NO COUNTRY FOR OLD MAN

O comentário que se segue é um chavão por si só. Tudo o que já se disse acerca de "No Country For Old Man" estava absolutamente correcto. Que é um western fabuloso. Que é provavelmente o melhor filme dos Coen - só ameaçado, na minha opinião pelo igualmente magistral "Miller's Crossing". Que tudo no filme é bom, sem direito a dúvidas. Que a interpretação de Javier Bardem é descomunal. A única coisa que não se disse - pelo menos não de forma clara - é que todas as restantes interpretações são descomunais. A de Tommy Lee Jones e a de Josh Brolin.



Garanto-vos: "No Country For Old Man" ocuparia neste blog o espaço equivalente a mil posts, tal é a quantidade de informação que transmite. Não parece. O ritmo e a lentidão calma com que a história nos é contada, disfarçam a real dimensão da mensagem nele contida. Os poucos diálogos e o silêncio imenso que ocupa a maior parte da sua duração - silêncio que se faz sentir mesmo quando existem diálogos -, acabam por transmitir muito mais do que muitos filmes feitos de paleio. Nesse aspecto, todos os actores são, mais uma vez, irrepreensíveis.
O filme mereceu todos os Oscars que conquistou, disso não há dúvidas, mas havia um outro que merecia muito mais. Chama-se "Ratatui" e dele falarei no post seguinte.
Para resumir, "No Country For Old Man" é um filme feito daquele silêncio do deserto em que Llewelyn Moss encontra uma mala cheia de dinheiro, e que vai defenir o resto da sua vida. É o silêncio que acompanha Shigurh sempre que se aproxima do mesmo Moss - ou seja, é o silêncio da morte certa. Porque Moss não foge de Chigurh, foge da morte feita homem desajeitado e enganadoramente tosco.
O filme tem uma reviravolta súbita e que nos deixa durante alguns minutos um bocado à nora, tentando perceber se fomos enganados pelos Coen ou se de facto aconteceu o que mais se temia e adivinhava. Portanto, essa reviravolta não é por si só uma surpresa, a forma como ela nos é apresentada é que nos desarma por completo. Sem aviso prévio, do nada, os realizadores decidem «oficializar» o que o espectador estava sinceramente à espera que nao acontecesse. É nesse momento que nos damos conta de que não estávamos a ver um filme sobre um pobre desgraçado que encontra uma mala com dois milhões de dólares, mas sim sobre o mundo doentio e totalmente fodido que o xerife Bell não compreende. Um mundo que existe para lá do deserto onde ele cresceu. O deserto que Bell contempla da janela da casa de um amigo, uma das melhores sequências do filme e que mostra bem o que se deve sentir enquanto se olha para um passado que já não está lá.
Etiquetas: Filmes Vistos
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home