CARTA AMIGA A MARGARIDA REBELO PINTO
Querida
Margarida (com certeza não te importarás que te trate por Margarida),
Venho
por este meio expressar a minha solidariedade e oferecer-te a minha mão amiga.
Sei que deves estar a passar um mau bocado, afinal, tornaste-te subitamente no
novo preferido alvo a abater do povo português e isso não é coisa que ninguém
deseje como objectivo de vida ou carreira – algo, por exemplo, a que os
políticos desde sempre se dedicaram com afinco.
Mas
tu não és política nem me parece que alguma vez tenhas demonstrado algum tipo
de ambição em o ser. A tua carreira é sobejamente conhecida da maioria dos
portugueses – e especialmente das portuguesas – e foi construída com livros do
calibre de um Diário Da Tua Ausência,
ou um A Minha Casa é o Teu Coração,
ou ainda de um Alma de Pássaro, e com
crónicas bem ao género – demasiado ao género, estranhamente parecidas até – do
que se pode ler ou ouvir na famosa série O
Sexo e a Cidade.
E não te
saíste nada mal, Guida (estou certo que não te enfadará que te trate por
Guida). Vendeste livros como quem vende broa de Avintes com chouriço e ao
fazê-lo provaste uma coisa espantosa e de que já há muito se vinha suspeitando:
que Portugal é um país de iliterados, de desinteressados pela literatura, que
não sabem a diferença entre uma crónica e um texto dos que tu escreves; um país
ainda repleto de donas de casa que querem ler algo parecido com que existia
antigamente, sabes Guida, aqueles livros tipo Matavam as Freiras Grávidas, ou O
Falo Perdido ou mesmo A Prostituta
Virgem – curiosamente, três exemplos do mesmo autor, o enorme Eurico A.
Cebolo.
E nada
contra, Guidinha (não te importas, pois não?). Todas as pessoas têm os seus
gostos e estes devem ser respeitados e alimentados. E não podia estar a ser
mais sincero. Acho mesmo que tudo é válido e eu próprio terei gostos culturais
que suscitam imensas dúvidas a quem bem me conhece – ainda ontem vi um filme
muito mauzinho que dá pelo nome de Wolverine
e estou de consciência completamente leve e limpa. Náo é disso que falo quando
falo nas donas de casa que te escolhem como escritora de eleição. Nem pouco,
nem mais ou menos. Do que falo é da importância que tu a ti te dás enquanto
escritora.
Repara, acho
perfeitamente natural que quem exerce um acto de criação cultural seja orgulhoso
da sua criação, que a defenda com unhas e dentes e que lute por uma assinatura
que o/a distinga enquanto artista e agente cultural. Porreiro da vida com isso,
Guidinha. Para mim o problema disto tudo é que tu não tens nada a defender e
por uma razão muito simples: és uma mercenária da cultura, que escolheu um público-alvo
muito concreto e um que garantidamente gasta dinheiro no tipo de coisas que tu
escreves – estou certo, de resto, que tens dormido muito mal desde que o As 50 Sombras de Grey se tornou neste
monstro mundial de vendas; estou convencido que não é fácil, para um súcubo
como tu, viver com o facto de que alguém concebeu um objecto ainda mais fútil e
ao mesmo tempo mais vendável do que os teus livrinhos pegajosos de gordura
romântica, de oleosidade feminista encapotada e de sebo comercialóide
insuportável.
Porque,
sejamos francos Guidunchas, tu escreves mal e porcamente, e é melhor que saibas
agora por este teu amigo desconhecido, que mais tarde quando parares de vender
livros e já ninguém te quiser comprar crónicas. Sim, porque a única razão pela
qual te continuam a encomendar esses textitos ridículos, ocos e absolutamente
desprovidos de coluna vertebral, é o número de vendas dos livros que evacuas
como um europeu que passou uma semana a comer comida mexicana.
Guidete, tu
escreves mal. Atrevo-me até a dizer que tu declaradamente não sabes escrever. Mas,
repara, a culpa não é tua. A Cher é outra mulher assim a atirar para o idoso
que nunca cantou bem na vida mas que manteve a carreira mais ou menos viva
graças ao número de discos que vendia. É das tais coisas, vai-se lá perceber.
Mas bem,
isto tudo para te dizer que estou profundamente revoltado com esta reacção
profundamente injusta dos portugueses relativamente às tuas declarações acerca
dos portugueses. Revoltado porque na verdade te limitaste a emitir uma opinião
e eu, rapaz que defendo alguns ideais, acho mesmo que cada um deve ter a sua
opinião bem afiada e sem medo de a mostrar. Houve mesmo quem tenha dito que as
opiniões são como o sexo feminino e não sei quê, não sei que mais, mas não vou
aqui reproduzir esse dizer porque tu ainda acabas a ler isto e não tarda
evacuas mais um livrete com o título A
Minha Opinião é a Minha Cona ou vice-versa.
Por isso,
Gidu, deixa-me que te estenda mais uma vez a minha mão amparante, o meu colo-repouso
e o meu ouvido atento caso queiras e necessites de desabafar. Desde que não me
queiras ler passagens dos teus pergaminhos, claro. Quanto a mim, e depois de te
ter visto na televisão do Estado, não me importo nada que me ofereças o teu
colo caso eu queira desabafar. É que estive atento à converseta e deixa-me que
te diga, para uma senhora da tua idade tens umas belas e fofas mamas. Olha, cá
está mais um bom título para um livro e, que neste caso e com uma pequena
adaptação, também servia como slogan para uma loja de broas de Avintes com
chouriço.
Com amizade,
Nuno Matos
3 Comments:
At 18:23, Anónimo said…
As mamas não deveriam ser aqui mencionadas, porque o que aqui está aqui em causa é o facto de a Margarida ser uma escrevinhadora mal amanhada, não a sua sensualidade.
At 21:20, Anónimo said…
Um humor de bradar aos céus! Parabéns pela imaginação.
At 21:32, karmatoon said…
Permita-me o reparo; o que está aqui em causa não é o mal que a senhora escreve, é a importância que ela se dá a si própria e a forma como um país lhe dá destaque única e simplesmente pelo número de vendas dos seus livros. As mamas da senhora serviram única e simplesmente como rampa de lançamento para mais uma piada boçal e pouco elegante.
Obrigado e cumprimentos
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