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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, abril 01, 2015

A CORJA E O RAMBO



Imaginem um país em que o Primeiro Ministro é apanhado a fugir ao fisco, o anterior Primeiro Ministro está preso, acusado de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais, diversos novos inquilinos de câmaras municipais e juntas de freguesia denunciam variadíssimas prácticas criminosas dos seus antecessores e em que o casamento entre os tubarões do sector privado, nomeadamente da banca, e os políticos eleitos pelo povo é um enorme charco de nojo. Imaginem que nesse país se descobrem as ligações nada bonitas entre o Ministro da Defesa, os seus amigos e o seu próprio gabinete de advocacia. Imaginem que o ministro, por exemplo, atribuiu a construção dos drones portugueses a uma empresa gerida por um seu antigo assessor; imaginem que em 2014 o gabinete de advocacia que pertence ao ministro promoveu um seminário sobre oportunidades de investimento na Colômbia uma semana antes do dito ministro visitar aquele país da América Latina em representação do governo português; imaginem ainda que, três meses após uma visita do ministro ao Perú, também ela oficial, que este gabinete anunciou um novo parceiro, imagine-se, peruano. 

Se ouvissem falar de um país onde coisas destas acontecem, qual acham que seria a vossa opinião de tal país e, acima de tudo, da sua classe política? Pois é assim que os outros olham para Portugal e para a nossa classe política: um bando de corruptos em nada melhores do que aquelas caricaturas de líderes de países fictícios que povoam o cinema de série B em que heróis anti-fascistas combatem políticos rastejantes e capitalistas de fundo de floresta tropical e lhes destroem o império munidos somente de uma faca de cozinha e duas riscas pretas debaixo dos olhos para se disfarçarem na vegetação.

Este é o nosso país e estas são as pessoas a quem confiámos a condução da nossa vida. E confiamos nestas pessoas, seja lá pelo tempo que for, porque durante gerações e gerações fomos convencidos de que era realmente necessário e muito bom para nós escolhermos os nossos representantes. A noção de representante, de líder que olha pelos nosso interesses, impregnou-se no nosso DNA e existe hoje na forma de responsável de condomínio, líder sindical, presidente da associação de pais, delegado de turma, presidente de junta, presidente da câmara, ministros, presidente. Fomos convencidos disto. Fomos convencidos de que era tudo no nosso maior interesse e estamos agora lentamente – muito lentamente – a convencermos-nos de que é tudo uma grande mentira nascida, cultivada e crescida numa grande verdade. Não é no nosso interesse e não sei quando terá sido a última vez que realmente terá sido no nosso interesse. Sei que já não é e sei que tão cedo não volta a ser.

Esta gente, esta corja, que compõe o tecido dos eleitos a serem eleitos, dos que podem ser escolhidos para nossos representantes, é o pior de qualquer sistema político e é decididamente o início do fim dos sistemas políticos. Depois disto só a absoluta e total anarquia. Sem eles não nos entendemos e com eles só ficamos pior, cada vez pior. Num incêndio destas proporções só uma explosão é remédio, portanto, que haja uma explosão que nos faça regressar a um tempo que se calhar nunca existiu, a um tempo de anarquia. Porque isto, este sistema, conduzido por esta gente, perpetuado por esta gente, não tem solução. E não tem solução porque é demasiado bom para esta gente o recusar e tentar ser o que tanto esperamos e necessitamos e porque nós, os verdadeiros responsáveis pela queda de um sistema, não os controlamos, não os responsabilizamos e não reclamamos.


Esta gente é criminosa. São criminosos com licença para matar, com autorização para roubar, com o direito atribuído por nós de nos fazerem mal, de nos maltratarem, de nos colocarem no lixo, sem remorsos, sem vergonha. E em criminosos eu não voto. Neste sistema eu não voto. Votarei, sim, no dia em que um qualquer Rambo de faca de cozinha nos dentes e dois dedos pretos debaixo dos olhos subir ao poder para explodir esta corja da face do planeta. Nesse dia voto e levo comigo uma faca de pão que guardo na gaveta da cozinha e que é bem perigosa e faz uns cortes bem lixados de curar. Nesse dia sim.