ACERCA DO RIVOLI
Eu não sei quem é o Tiago Guedes. Não o conheço, nunca ouvi
falar dele, não sei nada da relevância do seu percurso artístico. Não o conheço
mas dizem-me que é certo que seja o Tiago o próximo programador do Rivoli. Dizem-me
também que resulta isto de um arranjinho em politiquês fluente, que o vereador
da cultura queria muito que fosse ele e, vai daí, que desenhou um perfil
pretendido que só podia ser correspondido pelo mesmo Tiago Guedes. Isto é o que
me dizem. Investigo um bocadinho mais e descubro que este Tiago Guedes é
coreógrafo e director artístico da associação cultural Materiais Diversos e do
Teatro Virgínia, em Torres Novas. Sei que tem uma pequena página na Wikipedia.
Apesar de tudo o que me dizem e de tudo o que vejo escrito
por aí, a verdade é que ainda não tenho a certeza de que vá ser este rapaz o
novo programador (e angariador de fundos, já agora) do Rivoli. Disto não sei
nada. Mas em relação ao Rivoli julgo saber umas quantas coisas e tenho a
certeza das dúvidas que tenho em relação a tantas outras.
Sei que no Porto não existe um único projecto capaz de
encher os 800 lugares do Rivoli.
Sei que nenhum grupo de teatro o seria capaz de fazer.
Sei que no Porto não existem espectáculos de dança.
Sei que no Porto não existe ópera, pese embora o orgulho
vaidoso de um certo Círculo portuense de Ópera.
Tenho dúvidas em relação à escolha deste programador como
duvido seriamente que a escolha de um programador, qualquer outro programador,
fosse bem recebida pela comunidade artística da cidade. É assim o Porto. Desde o
incidente La Féria que os artistas, muitos deles, pelo menos, viraram as costas
à Câmara e ao Rivoli e não me parece, sinceramente, que estejam dispostos a
mudar de atitude.
Duvido muito que a autarquia tenho dinheiro para compor uma
programação que encha a vista e traga gente ao Rivoli.
Duvido que grande parte, a maioria até, dos grupos de teatro
do Porto queira realmente trabalhar nas suas salas.
E duvido e desconfio do público do Porto. Duvido da sua real
sede de cultura e desconfio tremendamente da sua abertura a todo o tipo de
projectos que por cá se fazem.
Duvido que os festivais que existem na cidade consigam
encher o Rivoli. Duvido do FITEI, duvido do Fantasporto e sei que já não temos
PoNTI e outros festivais de antigamente.
Posto isto fica claro que tenho alguns receios.
Tenho receio de que só o Tony Carreira consiga encher o
Rivoli. Tenho receio de que o Rivoli seja uma gigantesca baleia branca, um
problema sem solução; tenho receio de que na cidade em que o Porto se tornou
(para o bem e para o mal) não faça sentido uma sala das dimensões do Rivoli. Tenho
receio de que o Rivoli esteja às portas da morte e que tudo isto seja uma
questão de nostalgia imposta pelas características adquiridas pela cidade e
pelos que nela moram.
Volto ao início. Não sei quem é o Tiago Guedes. Sei que não
vai ser ele o salvador do Rivoli, sei que não vai ser esta Câmara a salvar o
Rivoli e sei que é preciso, neste momento, muito mais do que dinheiro, uma
programação cultural e um programador que a faça cumprir para salvar o Rivoli. E
sei, com tristeza, que ler Rivoli nesta crónica é também ler estado da cultura no Porto.
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