kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

segunda-feira, março 28, 2011

TRANSfiGURATion

domingo, março 20, 2011

HIPOCRISIA


Hipocrisia
(grego hupokrisía, -as, desempenho de um papel)
s. f.
1. Fingimento de bondade de ideias ou de opiniões apreciáveis.
2. Devoção fingida.


Desta vez não houve antevisão mediática ou cobertura espectacular das acções militares levadas a cabo na Líbia por parte da coligação. A coisa começou quase sem se dar por isso, e vai continuar sem o efeito Hollywood que fez da guerra no Iraque um produto de entretenimento.

A comunidade internacional meteu-se na guerra civil do país de Khadafi e, aparentemente, com o beneplácito das mais diversas classes políticas e público em geral. Os opinion makers babam-se de prazer perante a possibilidade de assistirem na primeira fila à queda de Khadafi, e são muitos os políticos e populares que afirmam, sem vergonha ou pudor, sempre terem sido ferozmente antagónicos ao regime do ditador.

É curioso perceber esta reacção positiva a uma intervenção militar, no fundo, idêntica a tantas outras que foram violentamente condenadas pelos partidos de esquerda e que motivaram, inclusive, movimentos populares de protesto. E, no entanto, esta é mais uma acção com um interesse bastante claro e objectivo, disfarçado de preocupação pelo povo que sofre às mãos de um terrível e sanguinário ditador.

E sim, Khadafi é um ditador terrível e sanguinário, e que tem governado o país sem grandes contestações da mesma comunidade internacional agora tão arreliada com o povo líbio. A mesma comunidade internacional que, em virtude de necessitar do petróleo do ditador, se tem mantido à margem dos problemas sociais e das violações dos direitos humanos perpetradas naquela país do Norte de África.

Agora a situação mudou radicalmente, e o mesmo petróleo passa a ser o objecto de desejo irresistível que motiva esta invasão de uma nação soberana. Subitamente, a possibilidade de controlar o combustível que, até aqui, mantinha estes países reféns da ditadura de Khadafi, é boa de mais para se recusar.
O povo e os partidos de esquerda sempre foram céleres em condenar as acções militares dos EUA, mais concretamente, no Afeganistão e no Iraque. E com razão, diga-se. Os interesses dos americanos naqueles países eram bem conhecidas de todos, e o timing escolhido pelo governo de Bush para as invasões foi perfeito e, a princípio, bem justificado aos olhos do mundo. A falta de contestação massiva durou pouco tempo, e cedo se percebeu o que se estava realmente a passar. Não havia, claro, armas de destruição maciça no Iraque, e Osabama Bin Laden não estava nas montanhas do Afeganistão.

E a hipocrisia da ONU e destes países agora tão apostados em devolver a Líbia aos líbios - e em esquecer que na verdade sempre estiveram por detrás de um dos mais violentos ditadores da história de África - não é menor do que a dos que condenam hoje uma acção militar americana, para amanhã defenderem uma idêntica aprovada pela ONU.

O que se passa na Líbia é uma guerra civil. Um confronto em que justificadamente torcemos pelos mais fracos e menos preparados; por aqueles que têm sofrido às mãos de Khadafi, por nossa culpa, porque olhamos para o lado, com o nosso beneplácito. Torcemos por eles, mas não é nosso o direito de os invadirmos, seja qual for a razão.

Isto não é um Darfur ou um Ruanda, onde o massacre de inocentes foi verdadeiramente um genocídio sem paralelo e no qual a comunidade internacional e a ONU, mais concretamente, não quis, assumidamente, interferir. Por achar que o assunto não lhes dizia respeito. Por considerar ser uma questão interna dos países envolvidos. Porque não havia petróleo à mistura. Ponto. Esse encolher de ombros foi a pior forma de interferirem em assuntos, esses sim, que justificavam uma acção rápida, violenta e decisiva.

Khadafi deve deixar o poder e os líbios devem poder escolher o seu governo de uma forma livre e democrática. A comunidade internacional deve apoiar esta luta, mas não com uma invasão militar que resulta na destruição do país e, invariavelmente, na morte de inocentes. E não se esqueçam, a Líbia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Sem esse petróleo, alguns dos países envolvidos nesta coligação param, pura e simplesmente. E essa é a verdadeira razão por detrás desta intervenção abnegada e tão preocupada.

sexta-feira, março 18, 2011

KARMABOX WITH A VIEW - LUÍSA SOBRAL - "NOT THERE YET"


É o primeiro disco de Luísa Sobral, concorrente da primeira edição de Ídolos. Chama-se "Cherry on My Cake" tem um single de lançamento bastante interessante, e que demonstra sem enganos as influências da cantora, e um vídeo engraçadinho. Ou seja, é uma estreia curiosa e que deixa vontade de conhecer mais da moça.


sábado, março 12, 2011

E AMANHÃ, PÁ?


Sim senhora, ninguém contava com uma mobilização destas. Foi giro, teve impacto, correu pacificamente...
E amanhã?
E segunda-feira?
E para a semana, como vai ser?
E depois...?







sexta-feira, março 11, 2011

AI (NÃO) QUEREM FAZER UMA REVOLUÇÃO?



Não sei quem é João Pedro Castro, nem tão pouco porque tem honras de opinion maker na página digital de um jornal considerado de referência como o Público . Sei que tem 21 anos, que é estagiário numa empresa de tecnologia - que pode muito bem significar que desbloqueia telemóveis numa loja de bairro - e que, como todos nós, tem direito a dar a sua opinião. Sei também que todas as opiniões têm o condão de originar novas opiniões. A minha, em relação ao que defende o miúdo João, é esta:

opiniões à parte, o moço profere uma série de erros, mais ou menos, graves. Desde logo, concluindo sem provas factuais que a culpa da pesada abstenção que tem assombrado os últimos actos eleitorais, é causada pela mesma juventude que tenta agora manifestar o seu desagrado. Diz o João "esquecem-se que se fossem realmente interventivos, não teríamos tido 40% de abstenção nas presidenciais e nas legislativas. Sim, porque ninguém me tira da cabeça que muitos desses 40% vão estar na rua no dia 12, a exigirem algo que recusaram nas urnas: a mudança."
E este é o segundo erro que João comete. Quem lhe disse que a mudança se faz nas eleições? Quem lhe garantiu que ao mudarmos a cor do governo, mudamos a situação do país?

Terceiro erro, assumir desavergonhadamente que um estudante universitário não faz a mínima ideia do que é precariedade. Diz o petiz "como pode um estudante universitário saber o que é a precariedade se nunca trabalhou?!" Forte parvo, digo eu. Qualquer estudante português, universitário ou secundário, está farto de saber o que é precariedade. Ainda a semana passada, uma turma da Academia Contemporânea do Espectáculo, se manifestou em frente à sede da DREN, no Porto, reclamando pelas bolsas que não recebiam há já alguns meses. Não é isso precariedade, ó João? E com 21 anos, e acabadinho de sair da faculdade, saberás tu o que é precariedade?

O rapaz continua a chuva de ignorância com uma pérola com que muitos políticos devem concordar, e que explica com eficácia clínica, a mentalidade portuguesa e o que ela faz a um sem número de carreiras. "Porque é que há tantos recém-licenciados a queixarem-se de dificuldade em arranjar em emprego, quando optaram por áreas que já sabiam estar hipersaturadas há anos (como a psicologia, direito ou jornalismo)?!", diz João. E eu pergunto, porque é que seguiste uma qualquer área tecnológica? Porque na verdade querias ser artista de circo mas convenceste-te de que isso não dava dinheiro?
A minha visão menos positiva e menos optimista das manifestações em Portugal - como a que está para acontecer amanhã - é pública e conhecida por aqueles que acompanham este blog. No entanto, gostava que o menino João me esclarecesse em relação ao que ele considera ser um movimento "sério e que tenha fundamentos e pernas para andar". A sério, gostava mesmo de saber a sua definição de manifestação popular. Será algo que tenha a ver com as regras internas de algum dos partidos com assento parlamentar?

Por fim, e para não dizerem que sou mal-agradecido ou ingrato, deixem-me assegurar o João Pedro Castro de que não estamos a contar com ele. Não vá o gajo oferecer-se para ajudar...

terça-feira, março 08, 2011

AI QUEREM FAZER UMA REVOLUÇÃO?


Há algo de muito errado numa manifestação popular que necessita de cinco ou seis semanas de preparação. Há algo ainda mais errado numa manifestação popular que não resiste a ser publicitada em órgãos de comunicação e redes sociais. Só posso concluir que tanto show off é um sinal evidente da falta de experiência que os portugueses têm nestas coisas das manifestações e revoluções mais ou menos a sério.
Invariavelmente - e espero estar muito enganado - acredito sempre muito pouco nestas movimentações do povo descontente. Desde logo porque não acredito no povo português. Na minha opinião, poderemos ter milhares de pessoas nas ruas, no próximo dia 12, que isso só significa que teremos milhares de pessoas a puxar, cada uma, para o seu lado. Ou seja, teremos milhares de portugueses na rua, sim senhor, mas cada um com a sua sardinha.
Querem fazer uma revolução a sério? Querem mesmo fazer alguma coisa que resulte?
Façam greves de consumo. Três dias sem consumir combustíveis, por exemplo. Outros tantos dias a viverem com o mínimo de bens alimentares. Retirem todo o dinheiro dos bancos durante uma semana e vejam os senhores banqueiros a dar com a cabeça na parede. Quebrem esta barreira invisível que garante a distância de segurança entre povo e políticos. Sigam-nos, interrompam os seus jantares de família, comprem bilhetes para o mesmo filme, interfiram na sua vida social. Invadam a Assembleia da República. Sim, invadam-na, ocupem-na, façam como o Abrunhosa e acorrentem-se aos seus portões.
Quando os portugueses estiverem realmente disponíveis para acções populares a sério, verdadeiramente concertadas, pode ser que se consigam alguns resultados. Enquanto isso, manifestações como a do dia 12 servem essencialmente para conseguir boas fotografias.
Mas volto a dizer: espero estar completamente enganado.

sábado, março 05, 2011

ORA BEM...


Há coisas que as pessoas parecem não entender. Este blog, por exemplo. Acabou de completar seis anos, é um blog pessoal, que não está ao serviço de nenhum órgão de comunicação social; não tem política redactorial nem de qualquer outra espécie. É um blog que, como tantos outros, expressa as opiniões e gostos do seu único responsável.

Não deixa de ser irónico que, terminado o curso de jornalismo, eu me veja, súbita e surpreendentemente, confrontado com uma situação daquelas que julgamos só existirem no cinema. Pela primeira vez em seis anos, este blog fez mesmo mossa e provocou uma espécie de poder instituído. Pela primeira vez, fui alvo de uma violenta reacção a algo que escrevi.

Há uns dias, escrevi aqui uma breve antevisão do que poderia vir a ser o Fantasporto deste ano. Como tantas vezes o fiz, aliás. A coisa parece ter provocado azia num dos elemento da direcção do festival, e a reacção não demorou muito a fazer-se sentir - embora me tenha apanhado totalmente desprevenido.

Precisamente no primeiro dia de competição oficial, e em pleno átrio do Rivoli, fui chamado à atenção, e de forma um tanto ao quanto, agressiva, pelo que tinha dito nessa mesma antevisão. Segundo essa pessoa, teria escrito coisas "muito feias" acerca deles. Deles, dos organizadores do Fantas. Convém referir que qualquer hipótese de continuar aquela conversa, noutro local e de forma mais relaxada, foi prontamente anulada por quem, como uma professora primária, me deu um ralhete dos antigos. De tal forma, que ainda temi pela segurança das minhas orelhas.

Convém, nesta altura, explicar o seguinte: sou espectador do Fantasporto há 24 anos. Há excepção dos três primeiros anos, sempre comprei o livre-trânsito do festival. Há uns seis ou sete anos - confesso, não sei precisar - a organização do Fantas decidiu oferecer-me esse mesmo livre-trânsito, presumo eu, por uma série de razões que não interessam para o presente assunto. Este ano não o fizeram. E antes que me acusem de ser interesseiro ou oportunista, nunca estive à espera que o fizessem e sempre fiz questão de agradecer a honra imerecida.

Ao segundo dia de festival fiquei a saber que a razão pela qual tinham decidido não repetir a oferenda, era a mesma que havia provocado o ralhete do dia anterior. O secretariado do festival tinha "ordens expressas" para não me dar o cartão de livre entrada, e estava muito surpreendido pelo facto de eu, na verdade, ter um ao pescoço. Como era isso possível? Fácil. Como também fiz questão de referir neste blog, o JUP solicitou-me uma cobertura diária do certame e foi essa a razão pela qual eu tinha o tão difícil e improvável livre-trânsito ao peito.

Posto isto, permitam-me que diga o seguinte: o Fantasporto é dirigido por um grupo de pessoas que vim a conhecer pessoalmente, que admiro e cujo trabalho à frente da Cinema Novo respeito - por muito que não concorde com algumas decisões. Continuarei a admirá-los e respeitá-los, mas não posso deixar de condenar uma atitude infantil, mas não menos grave, e que ilustra tão bem o comportamento de algumas pessoas ligadas ao Fantas. Pessoas que, como a que me «puxou as orelhas», fazem do Fantasporto um feudo que em hipótese alguma pode ser atacado. Pessoas que deixaram de querer contar com os que estão do lado de fora das suas muralhas e que, erradamente, consideram que essas não lhes fazem falta. Pessoas que acreditam piamente que o festival que dirigem deve ser protegido pelos organismos, órgãos de comunicação social e público do Porto. Um comportamento bairrista bacoco que não só sufoca o crescimento do Fantas, como ridiculariza um organismo cultural que, como todos os outros, depende das críticas e opiniões para se tornar cada vez maior. Pessoas que, a dizer pela reacção ao que escrevi, são adeptas da censura, por muito que publicamente defendam a liberdade de expressão, por exemplo, dos cineastas que passam pelo seu festival.

A verdade é que o Fantasporto vendeu a alma ao diabo quando passou de festival temático de grande projecção a festival generalista igual a tantos outros. E todos sabemos que, quando vendemos a alma ao diabo, as hipóteses de ficarmos a perder estão consideravelmente garantidas. A organização do festival continua a insistir no facto de ser um dos maiores festivais do mundo. Não se percebe em quê. Na quantidade de filmes apresentados? Pouco relevante, já que muitos dos filmes da programação são reposições e/ou retrospectivas. Na quantidade de filmes a concurso? Não deve ser, com certeza. Basta contar os que estiveram a concurso este ano. Na qualidade dos filmes? É discutível, principalmente porque as obras escolhidas, são filtradas pelas pessoas que dirigem o festival e esse é, como se sabe, um assunto sempre subjectivo. Ainda assim, e puxando pela liberdade de expressão, permitam-me dizer que existe obviamente uma questão de mau gosto que não deve ser subvalorizada. O Fantas deste ano foi chato, desinteressante, aborrecido e nada entusiasmante. De tal forma que não chegou sequer a ser uma desilusão.

Presumo que o que ofendeu o já referido elemento da direcção, foi o facto de escrever aqui que o Fantasporto estava subserviente a certas cinematografias. Aliás, tenho a certeza de que foi isso mesmo. No entanto, basta uma pequena contabilidade para perceber que, por uma razão ou outra, mais ou menos legítima, o que eu afirmei não anda longe da verdade. Dos cerca de 30 filmes que compunham a programação do Grande Auditório do Rivoli, 10 eram espanhóis e/ou sul-coreanos. O que deixa, na práctica, pouco espaço para filmes de outras proveniências. E isto não tem nada de subjectivo.

Vou continuar a marcar presença no Fantas. A recente condição de persona non grata não me retira a vontade de participar da maior manifestação cultural da cidade do Porto. No limite, acaba sempre por valer a pena; há sempre um filme ou outro que surpreendem pela positiva e que ficam na retina. Mas vou continuar a dizer o que me vai na alma, por muito que isso custe aos poderes instituídos. Poderes que, claramente, nunca leram o que eu escrevi aqui em anos anteriores. Como em 2009, por exemplo, quando escrevi um posto intitulado O Fantas Morreu. Nem quero imaginar o que me teria acontecido se o tivessem feito.