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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

"HOW 'BOUT A SHAVE?"

Que fique desde já esclarecido: sou fã incondicional de Tim Burton e de (quase) todas as suas obras, e estou certo - acho mesmo que é um facto incontestável - de que não existe nenhum outro realizador como ele. O universo de Burton é único e inimitável. Ponto!

Dito isto, vejo-me obrigado a concluir que ainda não foi desta que o americano se voltou a aproximar dos seus trabalhos mais geniais. Tinha a matéria prima ideal para o conseguir, mas a coisa passou ao lado e de raspão.
A obra original de Stephen Sondheim, um musical famosíssimo da Broadway, tem tudo o que faz parte do mundo «Burtoniano»; é negro, sujo, sarcástico como o raio, doentio - e aqui nada dissimuladamente - e visualmente apetecível. Alguns dos ingredientes originais foram bem adaptados, outros... nem por isso.

O filme é sem dúvida uma maravilha visual, pintado de lixo, lama, nevoeiro e, enfim, porcaria! Tudo em "Sweeney Todd..." remete para histórias clássicas como a do avarento Scrooge e os seus fantasmas, e impressiona desde logo pela franqueza das suas imagens. Nunca como aqui tinha Burton realizado uma obra tão violenta e tão assumidamente gore, capaz mesmo de enojar um ou outro estômago mais fraquito. O sangue torna-se personagem com direito a tanto tempo de antena quanto os principais intervenientes, e a dada altura esquecemo-nos de que é um filme do mesmo homem que realizou "Eduardo Mãos de Tesoura".

No entanto, a primeira meia hora de filme quase deita tudo a perder, arrastada, lenta e manifestamente chata. Fartei-me rapidamente das músicas constantes e dos diálogos cantados, e ponderei se teria sido realmente boa idéia a adaptação do musical à letra. Tudo se transforma assim que a navalha de barbear começa a sua terrivel (e maravilhosa) função. O filme transfigura-se, escurece ainda mais um bocadinho, desce às profundezas do inferno que é a sede de vingança de Todd e presenteia-nos com algumas sequências absolutamente brilhantes. Exemplo disso, a canção partilhada por Sweeney Todd e por Anthony Hope - enquanto o primeiro rasga gargantas como se estivesse a cortar queijo, e o segundo canta o amor pela donzela que jura salvar do cativeiro -, sem dúvida a sequência que me trouxe de volta ao filme em si e que me manteve agarrado à cadeira à espera de mais momentos como aquele.

E a verdade é que houve de facto mais momentos assim, especialmente a última meia hora de filme, aterradora, impressionante, esmagadora e que fica para a história cinematográfica de Tim Burton como um dos seus momentos mais avassaladores. Numa só palavra: genial como o caraças!!!

Quanto a pormenores, pode-se acrescentar que não se compreende a nomeação de Johnny Depp para o Oscar de melhor actor, que Helena Bonham Carter continua a ser uma das melhores actrizes menos reconhecidas da actualidade, e que Alan Rickman, o vilão de serviço, esse sim merecia e de forma inquestionável a nomeação para melhor actor secundário. O resto, tem mesmo de ser visto, porque, como já é imagem de marca de Burton, representa um sem número de pequenos detalhes que enriquecem "Sweeney Todd...", tornando-o num... vá, muito bom filme.
Agora, é uma daquelas magníficas peças de ourivesaria do atelier que os trouxe "Ed Wood", "Sleepy Hollow", "Big Fish" ou "The Corpse's Bride"? Não, não é. E tinha mesmo tudo para o ser.







3 Comments:

  • At 16:30, Blogger pinkpoetrysoul said…

    eu gostei muito do filme! nao conheço toda a obra do tim burton para poder afirmar se foi ou não tão bom como os outros, mas é sem dúvida genial! a Helena Bonham Carter é uma actriz fantástica, e acho que o johnny merece a nomeação...adoro a cena em que ela descreve a vida ideal junto ao mar e ele sempre muito sério :P fica bem Nuno, beijinho!!

     
  • At 12:39, Blogger José Miguel Neves said…

    ao lado nao passou, já que o filme é fabuloso msmo muito melhor que p.ex. o BigFish...
    Assinado:
    O Barbeiro com Campainha ;-))

     
  • At 16:21, Blogger Junta-te ao clube said…

    "O Big Fish" lamento mas continuo achar um mau filme na carreira do Tim Burton. De resto concordo contigo, estamso perante um filme "mais do mesmo". E também não entendo o alarido em torno da actuação do Johnny Deep. Acho que a Helena Bonham Carter rouba todas as cenas onde participa. Ela sim merecia as nomeações e os prémios.

    Ass: Gattaca

     

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