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Bom Karma... ou não!

terça-feira, setembro 17, 2013

O S.W.A.G., A SILLY SEASON E A ESTUPIDEZ DOS PORTUGUESES



2013 foi o ano em que a silly season deixou de estar limitada ao espaço temporal que normalmente lhe estava destinado. A silly season é, basicamente e como todos sabem, o verão. E aqui não residem dúvidas ou surpresas, o verão é parco em acontecimentos de diversas naturezas. Na política pouco ou nada se passa ­– logo, na economia e finanças o caminho é o mesmo – e a não ser que o desporto salve as redacções e as decisões dos editores com um campeonato qualquer de futebol ou uns jogos olímpicos, estamos reduzidos aos afogamentos, aos espancamentos ou assassinatos conjugais e aos inevitáveis incêndios. 

Este ano a coisa foi diferente e de repente demo-nos conta de que afinal a silly season esteve estes anos todos bem escondida no sangue dos portugueses; percebemos que afinal ela está impregnada no nosso DNA e que é ela quem nos comanda as decisões, opiniões e tomadas de consciência. A silly season passa a ser tudo o que já era mais as meninas do Bloco de Esquerda indignadas com os piropos dos profissionais de construção civil, o Seguro preocupado em transformar as rochas em ilhas e os portugueses surpreendidos com a descoberta do S.W.A.G. e da geração que padece dessa doença e chocados com o estado desse grupo de petizes que, como todos os outros que os antecederam, «serão» o futuro de um país que ainda acredita nessas coisas da futurologia. 

O que assuta e preocupa realmente é a estupidez dos portugueses que nunca se preocuparam com as gerações de estudantes universitários que só se preocupam em vestir roupa que não lhes assenta bem, a beberem até à consciência de que o que querem na verdade é violar alguém ou ser violados, fazer barulho, vomitar e adormecer confortavelmente deitados numa poça de mijo que pode nem ser sua pertença. Se calhar os portugueses preocupados deviam preocupar-se com o facto de que o nosso futuro de gestores, médicos, engenheiros, arquitectos, advogados, psicólogos e, imagine-se, políticos e governantes, está na realidade, pejado de candidatos a Lindsay Lohans.

Os portugueses preocupados nunca se preocuparam com esta nem com outras gerações de imbecis boçais que povoam hoje a nossa realidade social e profissional e que por força de terem concluído um curso superior e consequentes escalões académicos, gerem hoje as nossas vidas, desde um simples balcão da segurança social, até ao varandim imponente de um juiz, passando pelas macas de um hospital, pelas secretárias dos seus patrões e pelas bancadas dos deputados. Com os ocupantes deste mobiliário os portugueses nunca se preocuparam. 

Nunca se preocuparam – e até acharam imensa graça – às ruas que as as arruadas percorrem arrotando promessas irreais, às feiras passadas a correr pelos políticos que largam beijinhos como quem flatula e assobia para o lado, com as escadarias imperiais forradas a carpete vermelha da melhor qualidade onde políticos europeus posam sorridentes para a fotografia de grupo do grupo que se prepara para nos encostar à parede, roubar-nos a carteira, raptar-nos a família e ainda nos assentar uns bons calduços. 

Com nada disto alguma vez os portugueses preocupados se preocuparam. 

Preocupam-se, é verdade, com o estado das artes em Portugal, mas não vão ao teatro, nem a exposições ou a concertos, e assim que apanham alguém a mijar na fotografia de um político, irados lançam impropérios e logo põem em dúvida o uso dos dinheiros públicos que só passa a ser o «seu» dinheiro quando lhes interessa. Usam a arte para falar caro, usam a arte para conquistar votos e esquecem-se do verdadeiro uso da arte e do serviço público, realmente público que a arte é. 

Preocupam-se com os bombeiros e com o seu infortúnio e com a falta de apoios e de dinheiro e de condições, sim, preocupam-se. Mas só se preocupam no ano em que o fogo definitivamente venceu os bombeiros e os fez tombar a um ritmo impressionante. Fizeram campanhas de angariação de alimentos, juraram que os incendiários deviam ser queimados vivos, como as bruxas, indignaram-se com o comportamento ausente dos políticos responsáveis e insultaram o tonto do presidente. Mas só este ano, que os anos anteriores foram um passeio no bosque para os bombeiros, afinal não morreu nenhum e eles é que escolheram aquela profissão. 

Mas não se preocuparam nunca com o tonto do presidente que temos, muito menos na altura de o reeleger, que isto de escolher outra pessoa para o mesmo cargo dá muito trabalho, mais vale ir com o que já está e eu sei lá quem são os outros. 

Os portugueses nunca se preocuparam. Nunca atiraram uma pedra. Nunca pegaram fogo a uma fotografia do ministro-isto, ou do ministro-aquilo. Nunca viraram nada do avesso, mas ficam muito ofendidos quando se chama ao 25 de Abril um golpe-de-estado e não uma romântica revolução, como se tivessem tido de facto algo a ver com aquilo.

Os portugueses nunca se preocuparam com os portugueses. Com nenhum deles. E isso levou a que os portugueses, burros portugueses, chegassem ao ponto em que à mais pequenina coisa se tornem violentamente contra ou desproporcionalmente preocupados. Hipocritamente preocupados.
Portugal é uma silly season constante, doze meses por ano, quatro semanas por mês, sete dias por semana, full time, sem folgas ou pausas para almoço e cigarro. De borla, sem exigirem cinco euros à hora, subsídio de férias e Natal, nas tintas para os feriados religiosos. 

E tudo isto é triste, tudo isto é boçal. Os putos que têm S.W.A.G., se não fossem de facto burros como uma tampa de saneamento, rir-se-iam dos restantes compatriotas se percebessem o que compatriotas significa. E com razão.