WATCHMEN
(A dada altura este post vai ter um forte elemento em comum com o anterior, dedicado ao filme "Coraline e a Porta Secreta")
O que é que se pode esperar de um filme de super-heróis que tem como música do genérico "Times They Are a Changing", de Bob Dylan? Que obviamente não será um filme de super-heróis como outro qualquer. E "Watchmen" nunca o poderia ser. Não porque a banda desenhada em que se baseou não é uma banda desenhada como outra qualquer. Porque foi considerada por muitos como a melhor de sempre e tida pela Times Magazine como um dos 100 melhores livros alguma vez escritos. Ou seja, o ponto de partida era o melhor possível mas também o de herança mais pesada. Por isso mesmo é que nunca ninguém se tinha atrevido a tentar sequer uma aproximação ao universo de Alan Moore. E porque Moore nunca tinha permitido essa aproximação.
Moore, autor com tiques de excentricidade, foi o criador de Constantine e de "V For Vendetta", heróis e histórias nada convencionais e nada consentâneos com o espírito dos gigantes Marvel e DC Comics. Moore sempre foi contra as adaptações das suas obras para o grande ecrã. O seu nome nunca aparece nos créditos e mesmo as últimas edições de "Watchmen" não apresentam o nome do seu principal autor, por vontade expressa do próprio e em resultado do contracto pouco abonatório que Moore e Dave Gibbons (o desenhador) assinaram com a editora.
Alan Moore é conhecido por ser absurdamente minucioso, e a sua obra-prima, "Watchmen", é talvez o exemplo máximo dessa característica. Zack Snyder,o realizador deste filme fez justiça à banda desenhada, e teve a coragem de contar a história - uma história complexa e mastodôntica - com todo o tempo do mundo; dando atenção a todos os pormenores, filmando cada sequência numa série inacreditável de planos. Para além disso, "Watchmen", o filme, é um dos maiores trabalhos de design de produção dos últimos tempos. Os cenários, pormenorizados até ao milímetro, o guarda-roupa, todos os objectos utilizados e não utilizados - este deve ser o filme com mais «figurantes» inanimados do cinema no século XXI. A banda sonora, já agora, é um prodígio, um verdadeiro épico que aqui e ali cheira bastante a Phillip Glass e que nos mantém a respiração presa na gargantinha em muitos momentos . e que podem ouvir no trailer ali em baixo. Para além de que inclui alguns dos melhores sucessos das décadas de setenta e oitenta - outro pormenor longínquo dos habituais filmes de super-heróis (já me estou a repetir).
Para além disso o argumento - com todas as suas obrigatórias reviravoltas e diferenças em relação ao trabalho original - está maravilhosamente bem escrito; é adulto, nada imberbe como já vem sendo habitual neste tipo de filmografia, e tem mesmo momentos de uma qualidade dramatúrgica arrepiante. Os actores não são meros bonecos - outra característica do cinema baseado em heróis da banda desenhada - e levam a coisa bem a sério. Billy Crudup (Dr. Manhattan), Jeffrey Dean Morgan (The Comedian) e até um secundaríssimo como Matt Frewer (Moloch), dão um realismo impressionante a personagens que poderiam facilmente cair na caricvatura. No entanto, o destaque mais do que obrigatório vai para para um actor que já provou ser talhado para personagens densas, intensas e com uma forte carga dramática, Jackie Earle Haley. Nomeado para o Oscar de actor secundário pelo papel de um atormentado pedófilo em "Little Children", Haley recria um Rorschach sempre pronto a explodir, pleno de energia refreada (mas nem sempre). A sua interpretação é mais um daqueles elementos estranhos a este tipo de cinema. Algo que só havia sido visto em "The Dark Night" e pela mão de Heath Ledger.
Aliás, as comparações entre "Watchmen" e a mais recente aventura de Batman e companhia não se ficam por aqui. A seriedade, a escuridão (negra, pesada), e a forma adulta como o filme é filmado e a história contada, fazem de "Watchmen" mais um exemplo de como estas coisas das bandas desenhadas e dos super-heróis em collants podem muito bem ser direccionadas para um público mais crescido e apreciador de muito mais do que umas cenas de pancadaria, gajos a saltar pelos telhados de Nova Iorque e extraterrestres com uma vontade incontrolável de destruir o planeta. Pena que mais nenhum realizador tenha tido a vontade de o fazer com heróis muito mais densos nas páginas das revistas, como o Homem-Aranha e o Super-Homem.
Zack Snyder, o responsável por outra adaptação de luxo de mais uma banda desenhada considerada impossível de levar ao grande ecrã, "300", fez um trabalho digno de um relojoeiro - analogia nada inocente, como poderão comprovar ao irem ver o filme - com um detalhe assutador, com a mestria de um realizador muito mais experiente do que de facto é, e com a aparente certeza daquilo que queria ver na tela. Passou com honra por cima de todos os problemas de produção originados pela luta nos tribunais entre as duas produtoras que queriam ser donas e senhora do seu trabalho, e dá ao mundo um filme que é muito mais do que aparenta. E relembro: é preciso haver mais realizadores com esta coragem de levar o tempo necessário para contar uma história, seja num filme de super-heróis ou não; realizadores que ensinem novas e fantásticas formas de filmar sequências de acção como as que podemos ver em "Watchemn" e que nos mantêm bem presos à cadeira.
Posto isto, só peço que entreguem todos os filmes baseados em bandas-desenhadas a este homem. Especialmente por ter ficado a saber que tinha sido Snyder o escolhido para levar ao cinema o filme que conta a origem de uma das melhores personagens da Marvel, Wolverine. À última da hora o tipo esquivou-se de modo a não perder a concentração neste seu hercúleo trabalho. Fez bem. Quem perdeu, definitivamente, foi Wolverine e Hugh Jackman, já que o filme "X-Men Origins: Wolverine" acabou por ser entregue a Gavin Hood, um mero tarefeiro que tem no seu currículo coisas do calibre de um "American Kickboxer" ou de um "Operation Delta Force 2: Mayday" e de alguns episódios da série Stargate...
Agora o tal elemento em comum como o post dedicado a "Coraline...":
Vou tratar de fazer uma petição para que seja entregue a Zack Snyder a transposição para cinema de uma das maiores obras de ficção da história moderna e que tão mal tratada foi pela televisão inglesa - a série a que deu origem pode ser vista no You Tube e é bastante fraquinha. Falo do livro também de Neil Gaiman, "Neverwhere" e que só poderá ser adaptado por alguém com a visão e a capacidade de recriação de Snyder. Mais nada!
O que é que se pode esperar de um filme de super-heróis que tem como música do genérico "Times They Are a Changing", de Bob Dylan? Que obviamente não será um filme de super-heróis como outro qualquer. E "Watchmen" nunca o poderia ser. Não porque a banda desenhada em que se baseou não é uma banda desenhada como outra qualquer. Porque foi considerada por muitos como a melhor de sempre e tida pela Times Magazine como um dos 100 melhores livros alguma vez escritos. Ou seja, o ponto de partida era o melhor possível mas também o de herança mais pesada. Por isso mesmo é que nunca ninguém se tinha atrevido a tentar sequer uma aproximação ao universo de Alan Moore. E porque Moore nunca tinha permitido essa aproximação.
Moore, autor com tiques de excentricidade, foi o criador de Constantine e de "V For Vendetta", heróis e histórias nada convencionais e nada consentâneos com o espírito dos gigantes Marvel e DC Comics. Moore sempre foi contra as adaptações das suas obras para o grande ecrã. O seu nome nunca aparece nos créditos e mesmo as últimas edições de "Watchmen" não apresentam o nome do seu principal autor, por vontade expressa do próprio e em resultado do contracto pouco abonatório que Moore e Dave Gibbons (o desenhador) assinaram com a editora.
Alan Moore é conhecido por ser absurdamente minucioso, e a sua obra-prima, "Watchmen", é talvez o exemplo máximo dessa característica. Zack Snyder,o realizador deste filme fez justiça à banda desenhada, e teve a coragem de contar a história - uma história complexa e mastodôntica - com todo o tempo do mundo; dando atenção a todos os pormenores, filmando cada sequência numa série inacreditável de planos. Para além disso, "Watchmen", o filme, é um dos maiores trabalhos de design de produção dos últimos tempos. Os cenários, pormenorizados até ao milímetro, o guarda-roupa, todos os objectos utilizados e não utilizados - este deve ser o filme com mais «figurantes» inanimados do cinema no século XXI. A banda sonora, já agora, é um prodígio, um verdadeiro épico que aqui e ali cheira bastante a Phillip Glass e que nos mantém a respiração presa na gargantinha em muitos momentos . e que podem ouvir no trailer ali em baixo. Para além de que inclui alguns dos melhores sucessos das décadas de setenta e oitenta - outro pormenor longínquo dos habituais filmes de super-heróis (já me estou a repetir).
Para além disso o argumento - com todas as suas obrigatórias reviravoltas e diferenças em relação ao trabalho original - está maravilhosamente bem escrito; é adulto, nada imberbe como já vem sendo habitual neste tipo de filmografia, e tem mesmo momentos de uma qualidade dramatúrgica arrepiante. Os actores não são meros bonecos - outra característica do cinema baseado em heróis da banda desenhada - e levam a coisa bem a sério. Billy Crudup (Dr. Manhattan), Jeffrey Dean Morgan (The Comedian) e até um secundaríssimo como Matt Frewer (Moloch), dão um realismo impressionante a personagens que poderiam facilmente cair na caricvatura. No entanto, o destaque mais do que obrigatório vai para para um actor que já provou ser talhado para personagens densas, intensas e com uma forte carga dramática, Jackie Earle Haley. Nomeado para o Oscar de actor secundário pelo papel de um atormentado pedófilo em "Little Children", Haley recria um Rorschach sempre pronto a explodir, pleno de energia refreada (mas nem sempre). A sua interpretação é mais um daqueles elementos estranhos a este tipo de cinema. Algo que só havia sido visto em "The Dark Night" e pela mão de Heath Ledger.
Aliás, as comparações entre "Watchmen" e a mais recente aventura de Batman e companhia não se ficam por aqui. A seriedade, a escuridão (negra, pesada), e a forma adulta como o filme é filmado e a história contada, fazem de "Watchmen" mais um exemplo de como estas coisas das bandas desenhadas e dos super-heróis em collants podem muito bem ser direccionadas para um público mais crescido e apreciador de muito mais do que umas cenas de pancadaria, gajos a saltar pelos telhados de Nova Iorque e extraterrestres com uma vontade incontrolável de destruir o planeta. Pena que mais nenhum realizador tenha tido a vontade de o fazer com heróis muito mais densos nas páginas das revistas, como o Homem-Aranha e o Super-Homem.
Zack Snyder, o responsável por outra adaptação de luxo de mais uma banda desenhada considerada impossível de levar ao grande ecrã, "300", fez um trabalho digno de um relojoeiro - analogia nada inocente, como poderão comprovar ao irem ver o filme - com um detalhe assutador, com a mestria de um realizador muito mais experiente do que de facto é, e com a aparente certeza daquilo que queria ver na tela. Passou com honra por cima de todos os problemas de produção originados pela luta nos tribunais entre as duas produtoras que queriam ser donas e senhora do seu trabalho, e dá ao mundo um filme que é muito mais do que aparenta. E relembro: é preciso haver mais realizadores com esta coragem de levar o tempo necessário para contar uma história, seja num filme de super-heróis ou não; realizadores que ensinem novas e fantásticas formas de filmar sequências de acção como as que podemos ver em "Watchemn" e que nos mantêm bem presos à cadeira.
Posto isto, só peço que entreguem todos os filmes baseados em bandas-desenhadas a este homem. Especialmente por ter ficado a saber que tinha sido Snyder o escolhido para levar ao cinema o filme que conta a origem de uma das melhores personagens da Marvel, Wolverine. À última da hora o tipo esquivou-se de modo a não perder a concentração neste seu hercúleo trabalho. Fez bem. Quem perdeu, definitivamente, foi Wolverine e Hugh Jackman, já que o filme "X-Men Origins: Wolverine" acabou por ser entregue a Gavin Hood, um mero tarefeiro que tem no seu currículo coisas do calibre de um "American Kickboxer" ou de um "Operation Delta Force 2: Mayday" e de alguns episódios da série Stargate...
Agora o tal elemento em comum como o post dedicado a "Coraline...":
Vou tratar de fazer uma petição para que seja entregue a Zack Snyder a transposição para cinema de uma das maiores obras de ficção da história moderna e que tão mal tratada foi pela televisão inglesa - a série a que deu origem pode ser vista no You Tube e é bastante fraquinha. Falo do livro também de Neil Gaiman, "Neverwhere" e que só poderá ser adaptado por alguém com a visão e a capacidade de recriação de Snyder. Mais nada!
Etiquetas: Filmes Vistos
1 Comments:
At 20:36, pinkpoetrysoul said…
Adoro o livre "Neverwhere" =D
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