kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quarta-feira, abril 29, 2009

AINDA A PROPÓSITO

Justiça seja feita; mencionei esta carta na crónica que fiz do filme "Che - Parte One: The Argentinian" mas por motivos técnicos não a consegui publicar.


Queridos viejos:

Otra vez siento bajo mis talones el costillar de Rocinante, vuelvo al camino con mi adarga al brazo.

Hace de esto casi diez años, les escribí otra carta de despedida. Según recuerdo, me lamentaba de no ser mejor soldado y mejor médico; lo segundo ya no me interesa, soldado no soy tan malo.

Nada ha cambiado en esencia, salvo que soy mucho más consiente, mi marxismo está enraizado y depurado. Creo en la lucha armada como única solución para los pueblos que luchan por liberarse y soy consecuente con mis creencias. Muchos me dirán aventurero, y lo soy, sólo que de un tipo diferente y de los que ponen el pellejo para demostrar sus verdades.

Puede ser que ésta sea la definitiva. No lo busco pero está dentro del cálculo lógico de probabilidades. Si es así, va un último abrazo.

Los he querido mucho, sólo que no he sabido expresar mi cariño, soy extremadamente rígido en mis acciones y creo que a veces no me entendieron. No era fácil entenderme, por otra parte, créanme, solamente, hoy. Ahora, una voluntad que he pulido con delectación de artista, sostendrá unas piernas fláccidas y unos pulmones cansados. Lo haré.

Acuérdense de vez en cuando de este pequeño condotieri del siglo XX. Un beso a Celia, a Roberto, Juan Martín y Patotín, a Beatriz, a todos. Un gran abrazo de hijo pródigo y recalcitrante para ustedes.

Ernesto

KARMABOX WITH A VIEW - FLEET FOXES - "MYKONOS"

Não deixam o Ipod por um dia que seja. São os Fleet Foxes e são a (tardia) descoberta do ano.

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EU SEI TUDO! EU NÃO SEI DE NADA!



Fui ver "Knowing" apesar de não ter lido absolutamente nada abonatório acecra deste novo filme de Alex Proyas. Uma só vírgula, sequer. E fui...
Começo desde já por dizer que qualquer filme que tenha como protagonista Nicholas Cage corre graves riscos de meter água. Valentemente. O homem continua a ser um eterno erro de casting, não vale a pena. Tinha piada no início da sua carreira, mas o Oscar fez-lhe decididamente mal. Tornou-se canastrão, arrogante, cabotino, e consegue estragar tudo em que se mete. Há anos que não faz um filme de jeito - o que diz muito das suas escolhas e consequentemente da gestão da sua carreira - e acumula desempenhos vergonhosos.
Ainda assim, e apesar de estar suficientemente avisado, lá fui ver o primeiro filme-catástrofe da temporada - está para estrear "2012", o concorrente vindo das mãos do expert Roland Emmerich. E a coisa nem começa mal. A premissa é interessante: um bilhete escrito por uma criança na década de cinquenta, e que supostamente devia respresentar a sua visão do futuro, vai parar ao professor de astofísica, ou matemática aplicada ou seja lá o que for que Cage tenta ser, que, intrigado pela sequência aparentemente aleatória de números, o decide decifrar. O homem é bom no que faz, e rapidamente descobre que os números são previsões de catástrofes humanas dos últimos cinquenta anos. Portanto, o resto já se sabe como é. As próximas datas estão para breve, o facto do papel ter ido parar aos olhos atentos e sabedores de um determinado homem não é mera coincidência e tal e tal. Mas até funciona. Ficamos atentos ao ecrã e ansiosos por descobrir afinal o que se passa.
Para além disso, as cenas completamente apoteóticas de dois gigantescos acidentes - previstos no papelito - são brutais e muito bem conseguidas. Ou seja, continuamos colados ao filme. O problema, é que afinal a história não tem somente uma permissa mas várias, com que o realizador vai atropelando o filme e os espectadores. Às tantas já não se percebe por onde vai aquilo tudo, o que vai acontecer, e qual a explicação, se é que há uma.
Tudo começa a meter água, não só Nicholas Cage, e o que parecia um divertido (e assustador) episódio da "Twilight Zone" em versão hiper, resvala sem hipóteses de sobrevivência para um daqueles objectos chatos e repleto de chavões a que Hollywood parece não conseguir fugir. Mesmo tendo na realização um homem que já deu provas mais do que suficientes de conseguir sacar filmes especiais e um pouco ao lado do mainstream. "The Crow", "Dark City" e "I, Robot" não conseguiram a unanimidade do público e crítica, mas deram ao realizador egípcio-australiano a imagem de auteur de filmes de ficção/aventura. O que é bom e muito raro nos dias que correm.
Em suma, simpatizei com filme enquanto ele cheirava a ficção série B. Assim que começou a cheirar a plástico queimado, desisti. Até porque estava lá o Cage. Não é M. Night Shyamalan quem quer, e havia um monte de actores que, perante a ameaça de desgraça, até conseguiam aguentar a cena. Este carrega no botão que diz "explodir com esta merda toda".
Para acabar em beleza, o filme apresenta uma solução para tudo o que se está a passar que é de bradar aos céus, literalmente. Só vendo...

sábado, abril 25, 2009

EL DOCTOR



Me recuerdo en esta hora de muchas cosas, de cuando te conocí en casa de María Antonia, de cuando me propusiste venir, de toda la tensión de los preparativos.
Un día pasaron preguntando a quién se debía avisar en caso de muerte y la posibilidad real del hecho nos golpeó a todos. Después supimos que era cierto, que en una revolución se triunfa o se muere (si es verdadera). Muchos compañeros quedaron a lo largo del camino hacia la victoria.
Hoy todo tiene un tono menos dramático porque somos más maduros, pero el hecho se repite. Siento que he cumplido la parte de mi deber que me ataba a la Revolución cubana en su territorio y me despido de ti, de los compañeros, de tu pueblo que ya es mío.
Hago formal renuncia de mis cargos en la Direccón del Partido, de mi puesto de Ministro, de mi grado de Comandante, de mi condición de cubano. Nada legal me ata a Cuba, sólo lazos de otra clase que no se pueden romper como los nombramientos.
Haciendo un recuento de mi vida pasada creo haber trabajado con suficiente honradez y dedicación para consolidar el triunfo revolucionario. Mi única falta de alguna gravedad es no haber confiado más en ti desde los primeros momentos de la Sierra Maestra y no haber comprendido con suficiente celeridad tus cualidades de conductor y de revolucionario.
He vivido días magníficos y sentí a tu lado el orgullo de pertenecer a nuestro pueblo en los días luminosos y tristes de la Crisis del Caribe.
Pocas veces brilló más alto un estadista que en esos días, me enorgullezco también de haberte seguido sin vacilaciones, identificado con tu manera de pensar y de ver y apreciar los peligros y los principios.
Otras tierras del mundo reclaman el concurso de mis modestos esfuerzos. Yo puedo hacer lo que te está negado por tu responsabilidad al frente de Cuba y llegó la hora de separarnos.
Sépase que lo hago con una mezcla de alegría y dolor, aquí dejo lo más puro de mis esperanzas de constructor y lo más querido entre mis seres queridos... y dejo un pueblo que me admitió como un hijo; eso lacera una parte de mi espíritu. En los nuevos campos de batalla llevaré la fe que me inculcaste, el espíritu revolucionario de mi pueblo, la sensación de cumplir con el más sagrado de los deberes; luchar contra el imperialismo dondequiera que esté; esto reconforta y cura con creces cualquier desgarradura.
Digo una vez más que libero a Cuba de cualquier responsabilidad, salvo la que emane de su ejemplo. Que si me llega la hora definitiva bajo otros cielos, mi último pensamiento será para este pueblo y especialmente para ti. Que te doy las gracias por tus enseñanzas y tu ejemplo al que trataré de ser fiel hasta las últimas consecuencias de mis actos. Que he estado identificado siempre con la política exterior de nuestra Revolución y lo sigo estando. Que en dondequiera que me pare sentiré la responsabilidad de ser revolucionario cubano, y como tal actuaré. Que no dejo a mis hijos y mi mujer nada material y no me apena: me alegra que así sea. Que no pido nada para ellos pues el Estado les dará lo suficiente para vivir y educarse.
Tendría muchas cosas que decirte a ti y a nuestro pueblo, pero siento que son innecesarias, las palabras no pueden expresar lo que yo quisiera, y no vale la pena emborronar cuartillas.

Hasta la victoria siempre, ¡Patria o Muerte!
Te abraza con todo fervor revolucionario,

Che


Esta carta de despedida que Ernesto "Che" Guevara escreveu a Fidel Castro em 1965, resume na perfeição o primeiro filme do díptico assinado por Steven Soderbergh, e que fui ver hoje, por acaso dia em que celebramos a nossa própria revolução.

É irónico: o filme que definitivamente humaniza um dos maiores ícones da história da humanidade, contribui decisivamente para, de uma vez por todas, explicar detalhadamente porque é, de facto, Che um símbolo incontornável.

Tinha planeado ver as duas partes do mesmo filme em sessões seguidas - o título em português, "Che - O Argentino", contradiz o objecto uno e indivisível que Steven Soderbergh partiu, forçado pelas pressões comerciais. Fazia sentido, pensei. No entanto, depois de ter visto "Che - Part One: The Argentinian", percebi que apesar da divisão não ter sido pensada na produção, apeteceu-me falar já desta obra absolutamente obrigatória. Porque é um filme brilhante, e porque representa um documento histórico importantíssimo, não só para as gerações que já conheciam a figura de Che Guevara, como também para aquelas que apenas conhecem as t-shirts, os posters e as boinas vendidas nas bancas do "Avante".

Enquanto filme, o trabalho de Steven Soderbergh é, na minha opinião, intocável. O realizador quis fazer um filme que respira livremente, sem pressas em contar uma história; um filme liberto das pressões da indústria. Nesse sentido pode-se dizer que as duas partes que compõem "Che..." são fruto de um trabalho de coragem. Coragem em assumir um estilo nada consentâneo com a toda poderosa Hollywood e coragem em fazê-lo em espanhol. O trailer engana o espectador, no entanto, fazendo querer que o que se vai assistir é a um filme de acção, de guerra. Nada podia estar mais errado, e é preciso perceber que os trailers têm precisamente essa função: enganar o espectador e cumprir com as pesadas obrigações mercantilistas do cinema.

"Che - Part One" é um filme belíssimo, de uma tristeza que ao início não se percebe muito bem porque se faz sentir, mas que se sabe estar permanentemente ligada à figura de Che/Benício Del Toro. Os primeiros 15 minutos de filme, brilhantemente editados, e que são basicamente a apresentação de Che, de quem é aquele homem e o que o move, chegam a ser comoventes. A maior parte das imagens desta sequência inicial, chamemos-lhe assim, são na sua maioria acompanhadas pela voz off de Benício. As restantes quase não contêm diálogos, e ainda assim é fácil perceber que o que move Che na luta pela libertação de um país que não é o seu é uma vontade pura e sincera de fazer valer o valor em que mais acreditava: o homem.

O decorrer do filme deixa-nos entender finalmente o que é aquela tristeza que sentimos. Che era um homem solitário, que não se enquadrava exactamente nem nos seus colegas de guerrilha, nem naquele tempo. De certa maneira - mais até do que Fidel Castro - Che era o único a acreditar de uma forma consciente e muito bem ponderada naquela revolução. Mais, Che acreditava no valor da «revolução», fosse ela em Cuba, na Venezuela ou na Bolívia. Foi um visionário político-social como poucos, muitos anos à frente de todos os estadistas que enchiam os assentos da ONU que o ouviram falar acerca do imperialismo norte-americano em 1964. O filme honra a personalidade de Che Guevara, e faz um excelente trabalho de enquadramento histórico, social e humano desta personalidade na tão propalada revolução cubana.

E é essa uma das principais características de Che - Part One...", a forma como eleva a honra e o valor de se ser humano. As personagens (as pessoas) que acompanham Che pelas florestas de cuba, e que lutam ao seu lado pela libertação do povo cubano, são humanas, verdadeiramente de carne e osso. Nunca em altura alguma do filme as sentimos como meros utensílios plásticos ao serviço de um realizador. Excelente, portanto, o trabalho dos actores. Benício Del Toro É o Che, e não vale a pena dizer mais nada. Vale, isso sim, falar do batalhão de secundários, magníficos, todos eles (ou quase). Acima de tudo merecem ser destacados os desempenhos de Demián Bichir, como Fidel Castro, e de Santiago Cabrera, no papel de Camilo Cienfuegos, dois dos responsáveis máximos pelo sucesso da revolução e que, no ecrã, adquirem (meritoriamente, claro) um brilho e um destaque muito especiais. O único actor que passa ao lado de um grande filme, quase como se estivesse distraído, é o brasileiro Rodrigo Santoro. O seu Raúl Castro roça a mediocridade, culpa de uma interpretação que soa a leitura do guião. Estranho e desenquadrado.

Nunca tinha percebido os motivos que tornaram Che neste gigantesco ícone da contracultura do século XX. Ou antes, eu sei o que fez dele uma personalidade tão maior do que a vida, maior do que a política e maior do que a revolução. Nunca percebi como é que ele tinha sido adoptado como símbolo por tantas gerações que provavelmente não sabiam um décimo dos seus feitos; que não conheciam os seus pensamentos e que não partilhavam sequer das suas crenças.
Pessoalmente já percebi porque é que sempre admirei este homem, mesmo sem saber um décimo da sua vida. Era um homem educado, simples, despretensioso, humilde e profundamente bom. Que não precisava de se meter no que de mais sujo e perigoso tem uma revolução militarizada para a fazer acontecer. Cometeu erros, claro, e o filme não tenta os tenta justificar e muito menos desculpá-lo. Mas como ele próprio admite, num processo destes é impossível não os cometer. Una guerra a muerte.

Como para Fidel Castro, Che Guevara escreveu uma última carta de despedida para os seus pais. A impossibilidade de a encontrar em espanhol impede-me de a publicar na íntegra, já que só encontrei páginas que disponibilizam este incrível documento em inglês ou brasileiro (vá-se lá perceber porquê). No entanto, não existe melhor fim para este post e, de igual forma, para um filme sobre a vida de Ernesto "Che" Guevara do que este:

Now a willpower that I have polished with an artist's delight will sustain some shaky legs and some weary lungs. I will do it. Give a thought once in awhile to this little soldier of fortune of the twentieth century.

A kiss to Celia, to Roberto, Juán Martín and Patotín, to Beatriz, to everybody. For you, a big hug from your obstinate and prodigal son,

Ernesto


O PIOR FILME DO ANO?

Se não é devia ser. É tão mau, tão fraquinho, tão despropositado, tão sem sentido que devia ser proibido. Chama-se "Duplicity" - em português o filme ganhou o igualmente paupérrimo título de "Dupla Sedução" - e é mesmo de fugir. Nada parece funcionar aqui. A dupla Julia Roberts - Clive Owen não tem qualquer tipo de química e os actores parecem estar a trabalhar cada um para o seu lado. Roberts alías já não consegue disfarçar o mal que lhe fez a maternidade. Envelheceu rápido e muito mal, e permanece levemente balofa e sem o brilho que a caracterizava. O argumento é inútil e sem sentido e a coisa parece ter sido realizada à pressa, recorrendo a soluções rápidas e inventadas em cima do joelho. O único que se safa, e porque o faz sozinho, é Owen. O homem sabe ser cínico e divertido ao mesmo tempo, nunca perdendo a sensualidade meio-bruta que quase lhe dava o papel de James Bond - perdido, como se sabe, para Daniel Craig.
É evidente a tentativa de Tony Gilroy - realizador do fantástico "Michael Clayton" e argumentista da trilogia "Bourne" - de pegar no estilo da série "Ocean's" e fazer uma obra de espionagem com personagens muito idênticas às dos filmes de Steven Soderbergh. Falha redondamente, e nem se percebe como um homem que foi capaz de assinar um filme tão friamente cerebral como "Michael Clayton" se pode ter metido numa fantochada comercialóide destas. Enfim, mais um caso de quem claramente não conseguiu resistir ao cheiro do dinheiro. Um elenco de luxo literalmente deitado ao lixo...


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quarta-feira, abril 22, 2009

SESSÃO DUPLA (CASEIRA)


As maravilhas da pirataria permitem coisas destas, ver dois filmes seguidinhos e sem qualquer despesa de maior.
As últimas duas noites foram passadas a ver dois filmes que tanto deram que falar e que, por razões tão diferentes, são dois dos filmes mais importantes do ano.

Foi o próprio Danny Boyle quem assmiu que filmar na Índia era fácil; para onde quer que apontasse a câmara estava um plano magnífico. O único problema de "Slumdog Millionaire" é esse mesmo: o excesso de informação desnecessária ao próprio filme e a desmedida quantidade de plasticidade artística que Boyle obviamente não soube gerir. Ou não soube ou não se conteve. Todo o filme, especialmente a sua primeira hora, é repleto de planos enviesados, cores saturadas até à exaustão (do espectador) e movimentos de câmara alucinados. Como se de repente o realizador descobrisse que era possível toda aquela panóplia de recursos e, como uma criança que descobre um brinquedo, os quisesse utilizar a todos ao mesmo tempo. Não era necessário. Precisamente por que na Ìndia qualquer plano que se filme é um mundo de informação. E que não se confundam as coisas: a intenção do realizador não foi aproximar o seu objecto ao universo histriónico de Bollywood, exagerado,
berrante e positivamente, intencionalmente piroso. O exagero de Boyle chira a pretensiosismo da pior espécie e acaba por quase estragar o que é, no fundo, uma belíssima história de amor.
Para além disso, a primeira parte dessa mesma história, que serve basicamente para nos enquadrar na dura e repugnante vida dos miúdos dos bairros-de-lata de Bombaím, é excessiva também noutros detalhes, igualmente desnecessários. As imagens construídas por Danny Boyle das dificuldades e das situações porque
passam os dois irmãos protagonistas - embora não tenha dúvidas que andem muito perto da realidade - são gratuitas e têm como único e desleal propósito agarrar o espectador e, mais uma vez, servir os devaneios plásticos do realizador/criador. Não faziam falta nenhuma a uma história tão forte, tão bem escrita e, acima de tudo e novamente, tão real. A empatia com os miúdos é fácil de se atingir, a compreensão do que é ser miúdo na Índia (naquela Índia) é imediata, e a história por si só é mais do que suficiente para garantir que o espectador não vai desistir de a acompanhar até ao fim - é, nesse aspecto, genial, a odisseia de Jamal e a forma como percebemos o porquê de saber todas as respostas do concurso "Who wants to be a millionaire" que está no centro de toda a acção. No entanto, tanto efeito psicadélico, tanto desgoverno estético fizeram-me pensar seriamente em ver o filme todo. Cansaram-me muito rapidamente.
A segunda metade de "Slumdog Millionaire" é bem mais consistente e dispersa muito menos. É aí que começamos a perceber a real dimensão do amor entre Latika e Jamal e nos prendemos definitivamente ao ecrã (do computador, neste caso). Porque como já disse é uma história de amor belíssima, porque os actores são incríveis e porque a realidade social é abordada de uma forma menos exploratória e mais sóbria. O filme fast food torna-se subitamente num filme sério. Torna-se interessante, desenvolve-se com segurança e cresce dentro de nós.
É importante referir mais uma vez e sempre o magnífico trabalho de todos os actores. As três idades retratadas são obviamente partilhadas por três gerações de actores e todos contribuem com uma nobreza e dignidade emocionantes e realmente inspiradoras. Como se fossem mesmo as suas vidas naquele ecrã - não serão? Acaba por ser esse o ponto mais forte do filme de Danny Boyle. Um filme que podia ser um grande filme e que só não o é por culpa do seu realizador. O homem perdeu-se na tecnicidade do desnecessário, do fútil, e ao fazê-lo arrastou uma boa hora de película para um limbo de indefinição. A sensação que me acompanhou durante esses longuíssimos 60 minutos foi a de que estava a ver um teledisco, sem grande substância; um objecto meramente gráfico.
É um dos filmes mais importantes do ano, sem dúvida. Desde logo porque arrasou na cerimónia dos Oscar e porque foi, de uma forma mais ou menos consentânea, um sucesso de público. A meu ver, é importante porque, e apesar de todas as críticas menos positivas que lhe possa fazer, um objecto ímpar pela forma como foi construído e uma lição de como é possível fazer bom cinema - e ao mesmo tempo ter um monstruoso sucesso comercial - sem rostos familiares e com uma fórmula completamente nos antípodas do que se faz hoje em dia.
"Slumdog Millionaire" é um excelente filme, tenho de o admitir. Mas merecia ser «melhor» do que tantos outros na mesma corrida? Não acredito.




Excelente, sem dúvida, é "The Wrestler". E uma das razões reside precisamente na total ausência de truques, efeitos de maquilhagem tecnológica ou rasteiras ao espectador. Tudo aqui é dura e cruelmente real. Toda a informação é imediata, absorvida instantaneamente. Difícil de digerir porque nos é dada crua e custa a passar na garganta, mas verdadeira e terrivelmente honesta.
Darren Aronofsky aprendeu como voltar a fazer bons filmes depois do fracasso hi-tech que foi "The Fountain". Simplificou, regressou à terra e assinou um filme que é quase um documentário acerca das dores que todos sentimos. A dor de envelhecer e, mais do que isso, a dor de perceber que já não se consegue fazer aquilo que mais se ama. O filme é um constante nó na garganta e só quem aprendeu a sublimar as dores com que a vida tão atenciosamente nos presenteia, é que consegue passar por "The Wrestler" sem se emocionar à séria e sem se magoar.
Porque, para além de um excelente argumento, "The Wrestler" tem Mickey Rourke num dos melhores desempenhos de que tenho memória. É ele o responsável pela angústia que sentimos desde o primeiro minuto de filme, desde a primeira imagem, ou, se preferirem, desde o primeiro som. É ele, quase sozinho, o filme inteiro. Como se ambos não pudessem ser separados - e não são, de facto. De tal forma que se torna practicamente impossível destacar uma sequência, uma cena, um plano ou um diálogo do seu Randy «The Ram» Robinson para ilustrar o magnífico trabalho de um actor que é a sua personagem - mais do que a personagem ser o actor. Rourke tem a capacidade de nos comover sempre que fala, sempre que o vemos a andar naquela forma atabalhoada e ao mesmo tempo orgulhosa de uma estrela em clara decadência. Sempre que nos embaraça com a infantilidade de alguém que claramente está desadequado do resto do mundo, do resto das pessoas, e que só se sente bem no universo onde era grande, onde era importante e, mais do que isso, onde era reconhecido. Randy «The Ram» acaba por não ser mais do que um miúdo que nunca cresceu, que não sabe como o fazer e que só quer fazer parte de alguma coisa. E é terrível, essa realidade. E só Mickey Rourke podia fazê-lo desta forma. Não tanto porque passou pelo mesmo, ou por uma série de acontecimentos menos agradáveis da sua vida - alguns mitos urbanos, outros bem reais - e que o afastaram definitivamente de um mundo onde era grande, importante e reconhecido. A tragédia permanente nos olhos de Rourke, e que sempre lhe deram personagens atormentadas e desenquadradas da normalidade, voltou e em máxima força. É dessa tragédia que todos temos medo, e é por isso que "The Wrestler" nos toca tão fundo e com tanta força.
Obviamente há que referir o trabalho igualmente majestoso de Marisa Tomei. Quase abafada pelo «monstro» Rourke, a actriz eternamente passada para segundo plano, conquista o seu espaço num filme que é quase um one man show. Começa timidamente, numa altura em que temos mesmo de estar atentos à movimentação (literalmente) de Randy, e acaba o filme numa explosão de energia absolutamente contangiante. Merecia, como sempre aconteceu, ser reconhecida pelo seu trabalho imaculado.
"The Wrestler" é dos mais importantes e melhores filmes do ano e exactamente pelas mesmas razões de "Gran Torino": a simplicidade, a humildade e a leveza. Não é um filme para corações fracos (também literalmente), especialmente para aqueles que aprenderam a disfarçar as suas dores e a procurar formas de lhes fugir. É o completo oposto de "Slumdog Millionaire". Retrata uma realidade terrível, verdadeira, humana, mas sem recorrer a truques de câmara, habilidades de fotografia ou efeitos especiais. É o ser humano despojado de artifícios e dolorosamente credível e a quem, com frequência, viramos a cara na rua.

A acompanhar, a excelente música que Bruce Springsteen escreveu para "The Wrestler", e que é o filme, do início ao fim.




Have you ever seen a one trick pony in the field so happy and free?
If you've ever seen a one trick pony then you've seen me
Have you ever seen a one-legged dog making its way down the street?
If you've ever seen a one-legged dog then you've seen me

Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?

Have you ever seen a scarecrow filled with nothing but dust and wheat?
If you've ever seen that scarecrow then you've seen me
Have you ever seen a one-armed man punching at nothing but the breeze?
If you've ever seen a one-armed man then you've seen me

Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?

These things that have comforted me, I drive away
This place that is my home I cannot stay
My only faith's in the broken bones and bruises I display

Have you ever seen a one-legged man trying to dance his way free?
If you've ever seen a one-legged man then you've seen me

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domingo, abril 19, 2009

AFINAL...

Não consigo não falar de Toumani Diabaté e do seu "The Mandé Variations". O trabalho anterior deste inacreditável músico do Mali tinha sido gravado há 20 anos, o que me faz pensar que há realmente coisas inacreditáveis, não há?

Toumani Diabaté é neste momento um dos músicos mais respeitados no mundo, e com toda a razão. É que bons intérpretes de Kora, o instrumento típico de um sem número de países em África, sempre existiram. De Salif Keita a Idrissa Cissoko, muitos foram os que se evidenciaram e que conseguiram sair das fronteiras (às vezes demasiado apertadas) de África e mostrarem ao mundo o que valem. Mas Diabaté é diferente. A sensibilidade com que toca a Kora, coloca-o a quilómetros de todos os outros e faz dele um músico de uma outra galáxia.

Para além disso a cultura musical deste homem apanha qualquer um de surpresa. Basta perceber as suas influências. Importantíssimo também ouvir e ver a explicação de como se toca - de como ele toca - a Kora para entender também quem é realmente Toumani Diabaté e de onde vem a sua música.

Não tenho duvidas: "The Mandé Variations" é um dos melhores discos que já ouvi, e Toumani Diabaté um músico a (re)descobrir urgente e obrigatoriamente.



SÓ PARA DIZER ISTO:

Ainda não vi os filmes, mas tenho a certeza de que o Che Guevara só existiu para que o Benicio Del Toro pudesse um dia interpretá-lo no cinema...

KARMABOX WITH A VIEW - TOUMANI DIABATÉ - "CANTELOWES"

Sem palavras porque são tão desnecessárias. Bom para nos recordar das coisas simples.

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sexta-feira, abril 17, 2009

ORA BEM...

quinta-feira, abril 16, 2009

POLÉMICA



Muito sinceramente, não percebo o encanto de Leonard Cohen. Já tentei, mas continuo sem saber o que é que de verdadeiramente bom tem o homem para conseguir a legião de fãs que se conhece. Pessoalmente acho que tudo o que edita tem um forte e incontornável cheiro a parolo. Parece música para velhos decrépitos que passam os fins-de-semana nos casinos rasca; karaoke de ainda pior qualidade para bêbados e acabados. Já está, já disse.


Isto estava para ser escrito há algumas semanas, mas agora, motivado por um blog vizinho, decidi finalmente a fazê-lo. E precisamente pela música em questão, "Allelujah". A comparação só pode ser feita, obrigatoriamente, com a versão de Jeff Buckley, inifnitamente melhor, na minha opinião. Tão melhor que provavelmente ainda há muita gente que pensa ser dele a autoria da música. E de facto, não é qualquer um que pega numa música já escrita e gravada e regravada, e por causa da sua interpretação a torna dele. Buckley conseguiu-o. E nem sou daqueles fãs de Jeff Buckley que o endeusa, ou que faz dele um mártir da música pop. Muito menos considero o seu "Allelujah" a sua melhor canção. No entanto, as diferenças entre as duas versões são abissais. Dos arranjos pesados, gordos, preguiçosos e, lá está, parolos, e dos coros ridículos, a métrica desajustada da versão de Cohen, Buckley não aproveitou rigorosamente nada e ainda bem. Reduziu-a ao mínimo. Guitarra e voz, esta sim adequada ao sentimento de uma canção dorida, sofrida e lindíssima, sem dúvida. Buckley tornou-a harmoniosa, delicada, levíssima. Tornou-a bonita. Cohen não consegue outra coisa que não fazer de "Allelujah" um objecto pesado, aos tropeções, isento de qualquer tipo de sensibilidade. Como tudo o que faz, aliás. Já sei que pessoas acusarão a versão de Buckley de ser triste e nostálgica. A esse digo-lhes que leiam com atenção as palavras escritas por Cohen.

Com o devido respeito pelos fãs de Leonard Cohen, Jeff Buckley meteu Cohen no chinelo, como quem diz olha, não achas que devias ter feito antes assim?

Em baixo as duas versões para a devida e justa comparação e um link para uma terceira, também de Jeff Buckley e que não pode ser publicada aqui por motivos legais. É a mais despida de todas e a mais bonita.






A versão mais bonita de todas

quarta-feira, abril 15, 2009

NUNCA MAIS DIGO QUE NÃO A UM EVANGELISTA

Já se sabia que os televangelistas são capazes de tudo para atrairem seguidores e que o seu folclore é... bastante colorido. Mas isto bate tudo e deixa-me sinceramente a pensar se não devo começar a ir a umas sessõezinhas.

EJACULAÇÃO PRECOCE

Aos senhores: sabem quando conseguem, por muito impossível que isso vos possa parecer, engatar uma mulher daquelas que parecem só existir no cinema, levá-la para a cama e terem sexo maravilhoso com ela... por cinco minutos? Se já aconteceu a algum dos leitores habituais deste blog, então é fácil compreenderem como me senti ontem no final de "The Strangers", o filme de terror estreado há uns dias cá na terrinha.

Confesso, já não vou para nenhum filme de terror sem um certo olhar de esguelha, uma desconfiança bastante negativa e pessimista. Porque já vi centenas e porque já há uns bons aninhos que não vejo nenhum que me encha por completo a pança.

Ou seja, fui para "The Strangers" com um pé atrás, e à espera de mais do mesmo. Os primeiros minutos do filme foram tão curiosamente diferentes do que é habitual que até nem prestei grande atenção aos clichés do costume. A primeira meia hora de filme intriga, deixa-nos a pensar no que estará para vir - o que é bastante bom, diga-se - incomoda e mete algum medinho. A coisa começa bem, portanto. E fica bem até ao momento em que já não temos como evitar a dura realidade: o que está para vir é realmente mais do mesmo. Os mesmos tiques, os mesmos clichés, os mesmos sustos, as mesmas situações. Nem mais. A partir do momento em que nos damos conta de que o que se está a passar é mais um daqueles casos de assassinos só porque sim, o filme perde exponencialmente a graça, o interesse e, pior do que isso, a capacidade de surpreender e/ou assustar.

A questão é que a temática, embora não tão abordada no universo do cinema de terror como algumas outras já gastas, ja foi bem melhor trabalhada. Recentemente, "Eden Lake" - de que já aqui falei - trouxe de novo este universo dos assassinos «só porque sim» ao grande ecrã e com retoques de frescura que tanto agradam quem ainda está à espera de algo novo e original. De algum modo como Michael Haneke já o havia feito em "Funny Games". No entanto, é preciso recuar até ao ano de 1986 para referir um filme que, sem contemplações e sem cedências comercias de qualquer espécie, consegue um retrato violento, duro e sem artifícios de maior, de um homem que mata indiscriminadamente e só porque lhe apetece - ou porque não o consegue controlar. Sem pretensões a ser um filme de terror, mas com a capacidade ainda hoje efectiva de agoniar o espectador e de o deixar no mais puro desconforto. Mais uma vez, sem artifícios.

"The Strangers" é o primeiro filme de Bryan Bertino, e é desde logo o seu primeiro filme ao lado. Começa bem, a sério, e tem alguns momentos bastante bons, mas a meio já ninguém tem paciência para mais 45 minutos de filme. E o trailer é prometia tanto...





LES CONCERTS À EMPORTER - THE TALLEST MAN ON EARTH

De regresso aos micro-concertos da Blogothéque para uma verdadeira curta metragem, filmada numa loja que só podia mesmo existir em Nova Iorque. Começo cada vez mais a pensar que seria mesmo uma óptima idéia importar este conceito dos micro-concertos e adaptá-los a Portugal.


Tallest Man on Earth - The Gardener - A Take Away Show from La Blogotheque on Vimeo.

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sábado, abril 11, 2009

CAN HE?

Admiro cada vez mais este homem. Admiro cada vez mais a capacidade que ele tem de se distanciar por completo da imagem cinzentona, aborrecida e altamente desacreditada do político comum. De ser totalmente informal, de não precisar de ter tudo escrito por outros para se safar com elgância numa conferência de imprensa. Por ser incrivelmente elegante, e por usar toda a sua energia para seduzir quem o ouve. Alguém pode afirmar com toda a certeza qual foi o último político ou líder mundial que conseguia este efeito nas pessoas? O efeito de as reunir à sua volta só para o ouvir falar? E é um homem bonito, acessível, franco, que nos convence com as suas respostas. No vídeo abaixo um jornalista pergunta-lhe, durante a cimeira do G20, quais as principais diferenças entre a sua política externa e a de George Bush. O homem leva o seu tempo, e durante pouco mais de quatro minutos, responde ao que lhe é perguntado e a muito mais. Lá está, com elegância, fugindo à tentação de atacar o seu antecessor, e acima de tudo - e esta é a principal diferença entre as políticas externas dos dois - com uma humildade rara na classe política.
Será que ele vai conseguir? Nem ele sabe, e assume-o nesta resposta. A mim parece-me que já conseguiu bastante. Sozinho conseguiu reintroduzir uma certa confiança numa classe que andava pelas ruas da amargura. Conseguiu aliviar toda uma tensão internacional em torno dos EUA, e conquistar novamente uma simpatia política e social vitais para ele dar a volta a tudo o que Gerorge Bush fez de errado. E não era nada fácil.
Não sei sinceramente se ele can, mas que o admiro, lá isso é verdade. Não sei se é real ou uma magnífica manobra de marketing, mas simpatizo com ele e tenho, pela primeira vez na vida, fé num homem político. E isso é dizer muito, acreditem.


KARMABOX WITH A VIEW - LHASA DE SELA - "RISING"

Precisamente pelos do Barraco fiquei a saber que a cantora americana/mexicana, fabulosa, diga-se, tem um álbum novo editado este ano intitulado "Lhasa" e que este é o seu lindíssimo primeiro single. O vídeo parece-me do mesmo senhor que realizou "The Great Escape" de Patrick Watson, já publicado neste blog. O traço é demasiado parecido para não o ser...
Fico ansiosamente a aguardar o álbum completo, porque já há uns anos que a rapariga não editava nada e porque a amostra é do caraças.






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KARMABOX WITH A VIEW - PORTUGAL. THE MAN"

Há coisas do caraças! Os Portugal. The Man são do Alaska e segundo os próprios escolheram o nome da banda com a intenção de lhe atribuir um certo conceito bigger than life... Portugal foi o primeiro país que lhes veio à cabeça e a coisa pegou. E até soa bem. Estranho mas bem.
Curioso é o conceito dos seus vídeos, realizados em condições inprovisadas e totalmente aleatórias. E o todo funciona às mil maravilhas. Será que os do Barraco e da Campaínha já conhecem estes moços?


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LES CONCERTS À EMPORTER - TUNNG - "BODIES"

Mais um concerto fantástico, desta vez, e como se pode ler logo ao início, um sail-away show. Belíssimo...

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terça-feira, abril 07, 2009

KARMABOX WITH A VIEW - THE BLACK GHOSTS SPECIAL EDITION

Os ingleses The Black Ghosts são a mais recente revelação do meu Ipod, e tenho-lhes dado especial tempo de antena. A música que fazem situa-se entre uns LCD Soundsystem, uns Phoenix e uns Cut Copy, embora por vezes se escutem ainda alguns restos do que ficou conhecido como Madchester - isto só para os situar melhor.

Melhor mesmo é ouvirem o que os rapazes fazem e dançarem, que o som não permite preguiças de maior.




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segunda-feira, abril 06, 2009

MONSTERS VS. ALIENS




Não é mais uma daquelas obras-primas da animação que nos têm invadido as salas de cinemas, mas dá uma lição do caraças a muitos filmes de sci-fi que por aí andam. "Monsters Vs. Aliens", o novo trabalho da Dreamworks, realizado por Rob Letterman, o mesmo de "Shark Tale", é uma desenfreada e absolutamente insana aventura de animação que, como já disse, mete no chinelo filmes mais recentes que abordam a mesma temática e que se espalham ao comprido. Nesse campo o exemplo mais evidente - e que leva uma valente piscadela de olho nesta animação - é o inenarrável "The Day The Earth Stood Still", com Keanu Reeves. A sequência em que a sonda alien decide sair do local onde aterrou para procurar o seu objectivo é decalcada deste (já de si) remake de um clássico absoluto e é muitíssimo melhor. Aliás, com um bocadinho mais de atenção, mesmo o espectador mais desatento poderá encontrar em "Monsters Vs. Aliens" um sem número de referências a outras obras cinematográficas, a começar desde logo pela sequência inicial, demasiado «parecida» com a de "Contacto".
Para além de todas estas curiosidades, o filme apresenta um argumento inteligente, divertido, despreocupado mas repleto de deliciosos detalhes, e um ritmo endiabrado e sempre, sempre interessante, mesmo quando pensamos que a coisa se encaminha para o final. As personagens e as situações são hilariantes e existe um refinado e ridículo sentido cómico em tudo o que fazem ou dizem. A idiotice aqui não tem limites e funciona na perfeição.
A animação pode não ser o que de melhor se faz actualmente, mas alguns pormenores e sequências são incríveis. A cena em que a tal sonda decide investir pelo centro de São Francisco e perseguir a heroína Ginórmica é aterradora, por exemplo, e faz lembrar mais uma vez um sem número de filmes, nomeadamente os clássicos japoneses como Godzilla.
O elenco, composto por gente habituada a estas coisas da comédia é um dos segredos para a fórmula funcionar. Seth Rogen, Hugh Laurie, Will Arnett, Rain Wilson, Paul Rudd e o inigualável Stephen Colbert dão todos os seus tiques às personagens já de si geniais, e carregam o filme com o tal ambiente de constante loucura destravada.
Vale bem a pena, garantidamente.





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KARMABOX WITH A VIEW - FICTION FAMILY - "WHEN SHE'S NEAR"

Os Fiction Family são um duo composto por Jon Foreman e Sean Watkins e lançaram este ano o seu primeiro álbum, homónimo. Começaram agora o projecto Fiction Family mas a coisa tem claramente pernas para andar.








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KARMABOX WITH A VIEW - IRON & WINE - "BOY WITH A COIN"

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domingo, abril 05, 2009

CASAMENTOS E FUNERAIS

A pergunta foi "gostas de pessoas?". Devia ter sido "(ainda) gostas de pessoas ?". A resposta na minha cabeça foi imediatamente "não", mas obriguei-me a pensar melhor e a lembrar-me de que os melhores momentos da minha vida foram e são ainda na companhia de pessoas. Mas já não tenho a paciência e o poder de encaixe que tinha para pessoas há poucos anos. As pessoas esgotaram-se, já não têm novidade, já não surpreendem por aí além, aborrecem, a maior parte das vezes.
Esta coisa da globalização criou aquilo que supostamente era para ter exterminado, ou seja, ilhas. A quantidade absurda de informação disponibilizada, e que é a principal razão para que toda a gente saiba tudo de toda a gente, acabou por tornar as pessoas magníficas operadoras de uma tecnologia que lhes providencia tudo em nanosegundos mas em péssimas gestoras da informação recolhida. As pessoas não sabem o que fazer a tanta coisa, tanta informação, tanto detalhe, e acabam por se dedicar ao que de mais fútil existe e, em última análise, a fecharem-se cada vez mais nas suas vidas e a não serem mais do que pequenas ilhotas, algumas cheias de coisas lá dentro. E, cumprindo com a tradição, a encontrarem-se somente nos casamentos e funerais.
Somos cada vez mais egoístas, cada vez menos preocupados - realmente preocupados - com o que se passa para lá do nosso perímetro. Não nos incomodamos assim tanto com quase nada e não nos preocupamos verdadeiramente com o que nos incomoda. Não ao ponto de fazermos algo que se note. Foi Jim Morrisson quem escreveu no seu poema "Angels And Sailors" we could plan a murder or start a religion e isso sempre me pareceu um convite - relaxado e de quem não tem nada melhor para fazer - para uma revolução.
Por isso mesmo, sempre que vejo imagens na televisão de revoluções nas ruas de um qualquer país - como no caso mais recente de Londres - sinto uma vontade, quase uma necessidade, de que algo assim aconteça no nosso cantinho à beira mar plantado, esmagado entre um mar grande de mais e uma Espanha que está literalmente num futuro que nós ainda não conseguimos vislumbrar. E nunca fizemos nada para sacudir esses dois pesos e tornarmo-nos mais leves, menos cinzentos e tão, mas tão amarrados.
No máximo da utopia, era bom que o mundo todo se juntasse numa total e única revolução urbana; que saísse para as ruas, que batesse em polícias, que raptasse políticos, que provocasse o caos e a destruição dias a fio até as coisas começarem a ser mais equilibradas.
Enquanto isso não acontece, os políticos em que insistentemente me querem fazer votar, enriquecem desmesuradamente, cometem crimes de todos os tipos e feitios, vivem alegremente na hipocrisia que nós lhes permitimos, reúnem-se em cimeiras que são organizadas no sentido de «melhorar» o mundo e posam para a fotografia de grupo com o maior e mais despreocupado sorriso possível. Se essa mesma fotografia de grupo demorar dois minutos para ser realizada, então nesse tempo, enquanto os líderes mundiais sorriem e mandam piadinhas infantis entre os dentes, terão morrido 600 pessoas de fome no mundo inteiro. Essa mesma cimeira, organizada para fazer do mundo um sítio melhor, custa alguns milhões de dólares por dia, e não cumpre o propósito a que se propõe.
É um mundo do avesso, de dentro para fora, e de cima para baixo, onde são as multinacionais mais poderosas a fazer uso da merda em que se encontra o mundo para venderem o seu produto que contribui para a merda em que o mundo está.



Á pergunta se gosto de pessoas, não tenho outra resposta: sim, gosto. Mas desiludem-me todos os dias como eu me desiludo e desiludo os outros. Não há volta a dar, somos pessoas. E as multinacionais usam essa preciosidade que é a condição de se ser pessoa, e juntam-lhe a consciência que alguns têm de que isto é mesmo uma merda retorcida mas maravilhosa, para venderem o seu produto.



Dois pontos de vista para acabar e que servem para resumir tanto palavreado inútil e que têm um ponto em comum. Em 1992, Ron Fricke - director de fotografia de "Koyaanisqatsi" - realizou um magnífico documento em forma de filme que retrata de forma incrível o mundo em que vivemos e as pessoas - como nós - que o povoamos. A música "Host Of Seraphim", dos Dead Can Dance, faz parte da banda sonora desse filme, e o seu vídeo oficial segue a mesma linha estética e denunciadora de uma realidade que na maior parte das vezes nos passa mesmo à frente do nariz sem ser vista ou percebida.



PARA OS PIRATAS CIBERNÉTICOS ATENTOS


Filmes que, palpita-me, não vão passar pelas salas portuguesas...

De Sam Mendes, o realizador de "Beleza Americana" e mais recentemente de "Revolutionary Road", um road movie com todos os tiques de cinema independente, sem super-actores-estrelas e que tem muito, muito bom aspecto.




Mais um documentário - este sem hipóteses comerciais em Portugal - e que, ao que tudo indica, é do caraças. Sobre uma banda de metal chamada Anvil e que passou ao lado de uma grande carreira. Curiosamente parece-se bastante - algumas das cenas do trailer são quase decalcadas - do filme "The Wrestler".




Outro que com toda a certeza vai directamente para vídeo - se tanto - é o novo do enorme Spike Jonze. "Where The Wild Things Are" é o livro que só podia ser adaptado por Jonze. O trailer é delicioso e não acredito que seja daqueles que no fim é melhor do que o próprio filme.




De Carlos Cuarón, o argumentista de "Y Tu Mamá También", e com os mesmos actores, Gael García Bernal e Diego Luna, um filme que parecer ser uma rambóia desregrada mas que no fundo, e como todo o cinema mexicano, tem um lado sensível e bastante sério. Já estreou em Dezembro passado, ou seja, para o ver só mesmo «roubado». Ah, só foi produzido por Alfonso Cuarón, Guillermo Del Toro e Alejandro Gonzáles Iñárritu.




Por fim, e por hoje, o novo de Jim Jarmusch, com um elenco do caraças e que, como todos os outros, passa ao lado cá no burgo.

quinta-feira, abril 02, 2009

COINCIDÊNCIA DO CARAÇAS

Já não foi só hoje, mas já há uns dias me tinha apercebido e hoje voltei a pensar no assunto: há demasiados cobertores meticulosamente dobrados e arrumados nas entradas dos prédios do Porto. Incomoda ainda mais do que ver quem os usa para dormir. Infelizmente a essa imagem já nos habituámos. Vê-los tão preciosamente arrumadinhos enfia-nos um bofetão valente no focinho e faz-nos lembrar que quem os usa não é diferente de nós.
O problema é que a seguir vou-me deitar numa cama que não precisa de ser meticulosamente arrumada e me vou esquecer deles. Outra vez.

A coincidência do caraças do título resulta deste vídeo que recebi hoje e que foi o vencedor do
Tropfest em 2008. Foi filmado com um telemóvel...
Perdoa-se-lhe a música, demasiado lamechas.




LES CONCERTS À EMPORTER - ARCHITECTURE IN HELSINKI

De regresso aos micro-concertos...

Com o original para comparação.



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quarta-feira, abril 01, 2009

LOUIS PHILIPPE



O nome assusta à primeira. Os primeiros acordes fazem lembrar uma banda sonora de James Newton Howard e sossegam-nos, mas assim que entra a secção rítmica lembramo-nos daquelas musiquinhas que enchem colectâneas de versões jazzy dos maiores êxitos pop da década de 80 e que fazem as delícias dos ginasios mais na moda. Só voltamos a sossegar quando surgem as cordas e acreditamos que estamos a ouvir os bons velhos tempos dos 4Hero. E lá acabamos por gostar de "Your Life"...

Louis Phillipe é um músico e cantor francês mas que sempre trabalhou em Inglaterra, e que em 1998 lançou um álbum intiulado "Azure" que, diga-se desde já, é assim a atirar para o fracote. Esta musica, no entanto, é muito melhor do que o álbum inteiro e merece a audição.


Louis Phillipe - "Your Life"