O SARAIVA É MAIS FELIZ?
A única coisa que verdadeiramente me espanta na mais recente
crónica do José António Saraiva é esta não ser tão estúpida quanto muitas
outras que ele já escreveu. É estúpida, é sim senhor. É produto de uma cabeça
estúpida, retrógrada, cujo raciocínio congelou lá para os lados do século XIX,
é sim senhor. O autor da dita crónica é estúpido? Pois não posso afirmar uma
coisa dessas sem ter a certeza absoluta, mas lá que parece estúpido, parece.
E então, as mulheres são mais felizes hoje ou não? É que é
esta a pergunta que José António Saraiva começa por lançar no título da sua
crónica e que repete algures lá mais para o final do texto e a que eu respondo
com um sonoro quero lá saber! Estou-me nas tintas para se as mulheres são mais
felizes hoje ou se eram mais felizes quando tinham de pedir autorização ao
marido para sair do país. Não quero mesmo nada saber se preferiam ser donas de
casa ou presidentes de uma multinacional; se se sentiam mais realizadas a
limpar merda, mijo e vomitado dos filhos ou se ficam mais felizes a dirigir um
737 com destino ao Rio. Nada disto me interessa em relação às mulheres como não
me interessa em relação aos homens, e no que diz respeito à igualdade de
direitos de uns e outros, esta crónica encerra nesta linha o assunto.
Interessa-me que essa igualdade seja hoje bem mais
equilibrada do que era há 30 anos? Certamente. Fico contente que as coisas
tenham mudado significativamente? Com certeza. Há coisas que ainda não estão
bem no que a oportunidades dizem respeito? Obviamente. E dou todo o meu apoio à
luta, só peço é que não me venham moer o juízo com discursozinhos das
desgraçadinhas pisadas pelo pé gordo da opressão machista.
Não tenho pachorra para isso como não tenho pachorra para
este discurso disfarçadamente (mal disfarçado) não machista de quem está tão
preocupado com a saúde social das mulheres e com o desequilíbrio de uma
sociedade que não estava preparada para a revolução do sexo feminino - como era
impossível estar, como é impossível que qualquer sociedade descomunalmente
desiquilibrada esteja preparada para o equilíbrio - e que não consegue esconder
que o que realmente o incomoda é já não ter a roupa passada a ferro, o jantar
cozinhado e a casa limpa quando regressa do trabalho. Ou melhor, se calhar até
tem, mas por outra mulher que não a sua e a quem tem de pagar uma espécie de
ordenado.
O Saraiva pode até nem ser estúpido, mas que é pessoa de
mente reduzida, lá isso é. A ver se nos entendemos: quando as mulheres começam a sair de casa para irem trabalhar, todo
este equilíbrio naturalmente desaba precisamente porque os homens não
sabiam o que fazer dentro de casa. A culpa é dos homens. A casa fica vazia durante o dia inteiro e há tarefas que não se
executam porque os homens não fazem a mínima ideia de como fazê-las. A
culpa é dos homens.
Passam a preocupar-se
muitas vezes mais com as carreiras do que com a família, começam a ter filhos
mais tarde e têm menos filhos. Os filhos beneficiam menos da presença das mães.
As mulheres conversam mais tempo com alguns colegas do que com os maridos,
criando relações de cumplicidade. A família relativiza-se, passa a segundo
plano. Os adultérios, concretizados ou apenas idealizados, tornam-se mais
frequentes. Isto é tão estupidamente preconceituoso e desinformado que nem
merece comentário...
E daqui até ao final da crónica a estupidez não cessa nem
reduz de intensidade. O Saraiva é realmente estúpido (retiro o que disse no
primeiro parágrafo) e gosta disso. Tem orgulho nisso. Tem tanto orgulho em ser
estúpido como tem uma ferida no orgulho por as coisas já não serem como
antigamente. E portanto a pergunta devia ser E o Saraiva, é mais feliz?
Honestamente acho que não. A dizer pelas barbaridades típicas de um machista,
racista, xenófobo, homofóbico que o Saraiva imprime ao jornal que dirige,
concluo que não.
Eu sei que sou mais feliz quando não tenho de levar com
comentários do género os homens são todos iguais ou quando não tenho de ouvir
uma mulher vangloriar-se de como consegue tão facilmente dar a volta a um homem
sem que este, pobre coitado, pobre idiota, se aperceba do nó que acabaram de
lhe dar à cabeça. Se eu passar sem ouvir barbaridades destas, tão estúpidas
como a crónica do José António Saraiva, sou muito mais feliz e sinto muito
menos vontade de, por oposição a elas e só para chatear, escrever ou dizer
coisas do género das que escreve o Saraiva.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home