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Bom Karma... ou não!

terça-feira, fevereiro 17, 2015

BIRDMAN ou A VIRTUDE



Directamente ao argumento que vai encerrar este texto: o meu filme de 2014 é The Grand Budapest Hotel mas Birdman or the Unexpected Virtue of Ignorance merece todos os principais Ócares para que está nomeado. E à falta de uma ordem lógica para começar a escrever sobre a última obra de Alejandro González Iñárritu, aproveito esta certeza para melhor a abordar:

Melhor filme do ano (apesar da minha preferência) indiscutivelmente.

Melhor actor do ano para um Michael Keaton absolutamente arrasador.

Melhor actor secundário para Edward Norton que perde a estatueta para J. K. Simmons por uma série de razões que nada têm a ver com o trabalho dos dois actores.

Melhor actriz secundária porque, apesar de não conhecer o desempenho das restantes nomeadas, tenho a certeza de que Emma Stone merece tudo o que dela tem sido dito.

Melhor argumento original porque um argumento é uma boa história mas é, acima de tudo, um texto bem escrito, com falas e diálogos que nos ficam na cabeça e que são o princípio base do trabalho dos actores.

Melhor cinematografia porque é a melhor câmara dos últimos anos.

Melhor realizador porque é de Alejandro González Iñárritu que estamos a falar.

Birdman é um daqueles filmes que nos agarram pelos colarinhos ao primeiro segundo de projecção e que só nos largam alguns dias depois de o termos visto. Um daqueles filmes que apetece rever assim que termina. Um filme que surpreende apenas quem não conhecia a carreira do seu realizador e que é, assim, abençoado com a virtude da ignorância que está no título, apetece-me, por isso mesmo.

Birdman é perfeito, obra de um homem que tem conseguido afirmar um trabalho de autor que não cedeu, para já, à grande indústria mas que anda ao lado dela num corredor-caminho bem mais interessante. Iñárritu é um cineasta único, com um universo único, com um olhar único sobre o mundo e os seus e que inova a cada obra que constrói. Inova na técnica, nas histórias, no trabalho de actor e na câmara que os filma. É um autor, criador, inventor de cinema como não há muitos por aí.

A máxima injustiça de 2011 que foi Biutiful não ter ganho tudo o que havia para ganhar – e quase nas mesmas categorias – é uma daquelas que mancham mais um bocadinho a longa lista de atropelos made in Hollywood. Se 2015 seguir pelo mesmo caminho, Alejandro González Iñárritu junta-se já, e apenas com quatro longas-metragens no currículo, ao rol de ilustres realizadores esquecidos pela academia.

E nada mais a dizer em relação a Birdman. A não ser que é o mais entusiasmante, original, arriscado, criativo e delirante filme de 2014. The Grand Budapest Hotel é o meu filme preferido de 2014, mas se Birdman o vencer em todas as frentes, nessa noite dormirei mais descansado sabendo que se fez justiça.