Se há 15 anos me dissessem que a minha ideia de construir um espectáculo de teatro a partir de Tom Waits, resultaria num objecto de sucesso, e especialmente num objecto de sucesso sem paralelo na longa carreira do Teatro Universitário do Porto, não acreditaria.
A verdade é que 15 anos depois de ter tido essa ideia, ALAN foi uma realidade de uma dimensão absolutamente surpreendente. Vencedor do MITEU, na Galiza, e vencedor do FATAL, em Lisboa, ALAN recolheu o carinho do público que o viu no Porto, dos profissionais e alunos de teatro que nos manifestaram o seu feedback, e dos júris de dois importantes festivais de teatro universitário.
Resta agora perguntar-me se ALAN ainda vai aparecer novamente este ano numa sala do Porto, ou se a sua vida cheia de alegrias acabou de acabar...
Desisti de Vincenzo Natali ao primeiro filme que vi dele, "Cube". E fiz bem, porque o que veio a seguir foi ainda pior. Desta, não estava à espera. Pelos visto alguém deve ter gostado do segmento que dirigiu para "Paris, je t'aime" e deu-lhe o dinheiro suficiente para contratar Adrien Brody - parece que não, mas ainda serve para dar a um filme uma certa dose de seriedade.
Um dos meus filmes preferidos continua a ser "Delicatessen", de Jeunet e Caro. O Primeiro seguiu uma carreira recheada de filmes estranhos ou, no mínimo, particulares, mas sem a deliciosa minúcia de "Delicatessen". Apesar do sucesso desse tão sobrevalorizado, mas ao mesmo tempo tão injustiçado, "Le fabuleux destin d'Amélie Poulain".
Agora, Jean-Pierre Jeunet parece regressar ao universo delirante da sua obra-prima, e "Micmacs" promete ser uma das surpresas do ano. A ver se não volta a escorregar...
Somos um povo de costumes demasiado brandos. Mesmo quando reclamamos, fazemo-lo de uma forma demasiado ordeira, bem-educada e bem-comportada; gostamos de seguir as regras mesmo da reclamação, e é por isso que levamos tão a sério esse objecto tão ridículo e inútil chamado Livro de Reclamações. A partir do momento em que escrevemos no Livro de Reclamações tudo volta a ficar bem; a ordem regressa ao universo e deixamos de ter motivos para desagrado. Já escrevemos, portanto, tá resolvido, não voltará a suceder.
Somos moles nas manifestações, reclamações, greves e exigências. Moles em coisas simples e nas mais graves, também. Somos moles e mesmo quando não o somos, mesmo quando perdemos a cabeça e desatamos aos gritos, fazemo-lo por pouco tempo e aproveitamos a memória curta que temos para passar à frente e seguir com a nossa vida. O dia seguinte é sempre dia de sol, achamos nós.
Às vezes devíamos seguir o exemplo de outros e fazer uma revolução. O problema é que a história recente das revoluções não fala a favor do povo português. Ficamos sempre à espera que alguém tome a iniciativa e só quando a coisa está controlada é que saímos de casa com flores na mão. Não chega, claramente. Às vezes devíamos seguir o exemplo dos outros que consideramos, bárbaros, violentos e excessivos. Às vezes devíamos fazer como os gregos. Pode não surtir efeito, imediato ou a longo prazo, mas a verdade que devíamos contrariar esta tendência para o mole, o morno e o invertebrado que cada vez mais nos define enquanto povo, e marcar uma posição.
Ora o nosso presidente promulgou a lei do casamento gay. Foi uma surpresa, sou sincero, mas não totalmente, já que o homem lá deixou escapar que o fazia devido à "situação dramática" em que Portugal se encontra. Voltamos ao mesmo: o governo espera por uma vinda do papa para aumentar os impostos, e o presidente espera que o papa se vá embora - e que todos os fanáticos católicos de Portugal ainda estejam sobre o efeito narcótico de tanta alegria cristã - para aprovar uma lei que no Vaticano certamente lhe daria direito a uma boa e confortável fogueirinha.
Entretanto, Portugal já arranjou um novo brinquedo de Verão e que muito rapidamente vai passar a ser odiado, a VUVUZELA. O famoso-instrumento-musical-africano-versão-plástico, já se vê à venda em postos de gasolina, lojas de chineses (como não podia deixar de ser), mini, super e hipermercados e sex shops. Portugal é assim, um país de ondas comerciais que aparecem e desaparecem para nunca mais serem lembradas. A questão aqui é saber se a VUVUZELA tuga não vai perder o pio aos primeiros jogos da selecção no mundial da África do Sul. Por um lado era bom, que aquela chinfrineira não se aguenta!
O governo cedeu às dificuldades financerias e vai adiar a construção da terceira ponte sobre o Tejo... por seis meses. O que só pode ser um sinal de recuperação económica. É fácil perceber que, segundo o governo portuguÊs, o país vai estar a bombar economicamente daqui a seis meses. Curiosamente, lá mais para o natal, época em que os portugueses precisam de sentir que podem gastar este mundo e o outro em Bimbis, brinquedos para as crianças e VUVUZELAS.
A RTP, essa, continua a querer provar que se pode sempre fazer pior em televisão. Agora, não tem problemas nenhuns em fazer um programa, em tudo idêntico a outro, de sucesso, de um canal concorrente e a que se podia chamar "Ídolos do Faduncho", "Ídolos da Tasca" ou, de forma mais correcta, "Casting para o La Féria, sem o biltre gastar um tostão e ainda por cima receber algum, como se já não tivesse que chegasse". E é mesmo isso, faz-se um casting para a nova produção do senhor, disfarça-se a coisa de programa de talentos, filma-se e encena-se e musica-se como se estiessemos em 1950 - tudop aaquilo tresanda a Festival da Canção do tempo da velha senhora - e pronto, fica-se à espera do sucesso... Há por aí tantos bombistas no desemprego, ninguém lhes arranja um furo para uma visita relâmpago ao canal do Estado? (Não faço ideia de quem é a senhora na foto...)
De facto, a população não enche as ruas e praças deste país para reclamar contra os aumentos dos impostos ou contra as escolhas do seleccionador para o mundial da África do Sul, mas reunem-se com aparente facilidade por causa de um senhor velhinho, vestido de branco que não está a fazer mais do que o seu emprego. Prioridades, prioridades...
Não se pode dizer que foi de repente, saído do nada ou totalmente inesperado, mas estes três cantautores portugueses estão, decididamente, no topo da pirâmida musical cá do burgo. João Coração, B Fachada e Samuel Úria são os maiores do meu Ipod, e presenças diárias em todas as circunstâncias.
Já há algum tempo que eram referenciados em projectos pequenos, para amigos e pouco mais, e em algumas parcerias, enquanto convidados. Agora, em nome mais que próprio, conquistaram imediatamente público e crítica, e é difícil ouvir ou ler alguém a falar mal desta música inteligente, simples, séria e divertida ao mesmo tempo, bem composta e melhor escrita.
Ficamos à espera de mais, sim? E vejam se começam a fazer uns videozinhos, as músicas merecem e estão mesmo a pedi-los.
O espectáculo ALAN do TUP venceu o 15º MITEU - Mostra Internacional de Teatro Universitário de Ourense. Assim, sem mais nem menos e de forma unânime. Segundo o júri, pela poesia, pela pesquisa, pela ocupação do espaço, pela beleza, pela clareza e pela dedicação, o nosso espectáculo foi o melhor desta edição.
Estamos orgulhosos e muito vaidosos, como não podia deixar de ser. O trabalho de quase 5 meses e o sonho de quase 15 anos, resultaram num prémio do qual, sinceramente não estavamos à espera. Nunca estamos, aliás. Mas a verdade é que este tipo de reconhecimento é bom para a nossa auto-estima, especialmente quando os que nos deviam apoiar se estão literalmente nas tintas para o que fazemos.
Gostava eu que este prémio resultasse em algo mais...