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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O MIRÓ AOS TRAMBOLHÕES NO CAIXÃO



Vamos cá esclarecer uma coisa: acho totalmente execrável que o Governo queira vender as obras do Miró porque estão para ali arrumadas a um canto, não têm serventia nenhuma e até dão para fazer uns trocos à boa laia da onda de sites de leilões de tudo e mais um par de botas que de há uns anos para cá inundou a internetosfera.

Esclarecida que está a minha posição relativamente a este assunto, apetece-me dizer e digo que me parece igualmente nojento o aproveitamento político que daqui retiraram os restantes partidos políticos com assento parlamentar e que mais não fizeram do que juntar-se à legião de internautas que não sabem quem é o Miró, não imaginam a importância do artista e nem nunca sequer viram um quadro dele e se viram foi numa t-shirt ou caneca que alguém lhes trouxe das férias em Barcelona.

Juntos, políticos e navegadores do Facebook formaram mais uma vez o bando de abutres esfomeados constantemente à espera que a presa (o Governo) se fira de morte para lhe darem as últimas bicadas. É triste e patético ver esta cambada erguer a voz irada por uma causa que não conhece e que em boa verdade nem lhe interessa minimamente. Os partidos da oposição estão tão preocupados com os quadros de Miró como os participantes da Casa dos Segredos estão arreliados com a dívida externa do país. Não lhes diz nada. Nunca disse. Nem dirá, mesmo que o assunto se resolva e os quadros continuem a fazer parte do espólio cultural de um Portugal que se está nas tintas para a cultura.

É claro que me preocupa descobrir (porque, confesso, não sabia) que temos uma quantidade relevante de telas de um dos mais importantes artistas plásticos da história a ganhar pó num armazém qualquer. Preocupa-me mais, no entanto, saber que temos também uma quantidade alarmante de políticos, que existem para defender os nossos interesses, e uma quantidade insana de cidadãos, que se deviam preocupar todos os dias com os seus interesses, que se limitam a esperar sentados por um tropeção do Governo para se lembrarem das suas preocupações e interesses.

Não vendam os quadros de Miró. Guardem-nos bem acondicionados, protegidos do pó assassino e do calor e do frio e da humidade excessivos e bem distantes do desinteresse generalizado que esta gente tem pela arte e pela cultura.


O Miró não merece todo este reboliço insultuoso. Não merece ser tratado com o desapego governamental típico de quem vê cifrões em vez de pinceladas. Merece ainda menos, garantidamente, ser arma de arremesso de quem não tem armas para atacar quem nos quer mal.