O S.W.A.G., A SILLY SEASON E A ESTUPIDEZ DOS PORTUGUESES
2013 foi o ano em que a silly season deixou de estar
limitada ao espaço temporal que normalmente lhe estava destinado. A silly
season é, basicamente e como todos sabem, o verão. E aqui não residem dúvidas
ou surpresas, o verão é parco em acontecimentos de diversas naturezas. Na política
pouco ou nada se passa – logo, na economia e finanças o caminho é o mesmo – e
a não ser que o desporto salve as redacções e as decisões dos editores com um
campeonato qualquer de futebol ou uns jogos olímpicos, estamos reduzidos aos
afogamentos, aos espancamentos ou assassinatos conjugais e aos inevitáveis
incêndios.
Este ano a coisa foi diferente e de repente demo-nos conta
de que afinal a silly season esteve estes anos todos bem escondida no sangue
dos portugueses; percebemos que afinal ela está impregnada no nosso DNA e que é
ela quem nos comanda as decisões, opiniões e tomadas de consciência. A silly
season passa a ser tudo o que já era mais as meninas do Bloco de Esquerda
indignadas com os piropos dos profissionais de construção civil, o Seguro
preocupado em transformar as rochas em ilhas e os portugueses surpreendidos com
a descoberta do S.W.A.G. e da geração que padece dessa doença e chocados com o
estado desse grupo de petizes que, como todos os outros que os antecederam, «serão»
o futuro de um país que ainda acredita nessas coisas da futurologia.
O que assuta e preocupa realmente é a estupidez dos
portugueses que nunca se preocuparam com as gerações de estudantes
universitários que só se preocupam em vestir roupa que não lhes assenta bem, a
beberem até à consciência de que o que querem na verdade é violar alguém ou ser
violados, fazer barulho, vomitar e adormecer confortavelmente deitados numa
poça de mijo que pode nem ser sua pertença. Se calhar os portugueses
preocupados deviam preocupar-se com o facto de que o nosso futuro de gestores,
médicos, engenheiros, arquitectos, advogados, psicólogos e, imagine-se,
políticos e governantes, está na realidade, pejado de candidatos a Lindsay
Lohans.
Os portugueses preocupados nunca se preocuparam com esta nem
com outras gerações de imbecis boçais que povoam hoje a nossa realidade social
e profissional e que por força de terem concluído um curso superior e
consequentes escalões académicos, gerem hoje as nossas vidas, desde um simples
balcão da segurança social, até ao varandim imponente de um juiz, passando pelas
macas de um hospital, pelas secretárias dos seus patrões e pelas bancadas dos
deputados. Com os ocupantes deste mobiliário os portugueses nunca se
preocuparam.
Nunca se preocuparam – e até acharam imensa graça – às ruas
que as as arruadas percorrem arrotando promessas irreais, às feiras passadas a
correr pelos políticos que largam beijinhos como quem flatula e assobia para o
lado, com as escadarias imperiais forradas a carpete vermelha da melhor
qualidade onde políticos europeus posam sorridentes para a fotografia de grupo
do grupo que se prepara para nos encostar à parede, roubar-nos a carteira,
raptar-nos a família e ainda nos assentar uns bons calduços.
Com nada disto alguma vez os portugueses preocupados se
preocuparam.
Preocupam-se, é verdade, com o estado das artes em Portugal,
mas não vão ao teatro, nem a exposições ou a concertos, e assim que apanham
alguém a mijar na fotografia de um político, irados lançam impropérios e logo
põem em dúvida o uso dos dinheiros públicos que só passa a ser o «seu» dinheiro
quando lhes interessa. Usam a arte para falar caro, usam a arte para conquistar
votos e esquecem-se do verdadeiro uso da arte e do serviço público, realmente
público que a arte é.
Preocupam-se com os bombeiros e com o seu infortúnio e com a
falta de apoios e de dinheiro e de condições, sim, preocupam-se. Mas só se
preocupam no ano em que o fogo definitivamente venceu os bombeiros e os fez
tombar a um ritmo impressionante. Fizeram campanhas de angariação de alimentos,
juraram que os incendiários deviam ser queimados vivos, como as bruxas, indignaram-se
com o comportamento ausente dos políticos responsáveis e insultaram o tonto do
presidente. Mas só este ano, que os anos anteriores foram um passeio no bosque
para os bombeiros, afinal não morreu nenhum e eles é que escolheram aquela
profissão.
Mas não se preocuparam nunca com o tonto do presidente que
temos, muito menos na altura de o reeleger, que isto de escolher outra pessoa
para o mesmo cargo dá muito trabalho, mais vale ir com o que já está e eu sei
lá quem são os outros.
Os portugueses nunca se preocuparam. Nunca atiraram uma
pedra. Nunca pegaram fogo a uma fotografia do ministro-isto, ou do
ministro-aquilo. Nunca viraram nada do avesso, mas ficam muito ofendidos quando
se chama ao 25 de Abril um golpe-de-estado e não uma romântica revolução, como
se tivessem tido de facto algo a ver com aquilo.
Os portugueses nunca se preocuparam com os portugueses. Com nenhum
deles. E isso levou a que os portugueses, burros portugueses, chegassem ao
ponto em que à mais pequenina coisa se tornem violentamente contra ou
desproporcionalmente preocupados. Hipocritamente preocupados.
Portugal é uma silly season constante, doze meses por ano,
quatro semanas por mês, sete dias por semana, full time, sem folgas ou pausas
para almoço e cigarro. De borla, sem exigirem cinco euros à hora, subsídio de
férias e Natal, nas tintas para os feriados religiosos.
E tudo isto é triste, tudo isto é boçal. Os putos que têm
S.W.A.G., se não fossem de facto burros como uma tampa de saneamento,
rir-se-iam dos restantes compatriotas se percebessem o que compatriotas
significa. E com razão.
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