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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, novembro 20, 2013

«A BOLA DE OURO É PARA O MELHOR DO MUNDO, NÃO É PARA EXTRATERRESTRES»

Começo por pedir desculpa pelo uso não autorizado da frase de um amigo para título desta crónica. A verdade é que por estes dias foi a que de uma assentada definiu melhor o que é Cristiano Ronaldo e o que significa o prémio em questão. Por isso também o meu obrigado ao Paulo Pereira, cronista que sigo atentamente e que, regra geral, tem a assertividade bem afiada e certeira. Como esta frase.

Se há coisa que Ronaldo diz e diz bem é que já não tem nada a provar a ninguém. Como não deveria ter nenhum desportista ou profissional de qualquer outra área. Mas o mundo é o que é e exige o que exige e nós, espectadores, exigimos também, muitas das vezes sem nos darmos conta. Pela parte que me toca, Ronaldo deixou de precisar de provar o seu valor desde aquele longínquo – e nem por isso tão distante – jogo de inauguração do novo Alvalade em que os derrotados saíram a ganhar porque ficaram com o puto. Desde aí que Ronaldo cresceu, amadureceu e se tornou no melhor jogador que já vi em campo.

Mas nem todos pensam ou sentem a coisa da mesma maneira e a verdade é que a cada novo passo, a cada novo centímetro crescido, grama de força adquirido pelo miúdo, há sempre quem peça mais e mais e se desiluda mais com cada vez menos. Sempre foi assim com os sagrados. Foi assim com Ali, foi assim com Jordan, foi assim com Senna e Maradona e Federer, como foi assim e será sempre assim com Ronaldo. De tal forma que cada mau jogo do capitão da selecção é um jogo em que simplesmente não marcou golo. A época em que o madeirense terminar com menos de 50 golos às costas será para sempre e para quase todos a sua pior.

A culpa é dele. É dele por ter criado um tipo novo de jogador; por ter redesenhado a cada ano, a cada época os seus próprios limites e, em consequência, os limites de um atleta, de um futebolista e, em última análise, de um ser humano, que deixa de o ser por aquilo que faz no exercício da sua profissão. É sua, a culpa, por se ter permitido tornar num objecto de estudo das mais diversas áreas: da motricidade, da física, da astrofísica e porventura da robótica. Porque já não há como perceber ou justificar o que Ronaldo faz em campo. E como não há forma de perceber ou justificar o que o rapaz faz com a bola nos pés mas também longe da bola, longe do epicentro do jogo mas ainda dentro do campo, procuram-se outras coisas que se possam explicar com a má-língua da ignorância. Coisa que estão para lá das quatro linhas que demarcam o jogo, longe das paredes que o encerram. Coisas que por natureza deviam estar fechadas dentro da vida do homem que sem a camisola do clube ou da selecção é só um homem e que, da mesma forma, não tem nada a provar a ninguém e muito menos a explicar.

É culpa dele que gozem com ele, que lhe desejem a queda, quanto mais estrondosa mais saborosa. É culpa dele e só dele que pessoas com idade e posição para não o fazer tomem partido pelos concorrentes que só por ilusão e cegueira dos outros concorrem com ele. é culpa dele que lhe queiram ver um fim, por força nas pernas, por lesão ou por desistência de quem não suporta mais a falta de apoio. Nunca será pelas pernas, certamente, e quem viu ontem a impotência dos que por um milésimo de segundo pensavam que podiam correr atrás ele, sabe que por essa razão Ronaldo nunca deixará de ser o jogador que é. Poderá ser por lesão, eventualmente, que um corpo, qualquer corpo, por mais preparado que esteja, por mais desafiador das leis da física que seja, pode ser quebrado. Pela desistência, talvez? Não me parece. Porque enquanto houver quem se dedique a minimizar o futebolista e a enxovalhar o homem, haverá sempre outros tantos, no mínimo, a emocionarem-se com o que ele faz dentro do jogo e a puxarem por ele, mais empolgada e ruidosamente do que os outros.

A culpa de Ronaldo ser melhor jogador que o melhor jogador do mundo é dele e somente dele. A culpa de ainda existir quem não veja ou queira ver isso é orgulhosamente assumida pelos próprios. E os próprios acabam sempre a fazer figura de urso. Ontem houve muitos que se calaram ou que deram o braço a torcer. Mas ontem, houve mais, muitos mais que não se calaram porque não têm nada a provar ou a explicar a ninguém. E gritaram os golos marcados por Ronaldo, e emocionaram-se porque foi ele quem os marcou. Porque, justiça seja feita, de todos os jogadores no planeta é Ronaldo quem mais merece ir ao mundial de 2014. Pelo que faz dentro de campo, pelo que fez ao futebol e acima de tudo por todos os portugueses que o apoiam e ainda mais pelos que têm a paciência de se sentarem nas mesas de café a ver um jogo de futebol em que o que lhes interessa é ver o capitão a errar um drible, a perder uma bola ou a falhar um golo feito.

Ronaldo merece mais do que qualquer outro a viagem ao Brasil porque a culpa disto tudo é dele. É culpa dele ser o melhor jogador português de todos os tempos. É culpa dele ainda haver quem discuta se isso é mesmo assim. É culpa dele ter já ultrapassado o Eusébio na lista dos melhores marcadores da selecção e ter os mesmo golos que o recordista Pauleta. É culpa dele ter marcado mais de 50 golos por época nas últimas três épocas e de já ter conseguido 24 numa época que ainda nem vai a meio. É culpa dele, tudo isto. E é por isso que a Bola de Ouro de que tanto se tem falado não lhe serve. Fica-lhe pequena.

E a culpa é dele.