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Bom Karma... ou não!

sábado, março 05, 2011

ORA BEM...


Há coisas que as pessoas parecem não entender. Este blog, por exemplo. Acabou de completar seis anos, é um blog pessoal, que não está ao serviço de nenhum órgão de comunicação social; não tem política redactorial nem de qualquer outra espécie. É um blog que, como tantos outros, expressa as opiniões e gostos do seu único responsável.

Não deixa de ser irónico que, terminado o curso de jornalismo, eu me veja, súbita e surpreendentemente, confrontado com uma situação daquelas que julgamos só existirem no cinema. Pela primeira vez em seis anos, este blog fez mesmo mossa e provocou uma espécie de poder instituído. Pela primeira vez, fui alvo de uma violenta reacção a algo que escrevi.

Há uns dias, escrevi aqui uma breve antevisão do que poderia vir a ser o Fantasporto deste ano. Como tantas vezes o fiz, aliás. A coisa parece ter provocado azia num dos elemento da direcção do festival, e a reacção não demorou muito a fazer-se sentir - embora me tenha apanhado totalmente desprevenido.

Precisamente no primeiro dia de competição oficial, e em pleno átrio do Rivoli, fui chamado à atenção, e de forma um tanto ao quanto, agressiva, pelo que tinha dito nessa mesma antevisão. Segundo essa pessoa, teria escrito coisas "muito feias" acerca deles. Deles, dos organizadores do Fantas. Convém referir que qualquer hipótese de continuar aquela conversa, noutro local e de forma mais relaxada, foi prontamente anulada por quem, como uma professora primária, me deu um ralhete dos antigos. De tal forma, que ainda temi pela segurança das minhas orelhas.

Convém, nesta altura, explicar o seguinte: sou espectador do Fantasporto há 24 anos. Há excepção dos três primeiros anos, sempre comprei o livre-trânsito do festival. Há uns seis ou sete anos - confesso, não sei precisar - a organização do Fantas decidiu oferecer-me esse mesmo livre-trânsito, presumo eu, por uma série de razões que não interessam para o presente assunto. Este ano não o fizeram. E antes que me acusem de ser interesseiro ou oportunista, nunca estive à espera que o fizessem e sempre fiz questão de agradecer a honra imerecida.

Ao segundo dia de festival fiquei a saber que a razão pela qual tinham decidido não repetir a oferenda, era a mesma que havia provocado o ralhete do dia anterior. O secretariado do festival tinha "ordens expressas" para não me dar o cartão de livre entrada, e estava muito surpreendido pelo facto de eu, na verdade, ter um ao pescoço. Como era isso possível? Fácil. Como também fiz questão de referir neste blog, o JUP solicitou-me uma cobertura diária do certame e foi essa a razão pela qual eu tinha o tão difícil e improvável livre-trânsito ao peito.

Posto isto, permitam-me que diga o seguinte: o Fantasporto é dirigido por um grupo de pessoas que vim a conhecer pessoalmente, que admiro e cujo trabalho à frente da Cinema Novo respeito - por muito que não concorde com algumas decisões. Continuarei a admirá-los e respeitá-los, mas não posso deixar de condenar uma atitude infantil, mas não menos grave, e que ilustra tão bem o comportamento de algumas pessoas ligadas ao Fantas. Pessoas que, como a que me «puxou as orelhas», fazem do Fantasporto um feudo que em hipótese alguma pode ser atacado. Pessoas que deixaram de querer contar com os que estão do lado de fora das suas muralhas e que, erradamente, consideram que essas não lhes fazem falta. Pessoas que acreditam piamente que o festival que dirigem deve ser protegido pelos organismos, órgãos de comunicação social e público do Porto. Um comportamento bairrista bacoco que não só sufoca o crescimento do Fantas, como ridiculariza um organismo cultural que, como todos os outros, depende das críticas e opiniões para se tornar cada vez maior. Pessoas que, a dizer pela reacção ao que escrevi, são adeptas da censura, por muito que publicamente defendam a liberdade de expressão, por exemplo, dos cineastas que passam pelo seu festival.

A verdade é que o Fantasporto vendeu a alma ao diabo quando passou de festival temático de grande projecção a festival generalista igual a tantos outros. E todos sabemos que, quando vendemos a alma ao diabo, as hipóteses de ficarmos a perder estão consideravelmente garantidas. A organização do festival continua a insistir no facto de ser um dos maiores festivais do mundo. Não se percebe em quê. Na quantidade de filmes apresentados? Pouco relevante, já que muitos dos filmes da programação são reposições e/ou retrospectivas. Na quantidade de filmes a concurso? Não deve ser, com certeza. Basta contar os que estiveram a concurso este ano. Na qualidade dos filmes? É discutível, principalmente porque as obras escolhidas, são filtradas pelas pessoas que dirigem o festival e esse é, como se sabe, um assunto sempre subjectivo. Ainda assim, e puxando pela liberdade de expressão, permitam-me dizer que existe obviamente uma questão de mau gosto que não deve ser subvalorizada. O Fantas deste ano foi chato, desinteressante, aborrecido e nada entusiasmante. De tal forma que não chegou sequer a ser uma desilusão.

Presumo que o que ofendeu o já referido elemento da direcção, foi o facto de escrever aqui que o Fantasporto estava subserviente a certas cinematografias. Aliás, tenho a certeza de que foi isso mesmo. No entanto, basta uma pequena contabilidade para perceber que, por uma razão ou outra, mais ou menos legítima, o que eu afirmei não anda longe da verdade. Dos cerca de 30 filmes que compunham a programação do Grande Auditório do Rivoli, 10 eram espanhóis e/ou sul-coreanos. O que deixa, na práctica, pouco espaço para filmes de outras proveniências. E isto não tem nada de subjectivo.

Vou continuar a marcar presença no Fantas. A recente condição de persona non grata não me retira a vontade de participar da maior manifestação cultural da cidade do Porto. No limite, acaba sempre por valer a pena; há sempre um filme ou outro que surpreendem pela positiva e que ficam na retina. Mas vou continuar a dizer o que me vai na alma, por muito que isso custe aos poderes instituídos. Poderes que, claramente, nunca leram o que eu escrevi aqui em anos anteriores. Como em 2009, por exemplo, quando escrevi um posto intitulado O Fantas Morreu. Nem quero imaginar o que me teria acontecido se o tivessem feito.

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