Somos um povo de costumes demasiado brandos. Mesmo quando reclamamos, fazemo-lo de uma forma demasiado ordeira, bem-educada e bem-comportada; gostamos de seguir as regras mesmo da reclamação, e é por isso que levamos tão a sério esse objecto tão ridículo e inútil chamado Livro de Reclamações. A partir do momento em que escrevemos no Livro de Reclamações tudo volta a ficar bem; a ordem regressa ao universo e deixamos de ter motivos para desagrado. Já escrevemos, portanto, tá resolvido, não voltará a suceder.
Somos moles nas manifestações, reclamações, greves e exigências. Moles em coisas simples e nas mais graves, também. Somos moles e mesmo quando não o somos, mesmo quando perdemos a cabeça e desatamos aos gritos, fazemo-lo por pouco tempo e aproveitamos a memória curta que temos para passar à frente e seguir com a nossa vida. O dia seguinte é sempre dia de sol, achamos nós.
Às vezes devíamos seguir o exemplo de outros e fazer uma revolução. O problema é que a história recente das revoluções não fala a favor do povo português. Ficamos sempre à espera que alguém tome a iniciativa e só quando a coisa está controlada é que saímos de casa com flores na mão. Não chega, claramente. Às vezes devíamos seguir o exemplo dos outros que consideramos, bárbaros, violentos e excessivos. Às vezes devíamos fazer como os gregos. Pode não surtir efeito, imediato ou a longo prazo, mas a verdade que devíamos contrariar esta tendência para o mole, o morno e o invertebrado que cada vez mais nos define enquanto povo, e marcar uma posição.
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