kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, dezembro 20, 2011

A LINGUAGEM CORRENTE

Sejamos sinceros, ninguém, absolutamente ninguém, tem paciência para o «politiquês» que falam os políticos, analistas e opinion makers da nossa praça. É uma língua estranha, cheia de armadilhas, desenhada para baralhar todas as hipóteses de comunicação e que serve apenas os interesses dos que tão bem a dominam.
Pois bem, vem isto a propósito da tão aclamada calinada do ano do Primeiro Ministro português. A meio de uma entrevista, Passos Coelho não teve quaisquer problemas em «apontar» aos professores no desemprego o caminho para os novos descobrimentos portugueses, que os poderão levar a países tão exóticos e fascinantes como as ex-colónias, plenos de oportunidades, riquezas escondidas e mulheres bonitas à espera de uma evangelização educacional à moda do Século XXI. Ao fazê-lo, Passos Coelho está na verdade a dizer "não estão bem, mudem-se" mas no tal «politiquês» que torna tudo, mesmo as maiores barbaridades, em algo aparentemente polido e educado. Não é, desenganem-se. Aliás, não é de maneira nenhuma. Esta é mesmo uma das maiores boçalidades proferidas por um político português nos últimos anos e é igualmente a prova de como o líder de uma nação dita civilizada pode ser uma besta arrogante e mal-educada. Obrigado por isso, senhor Primeiro-Ministro, fez-nos a todos um enorme favor.
E a verdade é esta, a classe política portuguesa, salvo algumas, poucas, excepções, é constituída por bestas ignorantes com canudos, parolinhos de fato e gravata que compram a sua subida hierárquica e que levam a sério um conjunto de critérios tão do agrado de quem vem do meio rural para a grande cidade para ser alguém e assim agradar ao paizinho que trabalhou toda a vida para o filho não ter de pegar na enxada - "sê doutor, filho, e manda algum quando puderes". São grunhos, com as habilitações que o ensino lhes deu e pouco mais, que não sabem falar em público, que têm a cultura de um mexilhão e que, algures no seu percurso, perdem toda a sensibilidade humana e se transformam rapidamente num híbrido entre um labrego analfabeto e uma máquina ATM com manias de grandeza.
Pedro Passos Coelho não é diferente dos que o antecederam. Pode sorrir o que quiser para as câmaras, pode ser educado no seu discurso e não entrar naquelas picardias feéricas tão típicas em Sócrates; pode ser bem parecido e vestir bons fatos e escolher sempre a gravata perfeita. Pode ser isto tudo que nunca deixará de ser um arrogante caçador de divisas com o objectivo bem definido de perseguir a posição de poder que lhe garanta uma reforma tranquila.
E esta conversinha é a habitual conversinha de café de quem não sabe outra coisa que não seja queixar-se dos políticos portugueses? É. Mas é o que apetece dizer, mesmo que seja mentira, um engano ou um erro de interpretação. Apetece porque temos políticos preocupados em agradar uma organização à custa de quem não tem - não tem, não se convençam de que as eleições são a oportunidade do povo - hipótese de decidir, escolher ou opinar.
E eu pergunto-me: porque não vão os políticos portugueses exercer política para as ex-colónias? Ah, claro, porque não têm problemas de emprego.
E agora vem aí a lei que reduz os dias de indemnização por despedimento para de oito a doze dias... Vamos ver como reage o tal povo de brandos costumes.

terça-feira, dezembro 13, 2011

SE AS PAREDES FALASSEM...


Se as paredes do TUP contassem histórias, tinham muito o que falar de mim. Entrei lá pela primeira vez em 2006 e desde esse dia não parei de dar informação preciosa e privilegiada às paredes que, por força da água, insistem em deixar-se cair. Talvez um dia as conte eu, à falta de voz das únicas que verdadeiramente testemunharam tudo o que vivi naquele resto de edifício. Tudo o que cresci e tudo o que aprendi e conheci. Todas as pessoas que passaram por mim. As paredes do TUP foram as únicas a darem-me a oportunidade de ser actor, encenador e formador; de pôr em prática sonhos antigos, de ser Waits. Muitas foram as horas passadas sozinho com aquelas paredes, muitas das vezes sem razão, só pela vontade de lá estar.
Essas paredes fazem hoje 63 anos e eu não estou lá. Mas o importante é que elas estão.
Parabéns.