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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, setembro 30, 2013

AI, AS ELEIÇÕES, AS ELEIÇÕES...

Ainda há coisa de 15 dias falava eu da falta de assuntos de interesse, e da silly season e mais não sei o quê quando, subitamente, Portugal sofre uma tempestade política de proporções épicas – que é o mesmo que dizer de proporções sujeitas ao escrutínio e leitura e consequente filtragem dos partidos políticos envolvidos.  

É verdade, estas eleições autárquicas fizeram as delícias dos órgãos de comunicação social que se estiveram nas tintas para as ditas e dos assessores de imprensa que vão ter de puxar dos livros que estudaram na escola para sacarem as melhores técnicas de desculpabilização, discursos populistas e métodos de reconforto popular. Ou seja, temos pela frente duas semanas da melhor e mais rica comunicação política. Preparem-se, isto vai ser digno de ver.

Mas sim, os resultados das autárquicas são ricos em leituras várias, ricos em casos e citações e ricos em figuras de urso um pouco por toda a parte. Acima de tudo são bons para tentarmos aprender mais alguma coisa política ou acerca da política e políticos que temos por cá.

Desde logo para percebermos que a utilização da vingança política enquanto discurso eleitoral – e que foi usada e abusada por todos os que não fazem parte da coligação que nos governa – foi útil a uns quantos vencedores da noite eleitoral. De facto, a ladainha de «castiguem o PSD e o CDS, esses malfeitores que só querem o nosso mal» resultou até certo ponto e retirou toda a perspectiva de glória que os laranjas – mais ou menos desprovidos de qualquer sentido de realismo – tinham para a noite de ontem. O PSD perdeu de forma estrondosa por nenhuma outra razão que não a do comportamento desastroso que os seus ministros têm assumido no cumprimento do seu dever governativo. 

O que mete medo, devo admitir. E mete medo porque o voto nas autárquicas costumava ser o voto naquele ou aquela que melhor poderá fazer pela minha terrinha, coitadinha, que tanto precisa de ajuda. Hoje em dia, e de algum tempo a esta parte, o voto nas autárquicas é uma suja, nojenta e indisfarçada arma política partilhada por todos os partidos. E essa arma, tantas vezes disparada por PS, CDU e BE, teve os seus frutos no que diz respeito a tombar o PSD. Pergunto-me é se não terá um efeito colateral danoso e sem remédio rápido à vista: será que quem votou para castigo o fez conscientemente, ou seja, na pessoa que realmente poderá ajudar a sua terrinha? Tenho dúvidas.

Outra coisa que se aprende destas eleições é que o tombo monumental do BE tem uma ligação directa à sua direcção bicéfala e à perda do tal líder reconhecido e admirado por uma larga fatia do povo – mesmo do povo que não lhe dava o seu voto. Louçã saiu e entrou o casalinho que nem de perto, nem de longe, conseguiu conquistar quem não estava conquistado e que conseguiu a proeza de assustar e afastar os que até achavam piada ao BE. O tombo do BE não foi uma entrada a pés juntos de nenhum adversário, com direito a cartão vermelho e expulsão do rectângulo de jogo. Foi um tropeção sozinho, pé contra pé, de um jogador com dois pés esquerdos, que não se entendem, não correm para o mesmo lado e que só por sorte conseguem disfarçar a falta de jeito para a coisa. É um desastre, este tombo, que não deixa prever uma maneira confortável de sair do chão. Muito menos quando um dos pés esquerdos vem a público congratular-se pela derrota do PSD quando o que estava em jogo era a conquista de câmaras e juntas de freguesia. E odeio-me, mas tenho de dar razão ao ignóbil do Serrão quando há dias, numa crónica no JN, dizia que o BE passou de um partido em que se achava graça votar para um partido que faz do «se eu não ganho tu também não ganharás» no seu lema e modus vivendi.
Muitas coisas se aprendem nestas eleições. 

Aprende-se que a mise-en-scène do Portas deu resultado e que o povo acredita realmente que o rapaz até se preocupa com a situação do país e que ficou muito revoltado com as atitudes do Passos, esse biltre. Aprende-se que o eleitorado está pouco preocupado com as pessoas que vão a votos e que escolhem eleger este ou aquele só porque não são da cor do fulano ou do sicrano. Aprende-se aquilo que já se sabia, que o eleitorado é influenciado por tudo menos pelo que interessa. E vota-se porque sempre se votou assim, porque o meu paizinho votava assim, porque este ao menos não é de direita, porque aquele fez cá baile no bairro e trouxe leitão e por toda uma série de razões que pouco ou nada têm a ver com os destinos do país.


O que reflecte muito daquilo que acreditamos serem as motivações dos políticos para fazerem carreira política, de resto.