Tantos dias afastado aqui do blog, só podiam mesmo ser explicados pelo início do Fantasporto, oficialmente na Segunda, e logo com “No Country For Old Men”. Não pude ir, não pude ver o vencedor dos Oscars em primeiríssima mão, e como tal, tudo começou para mim no dia seguinte. E portanto, é a 28ª edição do festival de cinema mais famoso de Portugal, que este ano até já teve o seu ponto mais alto, a presença do enorme Max Von Sydow para umas conferências de imprensa, e que fica desde já assinalada por uma situação completamente nova: este ano, e ao contrário do que sempre sucedeu, a primeira das duas semanas do certame não é dedicada aos filmes que ano, após ano, após ano, após ano, são repetidos nas salas do Rivoli. Filmes – alguns muito mauzinhos – que fazem parte (inexplicável e orgulhosamente) do espólio do Fantas, e para os quais já ninguém tem pachorra! Este ano, e só para contrariar, a primeira semana será preenchida por obras que, à partida, nunca terão uma carreira comercial no nosso país. Nem sempre isso é bom, e cheira-me, a dizer pela amostra, que esta primeira semana foi ocupada com os filmes que seriam excluídos do festival por apresentarem tão pouca qualidade. Vamos andando e vamos vendo…
Seja como for, há razões de sobra para acreditar que se poderão ver por ali um punhado de bons filmes. Nomes tão comuns no Fantas como Takashi Miike, Jaume Balagueró, Tsui Hark, Kim Ki Duk e especialmente Dário Argento e Bill Plympton, podem ser a garantia de alguma qualidade, coisa especialmente complicada de encontrar quando estamos perante mais de trezentos filmes em exibição.
Até ver, e como já referi, a amostra não foi assim lá grande coisa; alguns maus filmes, um ou outro sofríveis, e as habituais e irreais sinopses a enganarem o público, que ao ler coisas como “terror psicológico”, “denso e perturbador” ou “psico-thriller de ambiente” – seja lá o que isso for – entra na sala convencido de que vai ver uma coisa, e sai irritado com a distância cruel da realidade. Mas enfim, nada que surpreenda quem já tem 21 anos disto, e que se vê obrigado a tentar encontrar algum humor na situação.
Ainda assim, promete a sessão de encerramento, com o novo filme de Frank Darabont – o realizador de “os Condenados de Shawshank” – que, partindo de mais um conto do mestre Stephen King, faz uma aproximação ao “The Fog” de John Carpenter. Soa a reciclagem, mas também soa a Fantas vintage… Enfim, vão ser duas semanas de cinema para encher a barriguinha, e duas semanas em que volta e meia volto aqui para uma pequena actualização dos acontecimentos.
Para já uma constatação: o clássico e maravilhoso ambiente do festival morreu de vez. Já estava moribundo há uns bons anos, e agora levou finalmente o tiro de misericórdia, ironicamente, através desta nova lei de proibição do tabaco em espaços fechados. Acabaram-se os intervalos repletos de malta amante de cinema, discutindo a forma clínica como o actor foi estripado, ou as mamas da gaja meio dragão, meio bruxa. Paciência. Assim que puder volto com crónicas e imagens, sim?
Goste-se ou não se goste, concorde-se ou não se concorde, a verdade é que toda a gente quer saber quem sai vencedor ou perdedor de uma nova edição dos Oscars. Este ano a coisa parece aborrecidamente equilibrada, ou seja, vamos assistir a mais do mesmo. Há já uns anos que os cinco nomeados para a categoria de melhor filme do ano - e consequentemente aqueles que aumulam o maior número de nomeações - não mudam muito em forma e estilo. Já não se vêm aqueles clássicos pesadões, tipo o "Padrinho" de Coppola, ou épicos ao bom estilo de um David Lean; e não se vêm porque a indústria pura e simplesmente abdicou desse estilo de cinematografia. Os filmes mais «pequenos» e quase independentes conquistaram o seu justo lugar e são eles que mandam agora na academia. E voltamos ao mais do mesmo: ano após ano surge sempre um ovni desses infiltrado nos tais cinco nomeados - sendo que este ano coube a "Juno" essa função - e mantêm-se as politiquices de bastidores, leis de compensação - que logo à noite podem chocar a comunidade cinéfila e dar a estatueta a um Johnny Depp que só a mereceu uma vez na vida e não neste filme - e injustiças do costume. Mais uma vez vamos acompanhar o glamour da passadeira vermelha, as mesmas perguntas de sempre respondidas sempre da mesma maneira; vamos querer saber que surpresas nos vai oferecer o espectáculo, que piadas mais ou menos politicamente (in)correctas vão sair da boca do grande Jon Stewart, e se alguma estrela se vai passar e dizer alguma coisa mais lixada para a academia. Pessoalmente, e mesmo sem ter visto um único dos flmes mais «importantes», estou à espera de ver Javier Bardem vencer o Oscar para melhor actor secundário, à espera que "Ratatui" conquiste não só o Oscar de melhor filme de animação como também o de melhor argumento original, e à espera que Viggo Mortensen roube a estatueta a um mais do que certo - e provavelmente mais do que merecido - vencedor antecipado: Daniel Day-Lewis. Ou seja, vai ser uma noite do caraças. E que tenha muitos momentos como este...
Entretanto, e para fazer horas até ao início da cerimónia, vou ver o "Michael Clayton", um dos cinco nomeados para melhor filme do ano. Comentários só amanhã.
Listita dos nomeados:
Melhor Filme Atonement Juno Michael Clayton No Country for Old Men There Will Be Blood
Melhor Actor Principal George Clooney por Michael Clayton Daniel Day-Lewis por There Will Be Blood Johnny Depp por Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street Tommy Lee Jones por In the Valley of Elah Viggo Mortensen por Eastern Promises
Melhor Actriz Principal Cate Blanchett por Elizabeth: The Golden Age Julie Christie por Away from Her Marion Cotillard por La Môme Laura Linney por The Savages Ellen Page por Juno
Melhor Actor Secundário Casey Affleck por The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford Javier Bardem por No Country for Old Men Philip Seymour Hoffman por Charlie Wilson's War Hal Holbrook por Into the Wild Tom Wilkinson por Michael Clayton
Melhor Actriz Secundária Cate Blanchett por I'm Not There Ruby Dee por American Gangster Saoirse Ronan por Atonement Amy Ryan por Gone Baby Gone Tilda Swinton por Michael Clayton
Melhor Realizador Paul Thomas Anderson por There Will Be Blood Ethan Coen, Joel Coen por No Country for Old Men Tony Gilroy por Michael Clayton Jason Reitman por Juno Julian Schnabel por Le Scaphandre et le Papillon
Melhor Argumento Original Juno Lars and the Real Girl Michael Clayton Ratatouille The Savages
Melhor Argumento Adaptado Atonement Away from Her Le Scaphandre et le Papillon No Country for Old Men There Will Be Blood
Melhor Fotografia The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford Atonement No Country for Old Men Le Scaphandre et le Papillon There Will Be Blood
Melhor Edição The Bourne Ultimatum Le Scaphandre et le Papillon Into the Wild No Country for Old Men There Will Be Blood
Melhor Cenografia American Gangster Atonement The Golden Compass Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street There Will Be Blood
Melhor Guarda-Roupa Across the Universe Atonement Elizabeth: The Golden Age La Môme Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street
Melhor Banda Sonora Original Atonement The Kite Runner Michael Clayton Ratatouille 3:10 to Yuma
Melhor Canção Original August Rush "Raise It Up" Enchanted "Happy Working Song" Enchanted "So Close" Enchanted "That's How You Know" Once “Falling Slowly”
Melhor Maquilhagem La Môme Norbit Pirates of the Caribbean: At World's End
Melhor Som The Bourne Ultimatum No Country for Old Men Ratatouille 3:10 to Yuma Transformers
Melhor Edição Sonora The Bourne Ultimatum No Country for Old Men Ratatouille There Will Be Blood Transformers
Melhores Efeitos Especiais The Golden Compass Pirates of the Caribbean: At World's End Transformers
Melhor Filme de Animação Persepolis Ratatouille Surf's Up
Melhor Filme de Língua Estrangeira Die Fälscher (Austria) Beaufort (Israel) Mongol (Kazakhstan) Katyn (Poland) 12 (Russia)
Melhor Filme de Documentário No End in Sight Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience Sicko Taxi to the Dark Side War Dance
Melhor Curta-metragem de Documentário Freeheld La Corona Salim Baba Sari's Mother
Melhor Curta-metragem Animada Même les pigeons vont au paradis I Met the Walrus Madame Tutli-Putli Moya lyubov Peter & the Wolf
Melhor Curta-metragem Om natten Il Supplente Le Mozart des Pickpockets Tanghi argentini The Tonto Woman
KARMABOX WITH A VIEW - MAZGANI - "BRING YOUR LOVE"
Já há alguns anitos que venho ouvindo falar deste projecto, Mazgani, oriundo de Setúbal e que usa o mesmo nome do seu mentor, o iraniano Sharyar Mazgani. Já foram eleitos pela famosíssima revista "Les Inrackuptibles", como uma das novas bandas europeiras a seguir com particular atenção, tendo feito parte de uma colectânea editada por essa publicação francesa. Tenho ouvido falar dos seus concertos e sempre achei estranho não lançarem um álbum de originais. E ele aí está. O single, que espero que ouçam depois de lerem isto, já rola por tudo que e sítio e é muito bonito.
Não há nada como aprender coisas novas, caraças. Hoje foi o amiguinho Miguel lá do escritório, mas já bem mais do que isso (penso...), que me mostrou uma música de uma moça chamada Ayo. Já é costume «trocarmos» músicas de vez em quando, mas normalmente tudo não passa de um simples exercício de nostalgia. Hoje foi diferente. Hoje foi mesmo coisa nova na minha vida musical. E maravilhou-me!
Ayo é uma cantora alemã, filha de pai nigeriano, com dois álbuns de originais na bagagem, dona de uma voz fantástica e de uma sonoridade muito próxima da de outro nigeriano (quase) famoso, Keziah Jones.
Não foi esta a música que o Miguel me mostrou, mas depois de uma rápida busca no site do costume, confesso que fiquei com esta no ouvido. Para a semana há mais...
Começo pelo fim: Wes Anderson não pode continuar a fazer filmes destes. Não pode porque já esgotou o filão. Depois de "The Royal Tenenbaums" e "The Life Aquatic With Steve Zissou", este "The Darjeeling Limited" regressa ao território dos inadaptados, dos aéreos e dos tipos-com-um-permanente-ar-de-quem-consome-muitos-psicotrópicos-que-passam-a-vida-a-dizer-coisas-sem-sentido e acaba por consumir o que nos restava de pachorra para o que parecia ser já um género completamente novo de cinema.
Posto isto, só me resta dizer que "The Darjeeling Limited" é uma obra simplesmente deliciosa e que tem aquele efeito fantástico e tão saboroso que os anglófonos decidiram apelidar de a grower. Porque o seu efeito cresce realmente cá dentro, e porque nos apetece cada vez mais voltar à sala de cinema para rever o que nos pareceu bom à primeira.
Mais uma vez, um filme de Wes Anderson parece ser sobre nada em particular; este, parece ser sobre três irmãos que mantêm uma relação mais do que bizarra, soltos no Norte da India numa espécie de viagem espiritual sabe-se lá bem porquê. Como sempre, um filme de Wes Anderson acaba por nos mostrar que havia muito mais escondido por debaixo desta simples permissa. Também não é menos verdade que requer alguma paciência, o verdadeiro empreendimento que é procurar toda a informação numa obra assim, mas lá que compensa, compensa.
Como já disse, a história oferece-nos três complicadíssimos irmãos - Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman -, aparentemente podres de ricos, que não mantêm contacto há mais de um ano - provavelmente também devido à morte do pai -, e que decidem, por iniciativa do irmão mais velho (Owen Wilson), percorrer a India em busca de uma paz espiritual que sempre lhes escapou. A viagem é obviamente alucinante (literalmente), quanto mais não fosse pelo cenário em que decorre. Um comboio indiano, num caminho de ferro indiano, recheado das pequenas particulariedade de uma cultura que em nada se coaduna com o desiquilibrio dos três irmãos Whitman. Na falta de uma definição mais ajustada, parece-me fácil concluir que se pode catalogar "The Darjeeling Limited" como uma comédia - solução de recurso que já tinha «enganado» muito boa gente nos dois filmes anteriores de Anderson. Justifica-se pela quantidade alucinante de cenas hilariantemente ridículas que o povoam. No entanto, e como já referi, há muito mais na filmografia do jovem marido de Sofia Coppola do que uma simples primeira opinião. E ainda bem que é assim. Existem diálogos perfeitamente e brilhantemente irreais, sequência cómicas únicas e irrepetiveis, bandas sonoras escolhidas a dedo; existe um realizador que sabe filmar o que quer, como quer e de forma extremamente inteligente, existem actores que se entregam com uma anormal generosidade e existe ainda mais um pormenor de relevo: quando quer, Wes Anderson sabe mostrar aos que ainda têm com dúvidas - ou tão baralhados que não conseguem emitir uma opinião - que é um autor sério, muito mais do que aparenta ser. Quando filma toda uma sequência em torno da morte de uma criança que os irmãos não conseguem salvar, Anderson dá-nos uma carga de porrada no estômago, não só pela inesperada brutalidade do tema, que aparece sabe-se lá vindo de onde, mas pela nobreza com que o filma. Depois esquece tudo isso e retoma rapidamente o surrealismo do costume.
Portanto, e em jeito de conclusão, temos filme, temos realizador e temos uma obra daquelas que dá uma vontade instantânea de ver o making-of. Vão ver (ou saborear), garanto que não se arrpendem. Mas aviso: não é para a paciência de qualquer um.
P.S: A curta que antecede o filme, e que é uma abordagem a um dos assuntos por resolver de um dos Whitman, não é nada de especial, mesmo tendo em conta de que nos dá a hipótese de ver a Natalie Portman despidinha...
Eu sei, já me leram aqui a dizer isto inúmeras vezes, mas a vida é mesmo assim, reinventa-se. É o meu anúncio preferido de todos os tempos. Lindíssimo!
Que fique desde já esclarecido: sou fã incondicional de Tim Burton e de (quase) todas as suas obras, e estou certo - acho mesmo que é um facto incontestável - de que não existe nenhum outro realizador como ele. O universo de Burton é único e inimitável. Ponto!
Dito isto, vejo-me obrigado a concluir que ainda não foi desta que o americano se voltou a aproximar dos seus trabalhos mais geniais. Tinha a matéria prima ideal para o conseguir, mas a coisa passou ao lado e de raspão. A obra original de Stephen Sondheim, um musical famosíssimo da Broadway, tem tudo o que faz parte do mundo «Burtoniano»; é negro, sujo, sarcástico como o raio, doentio - e aqui nada dissimuladamente - e visualmente apetecível. Alguns dos ingredientes originais foram bem adaptados, outros... nem por isso.
O filme é sem dúvida uma maravilha visual, pintado de lixo, lama, nevoeiro e, enfim, porcaria! Tudo em "Sweeney Todd..." remete para histórias clássicas como a do avarento Scrooge e os seus fantasmas, e impressiona desde logo pela franqueza das suas imagens. Nunca como aqui tinha Burton realizado uma obra tão violenta e tão assumidamente gore, capaz mesmo de enojar um ou outro estômago mais fraquito. O sangue torna-se personagem com direito a tanto tempo de antena quanto os principais intervenientes, e a dada altura esquecemo-nos de que é um filme do mesmo homem que realizou "Eduardo Mãos de Tesoura".
No entanto, a primeira meia hora de filme quase deita tudo a perder, arrastada, lenta e manifestamente chata. Fartei-me rapidamente das músicas constantes e dos diálogos cantados, e ponderei se teria sido realmente boa idéia a adaptação do musical à letra. Tudo se transforma assim que a navalha de barbear começa a sua terrivel (e maravilhosa) função. O filme transfigura-se, escurece ainda mais um bocadinho, desce às profundezas do inferno que é a sede de vingança de Todd e presenteia-nos com algumas sequências absolutamente brilhantes. Exemplo disso, a canção partilhada por Sweeney Todd e por Anthony Hope - enquanto o primeiro rasga gargantas como se estivesse a cortar queijo, e o segundo canta o amor pela donzela que jura salvar do cativeiro -, sem dúvida a sequência que me trouxe de volta ao filme em si e que me manteve agarrado à cadeira à espera de mais momentos como aquele.
E a verdade é que houve de facto mais momentos assim, especialmente a última meia hora de filme, aterradora, impressionante, esmagadora e que fica para a história cinematográfica de Tim Burton como um dos seus momentos mais avassaladores. Numa só palavra: genial como o caraças!!!
Quanto a pormenores, pode-se acrescentar que não se compreende a nomeação de Johnny Depp para o Oscar de melhor actor, que Helena Bonham Carter continua a ser uma das melhores actrizes menos reconhecidas da actualidade, e que Alan Rickman, o vilão de serviço, esse sim merecia e de forma inquestionável a nomeação para melhor actor secundário. O resto, tem mesmo de ser visto, porque, como já é imagem de marca de Burton, representa um sem número de pequenos detalhes que enriquecem "Sweeney Todd...", tornando-o num... vá, muito bom filme. Agora, é uma daquelas magníficas peças de ourivesaria do atelier que os trouxe "Ed Wood", "Sleepy Hollow", "Big Fish" ou "The Corpse's Bride"? Não, não é. E tinha mesmo tudo para o ser.
E nem tentes desculpar as rugas como sendo «rugas de expressão» porque as rugas de expressão não são mais do que marcas de anos e anos de expressões que resultam em... rugas.
Estás velho.
E não tens cabelos brancos somente porque os teus pais sempre os tiveram, desde bastante novos.
Estás velho.
E a tua cada vez maior falta de paciência para tudo o que sempre te irritou, e as dores nas costas que acordam contigo todos os dias, e essa barriguinha que teima em desaparecer não têm outra causa que não o facto de estares velho.