kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

segunda-feira, março 23, 2009

RELIGULOUS

Não deixa de ser estranho que Portugal continue teimosamente a não dar espaço comercial a um género sempre tão interessante quanto o documentário. Por outro lado, apenas os documentários assinados por aqueles que o público portugês já identifica conseguem furar essa barreira do preconceito e da burrice e chegar às salas nacionais. Enfim...

Tal é o caso de "Religulous", o documentário imaginado e elaborado pelo comediante Bill Maher, e que, de acordo com os créditos, foi realizado por Larry Charles, o mesmo de "Borat..." e de alguns episódios de "Curb Your Enthusiasm". Basta estar atento a esses mesmo créditos e ver os primeiros minutos de "Religulous" para perceber, no entanto, que o que estamos realmente a ver é um one man show de Maher, um fantástico e ácido comediante de stand up - embora a sua imagem de nice guy o contradiga - e que não faz mais do que tentar provar as teorias relacionadas com as igrejas que desenvolveu durante a sua carreira.

A coisa é divertida e perspicaz, qualidades herdadas do seu autor, com certeza, mas não acrescenta muito ao que já começa a fazer parte do senso comum. Tirando uma ou outra curiosidade que dificilmente são vistas nas nossas televisões, o filme não passa de uma montra de mentalidades e crenças que já não lembram ao diabo - tão a propósito... - e da forma absolutamente frontal e sem papas na língua como Bill Maher as confronta. Nesse sentido, a pergunta que dispara a um proprietário de uma loja de estatuária e outros bens relacionados com o cristianismo é aterradoramente a melhor prova de que existe muita ignorância envolvida nestas coisas da igreja, deus nosso senhor e os santinhos. Maher pergunta ao senhor - o proprietário da loja, não o outro - se ele acredita que quando morrer se juntará a deus e a jesus. O homem responde sem pestanejar que sim. Maher pergunta se ele considera que assim vai para um sítio melhor, e o homem novamente sem hesitar diz que sim. À terceira a pergunta só podia ser esta: "então porque não se mata?". E o documentário continua assim, com o comediante/mestre de cerimónias a atirar-se com tudo o que tem ao cristianismo em todas as suas vertentes.

Todo o documentário é brilhante não do ponto de vista da realização, da originalidade do tema ou sequer da forma como ele é abordado. A genialidade vem das próprias pessoas que defendem com unhas e dentes conceitos que, adaptados a outras histórias são eternamente considerados como ridículos ou fantasias de mentes retorcidas. Senadores que não acreditam na teoria da evolução, gordos sebosos de Porto Rico que juram ser cristo homem, ex-vocalistas de grupos soul da década de 60 que são ao mesmo tempo ex-muçulmanos e que se tornaram em reverendos que se passeiam com quilos de ouro no físico, fatos de 2000 dólares e sapatos de pele de lagarto e que ainda defendem que esses bens resultam da sua constante procura por deus e que inclusive isso está considerado na bíblia - e que ao mesmo tempo, e sem se darem conta, estão a assumir que acreditam numa coisa de que ainda andam à procura...

Por outro lado é bom ver que existem pessoas intimamente ligadas à igreja católica, de gerações bastante anteriores à minha, que acham que isto assim não vai a lado nenhum e que alguns dogmas são absolutamente conversa da treta.

"Religulous" merece a visita, mas serve principalmente para percebermos que devíamos reclamar por mais e melhores documentários.



Etiquetas: