EU NÃO QUERO ALGO COMPLETAMENTE DIFERENTE...
Provavelmente serei o único por estes dias a assumir
publicamente que decididamente não quero que os Monty Python se voltem a reunir
para um espectáculo ao vivo. Eu, que até nem sou saudosista nem sofro de
nostalgia profunda – que no presente caso são doenças que afligem ambas as
partes, a dos que querem mais do que tudo voltar a vê-los em palco, e a dos que
como eu não querem por nada que tal incidente aconteça.
Sobre os Monty Python já tudo se disse e já tudo se sabe:
quem influenciaram, de que forma mudaram para sempre a arte de se fazer
comédia, por quem foram desavergonhadamente copiados, etc, etc, etc. E todas as
razões pelas quais os tornaram sagrados, são precisamente as mesmas que me
fazem ver e rever os episódios da série que criaram – e que com a saída de John
Cleese deixou de ser genial para passar a somente engraçada – e os filmes que
realizaram e protagonizaram. Ponto.
Mas a verdade é que tudo tem o seu lugar no tempo e o que os
Monty Python fizeram naqueles primeiros anos de existência e mais tarde no
cinema não é coisa de se voltar a fazer por um grupo de geriátricos que, embora
mantenham a sua graça e genialidade – disto não tenho dúvidas – não vão passar
de velhinhos engraçados a fazerem coisas da sua juventude. O que, no mínimo,
corre sérios riscos de se tornar ridículo.
Alguém me livre de ver o Ministry of Silly Walks ou o Dead
Parrot ou o The Bruces ou o Self Defense Against Fresh Fruit ou o Nudge Nudge
ou o The Lumberjack Song ou o Spam ou o Hitler in England levados a palco por
velhotes de setenta e muitos anos. Não seria muito diferente do que há já
muitos anos andam a fazer os Rolling Stones e, para mal dos nossos pecados, se
andam a preparar os Xutos e Pontapés para fazer cá pelas terras do Portugal.
Não me entendam mal, continuo a acreditar que os seis
Pythons mortos nos respectivos caixões em palco seriam infinitamente mais
engraçados do que os skectches copiões dos Gato Fedorento ou do que os inenarravelmente
maus videozinhos que passam aqui e ali no Canal Q – já para não falar em toda a
miríade de outros sketches feitos em casa por grupos de amigos a quem alguém
algum dia disse terem piada e que deviam ser considerados e tratados como lixo
radioactivo e passarem o resto dos seus dias até à eternidade no fundo profundo
de uma piscina bem fechada a dois quilómetros de profundidade nas entranhas
fumarentas de uma montanha na Islândia.
Os Monty Python foram o que foram e ficam para a história do
entretenimento, e não só, como o que ficaram. Não há quem se lhes equipare, não
há quem sequer se aproxime da sua genialidade, da forma como quebraram
barreiras, dos métodos utilizados e muito menos quem esteja perto de estar na
génese de um novo género de comédia. Nem era suposto ou pedido ou necessário.
Coisas como os Monty Python acontecem uma vez na vida e pronto, é a vida. O que
vai subir a palco – se é que chega a acontecer – não são os Monty Python. São
os membros sobreviventes de um outrora super grupo de comédia a replicarem o
que faziam quando tinham energia, quando ainda só iam ao quarto de banho duas
vezes por dia e quando não tinham de ter cuidado com o sal. O que vai subir ao
palco é um sketch dos Monty Python a fazer pouco dos velhos que passam pela
fase da segunda juventude e querem comprar carros desportivos, engatar uma
estudante universitária e levá-la de férias ao sul de Espanha.
Ou isso ou os Pythons vão criar um espectáculo novo, com
piadas novas e sketches novos. O que, vendo bem as coisas é ainda mais
assustador. E subitamente passa-me pela cabeça que o último momento em que os
Monty Python foram realmente geniais em grupo foi o mesmo momento em que
tiveram de se despedir de um dos seus: no funeral de Graham Chapman em 1989. Se
isto não era um sinal…
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