme de super-heróis e muito menos com os restantes episódios da saga do Homem-Morcego.
(o ecrã é grande de mais para a minha paginazinha, mas eu faço o sacrifício)
Este prólogo, de que tanta gente fala com entusiasmo, é cinema adulto, sério, filmado com uma dinâmica e um cuidado cirúrgicos, e que foge radicalmente daquele estilo galhofeiro que até a chegada de "Batman Begins" - a primeira incursão de Nolan nas aventuras do herói - tinha dominado a série. Porque a verdade é que nem Tim Burton nem Joel Schumacher tinham abordado o universo de Batman como ele realmente é, negro, doentio, violento e, vá, eticamente nada correcto. Nolan aproximou-se timidamente desse mundo na sua primeira aventura aos comandos da saga e parece agora dar um passo mais no sentido de finalmente filmar um super-herói que foi criado para ser visto por adultos. Pessoalmente não tenha nada contra os dois filmes que Burton realizou - a não ser a escolha improvável e desastrada de Michael Keaton para o papel de Bruce Wayne/Batman - e considero mesmo o segundo capítulo, "Batman Returns", como o melhor de todos. No entanto, a escuridão de Batman faz falta a quem se habituou a ler a banda desenhada, especialmente quando nos apresentam um Joker idiota como o que Jack Nicholson desempenhou logo no filme de abertura e que, qualidades do actor à parte, era uma caricatura demasiado ridícula para fazer justiça a uma das personagens mais retorcidas e doentias da história da banda desenhada americana. Este Joker, o de Heath Ledger, parece ser a derradeira aproximação ao eterno inimigo de Batman. Para além disso - e nunca saberemos se motivado ou não pela morte prematura do actor - não são poucas as vozes que anunciam já uma nomeação póstuma para o Oscar de melhor actor. Ou seja, mais uma razão para fazer deste filme um dos mais aguardados da temporada. Pela parte que me toca, o trailer tinha já sido suficiente para me deixar em pulgas. Os seis minutos do prólogo, e que fiquei a conhecer graças ao Nuno Markl, deixaram-me de boca à banda, e já os revi para aí 256 vezes.
Apetecia-me já começar a falar da extraordinária interpretação de Ledger, mesmo sem ter visto o filme, mas vou-me conter e esperar pela estréia. Mas não é coisa fácil de se fazer...
(o ecrã é grande de mais para a minha paginazinha, mas eu faço o sacrifício)
Este prólogo, de que tanta gente fala com entusiasmo, é cinema adulto, sério, filmado com uma dinâmica e um cuidado cirúrgicos, e que foge radicalmente daquele estilo galhofeiro que até a chegada de "Batman Begins" - a primeira incursão de Nolan nas aventuras do herói - tinha dominado a série. Porque a verdade é que nem Tim Burton nem Joel Schumacher tinham abordado o universo de Batman como ele realmente é, negro, doentio, violento e, vá, eticamente nada correcto. Nolan aproximou-se timidamente desse mundo na sua primeira aventura aos comandos da saga e parece agora dar um passo mais no sentido de finalmente filmar um super-herói que foi criado para ser visto por adultos. Pessoalmente não tenha nada contra os dois filmes que Burton realizou - a não ser a escolha improvável e desastrada de Michael Keaton para o papel de Bruce Wayne/Batman - e considero mesmo o segundo capítulo, "Batman Returns", como o melhor de todos. No entanto, a escuridão de Batman faz falta a quem se habituou a ler a banda desenhada, especialmente quando nos apresentam um Joker idiota como o que Jack Nicholson desempenhou logo no filme de abertura e que, qualidades do actor à parte, era uma caricatura demasiado ridícula para fazer justiça a uma das personagens mais retorcidas e doentias da história da banda desenhada americana. Este Joker, o de Heath Ledger, parece ser a derradeira aproximação ao eterno inimigo de Batman. Para além disso - e nunca saberemos se motivado ou não pela morte prematura do actor - não são poucas as vozes que anunciam já uma nomeação póstuma para o Oscar de melhor actor. Ou seja, mais uma razão para fazer deste filme um dos mais aguardados da temporada. Pela parte que me toca, o trailer tinha já sido suficiente para me deixar em pulgas. Os seis minutos do prólogo, e que fiquei a conhecer graças ao Nuno Markl, deixaram-me de boca à banda, e já os revi para aí 256 vezes.
Apetecia-me já começar a falar da extraordinária interpretação de Ledger, mesmo sem ter visto o filme, mas vou-me conter e esperar pela estréia. Mas não é coisa fácil de se fazer...
quarta-feira, julho 16, 2008
FILMITOS
Um super-herói politicamente incorrecto a 100%, mal educado, alcoólico, preguiçoso e que não olha aos estragos que provoca para poder resolver as situações com que se depara é idéia para deixar muita gente a salivar. Saber utilizá-la já não parece ser coisa para qualquer um. E "Hancock" é precisamente isso, uma genial idéia com um fraquinho realizador atrás dos comandos.
A história é muito simples e é apenas aquilo que escrevi umas linhas acima. Will Smith é um super-herói em tudo parecido com o famoso Super-Homem. Tudo, não. O tipo consegue voar, aguenta com um comboio no lombo sem sequer torcer um pé, e tem uma força infinita. A única diferença é que sempre que tem de intervir numa perseguição a um grupo de assaltantes, por exemplo, destrói tudo o que lhe aparece à frente antes de os conseguir apanhar. E o público começa a ficar farto de Hancock.
Um dia, um relações públicas a quem o herói salva a vida decide ajudá-lo e tenta melhorar a sua imagem junto do povo americano. É nessa altura que descobrimos que Hancock sofre de uma profunda amnésia que o impede sequer de saber quem é realmente. E a coisa continua a prometer, até ao momento em que o realizador, Peter Berg, se decide a apressar o andamento do filme, a sacrificar algum do humor e a dar alguma seriedade à história, e a basicamente mandar tudo por água abaixo.
É pena. Não é todos os dias que vemos uma estrela do peso de Will Smith embarcar num anti-blockbuster, a dar a má imagem de um insolente meio vadio, meio herói de banda desenhada e a contribuir para se pôr em práctica o que podia ser realmente uma história do caraças!
Peter Berg está entretanto a iniciar o remake de "Dune" e a minha preocupação é, como não podia deixar de ser, imediata.
Fortemente aconselhado e sempre na perspectiva de ser um filme de puro etretenimento -, decidi-me a ir ver "Wanted", a experiência americana de Timur Bekmambetov, o realizador de "Night Watch" - filme que nunca vi mas que sempre me despertou uma enorme curiosidade.
"Wanted" é tão banda desenhada quanto "Hancock". Igualmente inverosímil mesmo que nenhum dos seus personagens consiga voar, parar balas com o peito ou atirar tanques de guerra a quilómetros de distância com um bofetão. Aqui estamos no território do filme-desbunda, das perseguições de carro alucinantes, dos tiroteios insanos, da câmara lenta abusadora e da porrada de criar bicho. A história do filme, mais reviravolta, menos reviravolta, é bastante simples e serve apenas como ponto de partida para duas horas de diversão absoluta e sempre com os dentes cerrados.
Simples: rapaz inútil e absolutamente entediante descobre que é uma das poucas pessoas no mundo que nasceram para ser assassinos viscerais, com capacidades que a maioria dos comuns mortais nunca conseguirão ter: aumentar o ritmo cardíaco para 400 batidas por minuto para potenciar os sentidos e ver tudo em câmara lenta, uma capacidade regeneradora anormal e a habilidade suprema: disparar balas em curva. Tudo isto e mais uma pancada de coisas de que ninguém seria capaz fazem dos homens e mulher que compõem a "Irmandade" uma espécie de super grupo de heróis anónimos que tratam de manter o equilibrio do mundo.
A acção é constante, electrizante, empolgante e viciante e quando saímos da sala damos por nós a conduzir de forma desportiva e a olhar para toda a gente com cara de mau. Ou seja, a coisa funciona e de que maneira. Pena é que a recta final do filme seja tão morninha. Depois de tanta explosividade era de esperar um final em grande, ainda mais bombástico e arrasador. Mas não. A grande sequência de acção final tem um finzinho rápido e sensaborão, e o epílogo é ainda mais tímido e desinteressante. É pena. Como é pena um pormenor que muitos poderão considerar insignificante mas que faz pensar: James McAvoy, o actor principal, é escocês e tem um sotaque absolutamente fantástico, e que encaixava perfeitamente neste filme. Em vez disso temos um actor a esforçar-se como pode para falar um inglês americanado perfeito. Estranho...
De resto "Wanted" tem um elenco de luxo, encabeçado pelo já referido McAvoy, e com nomes como Angelina Jolie - mais bonita do que nunca -, Morgan Freeman e o grande Terence Stamp. E é tudo mesmo bastante divertido. Merece a visitinha com muitas pipocas e baldes e baldes de Coca-Cola, mesmo com um final tão frouxo.
É pena. Não é todos os dias que vemos uma estrela do peso de Will Smith embarcar num anti-blockbuster, a dar a má imagem de um insolente meio vadio, meio herói de banda desenhada e a contribuir para se pôr em práctica o que podia ser realmente uma história do caraças!
Peter Berg está entretanto a iniciar o remake de "Dune" e a minha preocupação é, como não podia deixar de ser, imediata.
Fortemente aconselhado e sempre na perspectiva de ser um filme de puro etretenimento -, decidi-me a ir ver "Wanted", a experiência americana de Timur Bekmambetov, o realizador de "Night Watch" - filme que nunca vi mas que sempre me despertou uma enorme curiosidade.
"Wanted" é tão banda desenhada quanto "Hancock". Igualmente inverosímil mesmo que nenhum dos seus personagens consiga voar, parar balas com o peito ou atirar tanques de guerra a quilómetros de distância com um bofetão. Aqui estamos no território do filme-desbunda, das perseguições de carro alucinantes, dos tiroteios insanos, da câmara lenta abusadora e da porrada de criar bicho. A história do filme, mais reviravolta, menos reviravolta, é bastante simples e serve apenas como ponto de partida para duas horas de diversão absoluta e sempre com os dentes cerrados.
Simples: rapaz inútil e absolutamente entediante descobre que é uma das poucas pessoas no mundo que nasceram para ser assassinos viscerais, com capacidades que a maioria dos comuns mortais nunca conseguirão ter: aumentar o ritmo cardíaco para 400 batidas por minuto para potenciar os sentidos e ver tudo em câmara lenta, uma capacidade regeneradora anormal e a habilidade suprema: disparar balas em curva. Tudo isto e mais uma pancada de coisas de que ninguém seria capaz fazem dos homens e mulher que compõem a "Irmandade" uma espécie de super grupo de heróis anónimos que tratam de manter o equilibrio do mundo.
A acção é constante, electrizante, empolgante e viciante e quando saímos da sala damos por nós a conduzir de forma desportiva e a olhar para toda a gente com cara de mau. Ou seja, a coisa funciona e de que maneira. Pena é que a recta final do filme seja tão morninha. Depois de tanta explosividade era de esperar um final em grande, ainda mais bombástico e arrasador. Mas não. A grande sequência de acção final tem um finzinho rápido e sensaborão, e o epílogo é ainda mais tímido e desinteressante. É pena. Como é pena um pormenor que muitos poderão considerar insignificante mas que faz pensar: James McAvoy, o actor principal, é escocês e tem um sotaque absolutamente fantástico, e que encaixava perfeitamente neste filme. Em vez disso temos um actor a esforçar-se como pode para falar um inglês americanado perfeito. Estranho...
De resto "Wanted" tem um elenco de luxo, encabeçado pelo já referido McAvoy, e com nomes como Angelina Jolie - mais bonita do que nunca -, Morgan Freeman e o grande Terence Stamp. E é tudo mesmo bastante divertido. Merece a visitinha com muitas pipocas e baldes e baldes de Coca-Cola, mesmo com um final tão frouxo.
terça-feira, julho 15, 2008
FOMOS TODOS REVOLUCIONÁRIOS
A chegada ao recinto do Optimus Alive foi... bem, bastaram cinco minutos para perceber completamente a desorganização caótica da coisa. Já se sabe, ninguém vai a um festival destes que não seja para ver e ouvir as bandas de eleição. No entanto, estar quinze minutos numa fila para uma das muitas barracas de comes, para finalmente perceber que bebidas só nos postos Sagres, estar UMA hora numa mar de gente para beber uma cola quente é muito mais do que o comum mortal pode aguentar. Assim não. Assim é feio.
Mas enfim, como já disse, o Optimus Alive interessava-me meramente por três bandas e mais nada. Nadinha mesmo. E as três bandas lá vieram.
Os Gogol Bordello mostraram com facilidade serem já mais do que uma curiosidade, uma atracção circense. E a prová-lo esteve a larga quantidade de fãs que cantou em coro mais ou menos bem afinado as suas canções. Liderados por Eugene Hütz, os Gogol são (provavelmente) a única banda de Gipsy-Rock no mundo e são completa e totalmente insanos. Insanos como se os Fanfare Cioccarlia descobrissem dois quilos de cocaína momentos antes de entrarem em palco. Insanos em regime non stop, não perdendo mais do que cinco segundos entre as músicas. Insanos porque passam um concerto inteiro - e tenho cá para mim que é indiferente a duração do mesmo - aos saltos, aos berros, aos pontapés ao ar e em absoluto estado de trip alucinada. Todos! As músicas são fenomenais, a actuação é esgotante e deixa o público completamente de rastos, os músicos são brilhantes - especialmente o violinista, Sergey Ryabtsev, que é, sozinho, um espectáculo dentro do espectáculo - e são o pesadelo de qualquer roadie, e o misto de casamento cigano com toques de punk rock de garagem com um nadinha de cabaret de leste tem um efeito hipnotizante. Sem dúvida viciante. Teria sido o melhor concerto da noite... mas havia outro na lista que já começava a fazer mexer as hostes.
Entre um e outro ficaram os decepcionantes The Hives. Decepcionantes pura e simplesmente por não conseguirem destilar nem metade da energia dos Gogol Bordello e por não serem capazes de manter a mesma qualidade ao longo de todo o seu concerto. Momentos bons houve bastantes, mas momentos chatos também. Pelle Almqvist, o eléctrico vocalista da banda sueca, deixava a energia morrer entre canções e parecia, aqui e ali, algo distante daquele palco. Mas as músicas dos The Hives são boas o suficiente para aquecer a malta - pelo menos os lá da frente, que não se cansavam de tanto mosh - e o concerto acabou por ser mais morno do que se esperava, mas bonzinho na mesma.
Os Rage Against The Machine não precisavam mesmo de ter sido tão bons. Não precisavam porque a maioria do público já estava rendido ao que ainda estava para acontecer. Ainda o concerto estava longe de começar e já (pelo menos) 80% das pessoas presentes no recinto sentiam que aquele ia ser o melhor concerto do ano. Se foi ou não, nunca saberemos, mas que foi demolidor, disso não tenham dúvidas. A música incendiária dos RATM é apreciada por todo o tipo de gente. Punks inveterados, metaleiros puros, góticos, surfistas, betos, queques e pais de família, todos cantaram a plenos pulmões as músicas do quarteto norte-americano, e a dada altura todo o recinto era uma grande e imparável massa humana em constante mosh. O início com "Testify", uma das suas mais bombásticas músicas, deu o mote para uma concerto que não deu ao público um único segundo de descanso. Ao fim de pouco mais de uma hora um pequeno intervalo com os RATM fora do palco, a Internacional Comunista (em russo), o regresso, uma pequena homenagem a José Saramago e um encore ainda mais arrasador que culminou, como não podia deixar de ser, com o hino "Killing In The Name". E aí foi literalmente o fim do mundo. Quando as palavras fuck you I won't do what you tell me soaram no recinto cantadas por toda a gente, o mosh tornou-se perigosamente uma ameaça à integridade fisica do povo, e a loucura tomou conta da festa. O final do concerto foi quase como quando nos apagam a luz de repente e ficamos uns segundos desorientados. Ficava a memória de um dos melhores concertos que já vi e a certeza de que tão cedo não vou assistir a nada tão intenso.
A qualidade dos músicos? Irrepreensível. Mais uma vez, sem que fosse necessária uma tão grande entrega. E era bom que todos os músicos dessem metade do que os RATM nos deram, com aquela honestidade, com aquela energia e acima de tudo sem quaisquer tiques de vedetas. Assim vale a pena. Quando é que voltam?
O vídeo publicado aqui é igual a todos os outros disponíveis, e exemplifica muito bem o que foi o concerto de sábado. Acreditem, era impossível fazer melhor que isto.
segunda-feira, julho 07, 2008
BLAH, BLAH, BLA(RG)H...
- Notícia absoluta da semana passada: Alberto João Jardim foi de visita à Venezuela! E este blog que já por várias vezes fez a comparação entre os dois dit... governantes, só ficou triste por saber que os dois rechonchudos mais histéricos da história da política mundial não tiveram a oportunidade de se encontrarem. Tinham tanta coisa para falar. Como controlar orgãos de comunicação, como ganhar dinheiro à custa de infinitas obras públicas, manobras várias com fim à conquista de mais um mandato, enfim, assunto não faltaria. Mas não se encontraram. Provavelmente, e porque têm tantas semelhanças, porque fizeram um intercâmbio governamental ao estilo do couchsurfing, estando Chávez, nessa mesma altura, a comer bananas no Funchal! Será?
- Quando pensamos que nada poderá ultrapassar em foleirice o programa "Chuva de Estrelas" que a SIC transmitiu há dias, comemorando os dez anos dessa verdadeira instituição de entertenimento - e que deu ao mundo o João Pedro Pais - utilizando para o efeito os pindéricos que trabalham na estação de Carnaxide, e eis se não quando, a RTP resolve fazer melhor e queimar dinheiro dos contribuintes na transmissão do "Barrigas de Amor". E o que foi o "Barrigas de Amor"? Simples. Uma convenção de grávidas, gordas e de pés inchados, com sorrisos idiotas até à exaustão, parolas como todas as mulheres são quando engravidam, a passearem-se por um parque em Lisboa - que não cheguei a perceber qual por não me ter dado tempo para isso - e a fazer todo o tipo de exercícios para grávidas, a verem todo o tipo de produtos para grávidas e um não sei mais o quê que só a s grávidas fazem. Isto tudo enquadrado por entrevistas a mulheres famosas que já foram grávidas - e às que nunca foram também - e que por estarem a falar do assunto (interessantíssimo) se transformam em parolas tal e qual como as que estão realmente de esperanças, com os pés inchados e o sorriso idiota. Já se sabe que a televisão pública é, como sempre foi, perita em torrar o nosso guito, mas isto é exagero. Entretanto, e como não podia deixar de ser, já há muito maluquinho dos movimentos pró vida a gritar ao mundo que isto foi muito bonito e que devia acontecer mais vezes! Se a ideia era realmente fazer um acontecimento pelo direito à vida disfarçado de concentração de panças, então não quero imaginar o que fariam os defensores do aborto para dar a equivalente resposta...
- Olhamos para o(s) orçamento(s) dessa magnífica obra que é o tão aguardado TGV e é impossível não nos questionarmos: haverá assim tanta gente com vontade/necessidade de fazer a viagem Porto-Lisboa em uma hora e aos preços que essa mesma viagem vai custar? Mais, haverá assim tanta gente com vontade/necessidade de se deslocar de Lisboa a Madrid? Mais ainda, ninguém percebeu que o Alfa Pendular que faz a viagem de Porto para Lisboa é um comboio espectacular, confortável e que ainda está sub-aproveitado? É que era suposto o bicho levar-nos à capital em duas horas! Se não o faz é porque o mesmo governo que quer investir uma soma muito próxima da dívida externa do Burundi não gastou dinheiro na construção de uma linha adequada ao efeito. Portugal parece aquele gajo que não tem onde cair morto mas que faz o impossível para comprar um ecrã de plasma de 700€ para mostrar aos amigos e que descobre, tarde de mais, que tem de pôr a filha a dormir na sala porque o maldito aparelhómetro não cabe na sala de estar mas sim no quarto da pirralha.
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KUNG FU PANDA
Como não podia deixar de ser, e logo no fim-de-semana de estreia, fui ver o novo filme de animação da Dreamworks, "Kung Fu Panda", e a conclusão é (mais do que qualquer outra) que o salto de qualidade da produtora nesta área foi incomensurável. Os dois últimos filmes animados da Dreamworks tinham sido respectivamente o terceiro capítulo da saga Shrek e "Bee Movie", e a qualidade da animação de "Kung Fu Panda" representa tão somente a maior ameaça de sempre ao reinado absoluto da concorrente Pixar. Assim mesmo. Nunca um filme de animação de outro estúdio que não a Pixar tinha atingido este nível, não só na animação propriamente dita, como também nos diálogos, no argumento e nas situações.
Até aqui, e conscientes da dificuldade em combater a Pixar na parte técnica, os restantes estúdios apostavam sempre na comicidade dos seus filmes e apontavam-nos declaradamente para um público provavelmente mais graúdo. "Kung Fu Panda" assume-se como um filme totalmente infantil, totalmente cómico e é precisamente aí que ganha substancial número de pontos. A coisa é mesmo hilariante, ao mesmo tempo que é um dos maiores delirios visuais da história do cinema de animação. Os cenários são soberbos, a iluminação fenomenal, as personagens são memoráveis e a animação, mais uma vez, uma coisa de enlouquecer o maior detractor. É pura e simplesmente perfeita! Desde o prólogo até ao genérico final, ambos em animação convencional. A juntar a isso, a magnífica homenagem aos filmes de artes marciais, presente em cada imagem, em cada piada, e que faz muito mais pelo cinema série B do que qualquer filme de Tarantino.
O único senão é o facto da maior parte das personagens serem, contra todas as expectativas, meramente decorativas. O grupo de cinco mestres de artes marciais que convivem com o Panda no templo onde este irá aprender os segredos do Kung Fu, deviam obrigatoriamente ter mais relevo, mais diálogos e mais presença nos gags que nos são apresentados em regime de quase non stop. Ao invés, a maior parte do filme é passada com duas personagens centrais, o incontornável Panda, claro, e o seu mestre, Shifu - fantásticos Jack Black e Dustin Hoffman. E isso é ainda mais estranho quando é sabido que para dar voz a algumas dessas personagens foram escolhidas personalidades de Hollywood com algum peso, como são os casos de Angelina Jolie, Lucy Liu e Jackie Chan.
Seja como for, "Kung Fu Panda" é um filme do caraças, imparável, hilariante, e ao mesmo tempo belíssimo e fulgurante.
A sequência em que Tai Lung - o temido vilão de serviço - foge da prisão de máxima segurança é uma das mais incríveis da história recente da animação digital, e faz lembrar a todos os níveis o universo de Star Wars. De tal modo que deixa a questão: para quando uma aliança entre a Lucas Films e um qualquer destes estúdios com vista a mais uma saga? Os fãs agradeceriam, e o resultado seria com toda a certeza melhor do que Lucas sozinho fez com os últimos filmes dos Jedis e Ca. Lda.
A ir ver e rever e re-rever e sem contraindicações de qualquer espécie. A sério!
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sexta-feira, julho 04, 2008
quinta-feira, julho 03, 2008
HASTA EL TERRORISMO SIEMPRE!
A propósito desta recente polémica em torno das FARC e da sua presença na festa do Avante – se é que realmente isto se envolve do interesse necessário para se considerar sequer como polémico – apraz-me dizer o seguinte: As FARC são as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia–Ejército del Pueblo – designação que se reveste de especial cariz cómico quando confrontada com os 93% de colombianos que não concordam nem um bocadinho com as suas acções – e são um exército de terroristas, que os românticos nostalgico-saudosistas da Internacional Comunista insistem em intitular de guerrilheiros, e a quem os governantes perfeitamente insuspeitos de Cuba e Venzuela chamam carinhosamente de insurgentes. Pois bem, estes «guerrilheiros» revolucionários marxistas-leninistas andam há cerca de quarenta anos a lutar pela implantação do socialismo na Colômbia, coisa digna e claramente uma das boas razões para se criar um grupo de terroristas. Perdão, de bravos insurgentes.
Entretanto, e como isto de implantar o socialismo pode ser coisa para demorar uns anitos, a malta lá da guerrilha decidiu meter-se, e só para entreter, no comércio de estupefacientes – coisa que carece de provas fidedignas, mas que parece fazer sentido quando ficamos a saber que dificilmente encontraremos no planeta um grupo paramilitar tão bem armado. Porque isto de lutar (mais uma vez) pela implantação do socialismo, pelos direitos do agricultor e ao mesmo tempo ser uma força de bloqueio ao poderio americano na região, requer o armamento mais moderno que existe à venda. O que volta a ser terrivelmente engraçado, já que normalmente a linha da frente no que a armamento diz respeito está ocupada por Israel e Estados Unidos. Ou seja, o bicho papão destes guerrilheiros. Como o armamento mais avançado por si só não é suficiente, os moços resolveram adoptar técnicas alternativas para, basicamente, levar a água ao seu moinho. Raptos aleatórios, ataques a zonas onde moram civis – o que faz com que em certas partes da Colômbia o êxodo das populações seja neste momento um problema sério -, e utilização de crianças como soldados e como espiões, ao mesmo tempo que as acusações de total desrespeitos pelos direitos humanos dentro do grupo se multiplicam – casos de violações (que o aspeco roliço das moças ali em cima pode ajudar a explicar) e torturas aos que tentam fugir da organização e que muitas vezes resultam na morte das vítimas. No fundo uma série de barbaridades que desdizem por completo os objectivos que as FARC tão orgulhosamente defendem e pelos quais tão covardemente lutam.
Posto isto, resta-me acrescentar só mais duas coisinhas:As FARC foram fundadas pelo Partido Comunista Colombiano mas as coisas só correram bem até ao momento em que as suspeitas de tráfico de cocaína começaram a ser mais do que meros boatos. A separação aconteceu e, ao que parece, deu origem a um novo movimento político auto intitulado Partido Comunista Colombiano Clandestino. Isto é a primeira coisa.
A segunda coisa, e que existe como consequência da primeira, é o facto de não se compreender realmente por que razão é que o outrora braço armado de um Partido Comunista, que já há muitos anos não conta com o apoio desse mesmo partido, é convidado para uma das maiores festas comunistas do mundo!Essa é que ninguém consegue explicar sem se ouvir um gigantesco, e no entanto mudo, “UPS!”.
Há coisas incríveis, não há? Há e estão algures na selva colombiana. E já agora, porreiro, porreiro, era os tipos lá das FARC virem realmente, e mais uma vez, ao Avante, apresentarem-se como agricultores colombianos e venderem na sua humilde barraquinha os produtos da sua colheita. Isso é que era um Avante de arromba!
quarta-feira, julho 02, 2008
ABENÇOADO...
O bilhete não mostra, mas a verdade é que este pedacinho de papel que me custou a módica quantia de 45€ (!!!) vai-me permitir assistir ao concerto de uma banda para o qual honestamente já não estava preparado. Para mim os Rage Agains The Machine tinham terminado definitivamente, eram coisa do passado e de um passado muito meu que incluia Morphine e Talking Heads, ou seja, bandas da minha preferência e que nunca iria ver ao vivo.
Estava enganado. Os moços decidiram-se pela reunião e pela tournée, e vão estar naquele diazinho que podem ver no bilhetinho em Algés. E eu só não vou lá estar se algum meteorito me cair na pinha, disso podem estar certos. Por isso, se algum pedaço de ferro flutuante por esse infinito estiver a pensar em despenhar-se aqui no burgo, alguém que chame o Bruce Willis, se faz favor, que o rapaz resolve a coisa.
Ah, nesse mesmo dia actuam também os Gogol Bordelo, The Hives, The National, Spiritualized, Cansei De Ser Sexy, Peaches e Vampire Weekend, ou seja, um cartaz melhor do que todos os festivais de verão quem possam vir por aí.
THE INCREDIBLE HULK
A única verdadeira supresa, sinceramente, foi aperceber-me de que este novo filme sobre a personagem Hulk, foi realizado como se não tivesse havido o primeiro, o de Ang Lee. Coisa estranha e pouco comum nesta coisa das sequelas e nomeadamente nesta nova moda das séries de filmes baseadas em BD.
Este Hulk é muito diferente do primeiro, sem que isso seja obrigatoriamente mau. O outro, o de Ang Lee, tinha uma vantagem significativa ao tentar não enveredar pelo cinema de acção puro e duro, e tentando trazer à história de Bruce Banner e do seu monstruoso alter-ego alguma dimensão humana. Este novo filme tem logo à partida duas vantagens que merecem destaque: um Bruce Banner a sério, representado por um grande actor - Edward Norton -, que não precisa do realizador ou do argumentista para dar ao seu personagem todo o drama que deve ser levar a vidinha naquelas anormais circunstâncias; e porque tem um Hulk tal e qual como o conhecemos dos livros, irracional, anormalmente irado e sem limites para a violência que consegue produzir e para os estragos que pode provocar.
A primeira hora de filme é bastante boa e sem conseguir evitar a acção gratuita e a espectacularidade boçal. A coisa só descamba mesmo quando o realizador acha necessário fazer uma curva apertada, sair do caminho, e enveredar pelo confronto entre duas criaturas monstruosas, em Nova Iorque - onde mais? - e promover um espectáculo de efeitos especiais digno do melhor(!) Jerry Bruckheimer. Isto tudo sem que ninguém o fizesse prever. É pena, porque até aí a coisa estava a correr benzinho, sem grandes invenções ou pretensões, e de uma forma bastante divertida e agradável.
Como agradáveis também são as piscadelas insuspeitas a uma próxima sequela, desta feita com um enorme upgrade - nomeadamente a última cena do filme, em que temos a oportunidade de assistir a um verdadeiro mash up entre este e outro filme que ainda anda pelos nossos cinemas.
Este Hulk é muito diferente do primeiro, sem que isso seja obrigatoriamente mau. O outro, o de Ang Lee, tinha uma vantagem significativa ao tentar não enveredar pelo cinema de acção puro e duro, e tentando trazer à história de Bruce Banner e do seu monstruoso alter-ego alguma dimensão humana. Este novo filme tem logo à partida duas vantagens que merecem destaque: um Bruce Banner a sério, representado por um grande actor - Edward Norton -, que não precisa do realizador ou do argumentista para dar ao seu personagem todo o drama que deve ser levar a vidinha naquelas anormais circunstâncias; e porque tem um Hulk tal e qual como o conhecemos dos livros, irracional, anormalmente irado e sem limites para a violência que consegue produzir e para os estragos que pode provocar.
A primeira hora de filme é bastante boa e sem conseguir evitar a acção gratuita e a espectacularidade boçal. A coisa só descamba mesmo quando o realizador acha necessário fazer uma curva apertada, sair do caminho, e enveredar pelo confronto entre duas criaturas monstruosas, em Nova Iorque - onde mais? - e promover um espectáculo de efeitos especiais digno do melhor(!) Jerry Bruckheimer. Isto tudo sem que ninguém o fizesse prever. É pena, porque até aí a coisa estava a correr benzinho, sem grandes invenções ou pretensões, e de uma forma bastante divertida e agradável.
Como agradáveis também são as piscadelas insuspeitas a uma próxima sequela, desta feita com um enorme upgrade - nomeadamente a última cena do filme, em que temos a oportunidade de assistir a um verdadeiro mash up entre este e outro filme que ainda anda pelos nossos cinemas.
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RUFUS WAINRIGHT - CASA DAS ARTES, 28-06-2008
Ora bem, não é novidade nenhuma que muito dificilmente um espectáculo de Rufus Wainright ao vivo possa trazer grandes novidades. A qualidade das suas actuações ao vivo - sejam elas a solo ou acompanhadas por uma banda - varia conforma a intensidade com o que canadiano as interpreta. Rufus Wainright tem uma voz indescritível e domina-a como bem lhe apetece. É um bom pianista - não excepcional - e assume os enganos em palco com bom humor e com a dose necessária de sinceridade para que tudo lhe seja perdoado. As músicas são belíssimas, das melhores que a Pop viu nascer nos últimos dez anos, e nunca, mas nunca, desiludem, seja lá quea for a roupagem escolhida pelo seu autor.
No entanto...
... e talvez porque era o meu terceiro concerto de Rufus Wainright, fiquei com a sensação de que o rapaz não estava propriamente com muita vontade de ali estar. A coisa pareceu-me algo desencantada e um pouco "vamos lá que eu tenho mais o que fazer". Podia ser cansaço, podia ser muitas coisas que não falta de empenho. Mas que me pareceu isso, pareceu.
Momento altos houve-os e aos montes, como não podia deixar de ser. No dia em que Rufus Wainright der um concerto mau, poderemos afirmar sem margem para dúvidas que aquele em cima do palco não era de todo Rufus Wainright. As músicas novas, especialmente uma composta a partir de um soneto de Shakespeare, conquistaram o público e deixam a promessa de que muita coisinha boa estará a vir por aí. No entanto, e talvez por culpa minha, muitas houve que pareciam à partida obrigatórias e que Rufus deixou na mala - Cartier, com certeza. "Vibrate", "I Don't Know Where It Is" e "Across The Universe", só para referir algumas, não foram cantadas no Sábado e isso deixou-me um saborzinho a pouco que custou a passar.
É claro que irei ver os próximos concertos de Rufus Wainright em Portugal. É claro que continuo a seguir os seus discos com toda a atenção do mundo. Não posso, contudo, deixar de referir que a actuação em Famalicão parecia ser feita apenas para aqueles fãs que fazem coreografias ridículas enquanto cantam cada letrinha da música e que adorariam absolutamente tudo o que o homem fizesse em palco. Fosse o que fosse, mesmo que ele fizesse como o Frank Zappa e...