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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, junho 06, 2011

BIUTIFUL


Apetecia-me escrever de uma forma emocional sobre Biutiful. Odiar-me-hei por escrever tecnicamente sobre um filme que é muito mais do que um mero objecto cinematográfico. Porque Biutiful é uma experiência, um acontecimento, um marco na história do cinema do século XXI. E porquê? Porque para além de consolidar a carreira, já sólida, diga-se, de Alejandro Gonzáles Iñárritu, torna ainda mais visível a procura de um realizador em filmar o que muitas vezes é infilmável, a alma de um homem.
Iñárritu tem dedicado o seu trabalho às emoções humanas, em particular a dor mais profunda. Foi assim em Amores Perros, 21 Grams e Babel. Biutiful aprofunda ainda mais essa emoção tão difícil de representar e de ver representada. De tal forma que se transforma num longo e dorido nó na garganta, que permanece em quem o vê por longas horas. É um filme que se cola à pele e que resiste, como nenhum outro, ao passar do tempo.
Poder-se-à dizer que o filme é Javier Bardem, mas seria injusto não dizer que um e outro são a mesma coisa; que perseguem o mesmo fim, que ambicionam pelo mesmo objectivo. Objectivo conquistado, diga-se. E sim, Bardem é o melhor actor vivo. E sim, apetece-me dizer que nenhum outro faria o que o espanhol faz em Biutiful. E sim, o homem comove-me como já não me lembrava ser possível. E sim, mete o Colin Firth de The King's Speech no bolso de trás do bolso de trás.
O que é o cinema de Iñárritu, um cinema humanista? Um hiper-realismo? Um quase reality show da alma humana? Se calhar não importa definir o que faz o realizador mexicano. Importa, isso sim, ver todos os seus filmes e reconhecer que é, indiscutivelmente um cineasta à parte e um dos poucos a arriscar cinema de autor, numa altura em que, cada vez mais, quem manda é a indústria.
E fica o aviso: Biutiful não é um filme fácil, e corremos o risco de, como Uxbal (Bardem), vermos a nossa alma a fugir-nos nos reflexos dos espelhos.