
Há coisas, muitas coisas, que já não fazem sentido no Fantasporto.
E para melhor explicar esta situação, é necessário recuar até 1992, ano em que o Fantas deixou de ser somente um festival de cinema fantástico e de terror, para passar a ser um "festival generalista". Até então o certame dedicava-se a 100% a esses dois géneros (complementares) e com elevado grau de sucesso, tendo sido mesmo considerado, por algumas publicações dedicadas ao mundo da sétima arte, como um dos melhores festivais de cinema do mundo. Em 92 as portas abriram-se a outros géneros, nomeadamente através de uma secção competitiva nova, chamada de "Novos Realizadores", e que somente aceitava trabalhos de jovens realizadores que não tivessem no seu currículo mais do que dois filmes. Por isso mesmo chegavam até nós obras vindas directamente de Sundance e do festival de Chicago, dois certames que dedicam o seu tempo de antena a um estilo de cinema mais independente e desconhecido do público português. Algures entre 92 e as últimas edições do Fantas a coisa diluíu-se, e o que existe hoje em dia é uma secção competitiva intitulada "Semana dos Realizadores", ou seja, tudo o que não é fantástico e/ou terror.
A juntar a isto, a secção de cinema oriental para o qual, honestamente, já muito poucos têm paciência. O universo asiático é manifestamente curto, e os filmes acabam por parecer todos iguais, as bandas sonoras todas iguais, a fotografia, as interpretações e tudo o resto demasiado iguais e o resultado é, regra geral, uma tremenda e arrastada seca.
Portanto, temos um festival de cinema que se diz generalista, e que renuncia ao seu passado de sangue, tripas e saltos na cadeira, mas que atribui todos os anos o prémio máximo a um filme de fantástico e/ou terror. Estranho...
Seja como for, a colheita deste ano foi razoável a fugir para o bom - excepção feita ao cinema asiático -, pelo que não nos podemos chatear lá muito.
O que chateia, como sempre, são os prémios, que acabam sempre por reflectir também a pouca variedade de filmografias presentes. Temos cinema espanhol, asiático e nórdico a dar com um pau, e falham outras nacionalidades, nomeadamente da américa do Sul, França, Itália, Canadá e isto só para nomear alguns países que nos costumavam trazer sempre boas surpresas. Algo nesta salada de frutas em que o Fantasporto se tornou cheira mal, e tenho cá para mim que é a entrega da variedade dos filmes a concurso a algumas distribuidoras, nomeadamente de Espanha.
Mas este ano o Fantas teve um sabor especial. O convívio habitual nos corredores e no bar de serviço soube ainda mais à nostalgia de outros tempos. A presença de alguns amigos de sempre - especialmente do Zé e do Menezes - e a companhia mais assídua da Bárbara, tornaram estes quinze dias ainda mais espectaculares.
Quanto aos prémios, depois deixo aqui mais um post, devidamente comentado. Para já um prémio de que ninguém falou ou falaria, mas que merece bem o destaque.
O Prémio Para o Melhor Desenho do Placard Do Público do Fantas - Zé Carlos, por "No Country For Old Queers", uma sentida e sincera homenagem a esse monte que é José Carlos Malato.
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