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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, março 24, 2014

ACERCA DO RIVOLI



Eu não sei quem é o Tiago Guedes. Não o conheço, nunca ouvi falar dele, não sei nada da relevância do seu percurso artístico. Não o conheço mas dizem-me que é certo que seja o Tiago o próximo programador do Rivoli. Dizem-me também que resulta isto de um arranjinho em politiquês fluente, que o vereador da cultura queria muito que fosse ele e, vai daí, que desenhou um perfil pretendido que só podia ser correspondido pelo mesmo Tiago Guedes. Isto é o que me dizem. Investigo um bocadinho mais e descubro que este Tiago Guedes é coreógrafo e director artístico da associação cultural Materiais Diversos e do Teatro Virgínia, em Torres Novas. Sei que tem uma pequena página na Wikipedia.

Apesar de tudo o que me dizem e de tudo o que vejo escrito por aí, a verdade é que ainda não tenho a certeza de que vá ser este rapaz o novo programador (e angariador de fundos, já agora) do Rivoli. Disto não sei nada. Mas em relação ao Rivoli julgo saber umas quantas coisas e tenho a certeza das dúvidas que tenho em relação a tantas outras.

Sei que no Porto não existe um único projecto capaz de encher os 800 lugares do Rivoli.
Sei que nenhum grupo de teatro o seria capaz de fazer.
Sei que no Porto não existem espectáculos de dança.
Sei que no Porto não existe ópera, pese embora o orgulho vaidoso de um certo Círculo portuense de Ópera.

Tenho dúvidas em relação à escolha deste programador como duvido seriamente que a escolha de um programador, qualquer outro programador, fosse bem recebida pela comunidade artística da cidade. É assim o Porto. Desde o incidente La Féria que os artistas, muitos deles, pelo menos, viraram as costas à Câmara e ao Rivoli e não me parece, sinceramente, que estejam dispostos a mudar de atitude.

Duvido muito que a autarquia tenho dinheiro para compor uma programação que encha a vista e traga gente ao Rivoli.
Duvido que grande parte, a maioria até, dos grupos de teatro do Porto queira realmente trabalhar nas suas salas.
E duvido e desconfio do público do Porto. Duvido da sua real sede de cultura e desconfio tremendamente da sua abertura a todo o tipo de projectos que por cá se fazem.
Duvido que os festivais que existem na cidade consigam encher o Rivoli. Duvido do FITEI, duvido do Fantasporto e sei que já não temos PoNTI e outros festivais de antigamente.

Posto isto fica claro que tenho alguns receios.
Tenho receio de que só o Tony Carreira consiga encher o Rivoli. Tenho receio de que o Rivoli seja uma gigantesca baleia branca, um problema sem solução; tenho receio de que na cidade em que o Porto se tornou (para o bem e para o mal) não faça sentido uma sala das dimensões do Rivoli. Tenho receio de que o Rivoli esteja às portas da morte e que tudo isto seja uma questão de nostalgia imposta pelas características adquiridas pela cidade e pelos que nela moram.

Volto ao início. Não sei quem é o Tiago Guedes. Sei que não vai ser ele o salvador do Rivoli, sei que não vai ser esta Câmara a salvar o Rivoli e sei que é preciso, neste momento, muito mais do que dinheiro, uma programação cultural e um programador que a faça cumprir para salvar o Rivoli. E sei, com tristeza, que ler Rivoli nesta crónica é também ler estado da cultura no Porto.