ENTERREM O CADÁVER QUE JÁ CHEIRA MAL!
Vamos lá a ver, acho que já toda a gente passou por isto:
um casal envolve-se em brincadeiras sexuais e não tem preservativo. Já se sabe, a coisa pode ser perigosa de inúmeras formas, mas o calor aperta, a loucura toma conta das decisões e o intelecto é súbita e implacavelmente substituído por uma vontade incontrolável de simular o divino acto de procriação. "Não faz mal, mete só um bocadinho", diz ela. "Tá tudo controlado, quando estiver na hora saco fora e não há problema". Mas acidentes acontecem, e quando menos se espera a desgraça acontece e os pombinhos ficam a olhar um para o outro com cara de quem acaba de saber que reprovou no exame de código pago pelos pais babados.
A imagem serve para ilustrar o que aconteceu - e estava há muito previsto que iria acontecer - ao programa Cinco Para a Meia-Noite. Ou seja, quando deveria ter terminado, de forma airosa, limpa e digna, foi esticado aos limites do suportável. Resultado? Crash and burn monumental.
Espanta-me como ninguém na equipa responsável pelo produto televisivo - senhores do dinheiro principalmente - percebeu que a saída de dois dos apresentadores de sempre era um sinal evidente da redução drástica das possibilidades de sucesso de mais uma série. Espanta-me e choca-me a vontade insaciável, incontrolável, de mandar para o ar um objecto que desde o início foi meio mal amanhado e que agora estava, à partida, ferido de guerra. Ok, é verdade, os dois apresentadores que abandonaram o barco eram, inquestionavelmente os menos interessantes - não que os outros o sejam - do quinteto. No entanto, o público seguidor do programa gostava da rotina criada. Ou isso não serve como barómetro, senhores produtores de televisão?
Não gosto hoje, como nunca gostei, do Cinco Para a Meia-noite. Contudo, devo admitir que a primeira série deu ao país um formato arrojado e humilde q.b.; que a segunda série, transformada em fenómeno de culto, tinha potencial para, sendo bem feita, se tornar também num produto de respeito, sério - embora galhofeiro - e que se aproximava dos formatos americanos tão do agrado do público português. O problema é que daí em diante a coisa resvalou, escorregou e despencou para nunca mais se levantar.
Esta mais recente série do Cinco é a prova de que um cavalo ferido bom é um cavalo ferido com uma bala no lombo. Porque tudo é mau. O cenário e a iluminação são fracos. Os entrevistadores cada vez têm menos controlo no desenrolar do programa. As piadas são gastas e com cada vez menos graça. Tudo parece manifestamente «em cima do joelho» - tão «em cima do joelho» que se perdem oportunidades de ouro com convidados interessantes e que pequenas rubricas supostamente cómicas não têm tempo suficiente para respirar e se instalar no espectador - desde o genérico de abertura aos créditos finais, passando pelos erros de casting que foram as apresentadoras escolhidas para substituir os desertores.
Fica a pergunta, evidente e incontornável: é desta que enterram um cadáver há demasiado tempo em estado de decomposição?