kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, julho 15, 2008

FOMOS TODOS REVOLUCIONÁRIOS


A chegada ao recinto do Optimus Alive foi... bem, bastaram cinco minutos para perceber completamente a desorganização caótica da coisa. Já se sabe, ninguém vai a um festival destes que não seja para ver e ouvir as bandas de eleição. No entanto, estar quinze minutos numa fila para uma das muitas barracas de comes, para finalmente perceber que bebidas só nos postos Sagres, estar UMA hora numa mar de gente para beber uma cola quente é muito mais do que o comum mortal pode aguentar. Assim não. Assim é feio.

Mas enfim, como já disse, o Optimus Alive interessava-me meramente por três bandas e mais nada. Nadinha mesmo. E as três bandas lá vieram.

Os Gogol Bordello mostraram com facilidade serem já mais do que uma curiosidade, uma atracção circense. E a prová-lo esteve a larga quantidade de fãs que cantou em coro mais ou menos bem afinado as suas canções. Liderados por Eugene Hütz, os Gogol são (provavelmente) a única banda de Gipsy-Rock no mundo e são completa e totalmente insanos. Insanos como se os Fanfare Cioccarlia descobrissem dois quilos de cocaína momentos antes de entrarem em palco. Insanos em regime non stop, não perdendo mais do que cinco segundos entre as músicas. Insanos porque passam um concerto inteiro - e tenho cá para mim que é indiferente a duração do mesmo - aos saltos, aos berros, aos pontapés ao ar e em absoluto estado de trip alucinada. Todos! As músicas são fenomenais, a actuação é esgotante e deixa o público completamente de rastos, os músicos são brilhantes - especialmente o violinista, Sergey Ryabtsev, que é, sozinho, um espectáculo dentro do espectáculo - e são o pesadelo de qualquer roadie, e o misto de casamento cigano com toques de punk rock de garagem com um nadinha de cabaret de leste tem um efeito hipnotizante. Sem dúvida viciante. Teria sido o melhor concerto da noite... mas havia outro na lista que já começava a fazer mexer as hostes.




Entre um e outro ficaram os decepcionantes The Hives. Decepcionantes pura e simplesmente por não conseguirem destilar nem metade da energia dos Gogol Bordello e por não serem capazes de manter a mesma qualidade ao longo de todo o seu concerto. Momentos bons houve bastantes, mas momentos chatos também. Pelle Almqvist, o eléctrico vocalista da banda sueca, deixava a energia morrer entre canções e parecia, aqui e ali, algo distante daquele palco. Mas as músicas dos The Hives são boas o suficiente para aquecer a malta - pelo menos os lá da frente, que não se cansavam de tanto mosh - e o concerto acabou por ser mais morno do que se esperava, mas bonzinho na mesma.




Os Rage Against The Machine não precisavam mesmo de ter sido tão bons. Não precisavam porque a maioria do público já estava rendido ao que ainda estava para acontecer. Ainda o concerto estava longe de começar e já (pelo menos) 80% das pessoas presentes no recinto sentiam que aquele ia ser o melhor concerto do ano. Se foi ou não, nunca saberemos, mas que foi demolidor, disso não tenham dúvidas. A música incendiária dos RATM é apreciada por todo o tipo de gente. Punks inveterados, metaleiros puros, góticos, surfistas, betos, queques e pais de família, todos cantaram a plenos pulmões as músicas do quarteto norte-americano, e a dada altura todo o recinto era uma grande e imparável massa humana em constante mosh. O início com "Testify", uma das suas mais bombásticas músicas, deu o mote para uma concerto que não deu ao público um único segundo de descanso. Ao fim de pouco mais de uma hora um pequeno intervalo com os RATM fora do palco, a Internacional Comunista (em russo), o regresso, uma pequena homenagem a José Saramago e um encore ainda mais arrasador que culminou, como não podia deixar de ser, com o hino "Killing In The Name". E aí foi literalmente o fim do mundo. Quando as palavras fuck you I won't do what you tell me soaram no recinto cantadas por toda a gente, o mosh tornou-se perigosamente uma ameaça à integridade fisica do povo, e a loucura tomou conta da festa. O final do concerto foi quase como quando nos apagam a luz de repente e ficamos uns segundos desorientados. Ficava a memória de um dos melhores concertos que já vi e a certeza de que tão cedo não vou assistir a nada tão intenso.
A qualidade dos músicos? Irrepreensível. Mais uma vez, sem que fosse necessária uma tão grande entrega. E era bom que todos os músicos dessem metade do que os RATM nos deram, com aquela honestidade, com aquela energia e acima de tudo sem quaisquer tiques de vedetas. Assim vale a pena. Quando é que voltam?
O vídeo publicado aqui é igual a todos os outros disponíveis, e exemplifica muito bem o que foi o concerto de sábado. Acreditem, era impossível fazer melhor que isto.