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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

THE DARJEELING LIMITED



Começo pelo fim: Wes Anderson não pode continuar a fazer filmes destes. Não pode porque já esgotou o filão. Depois de "The Royal Tenenbaums" e "The Life Aquatic With Steve Zissou", este "The Darjeeling Limited" regressa ao território dos inadaptados, dos aéreos e dos tipos-com-um-permanente-ar-de-quem-consome-muitos-psicotrópicos-que-passam-a-vida-a-dizer-coisas-sem-sentido e acaba por consumir o que nos restava de pachorra para o que parecia ser já um género completamente novo de cinema.

Posto isto, só me resta dizer que "The Darjeeling Limited" é uma obra simplesmente deliciosa e que tem aquele efeito fantástico e tão saboroso que os anglófonos decidiram apelidar de a grower. Porque o seu efeito cresce realmente cá dentro, e porque nos apetece cada vez mais voltar à sala de cinema para rever o que nos pareceu bom à primeira.

Mais uma vez, um filme de Wes Anderson parece ser sobre nada em particular; este, parece ser sobre três irmãos que mantêm uma relação mais do que bizarra, soltos no Norte da India numa espécie de viagem espiritual sabe-se lá bem porquê. Como sempre, um filme de Wes Anderson acaba por nos mostrar que havia muito mais escondido por debaixo desta simples permissa. Também não é menos verdade que requer alguma paciência, o verdadeiro empreendimento que é procurar toda a informação numa obra assim, mas lá que compensa, compensa.

Como já disse, a história oferece-nos três complicadíssimos irmãos - Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman -, aparentemente podres de ricos, que não mantêm contacto há mais de um ano - provavelmente também devido à morte do pai -, e que decidem, por iniciativa do irmão mais velho (Owen Wilson), percorrer a India em busca de uma paz espiritual que sempre lhes escapou. A viagem é obviamente alucinante (literalmente), quanto mais não fosse pelo cenário em que decorre. Um comboio indiano, num caminho de ferro indiano, recheado das pequenas particulariedade de uma cultura que em nada se coaduna com o desiquilibrio dos três irmãos Whitman.
Na falta de uma definição mais ajustada, parece-me fácil concluir que se pode catalogar "The Darjeeling Limited" como uma comédia - solução de recurso que já tinha «enganado» muito boa gente nos dois filmes anteriores de Anderson. Justifica-se pela quantidade alucinante de cenas hilariantemente ridículas que o povoam. No entanto, e como já referi, há muito mais na filmografia do jovem marido de Sofia Coppola do que uma simples primeira opinião. E ainda bem que é assim.
Existem diálogos perfeitamente e brilhantemente irreais, sequência cómicas únicas e irrepetiveis, bandas sonoras escolhidas a dedo; existe um realizador que sabe filmar o que quer, como quer e de forma extremamente inteligente, existem actores que se entregam com uma anormal generosidade e existe ainda mais um pormenor de relevo: quando quer, Wes Anderson sabe mostrar aos que ainda têm com dúvidas - ou tão baralhados que não conseguem emitir uma opinião - que é um autor sério, muito mais do que aparenta ser. Quando filma toda uma sequência em torno da morte de uma criança que os irmãos não conseguem salvar, Anderson dá-nos uma carga de porrada no estômago, não só pela inesperada brutalidade do tema, que aparece sabe-se lá vindo de onde, mas pela nobreza com que o filma. Depois esquece tudo isso e retoma rapidamente o surrealismo do costume.

Portanto, e em jeito de conclusão, temos filme, temos realizador e temos uma obra daquelas que dá uma vontade instantânea de ver o making-of. Vão ver (ou saborear), garanto que não se arrpendem. Mas aviso: não é para a paciência de qualquer um.

P.S: A curta que antecede o filme, e que é uma abordagem a um dos assuntos por resolver de um dos Whitman, não é nada de especial, mesmo tendo em conta de que nos dá a hipótese de ver a Natalie Portman despidinha...






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