kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sábado, março 27, 2010

QUANDO O JORNALISMO É BURRO


Pensei várias vezes em escrever aqui qualquer coisa acerca da morte de MC Snake, o rapper português assassinado por um agente da PSP na semana passada. Já tinha desistido de o fazer, quando uma nova discussão em torno do trágico incidente me fez repensar no assunto. A discussão foi originada por uma crónica escrita por Alberto Gonçalves, e publicada no "Diário de Notícias" no passado dia 21 de Março, e à qual Rui Miguel Abreu - jornalista e radialista dedicado ao fenómeno Hip-Hop - deu a devida resposta, desta feita, na revista "Blitz".

O acontecimento foi abertura de todos os telejornais e primeira página de todos os principais jornais nacionais, pelo que seria escusado estar aqui a descrevê-lo com minúcia. Mas enfim, a coisa quer-se devidamente enquadrada, por isso, refiro apenas que o que aconteceu foi que um condutor decidiu não obedecer a uma operação Stop, fugiu, foi perseguido pela PSP e baleado por um agente. Morreu.

A crónica de Alberto Gonçalves, e que pode ser lida aqui, é de facto uma prova de como o jornalismo pode ser totalmente mal utilizado, desvirtuado e transformado numa ferramenta (pouco discreta) ao serviço de preconceitos, ignorância e de odiozinhos de estimação. O tom utliizado pelo jornalista é, no mínimo, aquilo que tantas vezes se chama de «politicamente incorrecto», embora eu prefira os termos «boçal», «ignorante» ou simplesmente «estúpido».

Desde logo começando pelo título, O 'hip hop' também mata, potencialmente provocatório, propositadamente exploratório, mas manifestamente idiota. Há muito que se sabe que o Hip-Hop também mata, à imagem, aliás, de tantos outros géneros musicais. O senhor Gonçalves, contudo, parecia não o saber ou, ainda mais grave, sabendo-o, utilizou esta aparente nova descoberta para enriquecer o seu texto. Esqueceu-se, porém, de que, ao contrário de tantos outros rappers, assassinados por concorrentes ou por fás de concorrentes, MC Snake foi assassinado por um polícia.

Mas entende-se a intenção do Gonçalves. Quer ele dizer que foi o estereótipo escolhido por MC Snake - o de rapper dos subúrbios, obviamente consumidor de substância ilícitas e até, quem sabe, traficante das mesmas - o dedo que premiu o gatilho do revólver do agente de polícia. É burro, o senhor Gonçalves, porque não parou sequer para pensar que esse mesmo agente da polícia poderia muito bem ter feito o mesmo se o condutor do veículo em fuga fosse um cantor de fado alcoolizado - sabida que é essa apetência quase obrigatória que todos os bons fadistas têm de se enfrascar como se não houvesse amanhã. Mesmo no fim da sua crónica, Gonçalves arrisca ir mais longe na estupidez e, referindo-se à vítima, solta a seguinte pérola:

O sr. Rodrigues, ou sr. "Snake", escolheu o seu próprio estereótipo. O que a polícia fez depois terá sido injustificável, mas não totalmente imprevisível.

Ou seja, segundo o jornalista(?), todos os que decidem conscientemente ser adeptos do Hip-Hop, têm de estar preparados para, mais dia, menos dia, levar um tiro pelas costas. Ou seja, vestiram-se à rappers, hip-hoppers ou B-Boys? Estavam a pedi-las. Admire-se, contudo, a coragem de alguém, com a responsabilidade de assinar uma crónica num jornal de grande tiragem, assumir assim publicamente a sua estupidez e mentalidade mesquinha. É de homem, sim senhor.

Outro ponto de vista verdadeiramente inacreditável, diz respeito ao Hip-Hop e ao rap. Senão vejamos:

O rap ou o hip hop que o sr. Rodrigues praticava não o transformava no "músico" referido em diversos obituários. No seu primarismo, o hip hop tem pouco a ver com música e muito a ver com uma atitude de confronto face a uma sociedade que é, ou que se imagina, discriminatória. É, vá lá, um estilo de vida, traduzido à superfície no vestuário ridículo e nos gestos animalescos. E nas letras das "canções" (?). As letras, que certa "inteligência" considera "poesia das ruas", são, além de analfabetas, manifestações de rancor social. Por norma, são também glorificações do crime e panfletos misóginos.

Custa admitir, mas nem tudo está errado na opinião polémica do senhor Gonçalves. O Hip-Hop é de facto misógino e tem tudo a ver com uma atitude de combate à desigualdade e à discriminação. Dizer, contudo, que tem pouco a ver com música é de uma ignorância (precisamente) musical que custa a acreditar. Para alem disso, fica mal ao senhor Gonçalves fazer juízos de valor baseados na maneira de vestir de quem cria, interpreta ou de quem simplesmente gosta de Hip-Hop. Por esse ponto de vista já muitos músicos tinham dado por terminada uma carreira de múltiplos sucessos.

A acendalha da suspeita de racismo explícito, surge quando o autor do texto afirma o seguinte:

O hip hop nasceu na América enquanto braço "musical" e tardio do black power, como os blaxploitation movies dos anos 1970 constituíram o seu reflexo "cinematográfico" (as aspas não são fortuitas). O princípio, se é que tais misérias possuem um, é o de que a "identidade negra" somente se define contra o "sistema", numa postura de desafio e fúria que a "inteligência" julga legitimada por uma suposta opressão.

Mas, mais uma vez, nem tudo está errado na observação do senhor Gonçalves. O Hip-Hop sempre foi objecto inflamatório; manifesto anti-discriminação, apologista de uma igualdade que nem sempre foi posta em prova no país onde o género MUSICAL nasceu. Esquece-se o senhor Gonçalves que nos EUA também havia apartheid e que muitas vezes essa segregação foi bem mais violenta que no país de Nelson Mandela. Mesmo assim, o senhor Gonçalves considera possuir um conhecimento profundo do Hip-Hop e de décadas de um enquadramento social que lhe é obrigatoriamente indissociável. Convencido dessa sapiência, dispara mais uma série de impropérios:

Obviamente, o hip hop é principalmente uma invenção das indústrias discográfica e televisiva, e não traria mal ao mundo se o mundo não se deixasse influenciar por semelhante patetice. Infelizmente, do Bronx a Chelas, essa celebração da boçalidade é erguida aos currículos escolares e milhões de jovens tomam-na por "afirmação". Na verdade, é o inverso: o hip hop é a sujeição dos pretos ao que o "multiculturalismo" em vigor deles espera. Ao trocar a literatura pela "poesia das ruas", a música pelo ruído, a educação pela agressividade, o esforço pela automarginalização, a única afirmação do hip hop é a da inferioridade. Se levado a sério, o paternalismo condescendente limita os membros de uma etnia a uma existência parcial nas franjas da legalidade. E não anda longe do folclore abertamente racista.

Novamente percebe-se que o homem tinha esta entalada há uns tempos e estava mortinho por ter uma oportunidade de a destilar publicamente. Mesmo assim, e seguro de todo o seu ódio pelo Hip-Hop e por aqueles que optam por um estilo de vida, traduzido à superfície no vestuário ridículo e nos gestos animalescos, e que apreciam músicas cujas letras são analfabetas, manifestações de rancor social, o senhor Gonçalves cede um bocadinho à independência de toda a sua teoria e busca consolo filosófico em certos pretos que considera (sabe-se lá como) intelectuais. Segundo ele, esses ilustres afro-americanos também não gostam de Hip-Hop e atacam constantemente o seu pendor segregacionista. Gonçalves vai mais longe na sua estupidez e cita um historiador, Stanley Crouch, que colocou certa vez a questão "quem no seu perfeito juízo daria um bom emprego a 50 Cent?".

Francamente não conheço os gostos musicais do senhor Gonçalves, mas atrevo-me a seguir-lhe o exemplo e a colocar a seguinte questão: quem no seu perfeito juízo daria um bom emprego a Mick Jagger, James Brown, Muddy Waters, Jimi Hendrix, Elvis Presley, Billie Holliday, Dexter Gordon, Charlie Parker - ou qualquer um de inúmeros músicos jazz, estilo que Gonçalves considera, e bem,
um dos maiores contributos da América para a humanidade - Amália Rodrigues, ou, regredindo ainda mais na história da música, Mozart?

O senhor Gonçalves é um ignorante com o poder de poder ser opinion maker, uma das profissões mais perversas e perigosas do mundo e a que o jornalismo, perigosamente, deu tempo de antena. O senhor Gonçalves, tem, obviamente direito a exprimir a sua opinião, mas a verdade é que se devia munir de argumentos mais sólidos, certos e determinados enquadramentos socio-culturais e, acima de tudo, de uma cultura musical mais abrangente, mesmo dos géneros musicais que não considera música. Para além disso, e apesar de todos os outros preconceitos que manifesta na sua crónica, já devia saber que ninguém escolhe as músicas de que gosta por estas serem mais ou menos marginais. Assim fosse e ninguém ouvia Johnny Cash, por exemplo.

O senhor Gonçalves nem precisava de estudar muito para saber que desde sempre o Hip-Hop foi a manifestação de descontentamento possível; uma forma de gritar contra uma superioridade racial tão válida e tão forte quanto o que os palestinianos escrevem nos muros dos israelitas - e o exemplo é válido apenas neste pormenor, ok? Mas sim, o Hip-Hop mudou e para algo de que eu também não aprecio. E porquê? Muito simples, senhor Gonçalves, porque deixou de ser apenas uma luta aberta a essa desigualdade para passar a ser uma demonstração vaidosa e egocêntrica do sucesso finalmente alcançado. Subitamente a música negra americana - e não só o Hip-Hop - passou a dominar as tabelas de vendas e os canais de música, as estações de rádio e os programas de entretenimento. Esse sucesso é ilustrado da forma mais parola e exibicionista nos telediscos das maiores vedetas do Hip-Hop. De tal forma que já muitos dos rappers da actualidade abandonaram o objectivo traçado pelos seus antecessores e centraram-se nesse «bling bling» irritante e de extremo mau gosto.

É a vida, senhor Gonçalves, também há quem não aprecie esta nova onda de fado, dizem uns, mais comercial e que desvirtua os deuses fadistas portugueses. Esta nova geração de fadistas que parece não saber que o fado era a música das vielas, das casas de putas, dos bêbados, dos marginais; dos artistas, dos escritores, dos poetas, dos génios. Que estilo de música ouve, senhor Gonçalves? Que estilo tão intocável de música aprecia? Que género musical tão isento de pecado ouve o senhor quando está em casa? Seja ele qual for, estude-o mais a fundo e descubra todos os seus podres. Vai ver que num instantinho desiste de ouvir música. E já agora, a seguir a isso, faça o mesmo com todas as outras artes. Em poucas semanas o seu mundo ficará um tudo ou nada mais cinzento.

domingo, março 21, 2010

KARMABOX WITH(OUT) A VIEW - JORGE BEN - "TAKE IT EASY MY BROTHER CHARLIE"

Um recente anúncio a uma conhecida marca de automóveis fez-me reviver uma velhinha memória de infância. Era eu muito puto - devia ter uns cinco aninhos - e este senhor era o meu ídolo musical. Os meus pais tinham um disco de Jorge Ben que ouviam todos os dias, várias vezes seguidas - foi deles que herdei esta incapacidade de largar músicas ou álbuns de que gosto muito. Senhoras e senhores, o grande Jorge Ben.

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SÓ PARA REFORÇAR O QUE EU JÁ TINHA DITO...

quinta-feira, março 18, 2010

FANTAS 2010 - OS MELHORES

E quase que se podia dizer os únicos que realmente valeu a pena ver nesta tão pobre edição do Fantasporto. "Valhalla Rising" e "Fri Os Fra Det Onde", nem por acaso, dois filmes nórdicos. Ou seja, e mais uma vez, a melhor cinematografia que o Fantas tem apresentado nos últimos dez anos - pelo menos a mais consistente e que parece nunca aborrecer - é a de países como a Dinamarca, Suécia e, uma vez por outra, da restante escandinávia.

Estes dois casos eram mais ou menos fáceis de prever. Os realizadores em causa, respectivamente Nicolas Winding Refn e Ole Bornedal já estão fartinhos de provar que sabem muito bem o que fazem e que conseguem apresentar produtos de qualidade inegável.

O primeiro, para além da série "Pusher", realizou "Bronson" em 2008, um filme que deu bastante que falar e que conquistou prémios nos British Independent Film Awards, London Critics Circle Film Awards e no Sundance Film Festival.

Ole Bornedal, por sua vez, causou uma óptima impressão no Fantas em 1997, com "Nightwatch", e regressou agora com o filme que devia claramente ter vencido o festival. Pelo meio teve outras obras que, por razões desconhecidas, não vieram ao Porto. Infelizmente, digo eu.

"Valhalla Rising" não é decididamente um filme para meninos. Não pela violência (que tem), mas porque é mesmo um filme de brutos, interpretado por brutos, em ambientes agrestes, com cores rudes e uma banda sonora incómoda. É, no entanto, um filme de uma beleza rara. Pode parecer estranho, mas a verdade é que Winding Refn tem uma consciência estética invulgar e uma tremenda falta de medo de filmar como quer e de contar a história com o tempo que pensa ser necessário. Não é uma obra fácil, mas "Valhalla Rising" é um dos filmes do ano. E com uma das interpretações do ano, do actor-fetiche deste blog, Mads Mikkelsen.

"Fri Os Fra Det Onde", como já disse, devia ter conquistado vários prémios no Fantas, nomeadamente o de melhor filme a concurso. Porque foi inquestionavelmente o melhor filme a concurso. Bons actores, excelente argumento, realização segura, estéticamente perfeito e com uma série de reviravoltas das que deixam o queixo a abanar. O filme começa por ser um barril de pólvora sempre prestes a explodir - tensões sociais, raciais e culturais em ponto de fusão - e acaba por se transformar numa belíssima homenagem aos mais clássicos filmes de zombies, especialmente apontada ao mestre George Romero. Não é, apesar disso, um filme de zombies, note-se, e é essa a maior surpresa de uma obra absolutamente irrepreensível.

Fica por isso ao aviso: se os quiserem ver têm mesmo de os piratear. Um e outro não são obras de interesse comercial cá no nosso país. Mas valem bem a pena. Terão presença obrigatória na lista dos melhores filmes do ano neste blog.





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A VERGONHA

O mais recente e triste episódio com as mulheres que constituem o chamado grupo Damas de Branco, em Havana, serve essencialmente para, de uma vez por todas, o mundo abrir os olhos para algo que já se arrasta há demasiado tempo na ilha de Fidel - e se pensam que a ilha já não é de Fidel, desenganem-se.

O movimento tem tudo a ver com o que acontecia na Argentina, quando milhares de mulheres se juntavam nas ruas de Buenos Aires exigindo uma resposta para o desaparecimento dos seus filhos e maridos. Durante anos, o regime ditatorial argentino manteve-se relativamente tranquilo quanto a este movimento popular por ser levado a cabo por mulheres. Havana tem outra opinião, no que diz respeito a movimentos populares. Vai daí, faz aquilo a que já estamos habituados e prende as mulheres que, em marcha pacífica, exigem saber dos seus maridos e filhos, presos sem grandes explicações por serem apenas vozes dissonantes do governo cubano.

Se a isto juntarmos a recente morte do jornalista Orlando Zapata Tamayo, após 86 dias de greve de fome, e a luta de outro jornalista, Guillermo Fariñas, solidário com a dramática morte do colega e amigo, facilmente compreendemos que algo está a mudar em Cuba. Estes movimentos populares começam a ganhar uma nova força, e o regime castrista percebe finalmente que as coisas ficam cada vez mais difíceis de conter e controlar. Pena é que o resto do mundo - nomeadamente o mundo diplomático e político - não demonstre grande vontade de intervir.

O que dirão disto aqueles que já discutiram comigo este assunto, argumentando que já estiveram lá e que as coisas não são bem assim. Aqueles que não percebem ou não querem perceber que Cuba, como a China ou o Uganda, são peritos em desinformação e manipulação e distorção da sua realidade social. E os papalvos que se auto-intitulam de anti-imperialistas fazem vista grossa e ainda assim conseguem dormir bem à noite.

KARMABOX WITH(OUT) A VIEW - ANTONY & BRYCE DESSNER - "I WAS TOO YOUNG WHEN I LEFT HOME"



A minha estupidez às vezes surpreende-me. Pessoas que respeito aconselham-me filmes, músicas e discos e eu esqueço-me ou não dou a devida importância. Depois levo com coisas destas na cara.

O disco chama-se "Dark Was The Night" e foi produzido pelos mesmos responsáveis da série Red Hot. Tem a mesma finalidade, ou seja, reunir fundos para o combate à SIDA, e é simplesmente inqualificável.

Esta foi a música que me tirou o chão e me introduziu ao resto do álbum duplo que contém participações de gente como Dirty Projectors com David Byrne, Bon Iver, Iron & Wine, Feist com Grizzly Bear, Andrew Bird e muitos mais.

E de repente, e na mesma semana, passo a ter duas músicas do ano. Esta versão de uma das mais bonitas musicas de Bob Dylan é esmagadora. E já a ouvi em regime non stop umas dez vezes...







I was young when i left home
An' I been out a-ramblin' round
An' I never wrote a letter to my home
To my home, lord, to my home
An' I never wrote a letter to my home.

It was just the other day
I was bringin' home my pay
When i met an' old friend i used to know
Said, "Your mother is dead an' gone
An' your sisters all gone wrong
An' your daddy needs you home right away.''

Not a shirt on my back
Not a penny on my name
But I can't go home this a-way
This a-way, lord, this a-way
An' I can't go home this a-way.

If you miss the train I'm on
Count the days I'm gone
You will hear that whistle blow hundred miles
Hundred miles, honey baby, lord, lord, lord
An' you'll hear that whistle blow hundred miles.
An' I'm playin' on a track, ma'd come an' woop me back
On them trusses down by Ol' Jim McKay's
When I pay the debt i own to the commissary store
I will pawn my watch an' chain an' go home
Go home, lord, lord, lord
I will pawn my watch an' chain an' go home.

Used to tell my ma sometimes
When I see them ridin' blind
Gonna make me a home out in the wind
In the wind, lord in the wind
Make me a home out in the wind.

I don't like it in the wind
I go back home again
But i can't go home this a-way
This a-way, lord, lord, lord
An' i can go home this a-way.

I was young when i left home
An' I been out a-ramblin' round
An' I never wrote a letter to my home
To my home, lord, to my home
An' I never wrote a letter to my home.

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terça-feira, março 16, 2010

ENTRETANTO...

O Carlos Moura está a braços com dois projectos que devem ser seguidos com atenção. O primeiro, arranca já esta sexta, dia 19, às onze da noite, e anda à volta de novos talentos na área do stand-up. Chama-se "VillaRit" e promete surpresas. Para além disso está à procura de voluntários. Comediantes que tenham vontade de experimentar ou que queiram ficar ainda mais conhecidos e reconhecidos, apareçam e inscrevam-se.

O segundo, finalmente, é a concretização de algo que já devia ter acontecido há muito tempo. De uma vez por todas, o velho Moura decidiu-se a levar a palco um espectáculo seu, com uma temática definida, organizado e pensado estrategicamente. Um monólogo, se preferirem, que fala de coisas importantes e que deve ser visto, todas as quartas do mês de Abril. O homem é dos melhores que andam por aí, sem dúvida, e o "Sentido do Moura" vai marcar definitivamente 2010. Podemos já pedir uma digressão?

Os cartazes, conhecendo o artista como conheço, poderão não ser os que aqui estão publicados, mas ainda assim, estejam atentos.

A MÚSICA DO ANO

Infelizmente não tem vídeo respectivo, mas "Keep The Dog Quiet", de Owen Pallett, é indiscutivelmente a música do ano para este blog e o seu autor... eu.

E uma música que vai dar que falar. Ou melhor... uma música que me está a ajudar a criar um «curto» projecto com o Carlos Moura - habitual companheiro de muitas guerras - e que estará por aí lá mais para o último terço do ano.


VAMOS LÁ A ISSO!!!!

O problema é que invariavelmente temos sempre vontade de ir ver isto...

Mas alguém duvidava que esta besta fosse mandar a lei do casamento homossexual para o tribunal constitucional? Mais uma vez o nosso presidente da república sente-se escaldado e tenta espalhar a responsabilidade da decisão por vários organismos. Nada que surpreenda, o seu mandato tem sido pródigo em situações destas. Triste é saber que, a fazer fá nas sondagens, vamos ter que levar com ele mais quatro anos. Enfim...

segunda-feira, março 15, 2010

Outro belíssimo filme que tive a sorte de ver este fim de semana foi "Moon", a primeira longa metragem de Duncan Jones, e que é o exemplo máximo de como se pode fazer uma obra do caraças com uma contenção de meios inacreditável. Realizado com uma mestria e um equilibrio invulgares, "Moon" é practicamente o trabalho de um actor, uma fenomenal equipa de design de produção, a direcção atenta e muito certeira de um realizador a ter em conta e tudo servido por uma banda sonora maravilhos, importantíssima no reforçar de um ambiente triste, doloroso e, acima de tudo, estranho e surpreendente.

O filme pega no espectador e coloca-o, desde os primeiros instantes, na base lunar onde toda a acção se desenrola. Andamos lado a lado com Sam, a personagem, criamos uma empatia imediata - mas desconfiada - com GERTY, a inteligência artificial que gere a base, e somos surpreendidos com o desenrolar do enredo como se fôssemos nós os envolvidos.
"Moon" é um filme intelegentíssimo e muito sensível, delicado, até. É um objecto estranho e pouco usual, e a sua estreia comercial, só terá acontecido (palpita-me) porque Duncan Jones é filho de David Bowie. No entanto, o rapaz merece a autonomia artística do papá Bowie. Escrever e realizar uma obra desta importância e qualidade não é para todos. Mesmo que sejam evidentes

as influências de "2001.." e "Solaris", a verdade é que "Moon" é desde já um filme referência na ficção científica. E fica na retina...

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ABENÇOADOS SEJAM!

Os pais portugueses deviam estar profundamente agradecidos ao PSD pelo serviço público que prestaram à nação e, mais concretamente, aos seus filhos. O congresso do partido, em Tomar, foi uma boa lição audiovisual sobre o que é a política e como e quem são os políticos portugueses. Porque agora, quando o vosso filho vos fizer uma pergunta sobre política, vai ser mais ou menos assim:
- Mãe, aquele atrasado mental que parece um aborto que fugiu de um frasco num centro de experiências genéticas com uma voz absolutamente irritante é político?
- Sim, filho, aquele senhor é candidato a presidente daquele partido.
- E mãe, aquele outro senhor que até tem bom aspecto mas que sempre que fala é vaiado pelos outros senhores porque só diz merda, quem é?
- Também é candidato a presidente do mesmo partido.
- Então mas o outro senhor que acaba cada frase com "eu estou há 30 anos no PSD" quem é?
- Esse senhor também é candidato a presidente do mesmo partido.
- Então e o senhor que falou em várias línguas, quem é?
- Esse... é... candidato a... candidato.
- E quem é para já o presidente deste partido?
- É aquela senhora ali sentadinha.
- Aquela velhinha que parece a minha professora de biologia?
- Sim, filho.
- Mas ela parece-me muito triste, mãe. Quase não fala e ninguém parece reparar que ela lá está...


Fazendo uso daquela frase muito usada no cinema, Pedro Passos Coelho só pode ser ou muito corajoso ou muito estúpido para, num congresso, afirmar que o governo está ferido de morte, quando o partido que representa já está bem para lá da ferida mortal. O PSD foi autenticamente atropelado por um camião de transporte de cimento e está ser arrastado a 120 km por uma autoestrada sem trânsito.

Que credibilidade oferece um partido que realiza um congresso no ginásio de uma escola secundária, que aprova uma lei interna anti-liberdade de expressão, que apresenta quatro candidatos à sua presidência e consecutivamente candidatos a candidatos a Primeiro Ministro que não garantem qualquer tipo de unidade partidária, que são manifestamente maus oradores, que mantêm o mesmo discurso gasto de sempre e que não apresentam uma única ideia realmente brilhante para o país?

Que partido é este em que todos mandam mais do que a sua líder? Que partido é este em que as suas principais figuras se dedicam a descartar-se de quaisquer responsabilidades e a assobiarem para o lado enquanto os miúdos se pontapeiam nas canelas? Sócrates e os seus bem podem agradecer à morte consumada do PSD. A partir de agora é oficial: o único opositor ao PS e ao governo actual, são os seus próprios militantes, secretários e ministros. E o
Manuel Alegre, claro.

APENAS POSSÍVEL SE REALIZADO POR ALGUÉM QUE TEM UM GATO EM CASA

domingo, março 14, 2010

DA SIMPLICIDADE À COMPLEXIDADE: DUAS OBRAS PRIMAS



TAMBÉM NÃO ESTÁ NADA MAL, PRONTO

O advento da pirataria com qualidade (em HD e tudo), permitiu-me ver este fim de semana o grande vencedor dos Óscares de 2009, "The Hurt Locker". Como já disse repetidas vezes, os meus favoritos iam noutras direcções, mas a verdade é que o filme de Kathryn Bigelow é realmente belíssimo, poderoso e muito bem realizado.

Excelentes actores, magnífica fotografia e banda sonora e um argumento inteligente e que acaba por ser surpreendente, quando já começava a pensar se iria ver duas horas de mais do mesmo. "The Hurt Locker" foi um outsider de luxo na corrida às estuetas. Foi realizado por uma mulher que, pese embora a sua sólida carreira, nunca se tinha metido nas andanças da Academia, não tem um elenco propriamente bombástico - apesar de duas participações relâmpago verdadeiramente surpreendentes e do magnífico trabalho de Jeremy Renner, que provavelmente até merecia o Óscar - estreou ainda em 2008 e só chegou às nomeações devido a uma enorme campanha de marketing.
De certa forma fez-se justiça. O filme é mesmo muito bom e o facto de ter sido grande vencedor - especialmente quanto tudo apontava para mais uma goleada de Cameron e companhia - prova que a indústria não precisa de objectos elaborados e tão inovadores como "Avatar" para ser salva. Precisa de qualidade, que pode vir de muitos sítios, de muitas formas e com muitos objectivos diferentes.


sábado, março 13, 2010

ALICE JÁ NÃO MORA AQUI


(Peço desde já desculpa pela utilização abusiva de um título de outro filme, mas não consegui resistir.)

Durante muitos anos, muitas foram as pessoas que acreditavam ser Tim Burton o único a poder pegar nas personagens inventadas por Lewis Carroll e criar um novo universo para Alice. Era evidente, em vários filmes do realizador americano, um pendor gótico-barroco muito semelhante às obras literárias do inglês. Nada podia, no entanto, estar mais longe da verdade.

O filme realizado por Burton, e que um pouco surpreendente nos mostra o regresso da jovem ao Pais das Maravilhas, é uma das maiores desilusões cinematográficas do ano e seguramente um enorme passo atrás na sua carreira. Nada é realmente bom em "Alice In Wonderland". O argumento é terrível, as interpretações são cinzentas e nada cativantes e a animação digital é tão má que custa a acreditar. Tudo contirbui para uma desconfortável sensação de falsidade, de falta de credibilidade constrangedora e que transformam o filme numa tremenda seca, num objecto anormalmente feio e, acima de tudo, desinteressante.

Saí da sala de cinema com a clara sensação de que tudo foi feito a correr, como se Tim Burton tivesse sentido a responsabilidade de ser ele, de facto, o responsável pelo renascimento de Alice e do País das Maravilhas. Certo, certo, é que não havia necessidade de fazer um filme assim. E Tim Burton, depois de um fantástico "Corpse Bride" e de um surpreendente "Sweeney Todd...", volta a mostrar que está em notória quebra de forma.

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A MELHOR SÉRIE DA HISTÓRIA DA TELEVISÃO?



quinta-feira, março 11, 2010

KARMABOX WITH A VIEW - ALI FARKA TOURE & TOUMANI DIABATE - "KALA DJULA"'

Ou quando dois músicos não precisam rigorosamente de nada a não ser da música.

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quarta-feira, março 10, 2010

ERAS O REI DO MUNDO, ERAS...



Era o rei do mundo mas levou na cara da ex-mulher e o resto é conversa. Era impensável a Academia repetir o mesmo erro duas vezes e dar o Oscar a James Cameron por filmes que claramente não o mereciam. Apesar de "Avatar" deixar "Titanic" bem no fundo do mar que lhe deveria estar destinado há muito.

Correcto, o filme venceu os Óscares que merecia - apesar de ainda me fazer confusão ter levado para casa o de fotografia. É mais ou menos o mesmo que ganhar o prémio para um guarda-roupa que na verdade não existe, mas enfim...

De resto não há muito a dizer a não ser que se há justiça neste mundo da 7ª arte ela aconteceu (em parte) no Domingo de madrugada. Mais concretamente quando "Up" recebeu os seus Óscares, em especial o de melhor banda sonora. A partitura criada por Michael Giacchino era de longe a melhor de todas as que foram escritas e tocadas em 2009, e uma daquelas que imediatamente me dá aqueles apertados nós na garganta. Como o nó que tive de prender quando, no melhor momento da cerimónia - as coreografias desenhadas para dar corpo a cada um dos nomeados - Cloud fez aquilo que melhor sabe: encantar. O rapaz já foi figura de destaque aqui neste blog, e fico contente por ver que está a ir longe, cada vez mais longe.

A qualidade não é a melhor, mas vejam, por favor.


Mantenho tudo o que disse aqui há uns meses, "Up" era de longe o melhor filme de todos os dez candidatos. Infelizmente ainda está para vir o dia em que todos os membros da Academia tenham a coragem de olhar para uma «simples» animação como um filme real, sério e atribuir-lhe o devido reconhecimento. "Up" merecia-o e a Pixar já o merecia há muitos filmes.

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BLARGH 2 - A SEQUELA

É que é daqueles filmes que só dá vontade de falar mal, insultar e agredir. É tão mau, tão mau que chega a ser inacreditável. É a pior sequela da história do cinema, sem dúvidas!

"REC 2", dos mesmos realizadores e produtores do primeiro filme, é claramente um objecto desnecessário, inventado unicamente para servir os interesses mercantilistas de uma indústria - a cinematográfica espanhola - milhões de anos-luz à frente da nossa. É desnecessário, inútil e completamente desprovido de objectivos. Zero absoluto. Para além disso, é realizado num registo video-jogo-playstation-first-person-shooter sem pingo de vergonha. A coisa até começa com o habitual tutorial deste tipo de jogos. Inacreditável.

E depois o problema do costume. A fórmula, já se sabe, só funciona uma vez, e os responsáveis por esta merdice lembram-se dos piores truques baixos para dar algum ritmo e interesse(?) à coisa. E não funcionam, claro está. O filme supostamente de terror não assusta ninguém e nem sequer tem o nervoso miudinho que costuma fazer as delícias dos fãs, e ainda por cima está impregnado de um humor boçal e totalmente desadequado.

É uma desgraça sem paralelo e que merece ser esquecida, as cópias incineradas ou enterradas num ermo qualquer. No entanto, e tem de haver um «no entanto», a verdade é que os espanholitos conseguem, com relativa facilidade, libertar-se dos atilhos de um cinema meramente intelectualóide e arriscar em formatos e géneros - mais comerciais, sim senhora - mas que atraem público. Mesmo que seja para fazer uma merda destas. Os portugueses deviam olhar mais para o lado e deixar de estarem tão preocupados com o seu umbigo nacionalista.


KARMABOX WITH A VIEW - SWEET BILLY PILGRIM - "KALYPSO"

É simplesmente belíssimo...

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sábado, março 06, 2010

FANTASPORTO - COMEMORAR O QUÊ?


Comemorar trinta anos sem pompa e circunstância e (quase) sem qualidade é triste. Especialmente quando se trata daquele que é inequivocamente o maior e mais importante festival de cinema em Portugal. A 30ª edição do Fantasporto deixou evidente, como nunca até aqui, o mau momento que o certame atravessa. Poucos filmes, poucos, pouquíssimos filmes interessantes, a gritante falta de apoios e uma série de coisas que têm rapidamente de mudar. Em ano de evidente contenção da despesa, o Fantas foi prejudicado pelos elevados custos dos transportes e seguros a pagar por cada um dos filmes a concurso. Esta é a razão que explica a ausência (há já alguns anos, diga-se) de obras representativas de duas cinematografias que habitualmente eram presença obrigatória no festival. O cinema da Austrália e da Nova Zelândia chegou a Portugal pela mão do Fantas; tinha seguidores atentos e constituía uma grossa fatia do programa, ano após ano, mas a verdade é que trazer um filme do outro lado do planeta é, por estes dias, demasiado caro para uma organização que se vê obrigada a apertar vários furos no cinto.

Ainda assim, e partindo do princípio mais do que certo de que os filmes desta edição 2010, foram os mais baratos, há algo nos critérios de escolha que deixa muito a desejar. Se antigamente alguns dos filmes a concurso eram tão maus que se tornavam acarinhados e podiam ser alvo do gozo implacável do fiel «público-Fantas», a verdade é que o ano fica marcado pela maior colecção de filmes insignificantes, aborrecidos e completamente desinteressantes. Não chegam sequer para despoletar o ódio dos espectadores.

Provavelmente, o Fantasporto terá urgentemente de rever os seus objectivos, em Portugal e no estrangeiro. Reduzir a ambição e, logo, as expectativas, poderá ser um dos caminhos. Nunca foram necessários grandes nomes ou aguardados blockbusters para o festival ter sucesso, público e o respeito popular e institucional pretendidos. Necessário - vital, até - era dar seguimento a uma mística que irremediavelmente se perdeu por entre as paredes derrubadas do antigo Auditório Nacional Carlos Alberto. Mudou-se a casa e mudou-se o ambiente, os filmes e a ambição, que cresceu em demasia. Há que mudar novamente. Urgentemente.

O Fantasporto pode-se orgulhar, contudo, de estar a conquistar um novo público jovem. Público que veio em 2010 ao seu primeiro festival. Público que pode muito bem substituir o «público-Fantas» que aos poucos se foi desiludindo e desistindo de aparecer. É, no entanto, um fenómeno perverso, este, já que esta nova geração de potenciais seguidores é a mesma que acaba de escolher "Solomon Kane" para o prémio do público. Gostos à parte, a verdade é que "Solomon Kane" é um produto realizado para ser um puro blockbuster e que ainda por cima está para estrear comercialmente em Portugal.

O mais grave disto tudo é a posição (quase) oficial da Câmara do Porto face ao Fantasporto. Pior do que não apoiar o festival, o executivo de Rui Rio parece apostado em tudo fazer para o prejudicar como, por exemplo, brigar a organização a pagar contas de água, luz e telefones do Rivoli, assim como os vencimentos dos seus assistentes de sala - péssimos, diga-se de passagem. Para além disso, foi por outra acção desastrosa da CMP que o Fantasporto desistiu à última da hora, da habitual Cidade do Cinema, que ocupava a Praça D. João I e que servia como mesa de apoio à principal infra-estrutura do festival, o Rivoli. De acordo com a autarquia, a organização teria de se responsabilizar pelos custos de montagem e desmontagem da tenda e ainda pagar pela licença de ocupação do espaço urbano em questão.

Acaba a 30ª edição do Fantasporto em clima de dúvida. Será 2011 ano de nova mudança de casa? Continuará a Câmara Municipal do Porto a servir de veículo para a guerra privada de Rui Rio com a cultura da cidade? Será em 2011 que o Fantasporto tem os tão aguardados (e necessários) apoios financeiros? É o próprio Mário Dorminsky quem acusa o Instituto do Turismo de comparticipar o Fantas com 50 mil euros e o Estoril Film Festival com 700 mil. Exagerado? Sem dúvida. Por muita qualidade que o festival de Paulo Branco apresente, e por muito importante que isso possa ser para o turismo nacional, o historial e o reconhecimento internacional do Fantasporto são esmagadores quando comparados com os escassos quatros anos do certame do Estoril.

Algo tem rapidamente de mudar no núcleo duro do Fantasporto, na sua organização e nos seus critérios. Mas algo tem ainda mais rapidamente de mudar nesta política cultural que mais não é do que um fantasma de algo que nunca existiu. Para dar o exemplo, a organização do Fantas tem de assumir algo que tem faltado nos últimos anos, coerência. Coerência temática, porventura, de qualidade das obras, fundamentalmente, mas acima de tudo de postura e de discurso. Mário Dorminsky não pode fazer alarde da função de serviço público do Fantasporto e do papel que durante quinze dias o festival assume enquanto "cinemateca, casa do cinema e museu de cinema", e gabar-se da verdadeira missão que é servir de embaixador do melhor cinema que se faz na europa - contrariando a tendência meramente comercial das salas portuguesas, que se limitam a exibir cinema americano - para logo a seguir e no mesmo discurso, usar um trunfo desleal e contraditório. Dorminsky terminou a sua intervenção apregoando de ter "The Crazies" como filme de encerramento da edição 2010 - só por acaso, um filme americano e, só por acaso, um dos blockbusters do ano no seu país de origem. Não faz grande sentido, pois não?

quarta-feira, março 03, 2010

FANTAS - FESTIVAL EQUILIBRADO

O título é pura ironia, infelizmente. Porque o Fantas é realmente um festival equilibrado, mas nivelado por baixo. Muito baixo. Com o certame a meio, ficam evidentes as más escolhas de uma organização que já só surpreende pela aposta em filmes que não deixam dúvidas: são maus para lá de qualquer questão de gosto pessoal.

E essa escolha coloca várias questões, desde logo relativamente às razões por trás dessa tal selecção. Porque vêm ao festival? Porque são anunciados no programa como grandes obras de cinema quando no fundo são realmente muito fracos? O que esperar de um festival que tem cada vez menos sessões diárias - pelo menos no grande auditório do Rivoli - e todas elas preenchidas por filmes fraquinhos, maus, entediantes ou, no mínimo, pouco entusiasmantes? O que esperar?

O que esperar de um festival de cinema que queima sempre uma semana com a exibição de filmes que já passaram tantas vezes no mesmo festival que já toda a gente lhes perdeu a conta. O que esperar de um festival que considera uma animação japonesa como um "dos mais surpreendentes, graficamente deslumbrantes e esteticamente inovadores filmes de animação dos últimos anos", quando na verdade "First Squad" é banalíssimo, nada inovador e muito, mas muito desinteressante? Que diz que "Possessed" é "um filme inteligente que nos obriga a reflectir e ver como as pessoas lidam com a existência de poderes sobrenaturais. O cinema sul coreano de terror continua a dar cartas", ou seja, que não revela absolutamente nada do dito filme e que ainda por cima engana o espectador. Na verdade, "Possessed" é mais um filme coreano de fantasmas, possessões e edifício assombrados, como tantos outros filmes da Coreia do Sul e que todos os anos nos enchem a paciência.

O que esperar realmente de um festival que anuncia "1", do húngaro Pater Sparrow, como um dos filmes mais premiados na Hungria, quando isso não quer dizer nada de relevante. Será a Hungria uma potência do cinema europeu? Não, de forma alguma. O que esperar do Fantas 2011? Fácil. Mais uma dose maciça de filmes espanhóis e sul-coreanos - há que cumprir a quota mínima - e uma série de sinopses escritas para enganar o público ou, no limite, saídas da cabeça de algum teenager que começou agora a ver cinema e cujo filme preferido é, claramente, um dos da saga Twilight. O futuro é cinzento para os lados do Fantasporto.

Ainda tenho de falar de "Rec2", mas s´lá mais para a próxima semana. Ainda estou a digerir o que é um dos piores filmes do ano e seguramente uma das piores sequelas da história do cinema.