BIRDMAN ou A VIRTUDE
Directamente ao argumento que vai encerrar este texto: o meu
filme de 2014 é The Grand Budapest Hotel mas Birdman or the Unexpected Virtue
of Ignorance merece todos os principais Ócares para que está nomeado. E à falta
de uma ordem lógica para começar a escrever sobre a última obra de Alejandro
González Iñárritu, aproveito esta certeza para melhor a abordar:
Melhor filme do ano (apesar da minha preferência)
indiscutivelmente.
Melhor actor do ano para um Michael Keaton absolutamente
arrasador.
Melhor actor secundário para Edward Norton que perde a
estatueta para J. K. Simmons por uma série de razões que nada têm a ver com o
trabalho dos dois actores.
Melhor actriz secundária porque, apesar de não conhecer o
desempenho das restantes nomeadas, tenho a certeza de que Emma Stone merece
tudo o que dela tem sido dito.
Melhor argumento original porque um argumento é uma boa
história mas é, acima de tudo, um texto bem escrito, com falas e diálogos que
nos ficam na cabeça e que são o princípio base do trabalho dos actores.
Melhor cinematografia porque é a melhor câmara dos últimos
anos.
Melhor realizador porque é de Alejandro González Iñárritu
que estamos a falar.
Birdman é um daqueles filmes que nos agarram pelos
colarinhos ao primeiro segundo de projecção e que só nos largam alguns dias depois
de o termos visto. Um daqueles filmes que apetece rever assim que termina. Um filme
que surpreende apenas quem não conhecia a carreira do seu realizador e que é,
assim, abençoado com a virtude da ignorância que está no título, apetece-me,
por isso mesmo.
Birdman é perfeito, obra de um homem que tem conseguido
afirmar um trabalho de autor que não cedeu, para já, à grande indústria mas que
anda ao lado dela num corredor-caminho bem mais interessante. Iñárritu é um
cineasta único, com um universo único, com um olhar único sobre o mundo e os seus
e que inova a cada obra que constrói. Inova na técnica, nas histórias, no
trabalho de actor e na câmara que os filma. É um autor, criador, inventor de
cinema como não há muitos por aí.
A máxima injustiça de 2011 que foi Biutiful não ter ganho
tudo o que havia para ganhar – e quase nas mesmas categorias – é uma daquelas
que mancham mais um bocadinho a longa lista de atropelos made in Hollywood. Se 2015 seguir pelo mesmo caminho, Alejandro
González Iñárritu junta-se já, e apenas com quatro longas-metragens no
currículo, ao rol de ilustres realizadores esquecidos pela academia.
E nada mais a dizer em relação a Birdman. A não ser que é o
mais entusiasmante, original, arriscado, criativo e delirante filme de 2014.
The Grand Budapest Hotel é o meu filme preferido de 2014, mas se Birdman o vencer
em todas as frentes, nessa noite dormirei mais descansado sabendo que se fez
justiça.
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