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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, março 11, 2011

AI (NÃO) QUEREM FAZER UMA REVOLUÇÃO?



Não sei quem é João Pedro Castro, nem tão pouco porque tem honras de opinion maker na página digital de um jornal considerado de referência como o Público . Sei que tem 21 anos, que é estagiário numa empresa de tecnologia - que pode muito bem significar que desbloqueia telemóveis numa loja de bairro - e que, como todos nós, tem direito a dar a sua opinião. Sei também que todas as opiniões têm o condão de originar novas opiniões. A minha, em relação ao que defende o miúdo João, é esta:

opiniões à parte, o moço profere uma série de erros, mais ou menos, graves. Desde logo, concluindo sem provas factuais que a culpa da pesada abstenção que tem assombrado os últimos actos eleitorais, é causada pela mesma juventude que tenta agora manifestar o seu desagrado. Diz o João "esquecem-se que se fossem realmente interventivos, não teríamos tido 40% de abstenção nas presidenciais e nas legislativas. Sim, porque ninguém me tira da cabeça que muitos desses 40% vão estar na rua no dia 12, a exigirem algo que recusaram nas urnas: a mudança."
E este é o segundo erro que João comete. Quem lhe disse que a mudança se faz nas eleições? Quem lhe garantiu que ao mudarmos a cor do governo, mudamos a situação do país?

Terceiro erro, assumir desavergonhadamente que um estudante universitário não faz a mínima ideia do que é precariedade. Diz o petiz "como pode um estudante universitário saber o que é a precariedade se nunca trabalhou?!" Forte parvo, digo eu. Qualquer estudante português, universitário ou secundário, está farto de saber o que é precariedade. Ainda a semana passada, uma turma da Academia Contemporânea do Espectáculo, se manifestou em frente à sede da DREN, no Porto, reclamando pelas bolsas que não recebiam há já alguns meses. Não é isso precariedade, ó João? E com 21 anos, e acabadinho de sair da faculdade, saberás tu o que é precariedade?

O rapaz continua a chuva de ignorância com uma pérola com que muitos políticos devem concordar, e que explica com eficácia clínica, a mentalidade portuguesa e o que ela faz a um sem número de carreiras. "Porque é que há tantos recém-licenciados a queixarem-se de dificuldade em arranjar em emprego, quando optaram por áreas que já sabiam estar hipersaturadas há anos (como a psicologia, direito ou jornalismo)?!", diz João. E eu pergunto, porque é que seguiste uma qualquer área tecnológica? Porque na verdade querias ser artista de circo mas convenceste-te de que isso não dava dinheiro?
A minha visão menos positiva e menos optimista das manifestações em Portugal - como a que está para acontecer amanhã - é pública e conhecida por aqueles que acompanham este blog. No entanto, gostava que o menino João me esclarecesse em relação ao que ele considera ser um movimento "sério e que tenha fundamentos e pernas para andar". A sério, gostava mesmo de saber a sua definição de manifestação popular. Será algo que tenha a ver com as regras internas de algum dos partidos com assento parlamentar?

Por fim, e para não dizerem que sou mal-agradecido ou ingrato, deixem-me assegurar o João Pedro Castro de que não estamos a contar com ele. Não vá o gajo oferecer-se para ajudar...