MATEM O PRETO RACISTA, XENÓFOBO, MACHISTA, HOMOFÓBICO, SEXISTA E TARADO!
Já aqui falei sobre os ismos e do profundo desprezo que lhes
tenho. Esta semana, e por força, mais uma vez, da histeria mediática
patrocinada pela internet, uma nova polémica acendeu os fornos da paixão do
ódio dos que gostam de atirar calhaus a tudo o que mexe fora da linha (criada
por eles próprios).
Então o Lewis Hamilton, piloto de Fórmula 1, esguichou 150
euros de champanhe para cima de uma moça daquelas que sobem ao pódio só para
botar figura e o mundo caiu-lhe em cima e o rapaz agora está para o machismo
como o Tom Cruise está para a cientologia e não tarda nada aparece enforcado no
jardim de sua casa bem aquecido por uma cruz em chamas. Pois, diz que sim.
Diz que sim mas não me convence. Desde logo porque, e como é
bem sabido, é tão certo dizer-se que quem anda à chuva molha-se, como é trigo
limpo, farinha amparo saber-se que quem sobe a um pódio onde existem garrafas
mastodônticas de champanhe, vai para casa pegajoso e a cheirar a vinho francês
de origem protegida. Difícil é fugir-lhe, aliás, que aquilo sai a uma
velocidade e com um alcance impressionantes. E é uma festa e toda a gente se
diverte e é um momento final de alegria e tal e coisa.
Claro que pode haver quem não goste da brincadeira. Eu cá não
gostaria nada, não só porque não sou fã da bebida, mas também porque não gosto
de me sentir pegajoso. No caso em destaque não é fácil perceber se a vítima da
esguichadela ficou muito satisfeita, se estava só a ser bem-educada e a receber
o jacto gelado na fuça com elegância e um sorriso bem profissionais ou se,
sendo na China, estava com medo de, demonstrando desagrado, envergonhar o
comité central e ser castigada percorrendo a pista a pé, descalça sobre grãos
de arroz crus. Mas que estava a sorrir lá isso estava.
Seja como for, a coisa aconteceu mesmo, não é a primeira vez
que acontece e nem tão pouco vai ser a última. Como não vai ser a última vez
que os histéricos do feminismo/sexismo vêm a público gritar impropérios do
género dos que já se ouviram por aí. Alguém já sugeriu, inclusive, que aquilo
seria uma espécie de reprodução das famosas money
shots com que normalmente terminam as cenas dos filmes pornográficos – que,
segundo os histéricos, nos filmes são mais uma demonstração do machismo mais
abjecto, mas que feitas em casa são muito giras.
Sinceramente, acho mesmo que a brincadeira pode ser uma
tremenda parvoíce e que o rapaz Hamilton não tem o direito de andar por aí a
desperdiçar champanhe nas ventas alheias sem pedir autorização. Por outro lado,
e mais uma vez, se estás num pódio, seja porque razão for, e se tens mesmo de
lá estar, então não podes esperar outra coisa e é bom que te ponhas a pau ou,
em alternativa, que leves, por exemplo, um guarda-chuva, de preferência com o
logótipo da marca do champanhe utilizado e ainda ganhas uns trocos extra.
O Lewis Hamilton pode até ser machista. Pode, sim senhor. Mas
a coisa de espirrar champanhe na cara da menina é um acto machista? Aos olhos
dos histéricos é. Como é racismo se um branco por alguma razão bater num negro.
Ou xenofobia se um branco gritar com um chinês. Ou pedofilia se o tio que veio
de França disser «estás uma menina bem bonita». E é este o tipo de paranóia que
tanto criticamos em países como os EUA, em que se alguém falar mais alto com
alguém pode ser acusado de violência, ameaça à integridade física ou bullying; em que se um homem disser a
uma colega de trabalho «uau, tu hoje vais lá» leva com mace nas beiças e ainda é acusado de tentativa de violação.
A paranóia não termina em ismo, mas a xenofobia, a social-democracia
e a democracia cristã também não e são todas igualmente perigosas. E a paranóia
relativamente a assuntos tão graves como o machismo é a pior inimiga do combate
a este tipo de preconceito. O feminismo, o verdadeiro feminismo, não é isto. Este
feminismo croquete – expressão que a minha namorada me ensinou hoje e que, não
sei porquê, para mim faz todo o sentido – é tão desprezível como o machismo que
tenta combater e é um perigo que importa abafar o quanto antes. É uma paranóia
aos gritos, que não só irrita, como desvia atenções do que realmente interessa.
Esta paranóia e os seus arautos desesperados querem
convencer o mundo de que o Lewis Hamilton – já agora, um menino mimado,
arrogante e mal-educado – é um escarumba racista e xenófobo (a menina é chinesa,
por isso…), homofóbico (não molhou um homem, portanto…), tarado (money shot, money shot…) e machista (…
não sei porquê…) e que, portanto, devia mesmo acabar os dias pendurado de uma
árvore nas traseiras da sua mansão, rodeado por capuzes brancos e uma cruz a
arder.
Se for esse caso, então, deixo aqui duas sugestões:
Primeiro, se o fizerem incluam na punição uma outra menina
que aparece nas imagens do incidente. Está vestida da mesma maneira que a
vítima e, apesar de também ser chinesa, está a rir-se como uma louca, pelo que
só pode ser uma cabra sem sentimentos e que não conhece a importância da
solidariedade feminina.
Segundo, que o castigo seja perpetrado por um grupo de
indivíduos sem género definido, híbridos na sua raça e sem convicções
religiosas de qualquer espécie. Não vão querer que categorizem o castigo como
uma coisa movida pelo sexo, raça ou credo, pois não? – Ainda assim, suspeito
que havia de aparecer algures um maluquinho para acusar a horda punidora de ser
uma nova e perigosa, porque muito motivada, forma de protesto dos que não têm
sexo, nem raça, nem credo.
O mundo é dos tolos e ainda bem que nem toda a gente anda na
rua com garrafas de champanhe…
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