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Bom Karma... ou não!

terça-feira, maio 03, 2011

PARVOÍCES, DIZ ELE


Como não podia deixar de ser, o panorama noticioso, hoje, não podia ser dedicado a outra coisa que não a morte de Bin Laden. Como não podia deixar de ser, também, a minha curiosidade me levou a comprar o Público. Na última página o diário dedica espaço à opinião de diversas personalidades, mais ou menos conhecidas do público em geral. Algo que leio normalmente, nem que seja para falar mal.

Desta feita, o comentador chama-se Pedro Lomba e é jurista. A opinião, claro, sobre Osama Bin Laden e o seu assassinato. De entre muitas coisas, apetece-me destacar, desde logo, o regozijo de Lomba pela morte do homem mais procurado do planeta. Ok, é uma opinião, e dificilmente se pode censurar uma opinião, especialmente quando esta é encomendada e autorizada pelo órgão de comunicação em causa. O que choca aqui, é a forma como o autor expõe a sua saliva odiosa. Pode ser só impressão minha, mas parece-me excessivo cuspir "e agora que o corpo deste fanático foi justamente morto e, porventura menos justamente, atirado ao mar, para desgosto dos que já se lembraram de dizer que nenhum homem se pode congratular pela morte de outro, é provável que o mito e a especulação sobre Bin Laden continuem por mais algum tempo".

Eu cá não sei, mas da última vez que vi, Portugal tinha sido o primeiro país no mundo a prever a abolição da pena de morte. Ficámos todos a saber que Pedro Lomba, jurista, provavelmente não concorda com o feito nobre, justo e bem intencionado dos nossos antepassados. Pedro Lomba, jurista, é obviamente a favor da pena capital. Não sei, mas fiquei com a impressão que não é boa publicidade para um diário da dimensão do Público, pagar a um senhor para este publicar num espaço privilegiado que é a favor da pena de morte e que ficou imensamente feliz com a morte de um homem, mesmo que de um terrorista como Bin Laden.

Por outro lado não posso deixar de ficar contente por, pela primeira vez, termos perante os nossos olhos a prova indiscutível de que os homens da lei em Portugal também podem ser retrógrados e preconceituosos e que, ao sermos judicialmente avaliados por eles, corremos sérios riscos de sermos entalados.

A terminar o seu artigo de opinião, Pedro Lomba, jurista, ainda dispara mais uma parvoíce de todo o tamanho, desta vez com a ajuda do escritor Paul Berman: "É o nosso lado que está a ganhar, a Al-Qaeda está a perder". Seria melhor explicar ao Lomba, que dos atentados atribuídos à organização terrorista, até ontem liderada por Bin Laden, resultaram 4395 mortos, milhares de feridos e alguns milhares de milhões de dólares em prejuízos materiais. Para além do que provocaram às economias e sociedades dos países atingidos, e que, claro, é impossível contabilizar.

É de mim, ou a morte de um homem - mesmo que a de Bin Laden, mesmo que a do líder responsável por esta gigantesca atrocidade - não chega para colmatar os danos causados? É assim tão significativo, o desaparecimento do homem mais perigoso do planeta? É assim uma baixa tão pesada nas intenções da Al-Qaeda? Será que Pedro Lomba, como os americanos, de resto, acredita mesmo nisso? Será que o jurista não percebe que Bin Laden não era mais do que um líder espiritual, fonte de inspiração para todos os terroristas-mártires das diversas células independentes da Al-Qaeda? Independentes, que actuam como e quando querem, e vão continuar a actuar.

Será que Lomba acredita piamente que algures nos países do médio oriente, todos os terroristas se juntaram para assistir à notícia da morte do seu líder e acabaram por concluir que era melhor desistirem da carreira de rebentar cenas para criarem uma ONG dedicada a ajudar criancinhas muçulmanas?

Existe outro real perigo e que está em pessoas como Pedro Lomba e nos media que, como o Público, propagam um grau de ignorância e precipitação de opinião graves. Graves porque são ideias que facilmente se disseminam e, como os ensinamentos de Bin Laden, podem fazer mal a muitas cabeças imberbes e mal construídas.

1 Comments:

  • At 19:05, Blogger Alexandre Correia said…

    Caro Nuno,

    Gostei de ler o seu comentário aos comentários sobre a morte de Bin Laden. Provavelmente, este saudita, que foi um grande amigo dos EUA e recebeu importantes financiamentos e apoios por parte da CIA a dada altura da sua vida, seria nesta fase final, desde há uma década, uma figura verdadeiramente sinistra e perigosa. Mas, infelizmente, não estava só. E nesta guerra tão suja, é difícil poder dizer, ao contrário desse jurista, se há bons e maus e quem está de cada lado.

    Cumprimentos,

    Alexandre Correia

     

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