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Bom Karma... ou não!

terça-feira, maio 07, 2013

AS BESTAS


Acompanhei há dias uma «conversa» no Facebook entre alguém que amaldiçoava as pombas citadinas e uma série de pessoas que claramente tinha arquivado, por falta de coragem ou oportunidade, muito ressentimento contra as pequenas aves. Ao primeiro sinal de à-vontade, os ressentidos aproveitaram o passo em frente de quem decidiu maldizer as pombas da cidade e lá soltaram a migalha de pipoca que tinham na garganta e fizeram correr um chorrilho de boçalidades ímpares – mas não surpreendentes.
A falta de sensibilidade das pessoas citadinas é conhecida e já nem choca. O que choca, é a total falta de escrúpulos de quem, na supracitada «conversa», exige sangue para evitar males maiores. Por outras palavras, estamos a falar de pessoas citadinas que basicamente querem a morte das pombas para estas não incomodarem mais; que querem castigos para quem as alimenta – essas outras pessoas citadinas que aos olhos das primeiras não fazem mais do que fornecer munições com que as pombas, esses demónios, nos atacam roupas, carros e cabeças com mais ou menos pelo.
É uma chatice, não haja dúvida. As pombas, de quem Lobo Antunes disse circularem de «mãos atrás das costas como chefes de repartição» são um flagelo, uma epidemia, um vírus que merecia o extermínio em laboratório. São as pombas as responsáveis pelo que de pior se encontra nas cidades, neste caso, na do Porto. E estes, envolvidos na dita «conversa», não são mais do que cidadãos preocupados com a beleza e higiene da urbe, com o bem-estar das estátuas e com a saúde das pinturas dos seus carros. Não são, no entanto, preocupados com as ruas regadas a mijo e as manhãs de Domingo cobertas por garrafas e copos de plástico. Isso não os preocupa nem os junta em movimentos sociais de indignação. Para eles, aparentemente, essas manifestações fazem parte da vida das cidades e não merecem reparo.
Ou então eu estou totalmente errado e não tarda nada e estas pessoas citadinas, cidadãos apoquentados, vão começar a exigir o extermínio de cães vadios, gatos de telhado e bêbedos que mijam nas esquinas e portas de garagem. E já agora, porque parar por aqui? Porque não exigir o extermínio dos pedintes, dos imigrantes que nos querem lavar os vidros do carro nos semáforos, peixeiras de rua e putas velhas e feias? Vamos limpar a cidade, minha gente, afinal temos milhares de turistas que querem gastar bom dinheiro nos nossos restaurantes e lojas de souvenirs e que não estão para levar com merda de pombo na cabeça. Temos de olhar pelo interesse da cidade, pelo greater good das pessoas citadinas. Temos de ser civilizados e exigir o fim de tudo o que nos importuna.
Ou então…
As pessoas citadinas são uma bela merda e não têm pejo em assumi-lo publicamente. Parabéns por isso.