AI, AS ELEIÇÕES, AS ELEIÇÕES...
Ainda
há coisa de 15 dias falava eu da falta de assuntos de interesse, e da silly
season e mais não sei o quê quando, subitamente, Portugal sofre uma tempestade
política de proporções épicas – que é o mesmo que dizer de proporções sujeitas
ao escrutínio e leitura e consequente filtragem dos partidos políticos envolvidos.
É
verdade, estas eleições autárquicas fizeram as delícias dos órgãos de
comunicação social que se estiveram nas tintas para as ditas e dos assessores
de imprensa que vão ter de puxar dos livros que estudaram na escola para
sacarem as melhores técnicas de desculpabilização, discursos populistas e métodos
de reconforto popular. Ou seja, temos pela frente duas semanas da melhor e mais
rica comunicação política. Preparem-se, isto vai ser digno de ver.
Mas
sim, os resultados das autárquicas são ricos em leituras várias, ricos em casos
e citações e ricos em figuras de urso um pouco por toda a parte. Acima de tudo
são bons para tentarmos aprender mais alguma coisa política ou acerca da
política e políticos que temos por cá.
Desde
logo para percebermos que a utilização da vingança política enquanto discurso
eleitoral – e que foi usada e abusada por todos os que não fazem parte da
coligação que nos governa – foi útil a uns quantos vencedores da noite
eleitoral. De facto, a ladainha de «castiguem o PSD e o CDS, esses malfeitores
que só querem o nosso mal» resultou até certo ponto e retirou toda a
perspectiva de glória que os laranjas – mais ou menos desprovidos de qualquer
sentido de realismo – tinham para a noite de ontem. O PSD perdeu de forma
estrondosa por nenhuma outra razão que não a do comportamento desastroso que os
seus ministros têm assumido no cumprimento do seu dever governativo.
O que mete
medo, devo admitir. E mete medo porque o voto nas autárquicas costumava ser o
voto naquele ou aquela que melhor poderá fazer pela minha terrinha, coitadinha,
que tanto precisa de ajuda. Hoje em dia, e de algum tempo a esta parte, o voto
nas autárquicas é uma suja, nojenta e indisfarçada arma política partilhada por
todos os partidos. E essa arma, tantas vezes disparada por PS, CDU e BE, teve
os seus frutos no que diz respeito a tombar o PSD. Pergunto-me é se não terá um
efeito colateral danoso e sem remédio rápido à vista: será que quem votou para
castigo o fez conscientemente, ou seja, na pessoa que realmente poderá ajudar a
sua terrinha? Tenho dúvidas.
Outra
coisa que se aprende destas eleições é que o tombo monumental do BE tem uma
ligação directa à sua direcção bicéfala e à perda do tal líder reconhecido e
admirado por uma larga fatia do povo – mesmo do povo que não lhe dava o seu
voto. Louçã saiu e entrou o casalinho que nem de perto, nem de longe, conseguiu
conquistar quem não estava conquistado e que conseguiu a proeza de assustar e
afastar os que até achavam piada ao BE. O tombo do BE não foi uma entrada a pés
juntos de nenhum adversário, com direito a cartão vermelho e expulsão do
rectângulo de jogo. Foi um tropeção sozinho, pé contra pé, de um jogador com
dois pés esquerdos, que não se entendem, não correm para o mesmo lado e que só
por sorte conseguem disfarçar a falta de jeito para a coisa. É um desastre,
este tombo, que não deixa prever uma maneira confortável de sair do chão. Muito
menos quando um dos pés esquerdos vem a público congratular-se pela derrota do
PSD quando o que estava em jogo era a conquista de câmaras e juntas de
freguesia. E odeio-me, mas tenho de dar razão ao ignóbil do Serrão quando há
dias, numa crónica no JN, dizia que o BE passou de um partido em que se achava
graça votar para um partido que faz do «se eu não ganho tu também não ganharás»
no seu lema e modus vivendi.
Muitas
coisas se aprendem nestas eleições.
Aprende-se que a mise-en-scène do Portas
deu resultado e que o povo acredita realmente que o rapaz até se preocupa com a
situação do país e que ficou muito revoltado com as atitudes do Passos, esse
biltre. Aprende-se que o eleitorado está pouco preocupado com as pessoas que
vão a votos e que escolhem eleger este ou aquele só porque não são da cor do
fulano ou do sicrano. Aprende-se aquilo que já se sabia, que o eleitorado é
influenciado por tudo menos pelo que interessa. E vota-se porque sempre se
votou assim, porque o meu paizinho votava assim, porque este ao menos não é de
direita, porque aquele fez cá baile no bairro e trouxe leitão e por toda uma
série de razões que pouco ou nada têm a ver com os destinos do país.
O
que reflecte muito daquilo que acreditamos serem as motivações dos políticos
para fazerem carreira política, de resto.