kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sexta-feira, setembro 30, 2011

HINOS - UNDER PRESSURE


Só tinha oito anos quando este música foi lançada, o que fez com que só a conhecesse uns bons anos mais tarde. Por estes dias, e por razões que não são para aqui chamadas, tem sido uma presença diária nas minhas listas de músicas em loop. Porque é de facto obrigatória; porque de uma forma que até eu acho estranha sempre me comoveu; e porque hoje em dia, mais do que nunca, faz todo o sentido. A letra e o vídeo - especialmente o vídeo - estão agora tão actuais como há trinta anos. Quase como uma premonição com três décadas.


Pressure pushing down on me
Pressing down on you no man ask for
Under pressure - that burns a building down
Splits a family in two
Puts people on streets



O MIGUEL SOUSA TAVARES É UMA BESTA

E não é uma besta por defender as touradas. É uma besta, enorme besta ignorante, por usar argumentos que nem uma criança de cinco anos utilizaria para as defender. Coisas tão estúpidas como dizer que se acabarem as touradas o touro inevitavelmente extingue-se porque ninguém o vai querer criar. Coisas tão inacreditáveis como comparar as touradas aos combates de boxe ou às corridas de automóveis ou, pior ainda, achar que a Casa dos Segredos é mais degradante que a arte tauromáquica. Coisas tão burras como justificar a manutenção da tradição das touradas em Espanha porque pintores como Goya ou Dali já lhe dedicaram telas e tintas. Sinceramente? Nem parece de uma pessoa aparentemente inteligente e com opinião (do nosso agrado ou não) habitualmente bem formada.

As touradas são um espectáculo degradante por duas muito simples razões: são uma actividade económica que gira em torno do sofrimento de um animal e desrespeitam a declaração dos direitos dos animais aprovada pela UNESCO em 1978 e que, entre outras coisas apresenta as seguintes indicações:

"nenhum animal deve ser submetido a maus-tratos ou a actos cruéis", (artº 3º), ou "explorado para DIVERTIMENTO DO HOMEM" (artº 10º), e "as cenas de violência de que os animais são VÍTIMAS devem ser INTERDITAS no cinema e NA TELEVISÃO" (artº 13º).

Tudo isto diz respeito (também) às touradas, ou eu estou a ver mal este assunto? Vamos por partes: actos crueis e maus-tratos a animais? Confirma. Animais explorados para divertimento do homem? Confirma. Cenas em que animais são vítimas de violência interditas na televisão? Não confirma. E não confirma porque, e como já aqui disse em outras alturas, temos dois canais de televisão que promovem corridas de touros, a TVI e a RTP.

E isto tudo na semana em que, e como já devem ter percebido, a Catalunha organizou a sua última corrida de touros. Para sempre. A última. Isto tudo no dia seguinte a mais uma corrida de touros RTP em que o primeiro ferro espetado pelo primeiro cavaleiro no lombo do touro, deixou à vista uma bandeira com o logótipo do canal do Estado. Canal do Estado que usa dinheiro do Estado para patrocinar o tal espectáculo em que animais são vítimas de maus-tratos e crueldade e violência. Tudo isto perante a nossa placidez e complacência. Tudo isto em nome da tradição e porque Goya até pintou quadros.

E eu não tenho como não me rir da estupidez dos que ainda argumentam em favor da continuidade das touradas. Dos que dizem que os animais não sofrem. Dos que dizem que os touros até foram criados para aquilo - como se fossem resultado de um trabalho de laboratório. Rio-me e espero pelo dia em que algum governo português tenha a coragem de assumir o fim de um alarvidade só comparável aos argumentos de Miguel Sousa Tavares.


quarta-feira, setembro 28, 2011

HINOS - ROAD TO NOWHERE

A minha história de amor com os Talking Heads começou em 1985, tinha eu uns pequeninos doze anos, numa festa na escola secundária - no ginásio da escola, mais precisamente e como em todos os filmes americanos que se prezem - e com esta música, o hino absoluto da banda de David Byrne, tema incontornável da década de oitenta.
Lembro-me como, no meio de todas as músicas da pop mais aguerrida, dominada à altura por bandas britânicas - U2, Simple Minds, The Cure, The Smiths e outras - a canção dos americaníssimos Talking Heads foi a única capaz de me tirar do chão para, até hoje, não conseguir parar de saltar sempre que a ouço.
Ao mesmo tempo, "Road to Nowhere" é um exemplo quase arqueológico do uso da imagem na década de oitenta, de como os telediscos (hoje videoclips) eram quase surrealistas mas plenos de mensagens sociais - algo a que, aliás, David Byrne nunca virou a cara - e de como a originalidade presente desde muito cedo na carreira dos Talking Heads, fez deles uma banda sem género, única, irrepetível, impossível de copiar ou de homenagear e, consequentemente, sem seguidores à altura.
É um monstro eterno da história da pop, criada por um gigante Byrne, indiscutivelmente um dos melhores e mais influentes músicos de sempre, e que à força da reciclagem dos problemas da humanidade, está hoje tão actual como há mais de vinte anos.

They can tell you what to do
But they'll make a fool of you
And it's all right, baby, it's all right
We're on a road to nowhere

segunda-feira, setembro 26, 2011

"O AMOR É FODIDO"

Para os que não sabem, o título deste artigo é uma apropriação de um outro, de um livro de Miguel Esteves Cardoso e, provavelmente, a coisa mais acertada que o dito cronista escreveu. Não que eu desdenhe da escrita e das opiniões de MEC, muito pelo contrário. Posso não concordar com tudo o que diz, mas admiro o seu raciocínio e o seu poder de observação. E por isso mesmo me lembrei desta frase para título de um texto que fala disso mesmo, do amor ser fodido.

Porque o amor é todos os clichés históricos que lhe são dedicados mas é também muitos mais que não abonam nada em seu favor. É um pau de dois bicos, uma prenda envenenada, uma bomba relógio. É um potenciador de inseguranças, de medos, desconfianças e, imagine-se, de mais clichés, estes de género. Um homem apaixonado pensa sempre que a mulher se vai comportar desta ou aquela forma; uma mulher apaixonada acredita sempre que o homem se vai comportar, mais cedo ou mais tarde, como os pais lhe ensinaram. Que lhe vai fazer alguma, que a vai desiludir, que vai ser aquilo para que ela sempre foi avisada, prevenida, alertada. Pavlov não faria melhor que a tradição das relações entre homens e mulheres – esse objecto social congelado e conservado, aparentemente imutável, por muitas revistas da especialidade que possamos ler e que tão bem nos aconselham. Revistas que nos dizem, mês após mês, como ser mesmo bom no sexo oral - que inclusive enumeram os dez passos para um cunilingus ou felatio absolutamente vencedores - que nos fazem acreditar que velas, pétalas de rosa no banho e incenso ainda são a garantia de uma noite romântica, que os alimentos afrodisíacos resultam mesmo e que as mulheres apreciam mesmo homens românticos capazes de acreditar nestas baboseiras.

Porque tudo isto perde por goleada contra os males de amor, que são bem mais do que as dores de amar, quer se seja retribuído nesse amor ou não, e que são as tais certezas acima referidas. Porque, e sejamos sinceros, todas as pessoas no mundo sofrem destas coisas, com mais ou menos gravidade. A verdadeira questão é que raramente falam nelas, muito menos com o (a) parceiro (a), e deixam-se consumir por estes medos mais ou menos racionais, mais ou menos emocionais, mais ou menos emotivos e cedem à tradição secular de acreditar, esperar, que tudo o que está previsto pelos seus antecessores vai mesmo suceder. E é aqui que entra o Pavlov novamente. Somos condicionados por aquilo em que acreditamos, muitas das vezes, mais do que acreditamos no que sentimos. Aliás, muito frequentemente, esquecemos o que sentimos para só nos lembrarmos de tudo o que pode correr mal numa ralação, como se necessitássemos de nos tratar mal, de nos pôr à prova, de nos angustiarmos. É uma campainha lixada, esta, que nos deixa a salivar mas de incerteza ou, para ser mais correcto, de falsa certeza.

Desse ponto de vista – chamem-lhe clássico, tradicional, mítico – o homem será sempre objecto de desconfiança, capaz de atrocidades emocionais como o relaxamento, a falta de atenção, o comodismo e, claro está, a traição. Porque um homem não pode ver um rabo, de saia ou de calças, é indiferente, que logo sai a correr atrás dele para, como cabeça de veado na parede da sala, o ter na sua lista de troféus. É isto tão certo como todos os homens gostarem de futebol, certo? E é por isto que os homens se tornaram, gradualmente, em criaturas inseguras, com medo de que a própria sombra lhes roube a fêmea, desconfiados de tudo o que mexe, até da sogra, especialmente da sogra, particularmente da sopa da sogra, dos conselhos da sogra, da experiência de vida da sogra. É por isto que o homem acreditou que podia ser lamechas, piegas e ridiculamente romântico; porque se convenceu de que seria bem aceite pelas mulheres, porque leu demasiadas revistas femininas sentado na retrete. Acabou por perceber que afinal não seria mais do que somente ridículo, alvo do sorriso trocista e irritantemente maternal das mulheres e tão “minha nossa senhora, que pegajoso”. Que afinal essas revistas não são mais do que aproximações foleiras ao universo das novelas de bolso e ao imaginário feminino onde todos os homens são capatazes de tronco despido, suados mas sem cheirar a suor, de mãos largas e fortes, mas nunca ásperas do trabalho, e dentes impecavelmente brancos, hálito fresco como a madrugada. Percebeu o homem que esse imaginário existe, sim, mas não na vida real do dia-a-dia emocional das mulheres. É por isto que hoje em dia o termo pinga-amor tem outro significado bem diferente do antigamente e é agora ainda menos abonatório. Agora o pinga-amor é um homem insuportavelmente meloso, só admissível nos livros escritos para gajas - os Nicholas Sparks da literatura - ou nas séries de televisão - os big de Upper East Side que vão a Paris atrás da mulher amada.

Triste homem, ingénuo homem, que acreditou piamente que este era o caminho para mudar a imagem do homem-tipo, para fugir à inevitabilidade comportamental da sua raça, raça de homem! incapaz de transmitir segurança a quem o ama.

E no entanto, tudo o que está aqui escrito não é mais do que eu a cometer o mesmo erro, ou seja, a acreditar piamente no que penso; a torná-lo universal, transversal a todas as mulheres, esquecendo-me de que existem excepções à regra ou vice-versa. Isto sou eu, lamechas assumido, a exorcizar a minha experiência, a acalmar e calar os cadáveres que trago às costas e a explicar a mim mesmo porque me arrependo de muitas das coisas em que já acreditei – ou acredito, sei lá eu. Tudo isto podia muito bem ser porque desprezo o efeito Nicholas Sparks e porque faria exactamente o que fez o big e tantos outros heróis românticos do cinema, ou porque simplesmente já o fiz e muitas das vezes para nada, na verdade, para nem sequer ser notado ou muito menos para perceberem que o tinha feito e com que intenção ou ainda para ser mal interpretado. Tudo isto sou eu a admitir que também sou o homem que naturalmente leu demasiadas revistas femininas na retrete quando devia ter lido as bulas dos medicamentos e que hoje quer tudo menos ser piegas, ridiculamente lamechas, pegajosamente pinga-amor (na nova versão) e que provavelmente deveria ser diferente, mais próximo do homem que todas as mulheres temem mas que na verdade odeiam adorar.

Isto sou eu, no melhor e no pior. O mel e o fel. Ambos justificados.

E isto sou eu a perceber que afinal o título deste texto não é o mais acertado. Não anda longe deste assunto, mas não diz tudo, de todo.

O LIXO

Ok, eu aceito a opinião (técnica e somente isso) de quem conhece o meio e por quem nutro um respeito e admiração acima, bem acima, da média. No entanto, o regresso à Casa dos Segredos não passa de uma tentativa desesperada e bem orquestrada da TVI de combater a ameaça às audiências que pode ser o Peso Pesado.
E o termo acusatório, "orquestrada", não está aqui aplicado ao desbarato. O programa da TVI é claramente arquitectado para ser escandaloso, polémico e para ter todos os ingredientes que provocam instantaneamente o vício incontrolável no público. No público-alvo e no não alvo. E nenhuma novidade aqui. Os Reality Shows vivem disso, já se sabe. Mas nunca se tinha visto tamanha baixaria e logo com uma dimensão de planeamento desta natureza.
Quanto à Teresa Guilherme, está simplesmente a fazer a única coisa que sabe fazer mais ou menos bem. Tenho dito.
Resta-nos agora decidir entre a pena e a vergonha alheia do programa da SIC e a irritação e incredulidade do produto da TVI. Ou seja, as opções da televisão portuguesa são cada vez melhores e a televisão é cada vez mais o meio da futilidade; o veículo para a estupidez, a desgraça alheia e a comiseração como entretenimento. Bons tempos, caraças, dos clássicos da sétima arte aos Domingos à tarde. E ainda se queixam da estupidez e ignorância desta geração? Preparem-se para as vindouras.

quarta-feira, setembro 21, 2011

NADA MUDA

Em 2007 escrevi aqui no blog isto

As eleições na Madeira deram a vitória ao Alberto por uns claríssimos 64%.
Ou seja…
Se fizessem um inquérito naquela ilha em que a pergunta fosse É estúpido?, as respostas seriam as seguintes:

64% - Sim sem dúvida
25% - O que é isso?
10% - Não, sou da família do tio Jardim
1% - Não percebo português


No mesmo ano escrevi isto

Cá pelo burgo, o Jardim continua a ser o Rei Momo de serviço do circo político mais ridículo e desnecessário que existe no mundo – África incluída: as eleições na Ilha da Madeira. Sinceramente, porque é que insistem? Porque é que a oposição gasta tanto dinheiro em campanhas eleitorais quando sabe que as eleições estão perdidas à partida? Porque é que não investe esse dinheirinho num bom e fiável sniper? Sobraram tantos dos conflitos nos Balcãs…

Em 2008 isto

Notícia absoluta da semana passada: Alberto João Jardim foi de visita à Venezuela! E este blog que já por várias vezes fez a comparação entre os dois dit... governantes, só ficou triste por saber que os dois rechonchudos mais histéricos da história da política mundial não tiveram a oportunidade de se encontrarem. Tinham tanta coisa para falar. Como controlar orgãos de comunicação, como ganhar dinheiro à custa de infinitas obras públicas, manobras várias com fim à conquista de mais um mandato, enfim, assunto não faltaria. Mas não se encontraram. Provavelmente, e porque têm tantas semelhanças, porque fizeram um intercâmbio governamental ao estilo do couchsurfing, estando Chávez, nessa mesma altura, a comer bananas no Funchal! Será?

E agora escrevo que o assunto do buraco da Madeira - que mais correctamente se deveria chamar o buraco do Alberto João e só não se chama assim por razões que se prendem com a natureza galhofeira da língua portuguesa - já mete nojo. Mete nojo porque já toda a gente percebeu que o assunto não vai passar disto, de mais um temporal na ilha de Jardim; um temporal mediático e nada mais, não chegando sequer a ser uma tempestade política, um vento de mudança ou sequer uma suave brisa de justiça popular, eleitoral ou criminal.
Alberto João vai vencer as eleições que se aproximam, manter-se no poder e continuar a fazer o que tem feito, protegido pelos políticos que mandam e pelos que julgam que mandam e impunemente prosseguir com a sua política desastrosa e corrupta e que arruina muito mais do que as finanças da Madeira. Prova disso? A forma inacreditável como se tem defendido e justificado perante as cãmaras e microfones dos meios de comunicação. Como se nada disto tivesse acontecido, como se não fosse dele a culpa maior, como se fosse apanhado a meter a mão no frasco dos biscoitos e ainda assim negasse que o estava a fazer. Pior, Alberto João diz à mãe "eu não tenho a mão dentro do frasco dos biscoitos, mãezinha", enquanto tira biscoitos para o bolso dos calções.
E Portugal assiste a mais uma demonstração de como se faz política lusitana, cara-de-pau, desavergonhada, afinal bem mais às claras do que se pensava. O resultado está tão à vista quanto a acção continuada de quem tornou o buraco financeiro numa cratera em constante ebulição. Tão à vista quanto o comportamento atrapalhado e trapalhão de presidente da república e primeiro ministro e oposição - que perante uma bomba destas nem sabe bem como tirar proveito político da situação. E assobiamos para o lado, e na próxima sexta joga o Porto
e o Benfica e volta a estar tudo bem.