A BESTA
A história é universalmente conhecida: lá na escola há um
puto que não é particularmente popular. Não é simpático nem educado, alias, é
até bastante estúpido e insuportavelmente arrogante. É filho de pais ricos, no
entanto, o que lhe garante a casa com piscina e campo de ténis com que pode
atrair «amigos» e é alto e espadaúdo, o que certifica que, quando se aborrece
ou é contrariado ou não tem nada melhor para fazer pode sacudir os mais
medrosos com ameaças mais ou menos violentas ou mesmo uns safanões vistosos. É uma
besta, mas é uma besta com o poder que lhe permitem ter. Neste caso, o remédio era
a maioria dos alunos da escola agir em absoluta concertação e isolar o animal,
fazer de conta que ele e a casa dos papás e os músculos impróprios de um rapaz
daquela idade não existiam e pura e simplesmente isolá-lo. Deixá-lo sozinho a
falar para as paredes, a exercer o seu falso poder sobre os cestos do lixo, uma
alma solitária penada, sem ninguém, sem ninguém, sem ninguém. Não durava muito
tempo e passava a ser uma memória distante de algo que incomodava e que já só
lembrado para as inevitáveis piadas de putos e para dar o exemplo.
O mesmo se devia fazer a Israel. Isolar um país daqueles e
levá-lo ao esquecimento era o melhor que se podia fazer. Um mundo perfeito
seria um mundo em que todos os países do mundo boicotassem completamente a
nação de Israel. Boicote aos vistos turísticos para entrar e sair do país,
boicote aos vistos de trabalho dentro e fora do país, boicote aos artistas
israelitas, aos cientistas e investigadores israelitas, boicote às importações
e exportações israelitas, nem mais um figo comprado, nem mais uma aspirina
vendida. Fechar Israel bem dentro daqueles muros de que tanto se orgulha. Não mais
reuniões políticas e empresariais, não mais conferências de paz, não mais uma
cadeira que fosse na ONU ou em qualquer outra organização, governamental ou
não. Isolamento total e implacável do resto do mundo.
Parece violento? Parece,
sim senhor. Muita da população israelita provavelmente não tem culpa das
decisões dos sucessivos governos nacionais. Não tem culpa e não concorda. Nem a
população nem os artistas, nem os cientistas, nem os investigadores. Mas alguém
vota nas eleições e elege estes terroristas tornando-os terroristas legais. Alguém
vai às urnas legitimar um estado racista, xenófobo, violento, prepotente e
apostado, pelas últimas notícias, em aumentar decididamente o tom da violência
na região. E portanto teria muito pouca ou nenhuma pena da população israelita
se o cenário idílico acima descrito se concretizasse de alguma maneira.
É violento?
É. É bastante. Mas não é mais violento do que o que Israel faz à Palestina e,
desenganem-se, se acharem que não, ao resto do mundo. É claro, Israel não o faz
sozinho e sem aliados de peso. Aliados que, como os putos na escola, têm medo
do galifão, têm interesse na «amizade» do boçal e não conseguem nem querem, na
verdade, dizer-lhe que não. Eu, que já esgotei toda a paciência e crença numa
resolução pacífica para o problema que é Israel – e não o problema
Israel-Palestina, como todos lhe chamam – ficaria muito contente por ver o país
dos escolhidos por Deus encerrado dentro de quatro paredes, deixado a definhar
sozinho, sem amigos, sem ajuda, teimosamente à espera da vinda do Salvador à
terra só para perceber que a vinda dele não era a salvação prometida mas sim um tiro de
misericórdia que não merece. Israel em chamas provocadas pela ira justiceira
do Deus deles. Isso sim seria um sonho tornado realidade.
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