SESSÃO DUPLA (CASEIRA)
As maravilhas da pirataria permitem coisas destas, ver dois filmes seguidinhos e sem qualquer despesa de maior.
As últimas duas noites foram passadas a ver dois filmes que tanto deram que falar e que, por razões tão diferentes, são dois dos filmes mais importantes do ano.


Para além disso, a primeira parte dessa mesma história, que serve basicamente para nos enquadrar na dura e repugnante vida dos miúdos dos bairros-de-lata de Bombaím, é excessiva também noutros detalhes, igualmente desnecessários. As imagens construídas por Danny Boyle das dificuldades e das situações porque


A segunda metade de "Slumdog Millionaire" é bem mais consistente e dispersa muito menos. É aí que começamos a perceber a real dimensão do amor entre Latika e Jamal e nos prendemos definitivamente ao ecrã (do computador, neste caso). Porque como já disse é uma história de amor belíssima, porque os actores são incríveis e porque a realidade social é abordada de uma forma menos exploratória e mais sóbria. O filme fast food torna-se subitamente num filme sério. Torna-se interessante, desenvolve-se com segurança e cresce dentro de nós.
É importante referir mais uma vez e sempre o magnífico trabalho de todos os actores. As três idades retratadas são obviamente partilhadas por três gerações de actores e todos contribuem com uma nobreza e dignidade emocionantes e realmente inspiradoras. Como se fossem mesmo as suas vidas naquele ecrã - não serão? Acaba por ser esse o ponto mais forte do filme de Danny Boyle. Um filme que podia ser um grande filme e que só não o é por culpa do seu realizador. O homem perdeu-se na tecnicidade do desnecessário, do fútil, e ao fazê-lo arrastou uma boa hora de película para um limbo de indefinição. A sensação que me acompanhou durante esses longuíssimos 60 minutos foi a de que estava a ver um teledisco, sem grande substância; um objecto meramente gráfico.
É um dos filmes mais importantes do ano, sem dúvida. Desde logo porque arrasou na cerimónia dos Oscar e porque foi, de uma forma mais ou menos consentânea, um sucesso de público. A meu ver, é importante porque, e apesar de todas as críticas menos positivas que lhe possa fazer, um objecto ímpar pela forma como foi construído e uma lição de como é possível fazer bom cinema - e ao mesmo tempo ter um monstruoso sucesso comercial - sem rostos familiares e com uma fórmula completamente nos antípodas do que se faz hoje em dia.
"Slumdog Millionaire" é um excelente filme, tenho de o admitir. Mas merecia ser «melhor» do que tantos outros na mesma corrida? Não acredito.

Darren Aronofsky aprendeu como voltar a fazer bons filmes depois do fracasso hi-tech que foi "The Fountain". Simplificou, regressou à terra e assinou um filme que é quase um documentário acerca das dores que todos sentimos. A dor de envelhecer e, mais do que isso, a dor de perceber que já não se consegue fazer aquilo que mais se ama. O filme é um constante nó na garganta e só quem aprendeu a sublimar as dores com que a vida tão atenciosamente nos presenteia, é que consegue passar por "The Wrestler" sem se emocionar à séria e sem se magoar.


Obviamente há que referir o trabalho igualmente majestoso de Marisa Tomei. Quase abafada pelo «monstro» Rourke, a actriz eternamente passada para segundo plano, conquista o seu espaço num filme que é quase um one man show. Começa timidamente, numa altura em que temos mesmo de estar atentos à movimentação (literalmente) de Randy, e acaba o filme numa explosão de energia absolutamente contangiante. Merecia, como sempre aconteceu, ser reconhecida pelo seu trabalho imaculado.
"The Wrestler" é dos mais importantes e melhores filmes do ano e exactamente pelas mesmas razões de "Gran Torino": a simplicidade, a humildade e a leveza. Não é um filme para corações fracos (também literalmente), especialmente para aqueles que aprenderam a disfarçar as suas dores e a procurar formas de lhes fugir. É o completo oposto de "Slumdog Millionaire". Retrata uma realidade terrível, verdadeira, humana, mas sem recorrer a truques de câmara, habilidades de fotografia ou efeitos especiais. É o ser humano despojado de artifícios e dolorosamente credível e a quem, com frequência, viramos a cara na rua.
A acompanhar, a excelente música que Bruce Springsteen escreveu para "The Wrestler", e que é o filme, do início ao fim.
Have you ever seen a one trick pony in the field so happy and free?
If you've ever seen a one trick pony then you've seen me
Have you ever seen a one-legged dog making its way down the street?
If you've ever seen a one-legged dog then you've seen me
Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?
Have you ever seen a scarecrow filled with nothing but dust and wheat?
If you've ever seen that scarecrow then you've seen me
Have you ever seen a one-armed man punching at nothing but the breeze?
If you've ever seen a one-armed man then you've seen me
Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?
These things that have comforted me, I drive away
This place that is my home I cannot stay
My only faith's in the broken bones and bruises I display
Have you ever seen a one-legged man trying to dance his way free?
If you've ever seen a one-legged man then you've seen me
Etiquetas: Filmes Vistos
1 Comments:
At 23:12,
pinkpoetrysoul said…
Este comentário foi removido pelo autor.
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