HOMELAND: A MORTE DO ARTISTA
Homeland faz parte da história da televisão americana e é,
ao mesmo tempo, a mais fiel representação da história das séries de televisão
americanas. E uma história que se conta a correr: primeira e segunda temporadas
totalmente obrigatórias, incontornáveis e provavelmente o melhor que alguma vez
foi escrito para televisão. Terceira temporada rapidamente a resvalar para uma pasta
lodosa e inconsequente em que nada avançava, nada se passava e em que quase
nada interessava. Durou esta modorra até ao episódio final que deveria ter
realmente sido o fim da série, por muito que isso custasse aos seus
indefectíveis seguidores. Não foi. E assim chegamos à quarta temporada, que
nunca deveria ter existido e que só serve para nos provar que a terceira era de
facto o ponto final na história daquelas personagens e que tudo o que viesse a
seguir era a mais.
A quarta temporada de Homeland é na verdade a primeira de outra
série qualquer. De uma série em que espiões americanos e paquistaneses fazem
joguinhos de poder atrás de janelas entreabertas, em mesas de café fumarentos e
em hotéis de luxo colonialista. É uma série desinteressante, gasta, mastigada e
cuspida e mastigada novamente, vista e revista em dezenas de outras séries e
filmes de Hollywood. Não tem assunto, não tem foco, não tem objectivo e não tem
personagens, porque estas, desta série, tinham utilidade e objectivo numa
outra, anterior a esta e que as alimentava com um sem número de situações e de
relações que nos mantinham agarrados ao ecrã e ao sofá. Esta não tem nada disso
e é só um enorme bocejo em que já nada faz sentido.
A metáfora é tão fácil que
até custa escrevê-la: Homeland morreu com o sargento Nicholas Brody pendurado pelo
pescoço num guindaste no último episódio da terceira temporada. E deveria ter
ficado morta. Recuperá-la para isto é o mesmo que ressuscitar um velho amigo do
mundo dos mortos e tê-lo lá em casa sentado no sofá a encher tudo de baba e
outros fluidos típicos dos mortos-vivos, sem se fazer útil, sem servir para
nada, nem para um inocente jogo de sueca. Um desperdício.