kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sexta-feira, janeiro 27, 2012

FALE, SENHOR ANÍBAL!

Excelentíssimo Senhor Aníbal (com certeza não se aborrecerá por eu o tratar por Aníbal),

venho por este meio expressar o meu mais profundo apoio e nobre solidariedade para com a sua pessoa, por estes dias tão vilipendiada pelas massas sociais - que o senhor deve conhecer por "povo" - e alvo da mais atenta observação por parte dos media.
A meu ver, as declarações que proferiu há poucos dias, versando as suas parcas posses e a insuficiência dos rendimentos que aufere, foram encaradas pelos ingratos portugueses, sempre rápidos a disparar em todas as direcções e a fazerem todas as perguntas depois do acto, de uma forma obtusa e, logo, absolutamente injusta.
Na verdade, senhor Aníbal, os portugueses estão pouco habituados a ouvi-lo dizer seja o que for. Tem sido sua política não tecer comentários e abster-se de opinar sobre basicamente tudo o que se passa em território nacional. Desabituados que estão os portugueses de ouvir a sua voz presidencial, é natural que se espantem e fiquem confusos quando o senhor profere mais do que os habituais "não comento", "não cabe ao presidente da república comentar" ou "não é o lugar nem o momento para fazer declarações".
Pela parte que me toca, foi muito bom ouvi-lo, senhor Aníbal, aprendi imenso. Desde logo porque percebi que afinal havia uma razão para o senhor não ser muito declarativo, opinativo e comunicativo. É que claramente o senhor não sabe falar para as massas. E está muito mal assessorado, deixe-me que lhe diga. Nos dias que correm é expectável de um bom assessor de comunicação que saiba orientar o seu cliente e, basicamente, dizer-lhe o que ele tem de dizer. Para o senhor ter uma ideia mais concreta do que estou a falar, permita-me usar de uma imagem tão querida da nossa querida RTP Memória: lembra-se dos ventriloquistas que animavam a petizada em inúmeros programas de televisão e que eram presença assídua no natal dos hospitais? Pois bem, é assim mais ou menos que funciona a relação assessor-cliente. Um é o ventriloquista e o outro o boneco. O senhor claramente tem um mau ventriloquista. E não é lá grande boneco, diga-se.
Por outro lado, senhor Aníbal, eu, que até aqui não percebia - sinceramente, não percebia - a função real de um presidente da república, fiquei totalmente esclarecido no que ao seu dever diz respeito. O seu dever, bem cumprido, desta vez, é animar as hostes. Já não temos nas ruas uma geração à rasca, os julgamentos bombásticos estão naquela fase morna e pouco interessante e escândalos políticos e/ou sociais é coisa que por estes dias tem faltado nos meios de comunicação. Dou-lhe os meus parabéns por se ter enchido de coragem, determinação e patriotismo abnegado e, de uma pazada só, ter resolvido os problemas de tédio que começavam a apoquentar os seus eleitores. Muito bem, é assim mesmo. É desta fibra que se faz um presidente. Não se fique por aqui. Peço-lhe encarecidamente que procure mais vezes a luz da ribalta e que nos deixe ouvir a sua voz. A sério, vai ver como funciona como um óptimo antídoto contra a crise e o fado nacionais. É que já ninguém tem saco para se continuar a rir dos Gato Fedorento, do José Castelo Branco ou dos males do Sporting. Precisamos de material novo, senhor Aníbal!
E ainda diziam que presidentes como o Lula, o Havel e o Walesa é que eram presidentes próximos do povinho. Que injustiça, senhor Aníbal. Que injustiça.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

EU, PIRATA ME ASSUMO

Tanta discussão em torno desta recente caça aos piratas internautas e para quê? Estamos a discutir o indiscutível, caros senhores e senhoras. A pirataria é e deve sempre ser ilegal. Por uma questão tão lógica quanto a que nos diz que todo o trabalho tem um preço. Ponto. Pouco importa se o preço é inflacionado ou não. Fosse esse o assunto e estaríamos a roubar garrafas de Coca-Cola que, claramente, não valem o que custam nas prateleiras dos supermercados. Ok?

Esclarecidos que estamos (espero) em relação ao assunto pirataria,passemos à hipocrisia da questão. Toda a gente que subitamente se arrastou para fora do seu calhau para gritar impropérios vários contra a indústria pirata, consome produtos pirateados. Lamento, não conseguem criticar a pirataria e manter um ar credível ao mesmo tempo. E por uma razão muito simples, meus caros: a tentação de ver primeiro, ouvir primeiro, descodificar canais pornográficos primeiro e construir o nosso próprio TDT a partir de um vídeo na net é demasiado irresistível. E toda a gente o faz ou, à falta de conhecimentos, arranja um dealer privado e de confiança para o efeito.

Para além disso, os piratas sempre tiveram um certo encanto. Todos cresceram a admirar os piratas do cinema, obviamente embelezados pela magia da sétima arte. E todos começaram, mesmo que às escondidas, a admirar as façanhas dos piratas cibernéticos, capazes de feitos tão impressionantes quanto entrar no sistema de defesa dos Estados Unidos, saber as perguntas daquele famoso concurso de televisão ou ver fotografias da mãe do melhor amigo nua e em posições nada católicas. Tudo isto são ilegalidades, no entanto. Com mais ou menos piada mas ilegais. Ilegais porque não são mais do que o que assinalei no primeiro parágrafo. São invasões, roubos, de bens materiais e da liberdade individual e corporativa. Há leis contra isto, e o mundo da infodependência, tão bem alimentado pela internet, parece ter-se esquecido disso.

No entanto, sou pirata. Roubo filmes, música, fotografias e software para meu próprio uso e deleite. Poupo uma pipa de massa ao fazê-lo, mas estou também a cometer uma ilegalidade. Tenho consciência disso e não faço uso de uma falsa moral para dizer que não sou desses, nem para lançar os que o fazem à fogueira. E vou continuar a ser pirata, lamento. Dá jeito ser pirata. Porque sou infodependente, porque não tenho dinheiro para comprar toda a música de que gosto e muito menos para ver todos os filmes que quero ver - já para não falar que de todos os filmes que quero ver, apenas uma pequeníssima parte chega às salas portuguesas.

Por isso, parem lá com a hipocrisia, críticos da pirataria, e com as desculpas esfarrapadas, defensores da pirataria. Somos todos consumidores e temos todos a consciência de que estamos a cometer um crime sempre que clicamos na caixinha com a palavra "download". E parem com a discussão, a pirataria não tem fim possível. Por cada um que é detido, por cada site que é fechado, surgem no mundo uma poucas de dezenas de novos piratas. Há outras coisas em torno deste assunto que deviam, essas sim, ser discutidas com seriedade e que se prendem precisamente com direitos de autor e com formas de permitir um acesso mais fácil à informação e à cultura.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

O TD... QUÊ?


Vamos falar de forma a que tudo isto fique claro? Vamos a isso, então.
O que o governo português vai fazer com esta coisa da televisão digital terrestre, na verdade é isto: bloquear o acesso livre, e a que todos os portugueses têm direito, aos quatro canais nacionais e criar um sistema de chantagem tipo "sem caixinha não há televisãozinha". Disfarça-se a coisa com a desculpa - cada vez mais um bode expiatório credível - da procura da excelência tecnológica e da modernização da nação, espera-se pela histórica e mais do que certa cooperação do povinho morno e pouco dado a essas coisas das primaveras revolucionárias, e consegue-se uma muito útil metidela de mão no bolso alheio.
Tudo isto é feio, já se sabe, mas a verdade é que, mais uma vez, a coisa vai passar incólume graças à pouca resistência oferecida pelos roubados. Imaginem o seguinte cenário - que não será muito diferente do que deveria ter acontecido assim que as SCUT passaram a ser pagas: nenhum português comprava a tal caixinha - cujo nome tecnologicamente avançado é «descodificador» - os quatro canais sofriam uma quebra colossal nas audiências, por causa disso os anunciantes cortavam todo e qualquer tipo de investimento em publicidade televisiva e os prejuízos eram de tal ordem, que a única hipótese era o mesmo governo que hoje defende o desenvolvimento tecnológico de uma forma tão abnegada, dar o dito pelo não dito e afirmar publicamente que há sacrifícios que não se pedem aos portugueses, nem em nome da modernização do país.