DKARMATOONDESIGN
Não, ainda não é desta que me aventuro nas artes do design gráfico, fiquem descansados. Mas tive de criar um blog dedicado ao design de comunicação visual por causa das aulas dessa mesma cadeira na faculdade. O assunto é interessante - dos mais interessantes até agora - e a idéia é ter uma base onde possamos falar dos temas abordados nas aulas e expôr os trabalhos a realizar. Podem espreitar, especialmente porque brevemente terão disponíveis os links para blogs de outros colegas.
O post abaixo também está lá e é um artigo sobre um vídeo que magistralmente conjuga vários elementos da comunicação visual - linhas, cores, movimento, etc. - com o uso de palavras como objecto plástico.
Quantas são ainda as pessoas para quem um filme só começa realmente após o genérico inicial ter terminado? Quantas vezes só temos silêncio absoluto na sala de projecção após estes pouco mais de dois minutos? Dois minutos que são na verdade o início do filme e que muitas vezes nos lançam pistas sobre o que vamos ver, que nos contam a história antes ainda de algum actor aparecer no grande ecrã e que, na maior parte das vezes e se estivermos atentos, podem até revelar que afinal o assassino não é - perdoe-me a Agatha Christie - o mordomo.
O genérico inicial é a primeira aproximação ao filme que estamos a ver. São as suas primeiras imagens, os seus primeiros sons. Pode muito bem ser um objecto plasticamente diferente do que se lhe segue, mas nunca lhe é totalmente indissociável. Pode mesmo ser considerado já como um género em si - há inclusive galardões que premeiam os realizadores destes pequenos filmes-dentro-de-filmes - mas obedece sempre a uma lógica narrativa, mais do que a uma vontade ou liberdade estética.
Quem realiza um genérico inicial é por definição merecida um artista plástico. Um artista que tem de perceber a história que se quer contar e saber como abordá-la ligeiramente, sim, mas também de forma a cativar os mais empedernidos e aumentar as expectativas do público. Um bom genérico prende o público desde os seus primeiros segundos. Um genérico realmente efectivo faz o público salivar pelo que está para vir, e quantas vezes é esse mesmo genérico o responsável pela mudança de atitude de alguém que foi ao cinema contrariado? Alguém que subitamente se vê apanhado pelo isco lançado por aqueles dois minutinhos e que já não consege olhar para o lado, segredar alguma coisa ao ouvido da namorada, ou fazer barulho com as pipocas.
É claro, há filmes e realizadores que parecem não apostar nesta primeira sequência de imagens e sons. Alguns filmes não têm sequer genérico - alguns nem sequer necessitam, para dizer a verdade - outros têm-no mas meramente como decoração; uma bonita moldura com que enquadrar os nomes dos intervenientes naquela obra.
Tudo tem o seu espaço e tudo é, obviamente permitido. No entanto, prefiro mil vezes um genérico que tenha vida própria e que sirva até como curta-metragem da longa que se lhe segue, do que um objecto mortiço, cinzento e tremendamente aborrecido.
Assim é o maravilhoso genérico de "Catch Me If You Can", o filme de Steven Spielberg que em 2002 juntou Tom Hanks e Leonardo DiCaprio para nos contar a história verídica do maior burlão da história dos EUA, Frank Abagnale Jr. A pequena curta-metragem de animação realizada pela empresa Kuntzel and Deygas que dá início à história É a história. Em pouco mais de dois minutos - os tais dois minutinhos - ficamos a saber o que se passa, o que acontece, como acontece, quem é quem e faz o quê. Tudo a um ritmo endiabrado, divertido, quase infantil e que, lá está, prende imediatamente a atenção do espectador.
O trabalho é um exemplo magnífico - um dos melhores na área - de todos os elementos da comunicação visual que têm sido discutidos e tantas vezes exemplificados nas aulas. Linhas em movimento, muito rectas mas que terminam muitas vezes em palavras arredondadas e suaves, e que vão compondo estruturas, barreiras, muros, estradas e um sem número de outros objectos; manchas enormes de cores fortes mas pouco elaboradas e que servem quase como papel de parede para as movimentações dos «bonecos», toscos, simples e, como as linhas, também eles muito rectos. A juntar a isto tudo dois pormenores deliciosos, pequeninos mas significativos. Um, e tão a propósito do que se falou e viu na última aula, na passada sexta-feira, e que pode ser visto assim que surge o título do filme. Reparem no simples e tão eficaz efeito que uma das palavras sofre à passagem de um certo avião. O segundo, o nome dos realizadores do genérico, escondidos algures numa capa de arquivo...
Tudo isto acompanhado por (mais) uma composição brlhante de John Williams, um dos mais fieis parceiros de Spielberg e um dos maiores compositores de música ao serviço do cinema de sempre. Ao contrário daquilo a que já nos acostumou, Williams optou não por uma partitura sinfónica mas sim por pequenas peças facilmente associadas a um certo tipo de Jazz da década de 60. A banda sonora espelha bem o conteúdo do filme e, acima de tudo, a forma escolhida pelo realizador para nos contar a história de Abagnale Jr. Assim, as músicas são divertidas mas inspiram também um certo mistério; ouvimo-las e rapidamente criamos no nosso imaginário a imagem de alguém inteligente, manhoso e muito, muito ardiloso. As bandas sonoras, como os genéricos iniciais, têm também esta particularidade: têm de ser indissociáveis do objecto imagem e com ele construir um todo, lógico e coerente. Mas este é um tema que por si só merecia um artigo inteirinho.
Esta música em particular é absolutamente irresistível. Possui um ritmo incrível, bem «dedilhado», quase mecanizado e que inclusive me está, precisamente neste momento, a fazer escrever mais rápido este artigo. Como todas as trilhas sonoras de John Williams, é o acompanhamento perfeito para as imagens de Spielberg; o "mais qualquer coisa" que as transforma em algo harmonioso e que nos permite, como referi no início deste artigo, ficar agarrado ao ecrã sem conseguir desviar os olhos, segredar algo ao ouvido da namorada ou fazer barulho com as pipocas - embora eu aprecie mais uma boa dose de nachos.
O post abaixo também está lá e é um artigo sobre um vídeo que magistralmente conjuga vários elementos da comunicação visual - linhas, cores, movimento, etc. - com o uso de palavras como objecto plástico.
Quantas são ainda as pessoas para quem um filme só começa realmente após o genérico inicial ter terminado? Quantas vezes só temos silêncio absoluto na sala de projecção após estes pouco mais de dois minutos? Dois minutos que são na verdade o início do filme e que muitas vezes nos lançam pistas sobre o que vamos ver, que nos contam a história antes ainda de algum actor aparecer no grande ecrã e que, na maior parte das vezes e se estivermos atentos, podem até revelar que afinal o assassino não é - perdoe-me a Agatha Christie - o mordomo.
O genérico inicial é a primeira aproximação ao filme que estamos a ver. São as suas primeiras imagens, os seus primeiros sons. Pode muito bem ser um objecto plasticamente diferente do que se lhe segue, mas nunca lhe é totalmente indissociável. Pode mesmo ser considerado já como um género em si - há inclusive galardões que premeiam os realizadores destes pequenos filmes-dentro-de-filmes - mas obedece sempre a uma lógica narrativa, mais do que a uma vontade ou liberdade estética.
Quem realiza um genérico inicial é por definição merecida um artista plástico. Um artista que tem de perceber a história que se quer contar e saber como abordá-la ligeiramente, sim, mas também de forma a cativar os mais empedernidos e aumentar as expectativas do público. Um bom genérico prende o público desde os seus primeiros segundos. Um genérico realmente efectivo faz o público salivar pelo que está para vir, e quantas vezes é esse mesmo genérico o responsável pela mudança de atitude de alguém que foi ao cinema contrariado? Alguém que subitamente se vê apanhado pelo isco lançado por aqueles dois minutinhos e que já não consege olhar para o lado, segredar alguma coisa ao ouvido da namorada, ou fazer barulho com as pipocas.
É claro, há filmes e realizadores que parecem não apostar nesta primeira sequência de imagens e sons. Alguns filmes não têm sequer genérico - alguns nem sequer necessitam, para dizer a verdade - outros têm-no mas meramente como decoração; uma bonita moldura com que enquadrar os nomes dos intervenientes naquela obra.
Tudo tem o seu espaço e tudo é, obviamente permitido. No entanto, prefiro mil vezes um genérico que tenha vida própria e que sirva até como curta-metragem da longa que se lhe segue, do que um objecto mortiço, cinzento e tremendamente aborrecido.
Assim é o maravilhoso genérico de "Catch Me If You Can", o filme de Steven Spielberg que em 2002 juntou Tom Hanks e Leonardo DiCaprio para nos contar a história verídica do maior burlão da história dos EUA, Frank Abagnale Jr. A pequena curta-metragem de animação realizada pela empresa Kuntzel and Deygas que dá início à história É a história. Em pouco mais de dois minutos - os tais dois minutinhos - ficamos a saber o que se passa, o que acontece, como acontece, quem é quem e faz o quê. Tudo a um ritmo endiabrado, divertido, quase infantil e que, lá está, prende imediatamente a atenção do espectador.
O trabalho é um exemplo magnífico - um dos melhores na área - de todos os elementos da comunicação visual que têm sido discutidos e tantas vezes exemplificados nas aulas. Linhas em movimento, muito rectas mas que terminam muitas vezes em palavras arredondadas e suaves, e que vão compondo estruturas, barreiras, muros, estradas e um sem número de outros objectos; manchas enormes de cores fortes mas pouco elaboradas e que servem quase como papel de parede para as movimentações dos «bonecos», toscos, simples e, como as linhas, também eles muito rectos. A juntar a isto tudo dois pormenores deliciosos, pequeninos mas significativos. Um, e tão a propósito do que se falou e viu na última aula, na passada sexta-feira, e que pode ser visto assim que surge o título do filme. Reparem no simples e tão eficaz efeito que uma das palavras sofre à passagem de um certo avião. O segundo, o nome dos realizadores do genérico, escondidos algures numa capa de arquivo...
Tudo isto acompanhado por (mais) uma composição brlhante de John Williams, um dos mais fieis parceiros de Spielberg e um dos maiores compositores de música ao serviço do cinema de sempre. Ao contrário daquilo a que já nos acostumou, Williams optou não por uma partitura sinfónica mas sim por pequenas peças facilmente associadas a um certo tipo de Jazz da década de 60. A banda sonora espelha bem o conteúdo do filme e, acima de tudo, a forma escolhida pelo realizador para nos contar a história de Abagnale Jr. Assim, as músicas são divertidas mas inspiram também um certo mistério; ouvimo-las e rapidamente criamos no nosso imaginário a imagem de alguém inteligente, manhoso e muito, muito ardiloso. As bandas sonoras, como os genéricos iniciais, têm também esta particularidade: têm de ser indissociáveis do objecto imagem e com ele construir um todo, lógico e coerente. Mas este é um tema que por si só merecia um artigo inteirinho.
Esta música em particular é absolutamente irresistível. Possui um ritmo incrível, bem «dedilhado», quase mecanizado e que inclusive me está, precisamente neste momento, a fazer escrever mais rápido este artigo. Como todas as trilhas sonoras de John Williams, é o acompanhamento perfeito para as imagens de Spielberg; o "mais qualquer coisa" que as transforma em algo harmonioso e que nos permite, como referi no início deste artigo, ficar agarrado ao ecrã sem conseguir desviar os olhos, segredar algo ao ouvido da namorada ou fazer barulho com as pipocas - embora eu aprecie mais uma boa dose de nachos.
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