AS INJUSTIÇAS (OU EU SOU MUITO TENDENCIOSO)
Antes era and the winner is. Hoje em dia
diz-se and the Oscar goes to. Houvesse
justiça no mundo do cinema e este ano o anúncio dos vencedores do Oscar seria
algo do género não podendo ser para o The
Hunt, o Oscar vai para…
Porque, convenhamos, não existe em nenhum dos doze nomeados
a filme do ano uma obra mais impressionante do que The Hunt. Como não existe em
nenhum dos nomeados a melhor actor principal uma interpretação ao nível da de
Mads Mikkelsen e como não existe melhor realização do que a de Thomas
Vinterberg. O resto são migalhas, prémios mais ou menos subjectivos, com
certeza mais subjectivos do que estes três, quase factos de enciclopédia.
Mas The Hunt sofre dessa doença tão repulsiva à indústria americana
que dá pelo nome de se não falas inglês
estás lixado. Assim sendo, e como muitos antes dele, o filme dinamarquês
fica limitado ao prémio para melhor filme em língua estrangeira que, mesmo esse
e ao que tudo indica, está já reservado para o aparentemente xaroposo La Grande
Belleza.
Fim da primeira parte
Segunda parte
Houvesse justiça no mundo do cinema e este ano o anúncio dos
vencedores do Oscar para melhor filme, melhor actor, melhor actriz secundária,
melhor argumento original e melhor realização teria um só destinatário: Nebraska.
Porque, convenhamos, não existe em nenhum dos onze restantes
nomeados a filme do ano uma obra com tanta qualidade como o filme de Alexander
payne. Mas Nebraska é um filme com todos os tiques do cinema indie americano, e isso, como se sabe
bem, serve para despertar a curiosidade da indústria mas não chega para o levar
aos prémios que merecia. E é uma pena, porque o filme contido, tão bem escrito,
espécie de hino à dignidade e à tristeza resignada da velhice que é Nebraska, é
seguramente o segundo melhor filme do ano que passou.
O problema destes dois filmes é que, acredito eu, não foram
feitos com os olhos postos no (ainda) prémio mais apetecido pela indústria
cinematográfica, que continua a privilegiar o mainstream e a sobrevalorizar tudo o que for feito com pompa e
circunstância, elencos repletos de grandes nomes e realizadores dominantes.
E, mais uma vez, é uma pena enorme, porque já há uma série
de anos que os filmes mais relevantes do ano surgem de produções americanas,
sim, mas com orçamentos mais baixos, ou de países em que o inglês é somente
aquela língua que se aprende na escola porque um dia pode vir a dar jeito se
tivermos de viajar para o estrangeiro.
Fim
Epílogo
Blue Jasmin, de Woody Allen, é um grande bocejo. É desinteressante,
não chega a levantar voo, tem um dos piores argumentos saídos da mão do mestre,
um elenco ainda mais baratucho do que é normal, desinteressado e em piloto
automático e encabeçado por uma Cate Blanchett a imitar a melhor Gena Rowlands
dos filmes de Cassavetes. A única coisa realmente boa de Blue Jasmin, e como
não é raro à cinematografia de Allen, são os secundários. Fora isso, o filme é
um grande salto para trás no que parecia ser o regresso de Woody Allen a um
cinema maior e inquestionavelmente brilhante. Comparar Blue Jasmin a Midnight in
Paris é tão justo como comparar Match Point a Crimes and Misdemeanors. O mesmo
é dizer que seria comparar o mais interessante Woody ao mais entediante Allen.
E pronto, tinha de tirar isto do sistema.
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