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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, março 19, 2009

KARMABOX WITH A VIEW - DEOLINDA - "FADO CASTIGO"



O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece, solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos subúrbios da capital. Compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos discos de grafonola da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Vive com 2 gatos e um peixinho vermelho...


A audição com calma (finalmente) do álbum dos (da?) Deolinda, a grande revelação da música nacional de 2008, revelou aquilo de que já estava à espera: é um trabalho genial. Genial à séria, cheínho de músicas belíssimas, de letras ora cómicas, malandras e atrevidas, ora poéticas e muito, muito bonitas. As parecenças com Madredeus, perdoem-me os (a?) Deolinda são inevitáveis. Pelas guitarras, por alguns acordes que remetem directamente para a fase somente de cordas do grupo de Pedro Ayres de Magalhães e que nos dão sucessivos nós na garganta, e pela voz de Ana Bacalhau, que embora mais gaiteira que a de Teresa Salgueiro, aqui e ali é semelhante. Especialmente nas notas graves e nas mais agudas. Recuso terminantemente qualquer tentativa de os (a?) comparar aos Madredeus ou sequer a sugestão de que as parecenças foram intencionais. Nada disso. Este projecto é único e merece uma vida própria. Para além disso gabo a coragem de quem pega num género tão nosso mas ao mesmo tempo tão taciturno e lhe consegue dar a volta. O género que ouvimos em "Canção ao Lado", o álbum, não é fado, é música portuguesa, despretensiosa, alegre quando apetece dançar fado, e mais delicada - não cair na tentação de lhe chamar triste, se faz favor - quando apetece falar de coisas sérias de forma séria. Sim, porque mesmo as canções mais malandras e saltitonas do álbum falam de coisas sérias, note-se. Pode ser em tom jocoso, mas é isso precisamente que sabe tão bem nos (na?) Deolinda. Essa frescura solta da trela de uma indústria que já perdeu a paciência para os seus artistas e que não tem vontade de lhes dar espaço de manobra.

Foram (foi) a grande surpresa de uma música portuguesa que já há muito tempo não via assim algo tão bom e com tanta qualidade. Para além disso toda a imagem construída em torno da
Deolinda é absolutamente deliciosa e compõe o quadro de uma forma irresistível e que apetece acarinhar. A ouvir incessantemente. Sem complexos e acima de tudo com muita vontade de abanar a anca com as mãos à ilharga.



Fado Castigo

Proibissem a saudade de cantar,
Havia de ser bonito…
Entre os versos da canção mais popular,
Ai, é o dito por não dito.

E as guitarras, sob a escuta na batuta de outras modas,
Escondem no trinar das cordas o pesar.
E o poeta vigiado, forçado ao assobio,
Carpe as mágoas do destino sem mostrar.

E ao calor de uma fogueira, um amigo
Com a voz mais aquecida lá entoa:
Que a saudade mais que um crime é um castigo,
E prisão por prisão, temos Lisboa.

Proibissem a saudade, era cantar
Havia de ser bonito…
Entre os versos da canção mais popular
Ai, é o dito por não dito.

E as guitarras, sob a escuta na batuta de outras modas,
Escondem no trinar das cordas o pesar.
E o poeta vigiado, forçado ao assobio,
Carpe as mágoas do destino sem mostrar.

E ao calor de uma fogueira, um amigo
Com a voz mais aquecida lá entoa
Que a saudade mais que um crime é um castigo
E prisão por prisão, temos Lisboa.



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